domingo, 26 de março de 2006

Match Point - Woody Allen

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“Match Point” (Ponto Final) o novo filme de Woody Allen é como todos vem falando o mais diferente do diretor nos últimos anos. Isso é bom ou ruim? Por um lado há acertos, mas também há muitos deslizes nessa nova trama do mestre do cotidiano, do dia a dia. O diretor dessa vez saiu de cena, dando lugar ao competente Jonathan Rhys-Meyers e a bela e sexy (e não menos competente) Scarlett Johansson, como atores principais. Em vez da amada Nova York entrou a neblina de Londres, onde Allen coloca seu olhar sarcástico e americano expondo de maneira inteligente as peculiaridades da cidade. Deixando um pouco de lado suas comédias de costumes, o diretor cria um suspense situado dentro da aristocracia britânica, explorando bem suas idiossincrasias e fragilidades dentro da sua suposta auto-identificação. No filme, Jonathan (Chris Wilton),é um tenista irlandês fracassado que dando aula em um clube da alta sociedade acaba se envolvendo com Chole (Emily Mortimer), irmã de um aluno milionário Tom Heweet (Matthew Goode). Em uma festa na casa de Heweet, Chris fica fascinado de desejo pela bela Nola (Scarlett) que descobre ser noiva do dono da casa. Allen começa a explorar um de seus caminhos prediletos que é o campo dos amores proibidos nesse momento. Contando com atuações seguras do elenco, piadas cortantes e a criação de um clima de suspense, Allen faz um universo bem diferente do acostumado culminando em seus finais quase ou diferentemente felizes. A critica em geral gostou muito do filme, e realmente as atuações, a direção, e esse digamos novo passo inesperado do diretor são de se vangloriar. Infelizmente a história é fraca. Quando trata dos relacionamentos, da “luta de classes”, os acertos são costumeiros, mas quando vai para o lado do suspense, da resolução e definição do filme, o deslize é feio, não há nada demais, as questões viram banais e as respostas aparecem na tela. Vale a pena assistir, pois o filme é bom, mas muito longe de ser tudo isso que a critica “especializada” vem falando. Da para ver a atuação estonteante da Scarlett Johansson, assim como se deliciar com as questões levantadas por Allen. Mas no final das contas, é como se os Ramones gravassem um disco de Blues.

quarta-feira, 22 de março de 2006

Crise de Identidade

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Lançada nos USA na temporada 2004/2005, a série “Crise de Identidade”, desembarcou aqui em 2005 tendo sido dividida em 7 partes que acabaram neste mês último. Com o intuito de comemorar os 70 anos do Universo DC a história chegou em patamares de importância próximos do clássico “Crise nas Infinitas Terras”, mesmo abrangendo no seu aspecto macro, assuntos completamente dispares. Para tanto, foi convocado o escritor Brad Meltzer para desenvolver o roteiro, ficando os desenhos a cargo de Rags Morales e a arte final com Michael Bair. A intenção era dar uma mexida no mundo DC e nos seus principais heróis, mostrando a fragilidade de todos perante a sua própria vida e suas identidades, preparando a casa para o que parece ser o grande evento DC dos últimos tempos, “Crise Infinita”. O roteiro produzido por Brad Meltzer foi simplesmente fantástico, envolvendo suspense e revelações, quase sem gafes ao universo DC e privilegiando a ordem cronológica dos fatos, culminando nos ótimos desenhos que transportaram uma realidade muito grande ao material. Sempre que o roteiro atende a esses requisitos, o caminho da qualidade se abre com maior facilidade. A historia começa com a morte de uma conhecida personagem (Sue Dibny, mulher de Ralph Dibny, vulgo Homem Elástico) e seu enterro. Para descobrirem o assassino vários heróis se reúnem e vão atrás de possíveis suspeitos. Enquanto isso, Arqueiro Verde, Canário Negro, Gavião, Zathana, Elektron e o próprio Homem Elástico se reúnem e relembram uma historia de muito tempo atrás, que não honra a ninguém, mas que precisa ser conversada. Dentro desse contexto e da busca do assassino, monta-se dentro da Liga da Justiça um universo onde mentiras, traições e medo, estão presentes constantemente, fluindo entre os principais baluartes da liga. Na verdade a busca pelo assassino se mostra no decorrer da trama uma questão secundária, o fato principal a ser atacado é a fragilidade dos heróis no meio de um mundo repleto de informação, em que tem que preservar suas identidades, não por eles, mas para preservar suas famílias. Com várias reviravoltas e inúmeras revelações, “Crise de Identidade” acabou deixando todos os leitores de boca aberta que com certeza nunca mais verão seus heróis como Super-Homem e Batman entre tantos outros, com os mesmos olhos. A mudança não é para dentro da série, mas em tudo que acontecerá depois dela. Classe A.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

"Mas chegou o carnaval...."

Sinceramente queria escrever algo sobre o carnaval que vem chegando, mas to sem tempo mesmo, trabalho e muito ultimamente. Ainda bem. Só espero que esse seja melhor do que o que passou, onde "Carnaval, desengano..." foi o tema.
Aqui vai minha listinha nada correta e extremamente pessoal para os dias de carnaval em casa, na rua, na chuva, ou num barzinho de sapê:
1 - Electro Cidade - Astronautas (porque os caras vão tocar por aqui)
2 - Let It Bed - Arnaldo Baptista (pra relaxar e viajar)
3 - A Bigger Band - Rolling Stones (precisa falar?)
4 - O Clube Quente dos Sapatos Bicolores - Sapatos Bicolores (Porque é foda!)
5 - Muito ska - The Toasters, The Specials, meu disquinho dos anos 60 (suinga!)
6 - Orquestra Klaxon - Max de Castro (suinga de novo!)
7 - Tudo Isso - Cabeça (roquenrou..........)
8 - The Best Of - Buddy Guy ( pra tocar aquela guitarra imaginária as 4 da manhã)
9 - First Impressions of Heart - The Strokes (tem que ter uma bandinha descolada para agradar os indies de plantão, fazer o quê?)
10 - Um cd pirata mal gravado de marchinhas de carnaval para tocar amanhecendo com todo mundo dançando sem ter a mínima ideia do que fazer
Sendo só...Té mais!

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

O Caçador de Pipas - Khaled Hosseini

Existem histórias atemporais, aquelas que marcam definitivamente nossa memória, resultando em um clássico no decorrer dos tempos. Acredito que esse era o objetivo do afegão Khaled Hosseini ao escrever seu primeiro romance “O Caçador de Pipas”, lançado por aqui ano passado pela editora Nova Fronteira. O livro já vendeu mais de 2 milhões de exemplares no mundo todo, recebeu críticas positivas diversas, foi traduzido para 29 países, se tornando um best-seller. Se o autor conseguiu o que queria? Não, não conseguiu, mas escreveu uma história simples, bela, dramática, cometendo uma obra boa, que vale a pena ser lida. Khaled Hosseini conta a história de Amir e Hassan, dois meninos completamente diferentes de raça, religião, etnia, estudos, mas unidos por um laço muito mais forte que podiam imaginar, abrigando uma amizade sem limites, mas dentro da linha tênue que pode estragar tudo. Ambientado no Afeganistão, começando na monarquia dos anos 70, passando pela invasão russa dos anos 80 e pelo regime talibã que destrocou o país, culminando nos atentados americanos pós 11 de setembro, o livro serve como uma grande aula de história, nos fazendo ver por um prisma diferente a relação ocidente e oriente, a importância do petróleo na cultura moderna, a fragilidade da política mundial via ONU e principalmente meio sucumbido a tudo, o balé desastroso que os USA vem dançando no decorrer dos tempos com sua política externa. Em cima desse pano de fundo, o autor conta histórias de amor incondicional, de traições, de orgulho e honra, amizade e principalmente a busca eterna pela paz interior, pela redenção. Com várias alterações na trama, apesar de muitas delas serem plenamente perceptíveis, o que perde um pouco o charme, constrói-se um universo diferente do que estamos acostumados a ver na TV, com sua narrativa simples e até por determinadas vezes descritiva demais, mostra-se que mesmo atrás de todo o terror, ainda existem seres humanos, existe bondade, existe uma vida. Apesar de algumas falhas na trama ou a simples exaltação que as vezes o autor eleva os USA, aliado com uma total indiferença pela realidade (não sei se própria ao personagem ou uma extensão do autor), “O Caçador de Pipas” é uma obra cheia de belas passagens dramáticas, entre pai e filho, amizade e a atual situação do mundo, com suas guerras sempre meio sentido. Um bom livro que como já disse merece ser lido, apesar de não ter alcançado a pretensão que seu autor queria.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

As Loucuras de Dick e Jane

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“As loucuras de Dick e Jane” é a nova empreitada do ator Jim Carrey, que estrela essa comédia romântica - dramática ao lado de Téa Leoni ( de “Um Homem de Família”), sobre a produção executiva do próprio Carrey e a direção de Dean Parisot (do ridículo “Heróis Fora de Órbita). Na verdade, o diretor não faz nenhuma diferença, essa é a verdade, Carrey é o nome do filme, para quem é fã do trabalho do ator (como este humilde escriba) vai gostar bastante da sua atuação. Carrey dá um tempo nas suas caretas e facetas, ambientando-se muito bem entre a comédia e o desespero que o seu personagem precisa. Ele vive Dick Harper, que depois de anos e anos de trabalho duro recebe uma promoção para vice-presidente da Globodyne, uma empresa líder de mercado no seu segmento de comunicação. Mas depois de um dia tudo começa a ruir, depois de um escândalo na empresa que forjava resultados financeiros disfarçando prejuízos em lucros, com ele fazendo papel de bobo em rede nacional de televisão. O objetivo da sátira é claramente as empresas Enron (gigante do setor de energia) e World.com que utilizaram de tal artimanha contábil para forjar resultados e elevar o preço de suas ações na vida real, realizando uma verdadeira calamidade nos USA, há pouco tempo atras, quando quebraram deixando acionistas e funcionários desesperados. Quando a empresa cai e seu CEO Frank Bascome (Richard Jenkins da série “A Sete Palmos) vai preso, todos os funcionários entram em parafuso, pois tinham todas as suas economias em títulos da Globodyne. O diretor da empresa e responsável por tudo, Jack Macllister (Alec Baldwin, excelente no papel), fica com milhões, pois havia vendido todas as suas ações antes da bomba explodir. Quando Dick chega em casa para dar a noticia percebe que a mulher pediu demissão e começaram a cavar a piscina na casa, que tal? A partir desse ponto, o filme critica de forma aberta, mas abusando do humor trágico e até as vezes negro. Da luta para se encontrar um emprego (em um país onde o desemprego só cresce), da relação dos mexicanos, das aparências superficiais da vida em sociedade, dos sonhos de consumo e não menos obstante da própria globalização em si. Quando tudo vai indo para o buraco, Dick resolve começar a roubar, contando com a ajuda da sua esposa Jane (grande coadjuvante!), voltando a ter seus bens dessa forma. O resto deixo para vocês verem no cinema. Carrey fez um filme engraçado mas com critica social, sem apelar para suas manias, realizando um bom filme para se ver no fim de tarde e dar bastante risada. Obs: Preste atenção nos agradecimentos finais,ok?

quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

Monsieur Batignole

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Tem uma frase que diz mais ou menos assim: “Quando os bons não fazem nada, o mal prevalece”. Pode-se dizer que essa é a premissa básica que o diretor francês Gérard Jugnot partiu para construir o seu “Monsier Batignole” que aqui desembarcou depois de três anos e recebeu o ridículo título de “Herói Por Acaso” (queria saber quem são os gênios atrás dessas traduções), estando disponível nas locadoras. No verão de 1942, a França se encontrava totalmente ocupada pela Alemanha no desenvolvimento da 2ª Guerra Mundial. Seus exércitos já haviam sido derrotados e a população vivia sobre medo, obedecendo ordens e não questionando em nenhum momento os oficiais alemães, que se preocupavam nesse momento em mandar judeus para o campo de concentração e se apossar dos bens deles. Nisso, alguns franceses se tornaram “colaboracionistas”, ou seja, deduravam judeus para os alemães. Alguns faziam isso por medo, outros por omissão e outros ainda por ganância e maldade. Nesse contexto é que se desenvolve o filme. Edmond Batignole (Gérard Jugnot) tem uma salsicharia em Paris, tendo como vizinho uma família de judeus que acaba denunciando sem querer para os nazistas, mais por obra de seu genro e candidato a “escritor” Jean Pierre Lamour (Jean Paul Rouve). Quando a família vai presa, seu genro e sua esposa se posicionam junto ao Coronel Spreich (Gotz Burger), comandante alemão em Paris, para adquirirem a casa. Em um processo de cobiça e ganância desvairados, tomam posse desse lar. Em determinado momento do filme, o menino Simon (Jules Sitruk em grande atuação) consegue fugir dos alemãs e retorna a antiga casa dos pais, onde já nada existe. A partir disso, Edmond começa a cuidar escondido do garoto e se vê envolvido no meio da guerra, que tanto quis ficar indiferente. Baseado em uma história real, “Monsieur Batignole” tem grandes momentos, apesar de ser bastante piegas às vezes e cometer algumas semelhanças com “A Vida é Bela” do italiano Roberto Benigni. Jugnot mostra seu filme sobre a segunda guerra de uma maneira leve e despretensiosa, colocando alguns dos males do ser humano a mostra e enaltecendo outros que vez ou outra precisam desabrochar. Com um toque de humor bastante aguçado e cenas emocionantes, o diretor constrói um belo filme, daqueles para se ver em casa, enquanto a chuva cai na cidade, lembrando que no final das contas como diria o poeta, “Ser bom é tudo que nos resta”.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

Unplugged MTV - Neil Young

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Ando escutando muita coisa antiga, andam até me sacaneando com isso, mas a verdade é que andei mexendo na cdteca e fui retirando alguns discos que fazia muito tempo que não ouvia. Ok, estou ficando velho, mas grandes músicas serão sempre grandes, isso é vero. Esse fim de semana o que andou rolando por aqui foi o bom e velho Senhor Rock n´Roll, Neil Young. O Unplugged MTV de 1993 reúne boa parte da obra do músico, e que apesar de não ter clássicos como "Hey, Hey, My, My" (regravada pelo Oasis) e "Keep Rockin´ in the Free World" (regravada pelo Pearl Jam), vale muito a pena. Contando com uma excelente banda de apoio, Neil começa com "The Old Laughing Lady" de 1968, passando por clássicos como "Mr. Soul" e "Stringman", embarcando na estupenda "Like a Hurricane" (que retratou bem sua geração) e por coisas mais recentes como "From Hank to Hendrix" e "Harvest Moon" do belo disco homônimo de 1992. O álbum culmina na belíssima "Helpless", mostrando o quanto Neil Young é o cara, melodia singela, letra de redenção, simplesmente perfeita. Para ratificar sua relevância, fico com um comentário do Noel Gallagher do Oasis, que assistindo a um show de Neil na Argentina ao lado do Mike Mills do R.E.M, olhou e disse : “Tinha que ter um motivo para eu fazer rock, Neil Young é esse motivo”. Assino embaixo.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

“Whenever You´re Read” - Flop - 1993

Existem aqueles discos que você compra, passa um monte de tempo divulgando aos quatro ventos que se trata de uma banda que todos precisam descobrir, ninguém acredita em você, o disco não vende, a banda some e você automaticamente vai arrumando novas paixões musicais. Depois de uma daquelas arrumações na cdteca para tirar o pó, eis que você o vê quase que dizendo “Você lembra de mim?”. Isso aconteceu essa semana com “Whenever You´re Read” da banda americana Flop. Lançado em 1993 pela EPIC, esse segundo trabalho (a banda acabou em 1995 depois de mais um registro) é uma obra prima do rock dos anos 90. Entenda-se o momento. Estávamos em 1993, o Nirvana tinha bagunçado com a música mostrando depois de muito tempo que podia se fazer barulho com pop e alcançar milhões de discos vendidos, trazendo consigo todo o movimento do grunge e a trupe de Seatlle com bandas como Pearl Jam, Soundgarden, Mudhoney, Alice In Chains e muitas outras. As gravadoras estavam correndo atrás do “novo” Nirvana a todo momento, a toda hora. O Flop era dos arredores de Seatlle, existia desde 1989, já tinha produzido algumas músicas legais e foram contratados pela EPIC para o lançamento do segundo álbum. Nisso, Rusty Willoughby (vocalista e guitarrista responsável por 95% das músicas), Nate Johnson (Bateria), Bill Campell (Guitarra) e Paul Schurk (Baixo), embarcaram na idéia e lançaram o excelente “Whenever You´re Ready”. Fugindo de tudo aquilo que se convencionou chamar de grunge, sua música ia mais para o lado do punk-pop do Husker Dü, com pitadas de powerpop, de bandas dos anos 60 e do som garageiro dos anos 70. Utilizavam muito bom humor (músicas com títulos como “A Popular Donkey”, “En Route To The Unified Field Theory" e “Z2 + C”), letras sarcásticas e certo humor negro, além de imbecialidades juvenis e comportamentos amorosos (o projeto gráfico meio nonsense do disco que o diga). Seja pelo punk de “A. Wylie” (hit pessoal dessa época, constava em todas as minhas fitas, sim... fitas), pelo vocal distorcido e as palmas de “A Fixed Point”, o hard rock quebrado de “Night of The Hunter”, o punk-hardcore de “Eat”, ou a entrada circense que antecede o rock cru de “The Great Valediction”, tudo é puro deleite sonoro. A banda podia ter conquistado o sucesso que nunca viu, canções de qualidade para isso não faltavam como “Port Angels”, onde um baixo de jazz salta para guitarras de um quase heavy metal, o pop puro e descartável de “Woolworth”, a mini ópera rock de “Parts I e II” ou a melancolia recheada de sarcasmo de “Regrets” onde Rusty canta “I have got a car/ I no have got a opinion/ I don´t have regrets baby/..../ I have got no friends...”
Mas como tantas outras acabou ficando no ostracismo, seus integrantes ainda continuaram a fazer música independente, nunca sem alcançar o brilho desse disco. Seja pelo baixo pulsante, riffs de guitarras e viradas de bateria ou pelas distorções, backing vocals e principalmente as melodias grudantes envolvidas na teia sonora. Disco dificil de ser achado, mas que vale muito a pena. Cometa um crime, mas escute. Pode confiar.

terça-feira, 3 de janeiro de 2006

Clean

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“Clean” é uma produção franco inglesa de 2004, disponível em DVD. Dirigido por Olivier Assayas (de “Água Fria”), esse drama de reconquista e redenção, me chamou muito a atenção nesse último fim de semana. É certo que histórias desse tipo sempre ganham ponto comigo, ainda mais se bem realizadas. O enredo consiste na busca de Emily Wang (uma ótima atuação da chinesa Maggie Cheung, que lhe rendeu o prêmio de melhor atriz em Cannes), em recuperar sua vida perdida após a morte de seu marido, Lee Hauser (James Johnston), um rockstar que não consegue mais lançar nada importante e sucumbe no meio de drogas e decepções. Lee sofre uma overdose depois de uma briga com Wang e morre, enquanto sua esposa passa seis meses na cadeia por porte ilegal de heroína. Quando sai da prisão, Emily encontra o seu sogro Albrecht Hauser (Nick Nolte em uma interpretação simples, cheia de timidez e amarguras), que havia cuidado de seu filho Jay (o bom James Dennis) durante sua prisão e que visto a deficiência emocional de sua nora, ele avisa que vai continuar com a criança. A partir daí a busca da personagem principal consiste em conseguir se reerguer, se livrando do vicio onipresente das drogas, para conquistar o filho. Maggie Cheung é um caso a parte no filme, atriz muito popular de filmes de ação em Hong Kong, ela consegue em seu segundo trabalho com o diretor, extrair uma mistura de esperança e desespero, que emociona nessa sua busca por paz. A direção é precisa, explora bem os temas que se desenvolvem paralelamente e sem muitas firulas, guiam um drama humano atrás de todo o glamour do mundo da música, atestando sua superficialidade e inconstância. Sem apontar culpados ou soluções Olivier Assayas expõe a busca por sonhos que a droga sacia, posteriormente solicitando o pagamento dessas pobres ilusões, com valores muito altos. Um bom filme, bem produzido e dirigido, com atuações convincentes e de um mundo não tão distante, mas ao mesmo tempo nem tão perto de todos nós. Um mundo onde a fragilidade do ser humano é tudo que temos de mais assustador, mais ao mesmo tempo é que nos motiva a seguir.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2006

E-m@il - Matt Beaumont

Faz um certo tempinho já que li em algum site por ai pelos arremedos da internet (não me lembro qual), sobre um livro chamado “E-m@il, lançada pela Bertrand Russel , 392 paginas de um autor inglês chamado Matt Beaumont. Como as coisas aqui em Belém demoram um pouco para chegar (ainda mais quando não são mainstream) só pude saciar minha curiosidade há alguns poucos dias. Matt Beaumont pode ser incluso nessa lista de autores pop ingleses como Tony Parsons e Nick Hornby, só que sem ser famoso como ambos. Em seu livro de estréia produziu uma leitura rápida, seca, acida, sarcástica e cruel sobre o mundo da publicidade e das empresas de um modo geral, vistos do olhar de quem conhece (o cara é publicitário), moldados por aquilo que passamos a chamar de cultura pop e descrito através de emails. Dessa forma, constrói-se um universo dinâmico e mais atual que nunca, uma vez que a impessoalidade ganhou novos contornos com a internet e sua proliferação. Claro que isso já foi feito outrora, em livros que contam historias através de cartas, mas essa não é a idéia do autor, originalidade não é sua busca, e sim detonar com o glamour e fascinação de um mundo repleto de fantasias, mas tão carente de princípios e criatividade como tantos outros. Por meio de emails, conhece –se a empresa de publicidade Miller-Shanks, que esta em um processo a todo vapor para uma concorrência da Coca-Cola, cliente tão sonhada por todos, necessitando para a sua conquista, o desenvolvimento de uma campanha genial, alem do fato da manutenção das outras contas. A crueldade com que o livro acontece é sublime. Um retrato puro e verdadeiro de grande parte das empresas e suas políticas. Ate Dilbert ficaria emocionado. Um mundo onde o CEO da empresa não sabe nada, o diretor de criação não tem criatividade alguma, vivendo de nome e malandragem, o Diretor de Atendimento (quem?) não manda nada, mas pensa que manda, secretarias belas e gentis que na penumbra se tornam cobras venenosas, um contador nerd e imbecil, entre outros. Um mundo repleto de falta de escrúpulos, puxa – sacos, falsidade, incompetência, cinismo e claro muito, mas muito charme. Se você é publicitário, com certeza vai gostar mais ainda, e se não é vai se divertir muito, com essa comedia da vida moderna e suas caracterizações tão próprias desse nosso cotidiano cibernético. Impossível não vibrar com as derrocadas dos personagens ou a estilização de outros, aliada a toques nada sutis de falhas convencionais do dia a dia. Um dos melhores de 2005, sem duvida.