terça-feira, 1 de novembro de 2011

“Noel Gallagher’s High Flying Birds” - Noel Gallagher’s High Flying Birds - 2011

No futebol, entre todas as posições em campo, duas funções quase sempre resultam em um diferencial para qualquer time. A primeira é a do meia armador, que organiza o meio de campo com classe e faz o time andar, funcionando até como ponta de lança e indo para área fazer de gols de vez em quando, mas que tem como objetivo primordial servir os atacantes. A segunda função é a do centroavante, o cara que está na frente e tem como missão receber os passes e marcar os gols necessários para a vitória. Às vezes esse centroavante é marrento, mas o que interessa é que cumpra esse papel.

Fazendo a analogia do futebol com a música, uma banda que detenha um integrante capaz de produzir melodias bonitas e que resultam em canções marcantes, via de regra se torna algo diferente da grande média. Cantando essas músicas adicione um vocalista competente, que cheio de estilo e marra, conte essas histórias para os ouvintes. Os britânicos tinham isso no Oasis. Os irmãos Gallagher possuíam em Noel, aquele camisa 10 bom de bola, que era capaz de brilhantismos durante um disco e em Liam o vocalista cheio de estrelismo que repassava com seu canto próprio o produto final para o ouvinte.

Pelo Oasis, os irmãos Gallagher elaboraram dois grandes álbuns: “Definitely Maybe” de 1994 e “(What’s The Story) Morning Glory?” de 1995. Depois deixaram o ego falar maior que a qualidade em si e foram apresentando discos cada vez menores. Acharam que já estavam em um nível de excelência muito alto, jogando mais bola do que aquela que realmente jogavam. Com “Dig Out Your Soul” de 2008, uma pequena centelha de criatividade aparecia novamente no gramado de jogo, mas esse último suspiro não foi suficiente para que a banda continuasse e desse a volta por cima.

Já com o fim do Oasis decretado, Liam juntou os ex-parceiros de banda e partiu para um novo time, o Beady Eye. Lá, continuou marcando seus golzinhos (mesmo sabendo que não briga mais por títulos) e fez um bom trabalho, de acordo com o que se espera dele, um rock focado nos anos 60 e 70 e sem maiores invencionices. Já Noel, ficou quieto no seu canto, compondo, produzindo e esperando propostas. Resolveu então criar um time e um selo próprio (Sour Mash) e lançou “Noel Gallagher’s High Flying Birds”, onde juntou alguns amigos e só não tocou bateria e teclado nas 10 faixas do registro.

Com “Noel Gallagher’s High Flying Birds”, o irmão mais talentoso faz o que mais ou menos se aguardava de um camisa 10 diferenciado como ele. Constrói belas harmonias e as preenche com violões, orquestrações, pianos, solos breves de guitarra e até mesmo metais. Tudo como seu estilo indicaria que fosse: grandioso e com tendência ao épico. No entanto, nem tudo é magistral no disco. Assim como no Oasis, Noel embrulha obras primas absolutas como “The Death Of You And Me” com outras faixas apenas razoáveis, como “Everybody's On The Run” e “(Stranded On) The Wrong Beach”.

Cabe aqui lembrar que isso também acontecia no Oasis. Para cada “Wonderwall”, “Don’t Look Back In Anger” ou “Live Forever” feita por ele, tinha também uma "Put Yer Money Where Yer Mouth Is" ou uma "Mucky Fingers" (apenas para ficar em algumas). Mas mesmo oscilando entre brilhante e mediano, a estreia de Noel Gallagher é melhor que a do irmão, apesar de não lhe caberem tantos superlativos quanto os que lhe são direcionados pela maioria da imprensa. Com sua técnica apurada, nos oferece belas faixas como “Dream On”, “Soldier Boys And Jesus Freaks” e “AKA... Broken Arrow”.

Fica difícil prever o quanto esse projeto durará (ou se a antiga banda retornará um dia) e quão significativo ele será para a música atual, pois nem mesmo ele sabe ao certo, como atestou em recente entrevista para a revista Rolling Stone. O que dá para saber com elevado grau de certeza é que Noel não se esqueceu de como tocar uma bola com classe, por mais que os últimos anos de Oasis levassem a essa crença. “Noel Gallagher’s High Flying Birds” é um bonito trabalho, que mostra um cara com um dom supremo de criar melodias, mas que no final das contas, voltando as analogias futebolísticas, sempre é um pouco atrapalhado por se imaginar como um gênio, ao invés de "somente" um craque.


Assista ao clipe da estupenda “The Death Of You And Me”:


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