segunda-feira, 15 de abril de 2013

"Phil Spector" - 2013


Phil Spector foi uma figura muito marcante no cenário musical dos Estados Unidos, principalmente nas décadas de 60 e 70. Como compositor e produtor emplacou sucesso atrás de sucesso. Do seu repertório saíram canções como “Be My Baby” com as Ronettes e “Unchained Melody” com os Righteous Brothers. Além disso, trabalhou com os Beatles no fatídico “Let It Be” e posteriormente com John Lennon, George Harrison, Ramones e Leonard Cohen, entre tantos outros.

Em 2003, já com 60 e poucos anos e bem mais recluso do que na época de ouro, foi acusado da morte da atriz Lana Clarkson, a qual teria levado para a sua mansão, colocado uma arma na boca dela e atirado. No segundo julgamento ocorrido no ano de 2009, foi condenado pelo júri e cumpre seus anos de prisão no estado da Califórnia. Foi em cima dessa história que o experiente diretor David Mamet resolveu ambientar o filme “Phil Spector”, mais precisamente na fase do primeiro julgamento.

David Mamet é mais conhecido pelo seu trabalho como roteirista em filmes como “O Veredicto” de 1982, “Os Intocáveis” de 1987 e “Mera Coincidência” de 1997. Em “Phil Spector” ele também assume essa tarefa. Com produção da HBO voltada para a televisão, o longa começou a passar nos canais da rede aqui no Brasil recentemente. Com Al Pacino no papel do personagem principal, traz ainda Helen Mirren (“A Rainha”) como Linda Kenney Baden e Jeffrey Tambor (da série “Arrested Development”) como Bruce Cutler. Ambos, advogados.

Em pouco mais de uma hora e meia o que vemos é um trabalho que não encontra forças para se afirmar. Fica no meio termo entre ser um filme de tribunal e uma rasa biografia. Enquanto filme de tribunal não apresenta nada de novo e não se sobressai, pois não gera tensão alguma, uma vez que já se sabe o resultado final da jornada. Como biografia, deixa ainda mais a desejar, pois simplesmente “arremessa” alguns dados da carreira de Phil Spector, utilizando esses dados mais como adereço do que informação.

De bom em “Phil Spector”, só mesmo a dupla Al Pacino e Helen Mirren, mas mesmo assim eles não conseguem salvar o trabalho. Em meio as perucas e pensamentos não muito conexos da figura retratada, Al Pacino mostra todo seu talento, ainda que atrapalhado pelo insosso roteiro e a incipiente direção de David Mamet. E, vá lá, para dizer que não tem mais nada, tem uma boa tirada envolvendo o “Let It Be” e Paul McCartney. Porém, é somente isso e nada mais. Um tremendo desperdício do personagem que dá nome ao filme.

Nota: 5,5

Assista aqui ao trailer (em inglês):

sexta-feira, 12 de abril de 2013

"Invasão à Casa Branca" - 2013


O filme “Atraídos Pelo Crime” de 2009 representava aquela famosa luz no final do túnel para a carreira do diretor Antonie Fuqua. Isso, porque depois do ótimo “Dia de Treinamento” de 2001, que rendeu um Oscar para o ator principal (Denzel Washington) e uma indicação de ator coadjuvante para Ethan Hawke, o diretor não conseguiu levar adiante o prometido talento e embarcou em produções nada espetaculares como “Lágrimas de Sol” e o sofrível “Rei Arthur”.  

O longa de 2009 não era extraordinário, mas exibia um pouco do brilho do trabalho mais famoso e dava certa esperança de recuperação. “Invasão à Casa Branca” é o imediato passo seguinte a essa ligeira promessa. O diretor conseguiu reunir um elenco com muito potencial a ser explorado com Gerard Butler (“300”), Aaron Eckhart (“Batman - O Cavaleiro das Trevas”), Melissa Leo (“O Vencedor”), Dylan McDermott (“Os Candidatos”), além de veteranos como Morgan Freeman e Robert Forster.

Só que as promessas começam a desmoronar já na primeira olhada para o roteiro de Creighton Rothenberger e Katrin Benedikt. Mike Banning (Butler) é um ex-agente do Serviço Secreto que abalado por uma falha do passado se encontra agora trabalhando em uma mesa no Tesouro Nacional. Essa falha ocorreu quando era responsável pela segurança do Presidente (e amigo) Benjamin Asher (Eckhart). No entanto, quando ocorre uma invasão terrorista na Casa Branca ele é o único que se mantêm vivo para salvar o dia. Uma espécie de redenção.

Banning é rodeado por culpa e insatisfação e quando aparece a chance de derrubar um grupo terrorista o sentimento de dever fala mais alto e ele vê a oportunidade como uma segunda chance, além de cumprir com o dever patriótico. Dentro da Casa Branca, várias situações conhecidas são exploradas. A desconfiança, o atrito com o general prepotente, os discursos vazios dos “vilões”, o êxito marcado por alguns segundos apenas e declarações afetivas sobre relações pessoais.

Nesse amontoado de estripulias baratas e óbvias, nem os bons atores se salvam. Usando a moeda da vez do terrorismo como mola motivadora (aqui no caso, a Coréia do Norte e do Sul), “Invasão à Casa Branca” não consegue envolver mais do que 20 minutos (isso sendo bastante benevolente). Com o novo filme, fica cada vez mais claro e evidente que o vigor de “Dia de Treinamento” nunca mais será visto na obra de Antoine Fuqua, e que o aconteceu antes não passou de um acaso, de um tiro de sorte.

Nota: 4,0

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Assista ao trailer legendado:

terça-feira, 2 de abril de 2013

Lollapalooza Brasil - 29,30 e 31 de março de 2013 - Jockey Club (São Paulo)

 
O Lollapalooza chegou a sua segunda edição brasileira nesse final de semana de páscoa. Nos dias 29, 30 e 31 de março, o Jockey Club de São Paulo recebeu dezenas de atrações e contou com a presença de 167 mil pessoas nos três dias (de acordo com informação do próprio evento). Uma venda de mais de 92% da totalidade dos ingressos disponibilizados a um preço que para muitos foi bastante salgado (inteiras de R$ 330,00 a R$ 350,00 por dia). Antes de falar sobre o principal item em um festival de música, que olha só, deveria ser a música, vou me ater a alguns outros pontos.

Quando pagamos um valor, qualquer que seja ele, em troca de uma mercadoria ou serviço, é lógico que esperamos uma contrapartida a altura do que investimos. Quando o valor é elevado, entende-se como normal que a cobrança seja do mesmo tamanho. Não foi exatamente o que vimos no Lollapalooza. Do pulo dos dois dias de 2012 para os três dias de 2013, a produção do evento reconheceu erros e prometeu melhorias, o que na verdade não ocorreu em quantidade satisfatória. É evidente que não é fácil fazer uma estrutura desse porte funcionar 100% no que tange a transporte, comodidade, alimentação, higiene e serviços em geral. Mas isso nunca pode ser encarado como desculpa, que é o que geralmente acontece. Paga-se muito. Exige-se muito. É assim que funciona. Ou pelo menos, é assim que deveria funcionar.

Logo na sexta-feira deu para perceber que existiriam dores de cabeça. Quem deixou para retirar os ingressos na hora do evento levou de uma a três horas para cumprir tal (simples?) tarefa. Absurdo é pouco, ainda mais agravado se lembrarmos que existe a cobrança da famigerada taxa de conveniência (que não serve para nada, a não ser aumentar os lucros dos responsáveis). Ao entrar no Jockey Club logo se deparava com filas e mais filas para compras as “Pillas”, a moeda oficial do evento. E de novo, filas e mais filas para ir ao banheiro, que em determinado momento era um amontoado de sujeira, ou filas e mais filas para resgatar alguma coisa para beber ou comer. Some-se a isso o fato da chuva ter espalhado lama por toda a área (o que poderia ter sido resolvido nos dias seguintes com proteção nos piores setores). Conectar o telefone a internet ou conseguir uma ligação era um milagre na maioria das operadoras. Congestionamento de linhas beirando proporções épicas.

Quando enfim se passa por um sacrifício que repito, não se justifica de maneira alguma, e finalmente entramos na música em si, esses esforços e pesares vão perdendo importância e acabam sendo, se não esquecidos, pelo menos relevados e até mesmo, pasmem: perdoados. É de botar medo o discurso do “valeu a pena, apesar de tudo”. Pois dessa maneira, o consumidor se coloca em uma posição de estar agradecido por alguém ter lhe dado a chance de ver a banda predileta. Uma chance que não lhe “deram”, e sim foi paga por um valor respeitável para se assistir e merece ser atendido da melhor maneira possível. Esse tipo de discurso é o que contribui, e muito, para que as coisas continuem sendo do jeito que são.

Dito isso, vamos partir para os shows. Não vi no Jockey Club nenhum show histórico ou algo do tipo, mas sim, ocorreram apresentações ótimas e memoráveis. Um festival é sempre um exercício de escolha, é bom lembrar, e entre as diversas opções (e no Lollapalooza eram 4 palcos), você opta pelo que mais gosta ou faz alguma aposta que possa surpreender. É humanamente impossível ver tudo, isso é pura balela. E entre afirmações, loucuras e decepções, distribuo minhas impressões abaixo em algumas categorias:

- Melhores shows (em ordem de preferência):

1-Pearl Jam: Foi a última apresentação do festival e também foi a melhor. Em duas horas e pouco, Eddie Vedder e sua trupe destilaram versões poderosas de canções como “Corduroy”, “State Of Love And Trust”, “Rearviewmirror” e principalmente a já clássica “Black”. Ainda houve tempo para homenagear os Ramones com a versão de “I Believe In Miracles” e o The Who com uma versão para “Baba O’ Riley”. Foram 26 músicas e um belo show de rock para velhos, jovens, crianças e seres de qualquer planeta cantarem e pularem juntos.

2-Queens Of The Stone Age: Josh Homme, assim como no SWU, abriu logo com dois hits. Dessa vez as escolhidas foram “The Lost Art of Keeping a Secret” e “No One Knows”. E assim o público estava ganho. Desse ponto em diante veio o rock visceral, enérgico e muito bem tocado da banda. Com direito a uma música nova (“My God Is The Sun”), o QOTSA deixou um sorriso espalhado de lado a lado nos rostos no Jockey. Mesmo que inexplicavelmente tenha acabado uns 10 minutos mais cedo e “Feel Good Hit Of The Summer” tenha ficado de fora.

3-Alabama Shakes: Tipo do show em que tudo deu certo. Final de tarde, o céu mudando de cor, pássaros voando por cima do palco (sim, eu vi isso e estava lúcido) e Britanny Howard com muita vontade de tocar e cantar. Inspiradíssima e apoiada na capacidade dos seus parceiros destilou o repertório do ótimo álbum de estreia “Boys & Girls” do ano passado. Faixas como “Hold On” e “Heartbraker” ganharam uma dimensão diferente ao vivo e colaboram para fazer um show simples, porém, emocionante.

4-Flaming Lips: Wayne Coyne parecia ter vindo de um futuro distante para o Lolla. Como um pregador após o apocalipse espalhou sua mensagem para os sobreviventes com um “bebê” no colo que alimentava uma cascata de luz atrás dele. Só saiu do pequeno palanque em que ficou no final. Com projeções ensandecidas de cores e texturas acompanhando a música repleta de nuances progressivas e fora dos padrões, deixou alguns fiéis mais crentes ainda, ao passo que afastou muitos novos adeptos. Para os fiéis, mandou entre o repertório praticamente novo, preces conhecidas como “Yoshimi Battles the Pink Robots” e “Dou You Realize??” como prêmio. E dessa maneira, fez rezar na virtuosa viagem que escolheu comandar.

5-Planet Hemp: Tocando em um horário nobre no domingo (coisa raríssima para bandas nacionais), Marcelo D2 e BNegão não perderam a oportunidade. Mesmo com o som explodindo algumas vezes, comandaram um som pesado, com groove e preenchido por hits. O Planet é daquelas bandas que são associadas diretamente a uma temática e não tem como fugir disso. O discurso bem humorado no telão (que foi muito bem usado) com o Away no início podia ser menor, mas tirando isso até que o discurso não encheu o saco. Dividido em três atos que exploraram os discos lançados, ainda teve no final uma bacanuda homenagem a Chico Science com uma versão respeitável de “Samba Makossa”.

6-The Killers: Gostando ou não das músicas (ou da postura) de Brandon Flowers e companhia, uma coisa ficou inegável no Jockey Club: a banda está jogando no time de cima do rock mundial. Sua mistura de rock de estádio com farofa e anos 80 culminando em refrãos com ganchos poderosos, funcionou muito e fez um grande público se envolver no show. E o desempenho em cima do palco também foi proporcional. Simpático, usando de bons clichês e cantando limpamente, o vocalista comandou um show competente, um rock preparado para arenas e públicos grandes. Goste-se ou não, repito, a banda entende do negócio em que se meteu.

7-Tomahawk: O projeto paralelo que Mike Patton (Faith No More) leva em frente junto com John Stainer (Helmet), Duane Denison (Jesus Lizard) e Trevor Dunn (Mr. Bungle), fez um show bem interessante. O vocalista podia ser facilmente confundido com um brasileiro enquanto se expressava ao público, pois fala praticamente como se fosse um. Deixando um pouco de lado as canções mais experimentais, o grupo sentou a mão em um repertório coeso e pesado, que incluiu também faixas do recém-lançado “Oddfellows”.

8-Graforréia Xilarmônica: Frank Jorge, Carlo Pianta, Marcelo e Alexandre Birck só não entraram mais acima, pois devido ao horário só assisti as 7 últimas músicas (de 20 tocadas). Com um som claro e forte, o grupo tocou suas canções bem humoradas e alegrou o pequeno público presente. O fechamento foi com “Bagaceiro Chinelão”, “Benga Velha Companheira” e “Rancho”. Ficou o arrependimento de não ter assistido mais, se bem que apenas 7 músicas da Graforréia ainda valem mais do que muita coisa por aí.

- Os Piores Shows

1-A Perfect Circle: Concorreu seriamente pelo posto da pior coisa que o festival produziu. E olha que a concorrência era forte se adicionarmos as filas, a lama e tudo mais na briga. Show capaz de assombrar os sonhos por um bom tempo.

2-Two Door Cinema Club: Não dava para entender todo aquele público cantando e vibrando quando se escutava as canções ou a sua execução no palco. A alegria era inversamente proporcional a qualidade do que saia das caixas. Daquelas coisas inexplicáveis da vida.

- As Decepções

1-Cake: Uma das bandas mais esperadas, o Cake decepcionou bastante. Começou bem com a dobradinha “Frank Sinatra” e “Love You Madly”, no entanto foi se perdendo com o decorrer do tempo. As longas paradas entre as músicas e o falatório completamente desnecessário de John McCrea foram fundamentais para essa queda. Na parte final ainda houve uma tentativa de retomar o público com canções como a cover de “I Will Survive” e as próprias “Never There” e “Short Skirt/Long Jacket”, mas aí já era tarde demais, o jogo já estava perdido. Infelizmente.

2-The Black Keys: Sabe aquela mulher que você vê na capa das revistas e tudo está incrivelmente no lugar, mas quando você a vê em uma imagem na rua ou na praia, a coisa é beeem diferente? Pois é, assim foi o show do Black Keys. Não chegou a ser ruim, mas era claro que a mistura de blues e rock de garagem do duo Dan Auebach e Patrick Carney não estava funcionando como deveria. Mesmo abrindo com “Howlin’ For You” e “Next Girl” e passando por coisas como “Thickfreakness”, não convenceu completamente. Melhor ficar com os discos ou esperar um show em um ambiente diferente. E menor.

- Melhores canções de cada dia:

1-Sexta: “Mr. Brightside” – The Killers
2-Sábado: “Hold On” – Alabama Shakes
3-Domingo: “Black” – Pearl Jam

- Melhor Lanche:

Os Churros foram imbatíveis, mas as tirinhas de frango também fizeram bonito e quase arrebataram o primeiro posto nesse quesito.

O Lollapalooza Brasil 2013 teve pontos positivos como os shows, o acesso fácil (pelo menos para chegar, para sair já foi outra história), a diversidade de lanches oferecidos (mesmo que fosse complicado adquiri-los) e o chopp quase sempre bem gelado. Mas pecou muito nos pontos descritos nos primeiros parágrafos. Pontos relevantíssimos, afirme-se novamente aqui. Que a edição de 2014 já confirmada para 18,19 e 20 de abril, venha melhor e com mais respeito ao público, que é a engrenagem que financia um evento desse porte. Respeito é bom e até onde eu sei, faz muito bem. E que o público também mude a postura do “valeu a pena, apesar de tudo” e cobre por condições melhores para usufruir do dinheiro que está investido na sua diversão.

2014 é bem ali. Vamos esperar para ver.


Todas as fotos foram retiradas dos endereços oficiais. Tanto do site (http://www.lollapaloozabr.com) quando do facebook (http://www.facebook.com/LollapaloozaBR). 

quarta-feira, 27 de março de 2013

Séries - "The Following"


Uma quantidade considerável de séries se inicia a cada ano. Some-se isso a aquelas séries que conseguiram vencer a primeira temporada e estão levando adiante suas tramas e ideias. A briga entre produtoras e redes de televisão tem sido acirrada para explorar esse filão que tem se mostrado bastante lucrativo. Para o telespectador fica praticamente impossível acompanhar tudo que o mercado lhe despeja de modo contumaz e tanto faz se ele consume diretamente dos canais a cabo ou usando os sites de compartilhamento de arquivos que a internet dispõe.

Como quantidade, na grande maioria das vezes, não é sinônimo de qualidade, muitas dessas séries são bem fracas e nem conseguem suplantar a primeira temporada. Algumas até avançam mais do que isso, porém amarradas mais em motivos específicos de nicho de mercado ou moda da vez, do que propriamente qualidade. Dentro desse universo, um trabalho que consegue se sobressair (e fora do circuito HBO, onde o nível é sempre alto) é “The Following”, que estreou no Brasil em 21 de fevereiro e passa no Warner Channel às quintas-feiras.

Criada por Kevin Williamson de séries como “Vampire Diaries” e “Dawson’s Creek” (que ficam naquele grupo do “fizeram sucesso, mas não eram lá muita coisa“), “The Following” é encabeçada por Kevin Bacon (de “Sobre Meninos e Lobos” e “O Lenhador”), mais um ator de cinema que investe em uma carreira na televisão, o que já rendeu frutos para outros atores, sendo uma boa parte da sua geração. No entanto, quem rouba a cena e dita o ritmo das histórias é James Purefoy, de trabalhos bons como a série “Roma” e coisas sofríveis como “Sangue e Honra”.

James Purefoy encarna o professor universitário Joe Carroll, um apaixonado pela literatura de Edgar Allan Poe que se transforma em um serial killer com uma pequena lista de assassinatos. No momento inicial ele se encontra preso, obra do personagem de Kevin Bacon, o agente afastado do FBI Ryan Hardy. Até chegar a prisão do assassino anos antes, Hardy passou por um processo lento de análise e montagem das peças do quebra-cabeça e não saiu impune disso, pois devido a um ferimento nessa caçada acabou por ter um marcapasso cravado dentro do peito.

E quando Joe Carroll subitamente foge da prisão, o FBI novamente requisita os serviços de Ryan Hardy que (não podia ser diferente) está quase acabado, se afogando em culpa, depressão e uma boa quantia de álcool. Envolvido de novo com a adrenalina da perseguição a um criminoso, o ressuscitado agente mal imagina que está apenas entrando na superfície de um caso com proporções muito maiores e que contará com o envolvimento de diversos outros personagens em uma espécie de seita que se reúne para adorar a visão e os modos do ex-professor.

“The Following” tem seus defeitos, como investir em soluções amplamente já utilizadas antes tanto no cinema quanto na televisão, como também não explicar muito bem as limitações que o marcapasso de Ryan Hardy lhe impõe. Como se trata de um foco específico (a busca pelo assassino), preocupa também a questão da renovação, para que as coisas não se repitam em um loop eterno que acabará por cansar o telespectador. No entanto, nos episódios da série até agora, não é isso que se vê. O ritmo alucinante e as alternâncias de poder funcionam muito bem.

Outros atores têm destaque como Shawn Ashmore (da trilogia “X-Men”), Valorie Curry (de “Veronica Mars”) e Debra Parker (Annie Parisse de “Person Of Interest”), contudo é em cima do vilão de James Purefoy que tudo flui. Joe Carroll é daqueles vilões que com charme, carisma e inteligência conseguem conquistar certa torcida, mesmo com todas as bússolas morais apontando para uma direção contrária. Com episódios fortes, onde a tensão e o suspense são rotineiros, a série alcança o desejado patamar de deixar aquele gosto de “quero mais” a cada semana.

Nota: 8,0


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Assista a um trailer legendado:

terça-feira, 26 de março de 2013

2o. CulturalMente Santista - 26.03 a 06.04.2013 - Santos/SP


Salve, salve minha gente amiga...

O André Azenha do CineZen (http://cinezencultural.com.br) promove o 2º CulturalMente Santista, onde reúne mais de 50 nomes da área cultural da região em bate-papos e apresentações artísticas de 26/03 a 06/04.

Projeto realizado na época do aniversário do site, a programação terá nomes como Rubens Ewald Filho e José Roberto Torero. O projeto CulturalMente Santista visa disseminar a discussão entre artistas, produtores culturais e jornalistas do ramo, de Santos e região, junto ao público, para gerar um panorama da situação dos diferentes meios artísticos, os problemas enfrentados, os fatores positivos e o que pode ser melhorado. Bem como gerar novas parcerias, ideias e projetos. 

Além dos encontros, este ano a programação terá uma exposição de quadros, pelo artista plástico Waldemar Lopes, espetáculos teatrais, shows musicais e, novamente, um lançamento da revista literária Mirante, a publicação independente do gênero mais antiga do país.

Quem estiver pela região é uma ótima pedida.

A programação toda você encontra aqui:


Paz Sempre!

segunda-feira, 11 de março de 2013

"Adam Green & Binki Shapiro" - Adam Green & Binki Shapiro - 2013


O amor não anda correspondendo? A vida amorosa está repleta de frustrações e decepções? O romance acabou e os motivos não passam nem perto de serem claros? Bom, fique calmo e tranquilo que seus problemas acabaram. Pelo menos, em parte. Adam Green e Binki Shapiro não trarão o seu amor de volta ou ajustarão seus passos na trilha tortuosa da paixão, mas pelo menos proporcionam uma boa trilha sonora para curtir aquela fossa, pensando em tudo aquilo que você não quer pensar.

“Adam Green & Binki Shapiro” é um álbum que reúne o músico que ficou conhecido com “Anyone Else But You”, a canção que apareceu muito bem no filme “Juno” (quando ainda fazia parte do Moldy Peaches), com a vocalista do Little Joy, banda-projeto com Fabrizio Moretti (The Strokes) e Rodrigo Amarante (Los Hermanos) que lançou disco em 2008 e causou certo furor durante um período. Com 10 canções em menos de 30 minutos, o disco teve lançamento no final de janeiro pela Rounder Records.

A sonoridade é claramente inspirada nos anos 60, mas também apresenta uma boa porção do indie pop recente da última década. Algumas canções lembram os duetos de Alun Woodward e Emma Pollock da banda escocesa Delgados e, guardada todas as devidas proporções, as participações da Nico nos discos do Velvet Underground. O casamento entre um vocal mais forte e outro mais delicado e terno oferece ao ouvinte bons resultados, apesar de um pouco de repetição no tom das letras.

Essas letras falam sobre o amor estar escondido no lugar errado (“Here I Am”), de um amor que não era para a pessoa (“Just To Make Me Feel Good”), assim como em traição (“Pity Love”) e desperdício de tempo (“Don't Ask For More”). As melhores faixas são a irritada e desiludida “Casanova” e “If You Want Me To”, onde Binki Shapiro faz um desafio ao amado. Com tom calmo e tranquilo, a única passagem mais agitada é “What's the Reward” que fala sobre finalmente atingir o fundo do poço.

“Adam Green & Binki Shapiro”, o disco, é agradável, porém deve ser dosado na sua audição, pois acaba cansando quando se repete no player. Para a carreira dos dois envolvidos, sem dúvida representa um avanço e acaba se constituindo em um projeto que merece um novo registro posteriormente. Enquanto não sabemos se isso vem, e caso alguma das situações descritas no primeiro parágrafo estiverem acontecendo, é só ligar o som e deixar a melancolia assumir o lugar que lhe é de direito vez ou outra.

Nota: 7,0


Assista ao clipe de “Just To Make Me Feel Good”:

domingo, 10 de março de 2013

"As Sessões" - 2013


A poliomielite, ou paralisia infantil, é uma doença contagiosa causada por um vírus que infecta principalmente as crianças, mas também pode chegar a adultos. Transmitido por via fecal-oral, a multiplicação do vírus começa na garganta e nos intestinos e dali alcança a corrente sanguínea e até mesmo o cérebro. Com a invenção de uma vacina e a maior utilização a partir dos anos 70/80, a doença hoje praticamente não existe mais em países desenvolvidos, mas infelizmente continua fazendo vítimas em países pobres dos continentes africanos e asiáticos.

O norte-americano Mark O’Brien foi um dos que sofreram com a doença, contraída por ele aos 6 anos de idade durante o ano de 1955 e que o deixou paralisado do pescoço para baixo. A sua vida já virou filme em 1996 quando o documentário “Breathing Lessons: The Life and Work of Mark O’Brien” de Jessica Yu ganhou o Oscar da categoria em curta-metragem. Mesmo assim, o diretor Ben Lewin resolveu novamente levar a vida do jornalista e poeta falecido em julho de 1999 para as telonas, agora em formato de um longa com 98 minutos de duração.

O diretor de “O Favor, O Relógio e o Peixe Muito Grande” de 1991, também sofreu com a poliomielite, mas teve danos bem menores. O filme “As Sessões” que estreou esse ano no Brasil foca no final dos anos 80, quando por conta de algumas circunstâncias, Mark O’Brien começou a utilizar uma terapia envolvendo o descobrimento e desempenho sexual, que resultou em um artigo chamado “Se Consultando Com Uma Substituta”. Esse artigo foi a base para o roteiro também escrito por Ben Lewin, o que colabora e muito para o resultado final.

No ponto em que o filme começa a se desenvolver, seu personagem está com 38 anos e, por razões claras, ainda é virgem e nunca nem foi masturbado. Vive praticamente dentro de um respirador, um pulmão de ferro, uma máquina que o ajuda a sobreviver e onde trabalha e dorme, sendo que só pode ficar fora por volta de três a quatro horas. Católico devotado, mas dotado de um senso de humor agudo e afiado, Mark O’Brien parte para essa jornada com o medo dominando a mente e a desconfiança das suas capacidades pesando sobre os ombros.

John Hawkes (o Teardrop de “Inverno da Alma”) é quem interpreta o papel principal e faz isso com uma desenvoltura impressionante. No papel do padre que serve de amigo e confessionário está William H. Macy (“Fargo”), com sua habitual qualidade. Como a terapeuta sexual temos Helen Hunt (“Melhor É Impossível”) em uma atuação tão a vontade e tão categórica que lhe valeu uma indicação para o Oscar desse ano como melhor atriz coadjuvante. Indicação, que também cairia muito bem nas mãos de John Hawkes, diga-se de passagem.

“As Sessões” têm como grande mérito as atuações do trio de personagens principais, contudo agrada também pelo tom com que a direção conduz os bons diálogos e pela ausência de dramas baratos e apelativos que poderiam ser tão facilmente utilizados nesse caso. O heroísmo de levar uma vida nas condições a que está sujeito e ainda ser produtivo, não é o foco principal do filme, mas sim a busca em conseguir um pouco de prazer onde antes só existia humilhação e vergonha e assim fazer parte de um universo comum a tantos.

Nota: 8,0

Textos relacionados no blog:

Assista a um trailer legendado:

sexta-feira, 8 de março de 2013

"Listen To Keep" - Roddy Woomble - 2013


O escocês Roddy Woomble parece ter uma missão na vida. Essa missão é compor canções admiráveis.  Foi assim nos discos do Idlewild, banda escocesa que comanda junto com o amigo Rod Jones, mas que desde “Post Electric Blues” de 2009 está dando o famoso tempo, sem anunciar seu término. Esse tempo levou o músico a partir de vez para a carreira individual, onde parece que essa missão ganhou contornos mais acentuados, e “Listen To Keep” é mais recente prova disso.

Com lançamento pela Revelar Records, o álbum é o terceiro dessa empreitada particular e sucede o primoroso “The Impossible Song & Other Songs”, um dos melhores trabalhos de 2011. “Listen To Keep” tem onze faixas e mostra uma sonoridade mais ampla, com mais instrumentos e espaços preenchidos, mas ainda tendo como base o folk. Com a produção do prolífico Gordon Maclean (que também dá uma boa ajuda nas guitarras), o resultado é novamente arrebatador.

Com uma banda base formada por Sorren Maclean (que tocou no disco anterior e é filho do produtor) na guitarra, baixo, piano e vocal, Gavin Fox (ex-parceiro de Idlewild) no baixo, Seonaid Aitken no violino e piano e Danny Grant na bateria, Roddy Woomble se permite arriscar um pouco mais no lirismo e chama outros convidados para tocar instrumentos que ajudam nessa concepção.

O resultado é um violino aqui (na faixa título), um cello ali (em “The Universe Is On My Side”) ou um acordeão acolá (em “Treacle & Tabacco”). A leve incursão com ritmos tradicionais escoceses, marca dos dois primeiros trabalhos, também reaparece em “The Last One Of My Kind” e “Trouble Your Door”, permitindo também um pequeno flerte com o country nessa última, umas das grandes faixas do registro que conta com Hannah Fisher compartilhando os vocais no refrão.

E a sonoridade mais encorpada mencionada antes também pode ser retratada em faixas como “Traveling Light”, onde o pop assume a batuta ou em “I Know Where I Went Wrong”, onde se permite quase um rock rápido se no lugar dos violões, fossem guitarras. No entanto, o melhor momento de “Listen To Keep” fica com a perfeição de “Build It To Break”, que tem a ajuda do piano e dos vocais de Natalie Farmer, assim como a guitarra e os vocais de Sebastian Brice em uma canção prodigiosa.

Com a parada do Idlewild, Roddy Woomble começa a chegar próximo de um destino que nunca é fácil para aqueles que se arriscam sozinhos depois de bons discos com uma banda. Esse destino, parada dos sonhos de qualquer músico nessa situação, é ultrapassar a carreira prévia em qualidade e inspiração. Pelo que mostrou até agora, isso não é nada impossível, e para chegar até lá, ele vai levando sua missão disco a disco de um modo brilhante e carregado de beleza e de emoção.

Nota: 8,5


Textos relacionados no blog:
- Música: “The Impossible Song & OtherSongs” (2011) – Roddy Woomble

Assista “Trouble Your Door” em versão acústica:

quinta-feira, 7 de março de 2013

Séries - "Vegas"


A cidade de Las Vegas no estado de Nevada nos Estados Unidos teve a grande guinada da sua trajetória entre as décadas de 50, 60 e 70. Uma boa parte dessa trajetória de construção de cassinos, hotéis e restaurantes luxuosos teve envolvimento direto e em grande escala da máfia. Esse é o gancho que Nicholas D. Pileggi (escritor dos livros que deram origem aos filmes “Cassino” e “Os Bons Companheiros”) e Greg Walker utilizam para criar a série “Vegas” que estreia agora no dia 12 de março no Brasil.

“Vegas” começou a ser exibida lá fora no ano passado (onde a primeira temporada se aproxima do final) e só desembarca por aqui agora, com transmissão toda terça-feira no canal Space às 21:00hs. A série utiliza do cenário descrito acima para contar a história do xerife Ralph Lamb (interpretado por Dennis Quaid de “A Fera do Rock”), um fazendeiro e veterano da segunda guerra mundial que devido a uma série de circunstâncias acaba indo parar no comando das forças policiais da cidade.

Ralph Lamb realmente existiu e a série se aproveita de termos gerais da sua vida para que com a devida liberdade explore os casos apresentados. Ao seu lado na delegacia estão o irmão Jack Lamb (Jason O’Mara de “Terra Nova”) e o filho Dixon Lamb (Taylor Handley de “Dawson’s Crrek”), além da assistente do promotor Katherine O’Connell (Carrie-Anne Moss, a eterna Trinity de “Matrix”). Do lado da máfia que controla um dos maiores cassinos da cidade, o destaque fica com Vincent Savino (Michael Chiklis de “The Shield”).

Basicamente a trama se desenrola em três frentes. Primeiro a resolução de casos de assassinatos e outros crimes diretamente vinculados a obsessão pelo dinheiro e a formatação desse novo lugar, ainda uma terra quase sem lei. Depois temos a guerra nada velada entre Ralph Lamb e a máfia da qual Vincent Savino é o chefe de operações e, por último, a série invade (como diz o manual) a vida dos personagens para expor dramas, romances e fraquezas que servem para atrair uma determinada parcela de público.

“Vegas” é como uma fraca mistura da ótima “Magic City” (ainda inédita por aqui) com “C.S.I”, pois trata tanto da instalação dos cassinos e a relação com a máfia, quanto da resolução de casos baseados em descobertas “científicas” dos agentes. Se focasse mais na primeira parte, talvez rendesse mais. As atuações canhestras de Dennis Quaid e sua trupe nada ajudam e o único que se salva é o competente Michael Chiklis. Mesmo divertindo em alguns momentos, “Vegas” consegue ser com muita boa vontade, apenas mediana.

Nota: 5,5

Site oficial da série no canal Space:  http://vegas.canalspace.com.br

Textos relacionados no blog:
- Séries: “Terra Nova”.

Assista a um vídeo legendado:

segunda-feira, 4 de março de 2013

"Casanova: Luxúria" - Matt Fraction e Gabriel Bá


Uma história em quadrinhos repleta de viagens dimensionais e de passagens por universos paralelos com quebras de linhas temporais e onde o espaço-tempo não passa de uma meretriz. Assim é “Casanova: Luxúria”, lançamento da Panini Comics do final do ano passado. A elogiada obra que começou a ser publicada na gringa em 2006 pela Image Comics, finalmente ganha uma caprichada edição nacional, baseada na republicação que a Marvel/Icon fez em 2011.

Com roteiro de Matt Fraction (que fez um premiado trabalho na série normal do Homem de Ferro) e desenhos de Gabriel Bá (nesse volume, o irmão Fábio Moon não dá as caras, mas está em posteriores) do ótimo “Daytripper”, a trama viaja literalmente para fora de conceitos fixos e estruturas mais engessadas. As cores da brasileira Cris Peter (“Astronauta Magnetar”) são fundamentais para que o desejado clima psicodélico e quase transcendental assuma a direção.

Com capa dura, material bônus e 164 páginas, o álbum foca no agente secreto Casanova Quinn que precisa lidar com vilões de egos majestosos, além da conflituosa (para dizer o mínimo) relação com o pai que lidera a maior força de prevenção de perigos da humanidade, a I.M.P.E.R.I.O. Tirando barato com um bocado de coisas, os quadrinhos em geral são um dos maiores focos e as siglas aparecem constantemente, como M.O.I.T.A e T.A.M.I, entre outras.

Em determinado momento, Casanova afirma para um vilão: “você fala que nem Gibi”, e eis que o vilão responde: “vivo como se estivesse em um”. Usando referências que vão do Buzz Lightyear de “Toy Story” e desembarcam em David Bowie, os Beatles também aparecem e servem de assunto em um jantar, onde quem conversar sobre outra coisa ou emitir um parecer desfavorável sobre a banda corre o sério risco de morrer (o que verdadeiramente acontece).

Enquanto a trama vai se montando, forçando o leitor a encontrar uma lógica e ligação no meio de tudo, existem quadros separados onde os personagens explicam determinados pontos de vista ou fazem comentários irônicos. Até Deus aparece e dá uns pitacos de vez em quando. No meio da jornada temos sexo (aparece uma cidade onde o carnaval é permanente o ano todo), tecnologia artificial, confusão, brigas e cenas que brincam com o limite daquilo que é impossível.

“Casanova: Luxúria” tem fãs de peso como o músico Jon Spencer e nomes importantes dos quadrinhos como Ed Brubaker, Brian Michael Bendis e Warren Ellis. No total são sete volumes planejados, cada um contendo o nome de um pecado capital. Desses sete, outros dois já foram publicados lá fora, com os subtítulos de “Gula” e “Avareza”. Mesmo com uma clara vantagem da estética sobre a história em si, o encadernado é de leitura recomendável e agrada dentro da sua planejada loucura.

Nota: 7,5

Site oficial de Matt Fraction: http://mattfraction.com
Blog de Gabriel Bá e Fábio Moon: http://10paezinhos.blog.uol.com.br

Textos relacionados no blog:
- Quadrinhos: “Pixu” – Gabriel Bá, Fábio Moon, Vasilis Lolos e Becky Cloonan
- Quadrinhos: “The UmbrellaAcademy” – Gerard Way e Gabriel Bá
- Quadrinhos: “Daytripper” – Fábio Moon e Gabriel Bá