Tem uma crônica famosa do mineiro Paulo Mendes Campos que termina com os versos: “em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.” Mas será que o amor acaba mesmo? Esse questionamento é o núcleo central do mais recente livro do escritor e dramaturgo Marcelo Rubens Paiva.
Em “A Segunda Vez Que Te Conheci”, lançado ano passado pela Editora Objetiva com 191 páginas, o autor nos apresenta Raul, um jornalista de quarenta e poucos anos apaixonado pelo seu ofício, tendo passado por várias publicações no decorrer da carreira, entrevistando presidentes, artistas e outras personalidades. Raul segue sua vida profissional dentro de uma grande revista, onde os jovens cada vez mais são contratados.
No começo do livro, temos duas passagens que definem bem o que virá pela frente. Logo no inicio, Raul se vê desesperado com o assassinato de uma prostituta dentro do seu carro. Em seguida, a história retrocede um pouco e somos levados ao momento em que o seu primeiro casamento com Ariela está ruindo, enquanto “All Apologies” do Nirvana, toca ao fundo e Kurt Cobain canta: “everything is my fault, everything is my fault...”
Quando o casamento com a mulher que é apaixonado chega ao seu fim, uma pequena odisséia toma conta da vida de Raul. Ele se casa novamente, desta vez com Fabi, a melhor amiga de sua ex-mulher, e o relacionamento também chega ao fim. É demitido do seu emprego por um novo diretor bem mais jovem e começa meio sem querer a trabalhar como cafetão de prostitutas na cidade de São Paulo, a partir do instante que parte para morar em um flat.
Em seu novo romance Marcelo Rubens Paiva explora vários mundos. Primeiro o dos relacionamentos amorosos e a própria duração do amor entre casais. Explora também o universo do jornalismo de maneira geral, com suas peculiaridades e estresse. E por fim, mexe com o mercado da prostituição em São Paulo, o qual se fez necessário toda uma pesquisa sobre seu funcionamento, indo das ruas da Augusta para os flats dos Jardins.
“A Segunda Vez Que Te Conheci” traz um escritor no pleno domínio do seu oficio. A literatura de Marcelo continua ágil, bem humorada e com vários momentos de crueza no seu andamento. Paradoxal a essa crueza, traz um lado até certo ponto lírico e suave, na relação entre Raul e Ariela, que versa sobre os relacionamentos de maneira geral e sobre o amor, recomeços e segundas chances. E para você, o amor acaba?
Sabe aquele momento em que saindo da adolescência para a vida adulta você olha para todos os lados e não consegue achar um caminho? Pior ainda, você não quer achar um caminho e começar a encarar as coisas de verdade. Mais ou menos todo mundo passa por isso em dado momento. E é dentro desse contexto que encontramos o personagem principal de “Até o Dia em Que o Cão Morreu” do escritor gaúcho Daniel Galera.
O único detalhe é que o personagem em questão já não está saindo da adolescência, ele carrega seus 25 anos, por aí, e não quer absolutamente nada na vida, se acabando em cigarros e bebidas em um apartamento no centro de Porto Alegre, com vista para o Rio Guaíba que mantêm graças aos pais, que todo mês lhe mandam dinheiro. Essa adolescência tardia retratada pelo autor é cada vez mais constante na juventude dos nossos dias.
“Até o Dia em Que o Cão Morreu” é o segundo livro de Daniel Galera, o primeiro de 2001 somente de contos chamado “Dentes Guardados” está disponível para download no seu site (http://galera.livrosdomal.org). Originalmente este livro foi lançado em 2003 pelo selo Livros do Mal, mas ganhou reedição em 2007 pela Companhia das Letras. Com apenas noventa e poucas páginas, a escrita vem em tons viscerais, fortes e com muito ritmo.
Daniel Galera explora uma geração que ficou meio sem saber o que fazer quando tem que partir para a realidade e sair da aba dos pais. O personagem de “Até o Dia em Que o Cão Morreu”, guarda semelhanças com o Hermano do seu terceiro trabalho “Mãos de Cavalo” em diversas oportunidades. Seja pela inadequação com o mundo atual ou pela violência que lhe cerca a vida, mesmo esta sendo totalmente comportamental e não social.
O livro ganhou uma boa adaptação para o cinema pelas mãos de Beto Brant, chamada “Cão Sem Dono” e mostra um escritor com energia suficiente para moldar uma carreira de grande mérito. O envolvimento do personagem com o cachorro que traz para casa depois de uma bebedeira e com a modelo Marcela, exibe cores pesadas e carregadas de dúvidas sobre dar um passo adiante na vida ou se entregar a mesmice pelo resto dela.
Sobre “Mãos de Cavalo” , passe aqui.
Tem horas na vida da gente que é preciso abrir o coração, aparecer de peito aberto e se deixar levar. Como para escutar o quarto disco dos escoceses do Camera Obscura, “My Maudlin Career”. Nele, a banda não aponta para nenhuma direção oposta ao que fora anteriormente feito, não cria nada de novo e muito menos esbanja originalidade, mas consegue fazer seu melhor disco na carreira e um dos mais bonitos trabalhos do ano.
Tracyanne Campbell (vocais), Kenny McKeeve (guitarras e vocais), Gavin Dunbar (baixo), Carey Lander (piano e vocais), Nigel Baillie (trompete e percussão) e Lee Thomson (bateria) trazem em “My Maudlin Career”, onze canções repletas de melodias assobiáveis, com letras cotidianas e sabor pop. A comparação com o Belle And Sebastian dos primeiros discos ainda é válida, mas esqueça isso e deixe as músicas tomarem conta do ar.
“French Navy” abre o disco com a banda encontrando as Pipettes. Uma saborosa canção sessentista, com uma letra bem bacana. “The Sweetest Thing” traz os backing vocals submersos a uma cativante melodia. “You Told A Lie” e “Away With Murder” seguem corretas, enquanto “Swans” e principalmente “James”, que vem em seguida, trazendo os violões característicos do grupo, já passam a emocionar.
“Careless Love”, versa sobre o amor, lembra um pouco o Abba, um pouco o Carpenters e um pouco mais um monte de outras bandas, mas e daí? Repleta de orquestrações, Tracyanne vem com um vocal bonito e atemporal. A faixa titulo está no rol das melhores coisas já feitas pelos escoceses enquanto “Forest And Sands” e “Other Towns And Cities” acalmam a área. “Honey In The Sun” traz o pop alegre de volta e fecha o trabalho.
No seu quarto trabalho, o Camera Obscura não vai conseguir fugir das habituais comparações que lhe são feitas, porém consegue dosar bem pela primeira vez o seu lado pop com o mais melancólico, de maneira que um não seja superior ao outro, criando assim um belo registro. Bote o disquinho no player, limpe a mente, aumente o som e parta tranquilamente para cantar as músicas, sem compromisso ou cobranças.
Site Oficial: http://www.camera-obscura.net
My Space: http://www.myspace.com/cameraobscuraband
Sempre que algo do Chico Buarque chega às lojas, sejam discos, livros ou o quer que seja, a expectativa é grande. O artista, provavelmente o maior nome vivo da cultura nacional é quase que constantemente sinônimo de alta qualidade. A sua faceta escritor, concebe em 2009 seu quarto livro, “Leite Derramado”, lançado pela Companhia Das Letras e que não consegue superar seu antecessor, por mais que seja prazeroso de ser consumido.
O lado escritor de Chico, vinha em crescente melhoria, desde o seu inicio com o razoável “Estorvo” de 1991, o confuso, bonito e lúdico “Benjamin” de 1995 e o excelente “Budapeste” de 2003. Com “Leite Derramado”, essa curva de alta recebe sua primeira parada, o escritor não consegue trazer uma história de toda fascinante, mesmo que esteja inserida com bons personagens e boas passagens.
É Eulálio d’Assumpção que conduz a narrativa direto de uma cama de hospital, sofrendo ao mesmo tempo em que rememora sua vida. Eulálio tem pouco mais de 100 anos, nasceu em 1907 em berço de ouro, atravessando diversas fases da história brasileira contemporânea, cruzando a Era Vargas, Ditadura e o movimento das Diretas Já, entre tantos outros. Seus antepassados remontam aos portugueses, indo de um barão do Império até a um senador da Primeira República.
Acontece que isto são tempos idos, hoje vive em completa miséria junto com sua única filha, já com oitenta anos e que contribuiu muito no consumo de toda sua riqueza. Ao falar para a filha, enfermeiras ou mesmo sozinho, relembra seu passado de glória, sua queda e os dias do seu eterno amor com Matilde, que lhe abandonou, deixando aberta uma grande ferida. Matilde era uma mulata, que Eulálio como se fosse um pitoresco Dom Quixote, insiste em não ver.
O aspecto mais interessante de “Leite Derramado” é que os fatos narrados se confundem frequentemente, usufruindo da premissa da memória confusa do personagem que as narra, sendo contados sem ordem cronológica, revelando de modo gradativo os fatos que vão preencher as lacunas da trama, contribuindo para que em quase 200 páginas, seja retratado um cenário contundente de decadência e mudança de costumes.
Chico construiu “Leite Derramado" a partir de uma grande canção sua, “O Velho Francisco” e habita sua prosa neste momento em nomes como Machado de Assis e Gabriel Garcia Marquez. Seu novo trabalho continua prezando pela beleza da escrita e cativando o prazer da leitura, no entanto por ser uma obra sua, a expectativa gerada é sempre por algo mais, algo mais este, que infelizmente não consegue aparecer neste livro.
Quando entrei no cinema para ver o filme nacional “Divã”, a expectativa não era das melhores. Na verdade, só entrei pois precisava que um espaço de tempo fosse consumido e nas outras salas as opções eram ainda piores. Então lá fui eu dar uma chance a um trabalho que traz no elenco Reynaldo Gyanecchini e Cauã Reymond. Difícil aguentar né? Mas apesar das premonições pessimistas, até que o tempo passou tranquilo, com o filme revelando boas surpresas.
Veja bem, não estou dizendo que o filme é bom, mas que funciona bem, funciona e vai agradar em cheio as mulheres, principalmente aquelas na faixa etária da personagem principal, Mercedes, vivida de maneira competente por Lilia Cabral. A direção em nenhum momento traz algo com maiores qualidades, até porque está a cargo de José Alvarenga Jr., um diretor de televisão que tem no currículo filmes da Xuxa, Trapalhões e Angélica, além da adaptação de “Os Normais”.
O roteiro é baseado no livro da escritora Martha Medeiros, que tanto povoa os emails de muita gente no dia a dia e que virou peça de sucesso. O tema do longa é recorrente nos textos da escritora, que versam sobre a busca da felicidade, por mais implicações que isso possa ter e o processo de achar a si mesmo, ou se reencontrar. A Mercedes de “Divã”, vive justamente isso. É uma mulher bem casada, com uma vida tranquila e até mesmo feliz, mas algo não está no devido lugar.
Mercedes então resolve ir a um psiquiatra e no decorrer dos seus falatórios, acaba por fazer sua vida virar e dar uma guinada relevante. Mesmo que o filme esteja recheado de clichês, traz momentos divertidos, principalmente quando Mercedes está conversando com sua fiel amiga Mônica (Alexandra Richter). Até os atores citados no primeiro parágrafo não complicam, pois estão em peles que lhe convêm, Gyanecchini como um sedutor e Reymond no jovem burro e malhado.
No final da sessão entre prós e contras, até que o resultado foi positivo. “Divã” fica devendo muito como cinema, mas convence bem melhor que filmes recentes de apelo ao grande público como “Se Eu Fosse Você 2”. Caso você esteja passando por aí e apareça uma sessão na sua frente, assista de cabeça leve e sem exigências demais que o resultado será aprazível. Só tome cuidado se for assistir com a esposa ou namorada. Melhor evitar.
A trilogia “X-Men” foi um sucesso absoluto no cinema. Conquistou o público, conseguiu não causar muita ira nos fãs, sendo responsável para com os quadrinhos e recebeu criticas bastante positivas mundo afora. Depois do sucesso, a Marvel começa nesse ano o projeto de filmes solo dos personagens mutantes com “X-Men Origins – Wolverine”. E o filme é um passo atrás em tudo que a trilogia representou.
Nada melhor do que começar a série com o mutante canadense, que desde que surgiu nos anos 70 em uma história do Hulk, virou o preferido de milhares de fãs de quadrinhos. Até porque como o seu passado sempre foi bagunçado mesmo, pequenos deslizes poderiam ser perdoados. No entanto, o que acontece é que essa bagunça é aumentada no filme e se torna uma grande salada de nomes e fatos.
A direção do longa, foi passada para Gavin Hood (do bom “Infância Roubada”) que parece não estar acostumado com produções desse porte e para piorar não conta com a ajuda do roteiro falho e sem inspiração de David Benioff (do ridículo “Tróia”). Os quadrinhos são pouco respeitados, com fases se misturando, outras se criando meio sem sentido e principalmente o sanguinário carcaju aparecendo dócil para o que se está acostumado.
No começo do trabalho, enquanto se toma por base a minissérie “Origins” lançada em 2001, as coisas até que correm razoavelmente bem, com a apresentação de Logan e seu “irmão” Victor Creed (Liev Schreiber,), mais conhecido como Dentes-de-Sabre. Entretanto, quando estes encontram o Coronel William Stryker (Danny Houston), as coisas começam a desandar e formam uma bola de neve que vai ganhando força a cada minuto.
Se não fosse pela atuação de Hugh Jackman, que mais uma vez está impecável no papel do Wolverine e pelas cenas de ação, assim como o ritmo imprimido em determinados momentos, tudo seria extremamente em vão. O balaio que se forma com aparições de nomes como Raposa Prateada, Wade Wilson, Ciclope, Gambit e Blob, serve só para agradar os fãs mais xiitas e nada além disso.
“X-Men Origins – Wolverine” serve bem como sessão da tarde ou como um filme de ação para passar o tempo na falta de melhores opções, agora para o personagem, a franquia e a Marvel, não significa nada mais que um grande e tremendo retrocesso.
“Morador ilegal, vagabundo, vadio, pedante, voyer, roedor de livros, sonhador ridículo, mentiroso, charlatão e pervertido...” Essa é apenas uma das definições próprias que o personagem principal de “Firmin”, estréia do escritor americano Sam Savage faz de si mesmo nas pouco mais de 240 páginas do livro lançado ano passado pela Editora Planeta. “Firmin” foi publicado originalmente fora das grandes editoras, mas rodou e ganhou o mundo.
Lançado aqui no Brasil, sem o subtítulo original, “Adventures f a Metropolitan Lowlife”, “Firmin” é um romance fascinante, que concebe um personagem único, recheado de originalidade e fascínio. O protagonista do livro, que conta sua vida para o leitor em narrativa, nada mais é que um rato, nascido no porão de uma livraria na cidade americana de Boston nos anos 60, dentro de um ninho montado com folhas de “Finnegans Wake” do grande James Joyce.
Firmin não é um rato tradicional como outros retratados na literatura, como ele mesmo comprova em certa altura ao destruir personagens como Mickey Mouse e Stuart Little. É sim um rato que devora livros tanto na sua leitura quanto ao comê-los e carrega um deslumbramento pela espécie humana, passando o decorrer da sua vida na livraria querendo ser como nós, almejando se tornar um humano para provar dessa coisa chamada vida.
No decorrer dos seus absurdos narrativos fantásticos, onde se insere dentro de livros de diversos grandes autores como Hemingway, Firmin divide seu tempo entre a livraria onde tem no dono desta uma espécie de herói e no cinema onde conhece Ginger Rogers na grande tela, aquela que será a “mulher” de sua vida, o que o leva a sonhar em ser Fred Astaire, ao mesmo tempo em que se delicia na perversão de filmes pornográficos.
O escritor Sam Savage, que tem doutorado em filosofia pela Universidade de Yale, usa e abusa do tema da compreensão sobre a condição humana no seu primeiro livro. Cria em “Firmin” não só uma figura fantástica como um anti herói clássico, não somente por trazer este como um rato, como também pelo encantamento que se faz presente em todo momento no prazer da leitura e nas viagens que ela pode proporcionar. Altamente recomendável.
O ator mineiro Selton Mello virou nos últimos anos sinônimo de sucesso e qualidade, sempre balanceando um contra o outro. Fez parte de sucessos recentes do cinema nacional em “O Que é Isso, Companheiro?”, “O Auto da Compadecida”, “Lisbela e O Prisioneiro” e “Meu Nome Não é Jhonny”, participando também de ótimos longas menos comerciais como “O Cheiro do Ralo” e “Lavoura Arcaica”.
A sua estréia como diretor era bastante esperada, sendo que essa chegou no ano passado, com o filme “Feliz Natal”, onde além de comandar a direção, divide o roteiro com Marcelo Vindicatto e assume a edição. Selton usa uma época do ano que ao mesmo tempo em que representa bondade, compaixão e momentos felizes é marcada por adequações, tanto na convivência com a família, quanto na vida pessoal.
Em “Feliz Natal” somos apresentados a Caio (Leonardo Medeiros), que mora no interior e está reconstruindo sua vida e assim decide fazer uma visita a família que mora no Rio de Janeiro e que não vê há alguns anos. Caio chega na noite da véspera de natal e se vê no meio de uma festa que na verdade é um mar de aparências. As pessoas ali presentes carregam mágoas, arrependimentos e insatisfações dentro dos seus bolsos.
Caio, hoje aos 40 anos, busca alguma espécie de perdão próprio para as atitudes tomadas na juventude, onde foi um viciado em drogas e carrega nas costas uma culpa tremenda por atos, que são contados aos poucos para o espectador, servindo para aumentar o clima de tensão que ronda a grande maioria do filme. Caio passa por constantes alucinações e traz no semblante todos os pecados do mundo.
O filme explora as fachadas da sociedade, com personagens amarrados em vícios para suportar a vida e ações. O relacionamento de Caio com seu pai (Lúcio Mauro), irmão (Paulo Guarnieri) e mãe (Darlene Glória) é totalmente sem saída, sem caminho para ser construído, sem palavras para serem trocadas. Em “Feliz Natal”, sua estréia atrás das telas, Selton Mello mantêm a qualidade do seu trabalho de ator, construindo um filme denso e marcante, onde não existe perdão para ninguém.
A música “Yellow Submarine” está presente no melhor disco dos Beatles aqui para a casa, o “Revolver” de 1966. Dois anos depois, a música deu origem a um filme com o mesmo nome, feito em desenho animado e que aventurava John, Paul, George e Ringo para salvar uma terra repleta de música e cores, que se se vê ameaçada por estranhos personagens chamados Blue Marines, que estão acabando com Pepperland.
O projeto do desenho animado ganhou pouca atenção dos fab four na época, ficando sobre o comando de Al Brodax na produção, Lee Minoff no roteiro e o maestro George Martin na trilha sonora. Até as vozes (carregadíssimas de sotaque) são feitas por atores e não pelos músicos. No entanto, apesar de “Yellow Submarine” ser uma jogada de marketing e ter tudo para ser ruim, acabou por se tornar um divertido e descompromissado momento na vida da banda.
Para quem gosta dos anos 60 e de doses cavalares de psicodelia e lisergia, o filme se torna então um prato cheio. Recheado de cores, referências de cultura por todos os lados e algumas mensagens como a questão da guerra, o longa enxerta canções clássicas como “Lucy In The Sky Weah Diamonds”, “Eleanor Rigby”, “With A Little Help From My Friends” e “Nowhere Man” (em momento belíssimo), para ficar só em algumas.
Na busca de retomar e salvar Pepperland, os Beatles entram em uma espiral de absurdos e loucuras completamente condinzentes com a época. Mesmo não sendo um esplendor de qualidade na história do quarteto, até porque os momentos de excelência são diversos na sua história, “Yellow Submarine” o filme e a trilha sonora são indispensáveis para qualquer fã da maior banda de rock da história e de cultura pop.
Na música, assim como na vida, vez ou outra somos surpreendidos por pequenas coisas que aliviam o stress e a pressão do dia a dia e nos fazem dar uma acalmada, uma revigorada para poder seguir em frente. Entre essas pequenas coisas, acontece de chegar em casa cansado do trabalho ou o que for, sacar algum disco para o player e ver as canções ali contidas, acabarem por transformar o espírito atual, produzindo bons momentos.
O mais recente trabalho incluído nessa categoria, que já tem alguns inseridos pela casa no decorrer dos anos é o quarto disco do cantor e compositor Salim Nourallah, “Constellation”. Salim é um músico americano vindo de Dallas, no Texas, que já participou de diversos projetos ao longo do tempo, como o “Nourallah Brothers”, feito com o irmão Faris Nourallah ou a banda Happiness Factor, indo do alt-country ao powerpop.
Desde 2003 segue carreira solo e chega nesse “Constellation” a um nível de qualidade bem grande. O trabalho que traz uma das capas mais bonitas do ano até agora, contou com a produção do também compositor e cantor Bill Harvey, saindo pelo selo Tapate Records. Salim Nourallah conta com a ajuda de outros músicos nos instrumentos, se sobressaindo dentro do contexto geral, como na faixa de abertura “Endless Dream Days”.
A sua música encontra paralelos no trabalho de artistas como Wilco, Josh Rouse, American Music Club e Elvis Costello, para ficar só em alguns. São treze faixas espalhadas por 46 minutos que versam sobre o amor, pequenos casos do cotidiano e alguns outros imaginários, nada que seja sublime demais, mas que tem um encantamento próprio, vide “Stranger In My Own Skin” e “The Man Who Learned To Love”.
Além disso, “Constellation” traz momentos realmente brilhantes como “Western Hills”, o vigor pop de “Pictures Collected”, o pequeno rock de “It´s Not Enough” ou a balada e os vocais de “Love Is All Around”. Disquinho altamente recomendável para acalmar um dia ruim, ser repassado para os amigos, entrar com algumas canções nas coletâneas pessoais e ser tocado sem maiores programações, caindo bem em todos os instantes.
Site Oficial: http://www.salimnourallah.com
My Space: http://www.myspace.com/salim