quinta-feira, 31 de março de 2011

"Incêndios" - 2011

O escritor português Eça de Queiroz disse certa vez que “a todo viver corresponde um sofrer”. Essa frase pode ser diretamente remetida ao longa canadense “Incêndios”, que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro desse ano. Nele a dor e o sofrimento estão ali presentes e vivos a todo o momento, optando por aparecer de modo mais calado, sem muitos gritos ou exageros dramáticos.
O experiente diretor Denis Villeneuve (pouco conhecido por aqui) nos mostra um filme em que as correlações entre passado e presente não são de modo algum gratuitas e bate na porta da estupidez humana. Para ambientar ainda mais o clima utiliza músicas do Radiohead como “You And Whose Army?” e “Like Spinning Plates” na trilha sonora. Os versos de Thom Yorke se encaixam perfeitamente.
“Incêndios” inicialmente é a história dos gêmeos Simon Marwan (Maxim Gaudette) e Jeanne Marwan (Mélissa Désormeaux-Poulin), mas logo se estende para a vida da mãe deles, Nawal Marwan (Lubna Azabal). Ao falecer a mãe deixa um testamento no qual imprime tarefas a seus rebentos que podem escancarar um passado desconhecido. Inicia-se uma viagem que não tem bilhete de retorno.
Com o tom do suspense se espalhando pela película, Denis Villeneuve entrecorta passagens da busca dos gêmeos pelo irmão e pai desconhecidos com flashbacks que narram a vida da mãe na juventude no Líbano, antes da eclosão da guerra civil dos anos 70. Entre costumes de um povo e absurdos de violência da guerra em si, adicionam-se fatos que vão surpreendendo os rumos de toda a trama.
O tema desenvolvido poderia levar para o campo do dramalhão sensacionalista, mas opta por uma estrada mais límpida, porém não menos angustiante e dolorosa. A atuação dos atores corrobora esse clima e são monocromáticas. O sofrimento e a provação que se visualiza ganha uma carga ainda mais dura pela forma que esses personagens lidam com o assunto, incomodando a cada momento.
“Incêndios” é um grande filme com direção e elenco trabalhando em alto nível. Seu único pecado é tentar explicar demais o final dos acontecimentos quando ele já aparece de maneira subliminar. No entanto, isso não retira o brilho do filme de Denis Villeneuve, que mesmo sendo pesado acaba transparecendo isso de maneira consistente sem ir pelo caminho mais fácil da exposição gratuita da dor.

terça-feira, 29 de março de 2011

"Rango" - 2011

A busca em achar o verdadeiro caminho é uma situação que se apresenta pelo menos uma vez na vida de qualquer um. Quando isso ocorre quando já se tem alguns anos na costa toma contornos mais dramáticos, pois o tempo para reação é cada vez menor. Rango, o camaleão que inspira o filme de mesmo nome passa por isso. Cheio de sonhos na cabeça e medo dentro do coração, não consegue realmente saber ao certo que tipo de vida deve levar.
“Rango” é um longa de animação que trata de um tema um pouco mais denso para crianças e tendo em vista as diversas homenagens que são feitas no seu percurso, não está lá muito interessado em atingir esse público, pelo menos não somente ele. O trabalho é o primeiro projeto animado do diretor Gore Verbinski (da série “Piratas do Caribe”) e foi escrito por ele, John Logan (de filmes como “Gladiador” e “O Aviador”) e o novato James Byrkit.
O camaleão meio leso e com desejo de ser ator exibe uma barriga indefectível e usa uma camisa florida digna de um surfista. Dublado pelo astro Johnny Deep é literalmente arremessado da traseira de um carro em pleno deserto. Na busca da sobrevivência encontra uma cidade em decadência, que está sofrendo uma grave crise por conta da falta de água e sem saber muito ao certo o que está fazendo acaba se tornando um herói para esse povoado.
Gore Verbinski adiciona várias homenagens em “Rango”. De Hunter Thompson e seu “Medo e Delírio em Las Vegas” a Sérgio Leone e o clássico homem sem nome vivido por Clint Eastwood nos seus filmes. No entanto, todas essas citações não conseguem funcionar do jeito que deveriam e não inserem quase nada ao apelo inicial que o personagem propõe. Esse apelo inicial inclusive vai diminuindo no decorrer do filme de modo bem acelerado.
“Rango” é mais uma daquelas idéias que a primeira vista tem tudo para dar certo, mas que acabam ficando no meio do caminho entre seus anseios. Não consegue emocionar o suficiente com a crise de identidade proposta e nem convence plenamente através do ritmo de aventura que é obrigado a possuir. Infelizmente fica naquela indesejada área do mediano e quando a sessão acaba a única certeza que fica é que tudo será esquecido em algumas horas.

domingo, 27 de março de 2011

“Eu Sou do Tempo em Que a Gente Se Telefonava” - Blubell - 2011

Quantas cantoras foram classificadas como a próxima musa da música brasileira nos últimos anos? Várias já carregaram essa promessa e pouquíssimas conseguiram realmente se firmar. Uma nova geração vem surgindo e novamente a imprensa começa a eleger e glorificar demasiadamente suas virtudes antes do tempo. Principalmente em cima da chamada nova vanguarda paulista há um excesso em cima de artistas que ainda tem muito o que mostrar.
Isabel Garcia, mais conhecida como Blubell, é um desses exemplos. Por mais que ao que tudo indique ela não esteja muito interessada nesse hype (no clipe de uma das suas canções aparece um cartaz escrito “Diva é a Mãe!”), boa parte dos formadores de opinião mais uma vez vem exagerando e cravando virtudes e depoimentos definitivos como se troca um disco, o que mais prejudica do que ajuda na grande maioria dos casos. Infelizmente é assim que funciona.
“Eu Sou do Tempo em Que a Gente Se Telefonava”, no entanto, se analisado sem os superlativos que tentam lhe adicionar é um disco bem interessante. Desde o ótimo título (ainda mais para pessoas acima de 30 anos que na juventude usavam somente o telefone como comunicação), passando pela bela capa e pelo clima retrô e jazzístico que dá o tom do trabalho. São 12 canções que mostram um caminho bacana a ser seguido e que soa espontâneo.
Blubell assina quase todas as letras e músicas (em três faixas é responsável somente pela segunda parte) e por mais que o seu tom de voz incomode em algumas passagens, exerce domínio sobre todo o álbum. A cama em que as canções são executadas é um grande destaque. Daniel Müller (piano), Rui Barossi (baixo), Beto Sporleder (sax e flauta) e Guilherme Marques (bateria) do grupo de jazz À Deriva são os responsáveis para que isso ocorra.
"Eu Sou do Tempo em Que a Gente Se Telefonava” é agradável e traz boas canções como “Chalala” (que fez parte do seriado “Aline” da Globo), “My Best”, “Mão e Luva” e a ótima “Good Hearted Woman” com participação de Tulipa Ruiz, outra musa da cena paulistana (e que a Rolling Stone tascou um “nasce uma estrela” na última edição). Não é espetacular como tentam que seja e não promete nenhuma salvação, apenas um futuro promissor. Vamos com calma.
Twitter: http://twitter.com/lablubell

sexta-feira, 25 de março de 2011

"This Is Only A Test" - Smoking Popes - 2011

Olhar para os tempos de adolescência quando se está chegando aos 40 anos pode ser derivado de uma crise existencial ou mesmo de um “Complexo de Peter Pan” sem data de validade. Não para Josh Caterer, o vocalista e guitarrista da banda Smoking Popes de Chicago (USA). Ele utilizou essa revisitação do tempo para criar “This Is Only A Test”, o novo trabalho que chega às lojas esse ano e é uma obra conceitual sobre um jovem nessa época da vida.
O Smoking Popes está na ativa desde o começo dos anos 90 e mesmo tendo se separado em 1998 promoveu o retorno em 2005. “This Is Only A Test” é o segundo disco desse retorno (o primeiro foi “Stay Down” lançado em 2008) e traz a estréia do baterista Neil Henessy (do Lawrence Arms) em estúdio. Ao lado de Josh Caterer estão o restante do núcleo do grupo desde o início, os irmãos Eli Dixon Caterer (guitarra) e Matt Caterer (baixo).
A música do Smoking Popes ainda é influenciada por Ramones e Buzzcoks, mas recebe uma voltagem maior do rock alternativo americano, ainda que não demasiadamente. São 10 faixas que tratam do universo de um jovem na sua escola. São amores não correspondidos (“Wish We Were”), desejos de montar uma banda (“Punk Band”), relação com os demais alunos (nos ecos de Nirvana de “Freakin' Out”) e o dia a dia com os professores (“Excuse Me, Coach”).
“Excuse Me, Coach”, aliás, é a maior surpresa do álbum. Baladinha conduzida por teclado e com programação eletrônica que não se correlaciona com nada feito anteriormente, por mais que se lembre de faixas mais lentas como “On The Shoulder” de “Born To Quit” (1995) ou na cover de “Bewitched, Bothered and Bewildered” de “The Party's Over” (2001). A simples melodia é encharcada de tristeza pelo vocal de Josh Caterer e funciona muito bem.
Outros destaques também são desacelerados. Faixas como a bonita e desesperada “College” que trata do medo do futuro e a espécie de despedida conduzida pelos violões de “Letter To Emily”. Essas canções mais calmas servem para ajudar a traduzir o espírito que as letras do disco tratam e mesmo que o apelo e energia do punk-pop do Smoking Popes permaneça intacto, acabam sendo o ponto alto de um dos bons discos do ano até agora.
Site Oficial: http://www.smokingpopes.net Twitter: http://twitter.com/smokingpopes

quarta-feira, 23 de março de 2011

“Several Shades of Why” - J Mascis - 2011

J Mascis é um ícone do rock alternativo norte americano. Por mais que chamar alguém de ícone tenha se tornado um imenso lugar comum, isso pode ser plenamente aceitável no caso dele. A frente do Dinosaur Jr. distribuiu distorção e melodia como poucos, criando obras primas como “Bug” de 1988 e “Where You Been” de 1993. Mesmo quando a banda voltou depois de um longo hiato, continuou cunhando ótimos trabalhos como “Beyond” (2007) e “Farm” (2009).
Em 2011 ele resolveu embarcar em um disco solo e para tanto chamou alguns amigos para ajudá-lo na missão. Gente como Kevin Drew (Broken Social Scene), Ben Bridwell (Band Of Horses) e Suzanne Thorpe (Ex-Mercury Rev) tocaram no álbum. A produção ficou como o velho amigo John Agnello, que além do Dinosaur Jr. já trabalhou com nomes como Patti Smith e The Hold Steady. Até Kim Gordon (baixista do Sonic Youth) ajudou e riscou as letras da capa.
“Several Shades of Why” traz onze canções e por ser essencialmente acústico pode ser confundido com um disco doce e suave, quando é exatamente o oposto disso tudo. A temática das canções versa sobre amores perdidos, dúvidas sobre o caminho a ser tomado e um cansaço sobre a vida em geral. A tonalidade do instrumental se inspira bastante nos trabalhos acústicos da carreira de Neil Young (de quem J Mascis é fã confesso) e tem um clima triste e melancólico.
Falar sobre os assuntos descritos acima não chega a ser uma novidade para o músico, que já no trabalho da sua banda sempre os incorporou a onipresente camada de guitarras. Em “Bulbs of Passion” de “Dinosaur” de 1985, por exemplo, cantava que “as lágrimas estão fluindo do amor em seus olhos”. Já em “Plans”, do mais recente trabalho de 2009, as dúvidas também estão presentes em versos como: “eu não tenho nada para ser, você tem alguns planos para mim?”.
“Listen To Me” é a responsável para abrir esse disco solo e enquanto um violão segura o ritmo com pequenas mudanças ao fundo, J Mascis canta que não pode esperar mais por nada, pois é só dor o que consegue produzir. Na canção que dá nome ao trabalho um dedilhado encobre uma vida onde “não há paz, o conforto é pouco e sem ombro de ninguém”. “Not Enough” traz um tom mais forte de voz e uma pequena percussão, além de refrão levado por um coral.
“Very Nervous and Love” traz uma progressão de notas dedilhadas que crescem e acabam sem aviso. O tom é novamente melancólico e trata de um amor quebrado. “Is It Done” é sobre “a alma espancada” com o vocal em busca de paz, enquanto uma guitarra distorce no final e insere uma dramaticiade que se completa com um dos solos característicos de Mascis. Já “Make It Right” é uma mas melhores faixas e exibe uma flauta muito bonita tocada por Suzanne Thorpe.
“Where Are You” é simples e traz novas dúvidas, culpas e vergonhas. Vocal dobrado, climão de balada de estrada e mais um bonito solo de guitarra de J Mascis. “Too Deep” é só voz e violão e tem a única dose de esperança do trabalho, mesmo que esta se acabe em “Can I”, canção caótica e densa que canta “novamente eu estou solitário, solitário o tempo todo”. “What Happened” fecha muito bem o álbum e sai um pouco dos temas anteriores para olhar para a família.
“Several Shades of Why” pode ser entendido sobre diversos ângulos, mais nenhum pode ser descrito como leve ou feliz. Seu criador que tratava suas crises nas letras do Dinosaur Jr. sobre uma base mais suja e pesada, agora se despe para falar sobre isso apoiado em violões. Michelangelo, um dos maiores artistas da história, certa vez escreveu “a minha alegria é a melancolia”. J Mascis comunga desse pensamento e o usa novamente para fazer um ótimo disco.
Site Oficial: http://jmascis.com Twitter: http://twitter.com/jmascis

segunda-feira, 21 de março de 2011

"Reino Animal" - 2010

Um jovem está sentado no sofá assistindo um programa de auditório qualquer. Sua feição é compenetrada, quase não pisca. Ao seu lado uma senhora está jogada como se tivesse capotado no sono. Pouco tempo depois chegam dois paramédicos e o espectador descobre que na verdade, a senhora não está capotada por conta do sono e sim de uma boa quantidade de heroína correndo no corpo. O jovem alterna sua visão entre ela e o programa de tevê.
Os primeiros minutos de “Reino Animal” são de uma intensidade que impressiona. A frieza do jovem que espera a chegada dos paramédicos enquanto sua mãe definha ao lado no sofá e a maneira como ele conduz seus atos posteriormente, impressiona bastante. O filme australiano do diretor David Michôd (disponível em DVD) deixa em toda sua duração uma sensação de incômodo e de mal estar pela naturalidade e frieza embutida nos seus personagens.
A cidade é Melbourne na Austrália e o jovem em questão se chama Joshua “J” Cody (o estreante James Frecheville). Devido ao rumo dos acontecimentos citados acima ele passa a viver com a avó Janine Cody, em interpretação poderosa de Jacki Weaver que a levou a ser indicada ao Oscar desse ano como Atriz Coadjuvante (e que talvez merecesse mais que Melissa Leo de “O Vencedor”). E nessa nova casa, “J” precisa se ambientar com os demais parentes.
A família tem atividades criminosas como ramo de trabalho e está no foco principal de um grupo da polícia totalmente voltado a exterminar os envolvidos da forma que for necessária. Todos os seus tios são meio psicopatas, principalmente Andrew “Pope” Cody (Ben Mendelsohn de “Presságio) e Craig Cody (Sullivan Stapleton). “J” que não chega a ser nenhum santo é engolido pelas ações dessa família e arremessado em um caminho sem muito retorno.
Em “Reino Animal” David Michôd fez um baita filme, onde roteiro (escrito por ele) e direção convergem para um resultado forte, mostrando atos de uma natureza cruel sendo executados como se abre uma garrafa de refrigerante. Nele não há perdão e o único envolvimento humano positivo é do detetive Nathan Leckie (Guy Pearce) em uma missão suicida para salvar o jovem Cody do futuro que lhe apresenta, mesmo sabendo que só os fortes sobrevivem no fim.
P.S: O filme ganhou o prêmio do júri no Festival de Sundance em 2010.

sábado, 19 de março de 2011

"Odiosa Natureza Humana" - Matanza - 2011

Ande até a porta do último bar antes da fronteira com o inferno. Lá dê um chute na porta com a força que tiver e se direcione para uma mesa qualquer. Peça uma cerveja escura e mais alguma dose de bebida destilada. Chame uma ou duas mulheres para sentar junto e comece a desfilar os papos mais macabros e sacanas possíveis, enquanto os idiotas das outras mesas olham com a idéia de começar uma briga. Envergue mais uma cerveja e mande aumentar o som.
É em algum cenário parecido com esse, que Jimmy London (vocal), Donida (guitarra), China (baixo) e Jonas (bateria) teriam muito prazer em tocar o repertório do mais recente trabalho do Matanza. “Odiosa Natureza Humana” é o 6º álbum da banda (contando aí o “To Hell With Johnny Cash” de 2005 e o “MTV Apresenta” de 2008) e continua trazendo o punk-country-hardcore nervoso, mal humorado e muito bem servido de ironia e humor negro do grupo.
São 13 faixas que não chegam a 40 minutos no total e tratam dos assuntos que a banda sempre mostrou afeição. Saco cheio para a humanidade em geral, bebidas em demasia, mulheres em profusão, brigas em bares e uma aproximação com qualquer história que fuja de algum sentido religioso. É porrada sonora do início ao fim para escutar em volume alto e lembrar daquela face mais podreira e enérgica do rock, sem ser encoberta por efeitos ou produções.
Em “Remédios Demais” que abre o disco, Jimmy canta que saiu atropelando um monte de gente porque estava repleto de “remédios” no organismo (déjà vu dos fatos de Porto Alegre?). Em “Escárnio” escancara a vida boa de um cara entre amigos falsos, mas avisa que “no fim vem a conta” e “que o garçom tem um tridente e vai ter a eternidade pra cobrar”. Em “Tudo Errado”, detona um cidadão que sabe que está fazendo merda, mas tem preguiça de mudar.
E “Odiosa Natureza Humana” segue com suas cacetadas. Enfileira faixas como “Saco Cheio e Mau-Humor”, “Amigo Nenhum” e “Bebum Acabado”, sem piedade alguma. A pegada mantém o hardcore como uma das bases e traz as velhas e boas influências de Motörhead e Slayer. Se você de vez em quando precisa ouvir bem alto um rock sem muita frescura, esse disco é completamente indicado. Sem hype ou surpresas, apenas um disco de rock sujo e feroz.
Site oficial: http://www.matanza.com.br My Space: http://www.myspace.com/matanzacountrycore

quinta-feira, 17 de março de 2011

"Micmacs - Um Plano Complicado" - 2010

Bazil teve pouca sorte no decorrer da vida. Quando criança teve sua feliz vida em família destroçada pela morte do pai por causa da explosão de uma mina terrestre. A mãe enlouqueceu e ele foi mandado para um internato religioso. De lá fugiu e foi se virar sozinho. Depois de trinta anos da morte do pai, enquanto trabalhava em uma pequena locadora levou uma bala perdida na cabeça e não pode tirar de lá pelo risco de morrer. Para completar perdeu casa e emprego depois de sair do hospital.
Essa tragédia toda é contada logo nos 10 minutos iniciais de “Micmacs - Um Plano Complicado”, o mais recente trabalho cinematográfico do diretor francês Jean-Pierre Jeunet. Jeunet traz no currículo filmes como “Delicatessen” de 1991, “Ladrão de Sonhos” de 1995 (esses dois em parceria com Marc Caro) e “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” de 2001. Essa sua nova empreitada que chega em DVD é uma comédia que ambiciona criticar a indústria armamentícia, enquanto desfila seu estilo.
Em “Micmacs”, Bazil (Dany Bonn de “A Riviera Não é Aqui”) depois de sofrer as desgraças contadas acima encontra um grupo de desajustados que vivem de reciclar lixo. Nessa nova família, se sente cada vez mais a vontade quando dirigindo pela cidade se depara com os dois símbolos que mais odeia. O da empresa fabricante da mina que lhe tirou o pai e o daquela que lhe alojou uma bala na mente. Com o intuito de vingança e com a ajuda da nova trupe, ele trama um plano para acabar com as duas.
O estilo de Jean-Pierre Jeunet continua deslumbrante no visual e na estética. Faz homenagens ao cinema mudo e para as comédias dos anos 60/70, caprichando no desenvolvimento de situações mirabolantes e pouco viáveis de maneira engraçada. O visual como nas suas obras anteriores (e principalmente em “Ladrão de Sonhos”) é meticuloso e transita entre a sujeira que sempre lhe atraiu e as invenções fantásticas, com aspectos técnicos como direção de arte, fotografia, figurino e som parados na perfeição.
No entanto, isso não é suficiente para salvar o filme como um todo. Ao levar em frente o plano de Bazil e seus companheiros desajustados e com “poderes especiais”, o roteiro (desenvolvido com o velho parceiro Guillaume Laurant) caminha para não chegar a lugar nenhum. Fica na maior parte do tempo preocupado em mostrar as improváveis artimanhas usadas para derrubar as empresas de armas e acaba por fazer um inusitado crossover entre os desenhos antigos da Warner Bros com os filmes dos Trapalhões.
“Micmacs - Um Plano Complicado” tem boas sacadas (como a camisa de Thierry Henry autografada de forma errada servindo como moeda) e faz rir em várias passagens, mas depois a piada meio que cansa e o final se aproxima sem tanta expectativa. Mesmo carregando a conhecida maestria na direção, aliando visual e quesitos técnicos como poucos, Jean-Pierre Jeunet acaba se perdendo nesse direcionamento e deixa a história em si enfraquecida, o que diminui o brilho de um filme que podia ser maior.
Sobre “Ladrões de Sonhos”, passe aqui.

quarta-feira, 16 de março de 2011

"2º Cine Zen Convida" - Ao Café (Santos/SP) - 02.04.2011

O site Cine Zen Cultural (http://cinezencultural.com.br) do André Azenha está comemorando 2 anos. Para comemorar esse aniversário, promove no próximo dia 02 de abril no Ao Café em Santos-SP, a 2ª edição do “Cine Zen Convida”, um bate papo beneficiente com o intuito de abordar a produção e os eventos de cinema na região.
A mesa será formada por Junior Brassalotti, diretor de produção do Curta Santos, Eduardo Ricci, coordenador do CINEME-SE e do Cineclube Lanterna Mágica da Unisanta, Carlos Oliveira, cineasta e coordenador do Grupo Contramão, e Waldemar Lopes, cinéfilo e palestrante. O André será o mediador do bate-papo.
Para quem estiver pela região, vale a pena dar uma passada por lá.
Serviço:
2º CineZen Convida – Produção e eventos de cinema em Santos Quando: 02 de abril de 2011, sábado, 20h
Onde: Ao Café, Avenida Siqueira Campos, 462, Boqueirão, Santos (telefone: 13 3224-5744)* Pede-se a gentileza de um quilo de alimento não perecível ou uma lata tradicional de Mucilon para ajudar a Casa Vó Benedita
Mais informações sobre o evento: 13 9744-3726 e editor.cinezencultural@gmail. com
Paz Sempre!!

segunda-feira, 14 de março de 2011

"Some Kind Of Cure" - David Berkeley - 2011

A Córsega é uma ilha de posse da França que fica situada no coração do mar mediterrâneo conhecida pela sua beleza e tranquilidade. Foi nesse local que o cantor e compositor norte americano David Berkeley se isolou em uma pequena aldeia para refletir sobre a vida e construir o seu quarto trabalho. Os dias de paz e solidão parece que fizeram muito bem e resultaram em “Some Kind Of Cure”, um disco bonito e bem executado.
Quando retornou aos Estados Unidos, o músico convocou Will Robertson para a produção e formou uma banda bacana para executar as canções concebidas lá longe. Peter Bradley Adams ficou no piano, Jordan Katz (De La Soul) nos teclados e banjo, Lex Price no bandolim e guitarras, Kim Taylor nos vocais de apoio e Kevin O’Donnel na bateria. Assim as 13 faixas de “Some Kind Of Cure” foram registradas e reinventadas.
David Berkeley, que reside agora em São Francisco (USA), é conhecido pelo cuidado que tem com as letras das suas composições e a primeira vista se insere naquela área de cantores/trovadores, mas sem carregar os malefícios que a maioria traz consigo. Esse cuidado é tão evidente que lá fora, em conjunto com o disco, será vendido um pequeno livro de contos, alongando a história que está refletida em cada canção.
A sonoridade de “Some Kind Of Cure” é ambientada dentro do universo do folk com pitadas de indie rock aqui e acolá. Na grande maioria é o folk que toma conta, mas existem bons momentos mais acelerados como “Parachute” (“seu coração é como um pára-quedas/e só abre quando você cai”, diz a letra), “Hope For Better Days’ (que lembra Snow Patrol) e a mais clássica “Soldier’s Song" que mostra até distorção lá pelo meio.
O tom da voz de David Berkeley é forte e as músicas são cantadas bem pausadamente (parece a Tracy Chapman em alguns momentos, lembra dela?), o que realça ainda mais o clima intimista das histórias que ouvimos. Escolha “George Square”, “Marie” ou “Winter Winds”. Qualquer uma dessas faixas tem o dom de acalmar um dia agitado e servir de trilha sonora para a desintoxicação diária (e sempre necessária) do mundo em geral.
Site Oficial:
http://davidberkeley.com My Space: http://www.myspace.com/davidberkeley