domingo, 4 de junho de 2017

Literatura: "O Casal Que Mora ao Lado" e "Ninfeias Negras"


Anne e Marco Conti são um casal normal, moram em uma casa confortável e acabam de ter a primeira filha, chamada Cora, que está nos primeiros meses de vida. Entretanto, essa é a apenas a imagem superficial, pois por dentro o casal vive momentos difíceis, com a mãe em depressão pós-parto e o pai repleto de problemas no trabalho. O convite dos vizinhos para um jantar então se apresenta como boa oportunidade para o casal sair um pouco, desopilar a cabeça, socializar com outras pessoas. Contudo, o jantar não anda da melhor maneira e, além disso, os pais precisam ir de meia em meia hora ver como a filha está já que os anfitriões não queriam crianças no local, apenas adultos. Em uma desses visitas a mãe percebe que a filha sumiu, desapareceu. É a partir desse rapto que a escritora Shari Lapena começa a desenvolver “O Casal Que Mora Ao Lado” (The Couple Next Door, no original), livro publicado em 2016 que a editora Record lança no Brasil esse ano. Com 294 páginas e tradução de Márcio ElJaick, a obra ambiciona ser um suspense policial cheio de reviravoltas que adiciona pontualmente novas informações para mudar a percepção do leitor a cada página. Porém, apenas ambiciona e nada mais. A realidade é que a obra é um imenso agregado de chavões do estilo que são escritos de maneira rasa e sem muito ritmo e cometem o erro fatal para um livro de suspense: antecipam costumeiramente suas revelações, aquilo que em teoria deveria surpreender a quem lê e ditar novas direções. Pode enganar ao leitor não muito acostumado a enredos mais elaborados, prova disso são as milhares de cópias vendidas, mas para quem espera sempre algo de um nível maior, “O Casal Que Mora Ao Lado” é um desastre quase que completo.

Nota: 3,0

Leia um trecho aqui:



O pintor francês Claude Monet (1840-1926) é um dos grandes nomes do Impressionismo e suas telas valem uma pequena fortuna. Nos seus quadros eternizou diversas vezes a pequena cidade de Giverny na França, onde nasceu, viveu e retratou ninfeias das mais variadas estirpes. O escritor francês Michel Bussi de “O Voo da Libélula” usou esta cidade como palco para o romance policial “Ninfeias Negras” (Nympheás Noirs, no original), publicado no país de origem em 2011 e que em 2017 recebe edição nacional pela editora Arqueiro. Com 352 páginas e tradução de Fernanda Abreu, a trama começa para o leitor com o assassinato de um renomado e rico médico habitante do local, cheio de pequenos segredos. No entanto, conforme se percebe no decorrer das páginas, a história tem início em anos muito mais distantes, mais longínquos. Conduzido primordialmente por uma senhora que não se identifica logo, mas que observa todos os fatos, a narração também avança para outras duas mulheres fundamentais da obra, uma mais jovem, ainda criança, e uma professora da única escola da cidade. Dividindo a trama nesses três eixos, o autor vai construindo com cuidado cada personagem e coloca o leitor em desavisada situação de conforto que só se quebra na verdade nas páginas finais. A dupla de detetives encarregada do caso merece destaque, com personalidades, gostos e anseios bem distintos, funciona bem, fugindo no que é possível do lugar comum típico dessas orquestrações. Mascarado sobre um romance policial comum, mesmo que bem edificado, “Ninfeias Negras” esconde nas suas linhas pontos interessantes como a intensidade da relação entre as pessoas e a arte, não obstante cutucando um pouco esse mundo, e entra na cabeça do ser humano com intensidade no que tange a medos, privações, egoísmos e perda de esperança, o que faz o livro ir um pouco além.

Nota: 7,5



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