terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Literatura: "Os Éguas" e "O Clube dos Jardineiros de Fumaça"


Edyr Augusto Proença é paraense e começou a carreira nos anos 70 no teatro como diretor e escritor, sendo também jornalista, radialista e publicitário antes se dedicar a prosa. Seu primeiro romance foi “Os Éguas” em 1998, obra que no ano passado ganhou nova edição atualizada pela editora Boitempo com 200 páginas. Edyr Augusto é um autor ímpar no cenário literário nacional, seu texto é ágil, visceral, vibrante, sem deixar o leitor sequer pensar em respirar e pegar um fôlego qualquer. Com um pé na literatura noir expõe nos cenários de fundo dos romances o desmando político, a violência, a desigualdade e abusos existentes no seu estado com um domínio absurdo. É assim em “Os Éguas” e também em romances posteriores como “Moscow” de 2001, “Casa de Caba” de 2004 e “Pssica” de 2015, todos com a mesma intensidade e força. Para quem não conhece o autor essa estreia reeditada agora exibe tudo que sua literatura tem de melhor, com realismo, violência e lirismo coexistindo espetacularmente. Nesse thriller policial em questão o delegado Gil se torna a força condutora da história quando se depara com um suicídio que se transforma em homicídio logo em seguida. Alcoólatra e, convenhamos, não tão esperto como pensa, ele precisa desvendar uma trama que invade a alta sociedade, atravessa as áreas pobres da cidade e desembarca dentro do tráfico, com personagens interessantíssimos e fascinantes ao redor, sem ter qualquer teor de perdão no texto. É um livro extremamente vigoroso de um autor que merecia muito ser mais conhecido no país.

Nota: 9,0


A busca por um caminho, por um destino, por um rumo, está presente na vida de uma imensidão de pessoas e não distingue raça, idade, cor, credo, classe social ou qualquer coisa. É nessa situação que se encontram os personagens de “O Clube dos Jardineiros de Fumaça” da gaúcha Carol Bensimon, vencedor do prêmio Jabuti de melhor romance em 2018. Esse quarto livro da autora tem edição pela Companhia das Letras do finalzinho de 2017 com 368 páginas. Arthur é um brasileiro que se exilou nos EUA após um escândalo em Porto Alegre que culminou em demissão e desconfiança. Isso ocorreu devido ao cultivo de maconha em casa, primeiro para aplacar as dores provocadas por uma doença na sua mãe, mas que depois foi continuado e teve apreensão policial com todo estardalhaço possível. O lugar para que se manda é o condado de Mendocino na Califórnia, área que tem uma das maiores produções (legais ou não) de maconha dos EUA. Em uma época imediatamente anterior a liberação da droga para uso recreativo no estado (o que ocorreu em 01.01.2018), ele se envolve aos poucos na cidade costurando relações com pessoas que partilham – conscientes ou não – da mesma procura por algum sentido. A autora passou 8 meses na localidade se inserindo e misturando (e recentemente voltou para lá), o que foi imprescindível para tornar o romance tão real. Construindo magistralmente essas relações e inserindo todo um contexto histórico da região na trama, Carol Bensimon é responsável por um trabalho primoroso. O Jabuti ficou em excelentes mãos.

Nota: 9,5



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