quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Green Day - São Paulo - Arena Anhembi - 03.11.2017


A diversão é (ou pelo menos deveria ser) parte fundamental da vida. Diversão simples, até mesmo besta, sem maiores pretensões, que faz um bem danado nem que seja por um curto espaço de tempo. Alivia um pouco o espírito, liberta alguns sorrisos no rosto, deixa a costa um pouco menos pesada para a rotina do dia seguinte. E foi essa diversão que o Green Day entregou para mais de 25 mil pessoas no último dia 3 de novembro em São Paulo.

A última vez que a banda havia tocado no país foi em 2010, ainda carregando o status de grande grupo que veio depois do álbum “American Idiot” de 2004 que vendeu trocentas milhões de cópias e os elevou ao patamar de tocar em estádios cada vez maiores. Cenário diferente de agora, culpa de alguns discos fracos e sem muita vibração como a trilogia formada por “¡Uno!”, “¡Dos!” e “¡Tré!” lançada em 2012.

Mesmo sem causar o mesmo alarde e comoção de outrora, o Green Day absorveu todas as artimanhas de como fazer um show voltado para a felicidade do seu público e se mantêm relevante no cenário, apesar dos descuidos da carreira. A turnê que veio em decorrência do álbum “Revolution Radio” do ano passado - onde a banda volta a flertar com os bons momentos em pelo menos metade das faixas - tem superprodução, com direito a fogos, explosões e papel picado no ar.

A abertura da apresentação na Arena Anhembi (o sambódromo paulista) ficou por conta dos californianos The Interrupters que em meia hora mostraram vigor e simpatia com seu ska punk bem ajustado em canções como “By My Side”. Mas foi quando “Bohemian Rapsody” do Queen começou a tocar nos alto falantes, sucedida por “Blitzkrieg Bop” do Ramones, que a plateia começou a se agitar. O já conhecido coelho rosa maluco incitava gritos e risos fazendo das suas. Estava chegando a hora.

Billie Joe Armstrong, Mike Dirnt e Tré Cool acompanhados de outros três músicos começaram com a porrada de “Know Your Enemy” do disco “21st Century Breakdown” de 2009, faixa que há muito serve para essa função. Na sequência gastou sabiamente logo duas canções do disco mais recente, “Bang Bang” e “Revolution Radio”, para engatar uma sequência do “American Idiot” formada por “Holiday”, “Letterbomb” e “Boulevard Of Broken Dreams”, cantada em uníssono.

Com o público já devidamente na mão entre gracejos, gritos e correria pelo palco, a banda ainda soltou “Longview” do multipremiado “Dookie” de 1994 e mais “Youngblood”, uma das boas faixas do último trabalho, antes de engatar em fila um grupo de músicas ao mesmo tempo surpreendente e devastador. Billie Joe dedicou “2000 Ligth Years Away” do longínquo “Kerplunk” de 1992 aos fãs “old school” e de lá partiu para fazer a alegria dessa turma que vibrando se jogava de modo desajeitado e destreinado em rodas de pogo.

Foi um show dentro do show, por assim dizer. Teve “Armatage Shanks” do “Insomniac” de 1995, “J.A.R” e “F.O.D” do já citado “Dookie”, “Scattered” e “Nice Guys Finish Least” do “Nimrod” de 1997 e “Waiting” do “Warning” de 2000. Outras duas vieram ainda do “Dookie”: “When I Come Around” e “Welcome To Paradise”. Ao final, respirar era difícil e o suor escorria feliz pelo corpo. Antes do primeiro bis teve, entre outras, o hitzaço “Basket Case” (ainda que “She” tenha ficado só na vontade).

O primeiro bis teve duas faixas do “American Idiot”: a título e “Jesus Of Suburbia” em grande versão. E na volta para encerrar com o segundo bis Billie Joe veio só ao violão, para acalmar alguns ânimos ainda exaltados, e tocou “21 Guns” do “21st Century Breakdown” e mais outro grande hit, “Good Riddance (Time of Your Life)” do “Nimrod”. Assim, com duas horas e meia de duração mais ou menos, acabava outra passagem da banda por terras paulistas.

Em tempos onde tudo é histórico, e todos mitam a cada momento, o Green Day fez em São Paulo a coisa mais simples e funcional que uma banda de rock pode fazer: divertiu. Sim, jogam muito com o público - talvez em demasia até - com subidas ao palco, microfones direcionados para cantar passagens, presepadas em excesso como no medley que reuniu de The Doors a Beatles, mas honestamente: que se dane. Faz parte do jogo e eles sabem disso. Precisa ser muito rabugento para no mínimo não soltar uns sorrisos nessas horas. E se quiser ir ao banheiro ou comprar uma cerveja essa é a hora.

No meio da apresentação ainda teve tempo para Billie Joe criticar o famigerado presidente americano Donald Trump, abraçar uma bandeira LGBT em vários momentos, falar contra a perturbação de saco de celulares e fotos: “não precisamos de Facebook”, “viva o presente”. Tempo para mostrar a verve crítica que também é parte integrante da banda, enquanto vez ou outra afirmava: “ainda estamos vivos”.

Sim, estão vivos e bem vivos, para alegria dos fãs das mais diversas idades que o Anhembi abrigou em uma noite pra lá de bacana de sexta-feira.

P.S: Lado negativo como sempre e sem mudanças é o perrengue que se passa nas saídas de shows que terminam depois que o metrô fecha. Além de desrespeito ao público mostra a incompetência de gestão atrás de gestão que não consegue solucionar o problema para grandes eventos. Ridículo.

As fotos são de Marcelo Brandt do site G1. Mais aqui: https://goo.gl/AUXkMn  



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