domingo, 22 de março de 2015

Quadrinhos: "Cidade Selvagem - Vol. 1" e "Batman: Noel"

“Cidade Selvagem – Volume 1” (Fell, no original) é ambientada em uma zona urbana detestável que usa como acesso uma simbólica ponte. Nesta terra sem regras, a criminalidade e a falta de punição por parte da lei alcançam níveis estratosféricos. É nessa pequena parte do inferno que o Detetive Fell está inserido quando opta (por motivos silenciosos) em trabalhar na  delegacia da região que possui apenas “três detetives e meio” disponíveis. Publicada originalmente pela Image Comics em 9 edições entre setembro de 2005 e janeiro de 2008, a série ganha nova publicação nacional pela Mythos Books agora no início de 2015, com 164 páginas dispostas em uma bonita edição encadernada (como é costume da editora). Escrita por Warren Ellis (“Transmetropolitan”) e com arte de Ben Templesmith (“30 Dias de Noite”) temos uma história bem ao estilo do seu criador, com personagens que sempre deixam alguma coisa para ser descoberta e vivem na margem entre o certo e o errado sem se importar muito com isso. Contando com arcos fechados dentro de cada edição como nos seriados criminais famosos da televisão, acaba por funcionar bem, devido também a carga de humor negro embutida. Todavia, o grande destaque é a arte de Templesmith que surge riscada, escura, desfocada e com alguma referência a Frank Miller inserida ali no meio. Mesmo com um sentimento geral de não finalização já que a edição número 10 ainda não foi lançada lá fora (de 16 previstas), “Cidade Selvagem – Volume 1” se configura em uma boa história de quadrinhos.

Nota: 7,0

“Um Conto de Natal” de Charles Dickens já ganhou incontáveis adaptações desde 1843, seja na televisão, teatro, cinema ou literatura. A história do endurecido Scrooge que recebe a visita de três fantasmas no natal (representando o passado, presente e futuro) para que, entre outras coisas, analise o caminho que a vida dele tomou, praticamente já foi exaurida por completo. Eis que em 2011 o artista Lee Bermejo (da fenomenal “Coringa” ao lado de Brian Azzarello) resolveu utilizar novamente essa narrativa e desta vez correlacionar com o Batman. Sim, o Batman. O resultado disso tinha tudo para ser um imenso lago de sentimentalismos e clichês, mas, para grata surpresa, as coisas não saíram tão banais assim. “Batman: Noel” que a Panini Comics lançou por aqui no final do ano passado com 112 páginas, papel couchê e capa dura, com roteiro e arte de Lee Bermejo e cores de Barbara Ciardo é uma história que merece estar no rol das melhores coisas feitas com o morcego nos últimos anos. Transformando Batman em Scrooge, o autor mostra um herói raivoso que há muito tempo deixou de lado a nobreza e entrou em uma caçada cega contra o mal, desvirtuando assim seus princípios e ações. Quando começa a perseguir um dos capangas do Coringa no Natal ele recebe a visita dos três “fantasmas”, aqui travestidos de Robin, Mulher-Gato e Superman e a jornada de redenção é construída. “Batman: Noel” apresenta uma arte rica e exuberante, além de um roteiro que usa a obviedade como força para edificar uma história com significados e emoções.

Nota: 9,0

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