“O cão que guarda as estrelas” é
uma expressão utilizada no Japão para descrever alguém que deseja algo impossível
para si. A origem dessa expressão vem da imagem do cachorro, que sem motivo
aparente, fica olhando longamente para o céu como se desejasse alguma estrela. Foi
usando esse nome (“Hoshi Mamoru Inu”,
no original) que o conceituado artista gráfico japonês Takashi Murakami
intitulou seu primeiro mangá lançado em 2008 e agora publicado aqui no país.
A Editora JBC é a responsável por
essa publicação em formato pequeno (14,8 x 21cm), 132 páginas e tradução de
Denis Kei Kimura. Premiada no seu país de origem, como também nos Estados
Unidos, a obra de Takashi Murakami virou filme na sua terra natal em 2011 pelas
mãos do diretor Tomoyuki Takimoto, mas ainda não chegou no Brasil em nenhum
formato oficial. O que é uma pena.
No livro conhecemos Happy, um cachorrinho
que passa a fazer parte de uma pequena família composta por pai, mãe e filha,
que é quem lhe dá o sugestivo nome. Com o decorrer do tempo logo se afeiçoa
mais ao patriarca que o leva frequentemente para passear. Essa introdução
ambienta os costumes e rotinas da família, assim como a personalidade de cada
um. Anterior a essa introdução o autor mostra a polícia achando um carro com um
corpo humano e outro canino.
Assim, logo no início do mangá já
sabemos como a história vai acabar, então Takashi Murakami retroage para contar
tudo desde o princípio, usando para tanto o olhar do cachorro, que serve como
narrador e dá uma perspectiva completamente distinta para o álbum. “O Cão Que Guarda As Estrelas” é sobre
amizade, companheirismo, sinceridade, solidão e simplicidade e usa para isso um
homem que parece ter sido deixado para trás pela família, pelo trabalho e até
por ele mesmo, pode-se afirmar.
Quando o pai descobre que tem uma
grave doença e perde o emprego, a mulher lhe deixa e a filha passa a viver a
própria vida. Assim, ele vende o que tem, coloca tudo dentro de um carro e
resolve rumar para o sul, para o interior de onde veio, tendo como fiel
escudeiro o cachorro Happy. Nessa viagem os dois fortalecem os laços e partem
sem missões ou tarefas complicadas. São várias as analogias e conexões feitas
com o dia normal de cada um, repassando mensagens despretensiosas por entre as
páginas.
“O Cão Que Guarda As Estrelas” tem uma parte final subsequente ao
achado do carro e a história de como ele chegou até esse ponto. Essa parte representada
pelo agente social Okutsu que busca realizar o enterro do corpo e em descobrir
se este é um indigente ou não, é um adendo mais emocionante ainda e fecha o
livro com a famosa “chave de ouro”. Mesmo com um traço comum e sem floreios, Murakami
compôs em 132 páginas uma obra que tem o poder de amolecer o mais duro dos
corações (e sem deixar a pieguice tomar conta).
Prepare o lenço.
Prepare o lenço.
Nota: 8,5
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