Após ser agredida pelo namorado,
uma jovem advogada paulista embarca para o Acre para acompanhar um mutirão de julgamentos
de mulheres assassinadas naquele estado a pedido do escritório em que trabalha
que está fazendo um estudo nesse sentido. Ao chegar para a missão e carregando
dentro de si problemas pessoais tanto do presente quanto do passado se envolve
no caso de assassinato de uma jovem indígena por três playboys da cidade e a
partir disso as coisas entram em uma espiral gigantesca de acontecimentos que a
levarão para caminhos outrora nunca imaginados. “Mulheres Empilhadas”,
novo romance da escritora Patrícia Melo, usa o descrito anteriormente como
ponto de partida, mas se estende por diversos prismas e por conta da maneira
que isso é apresentado entra com méritos no rol dos melhores trabalhos da
autora. Publicado em 2019 pela editora Leya com 240 páginas exibe uma narrativa
dura e pesada com Patrícia assumindo uma postura potente e incisiva enquanto conversa
sobre impunidade, hipocrisia, corrupção, feminicídio, direitos indígenas e questões
de gênero. Questões essas que além de todas as desigualdades sociais e econômicas
existentes no país, apresentam também uma clara constatação da facilidade com
que as mulheres são mortas aqui. Como diz determinada parte do livro: “Não
importa onde você esteja. Não importa sua classe social. Não importa sua
profissão. É perigoso ser mulher.” Ainda mais em uma nação que nos últimos
anos despreza isso de modo inconsequente e criminoso sem ações efetivas para
mudar esse cenário descrito de forma avassaladora no livro.
Nota: 8,0
Existem livros em que seguir em
frente é tarefa árdua, não por ser mal escrito ou tratar de um assunto
irrelevante, mas sim por apresentar uma história tão implacável e dolorosa que
é impossível ler com rapidez, sendo preciso parar e respirar com frequência depois
de algumas páginas. É o caso do “Vozes de Tchernóbil - A História Oral do
Desastre Nuclear” da vencedora do prêmio Nobel de Literatura Svetlana Aleksiévitch,
publicado em 2016 pela Companhia das Letras com 317 páginas e tradução de Sônia
Branco quando completou 30 anos da catástrofe. A autora bielorussa levou 10
anos para concluir a obra que originalmente foi publicada em 1997 e optou por passar
pelo fato em si e focar no universo em volta, nas histórias omitidas e na
mudança drástica do cotidiano. São relatos de pessoas de diferentes profissões
e classes para montar uma fotografia poderosa de uma guerra invisível contra um
inimigo de aspecto completamente diferente e que eles não estavam preparados
para enfrentar. Paralelamente traça um panorama político e social da época,
enquanto aproveita para mostrar toda a inépcia, covardia e egoísmo do governo
que escondia a verdade inundado com o medo de perder o poder e fazendo com que
o povo sofresse muito e pagasse com a própria vida no decorrer dos anos. É um
livro sobre memória, sobre lembranças, sobre pessoas que tiveram o medo
ocupando o lugar do amor nos seus corações e que serve como lição para o
momento em que passamos hoje no mundo.
Nota: 9,0
Leia um trecho: https://www.companhiadasletras.com.br/trechos/14085.pdf
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