domingo, 18 de maio de 2014

“Cazuza – Pro Dia Nascer Feliz – O Musical” - 17.05.2014 - Assembleia Paraense - Belém (PA)

A vida de Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza, desembarcou no teatro em outubro do ano passado. Além do livro e do filme, um musical também serve agora para contar a trajetória de um dos maiores artistas dos anos 80, através de suas icônicas canções. “Cazuza – Pro Dia Nascer Feliz – O Musical” tem texto de Aloísio de Abreu e direção de João Fonseca, o mesmo do musical sobre o Tim Maia. E durante sua turnê nacional desembarcou em Belém para três apresentações no final de semana.

O lugar escolhido para o espetáculo foi a Assembleia Paraense. Com a ideia na cabeça de conseguir o maior público possível, a produtora não tinha como alocar tal exibição no belo Theatro da Paz ou no Teatro Maria Sylvia Nunes, ambos acolhedores, mas realmente pequenos para o porte que foi imaginada a apresentação. O lugar designado então teve que se adequar colocando cadeiras nos setores escolhidos e divididos, bem como ajustar o espaço no que tange a iluminação e sonoridade.

O resultado disso para o público foi bem infeliz. Primeiro, não tinha ninguém informando qual o lugar de acesso que cada espectador deveria ocupar. Segundo, as cadeiras eram completamente desconfortáveis para se ficar em um período total superior a 3 horas, sem contar o fato do aperto, pois não tinha espaço entre elas (assento de companhia aérea era um sonho, se compararmos) e estavam tudo no mesmo nível de visão. E, só para fechar bem, tinha uma coluna de exibição de luz na frente do palco atrapalhando a visão de todos. Lamentável, ainda mais considerando o salgado valor pago pelos ingressos.

Seguindo para o espetáculo em si, a grande virtude do musical é a maneira que trata livremente do estilo de vida de Cazuza, com as drogas, o álcool e o sexo não sendo escondidos sempre que possível, como no (bom) filme de 2004. O ator e cantor Emílio Dantas tem um timbre muito parecido com o do homenageado, o que ajuda bastante. A sua composição visual de gestos e performance, mesmo que soe caricata e excessiva vez ou outra, convence bem, o mesmo ocorrendo para as interpretações de Ezequiel Neves e Ney Matogrosso.

A vida toda de Cazuza aparece no musical. Do início e da percepção que não era que nem os demais até o final provocado pela AIDS, tudo está lá. A paixão pela poesia e pelos sambas, os tempos de Barão Vermelho, os amores e dissabores, o desbunde total do Rio dos anos 80, a carreira solo, os discursos, a revolta em perder seu estilo de vida por conta de uma doença e o fim esperado. A cenografia de Nello Marrese é simples e funciona de modo prático e os figurinos concebidos por Carol Lobato se adequam bem aos tempos retratados.

Cazuza faleceu em 1990 aos 32 anos e beirou o extraordinário durante a sua vida artística. Há de se questionar sempre toda a loucura e porra louquice, pois se apoiava financeiramente no colo do pai famoso (João Araújo, presidente da Som Livre na época), mas isso é outra história. Se o tom libertário e atrevido era porque havia uma rede de segurança em volta, é impossível afirmar. O que se pode concluir é que como artista foi fundamental para uma geração se conhecer e botar pra fora alguns demônios pessoais e comportamentais em forma de música.

“Cazuza – Pro Dia Nascer Feliz – O Musical” recria além da história, canções poderosas como “Blues da Piedade”, “Ideologia”, “Preciso Dizer Que Te Amo” e “Por Que a Gente é Assim?”, além de outras não gravadas por ele como “Poema” e “Mais Feliz”. Os atores, apesar do tom demasiadamente forçado em algumas passagens, exibem um trabalho adequado. É um musical digno, uma homenagem que se não é perfeita, não desonra aquilo que se direciona a contar. Só não foi uma experiência melhor devido ao local escolhido para a exibição. Uma pena.

Nota: 6,5

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