terça-feira, 4 de julho de 2006

Canções de Bolso - Telesonic



Os filósofos antigos, assim como os novos “gurus” de auto-ajuda sempre afirmaram que a perseverança é fundamental na vida. Sem querer concordar com eles, leio perseverança como nunca desistir de seus sonhos, acreditar que poderás fazer algo. Que o diga Klebe Martins. Castanhalense. Músico de longa data, depois de tantos anos e tantos projetos, finalmente conseguiu colocar no mercado um disco próprio, como o projeto Telesonic. Só isso já valeria muito. Vale muito mais quando o disco é muito bom. Realmente bom. 

“Canções de Bolso” do Telesonic, lançado pela Ná Records mês passado, reúne oito composições de Klebe Martins, gravadas no período de Novembro de 2005 a Março de 2006 no Live Estúdio em Castanhal. Como ex-integrante da banda Super 8 e Suzana Flag, entre outras, o músico convidou os amigos para tocarem no trabalho. Elder Effe (Suzana Flag) ficou com a responsabilidade pelo baixo e vocais de apoio, Eliezer Andrade (Ex-Eletrola) pelas guitarras, deixando os violões, guitarras e vocais com o próprio músico. Há ainda a participação de Joel Melo (Suzana Flag), Nathanael Andrade(Ex-Eletrola) e Mizael Crispin (Guitarras), além de André Paiva nos teclados e Júnior Souza na bateria. 

Um grande time para um grande disco. 

A sonoridade é calcada no folk e no rock alternativo, com ecos de Belle and Sebastian, R.E.M, Lemonheads, Nando Reis, Lou Reed, o movimento Alt-Country e outras coisinhas mais escondidas no grande baú de referências do músico. Algumas composições já vinham sendo trabalhadas há algum tempo, enquanto outras são mais recentes, contudo o resultado de todas é um disco bem coeso, interligado entre si, o que acentua um dos seus méritos. 

“Canção de Bolso” abre o álbum, com a frase “eu posso ver a luz do sol...” e já cativa o ouvinte logo de entrada, uma meio canção de amor escondida a frases como “sou mais forte do que a dor...”. Em seguida temos uma das melhores canções do álbum, “Lembre-se”, que soa como um anti-hino para seguir em frente, “lembre nem tudo pode ser como você sempre sonhou...”, mas poderá ser, exemplo próprio do autor. “Mr. Bones” vem em seguida, com um toque de Lemonheads no andamento da canção e na concepção da letra que também remete um pouco aos grande cantadores de folk como Dylan.

“Manhã de Agosto” segue o mesmo caminho trovador e mantém o nível. “Nostalgia” tem uma das mais belas letras que ouvi nos últimos tempos, uma canção de amor (outra!) em que olha o passado com magia e beleza, sem culpas, sem motivos. “Manifesto” vem em seguida dando um pequeno tom de virada, com uma melodia agradável. “Hoje é o dia” é outro grande destaque, vamos em frente, ok?, “hoje é o dia de não pensar mais, de correr atrás do que nos sobrou...”, beira a perfeição. “Outsider” fecha o álbum de forma mais que competente, culminando em uma das mais agradáveis meia hora dos meus últimos meses. 

Klebe Martins através do seu Telesonic, hoje não tem mais o desejo de mudar o mundo, suas músicas não tem o intuito de revolucionar nada, são somente canções, canções belas. Canções para se guardar no bolso e sair escutando em casa, no trabalho, com os amigos, no carro, canções para sair cantando sem se tocar no meio do dia, canções para se entender como a música pode ser tão interessante. Posted by Picasa

domingo, 25 de junho de 2006

Daniel Belleza e os Corações em Fúria

Que os caretas de plantão, as mocinhas inocentes, os nerds certinhos e todos aqueles que rogam praga ao rock se danem. O Rock está vivo, muito vivo e Belém pode ver isso de perto dia 24 de junho último no African Bar com o show da banda paulista Daniel Belleza e os Corações em Fúria. Quem perdeu, sinto muito mas se deu muito mal. Uma noite totalmente rock n´roll sem dúvida, de sorrisos múltiplos e solos mil. A banda paraense Madame Sataan abriu a noite com a habitual competência e o peso de costume emanados pela voz da vocalista Sammliz, despejando em pouco mais de quarenta minutos todos seus sucessos. Em seguida veio Jayme Catarro e seu Deliquentes, mandando ver com seu punk-hardore-rock. Mesmo depois de tantos anos vendo os caras ainda me impressiono com a porrada sonora que produzem. Eis que lá pelas 3 da manhã depois de muita conversa com o pessoal lá embaixo sobe ao palco, aquele que com certeza é um dos melhores show de rock do país no momento. Já tinha visto os caras no Abril Pro Rock 2005 e sabia de tudo que eram capazes e sinceramente foram melhores ainda. Abrindo com “Babe” o delírio foi total. E vieram “Do amor de morte”, “A caixa” (com participação da Sammliz), a cacetada e delírio de “Aonde estão as flores da sua cabeça” e “Sinfonia para Sol Menor” (essa com participação de alguém da platéia, no caso a amiga Pollyana). Ainda rolaram duas covers matadoras, “I Wanna Be Your Dog” dos Stooges com direito a Jayme Catarro em dueto e “21sth Century Boy” do T. Rex. Um puta show de rock n´n roll sem dúvida, onde o visual era totalmente importante para o resultado do show, assim como as perfomances, principalmente do Daniel e do baixista androginíssimo Rangel. Entre plumas e paetês e muito glamour o rock teve uma noite de rei na capital paraense e mostrou toda sua força.

quarta-feira, 7 de junho de 2006

Chinatown - 1974

O cinema noir marcou época, definiu um gênero de cinema, onde dramas policiais ganhavam uma fotografia mais sombria do que a habitual. Nos anos 40 e 50 tal gênero se consolidou e gerou inúmeros filhos bastardos, principalmente órfãos de “O Falcão Maltês”, clássico de John Huston de 1941. Em 1974, o diretor Roman Polanski (após o excelente “O Bebê de Rosemary”) que acabara de perder sua esposa Sharon Tate, resolveu prestar uma homenagem ao cinema noir em “Chinatown”. 

De acordo com Raymond Bord e Etiene Chauteton no site Store Track, existem sete elementos que consolidam o noir, são eles: Um crime. A perspectiva dos criminosos. Uma visão invertida dos fatos, como a corrupção policial. Alianças e lealdade instáveis. A figura da “Femme Fatale”. Violência bruta. Mudanças e motivações estranhas. “Chinatown” reúne grande parte disso. Vencedor do Oscar de melhor roteiro original, além de ser indicado em outras dez categorias, ganhador de quatro Globo de Ouro e 3 Bafta, o filme se tornou também um clássico. 

Na trama, o detetive particular J.J. Gittes (interpretado magistralmente por Jack Nicholson), recebe a visita de uma mulher de nome Evelyn Mulwray que deseja contratar seus serviços, pois acredita que seu marido o Engenheiro-chefe do Departamento de Águas e Energia vem mantendo um caso. Porém, Gittes logo descobre que sua cliente na verdade é uma farsante. 

Após isso, a verdadeira Evelyn Mulwray (a sempre bela e competente Faye Dunaway) o encontra. Quando o marido aparece morto no reservatório de água da cidade, Gittes percebe a gravidade do caso. Seu envolvimento leva-o a ser atacado por gângsters e após manter um romance com Evelyn, descobre que ela é filha de Noah Cross (o grande John Huston), um dos homens mais poderosos da cidade. Gittes começa a desconfiar de tudo e passa a armar esse tremendo quebra cabeça que lhe aparece na frente. 

Um perfeito casamento de drama e suspense, com atuações bem acima da média, uma direção precisa e uma fotografia preciosa, calcados em um grande roteiro. Isso é “Chinatown”. Cenas memoráveis como quando o nariz de Gates é cortado (pelo próprio Polanski em participação mais que especial) ou os desmembramentos finais fizeram historia dentro do cinema, influenciando gerações e prestando tributo a um gênero tão especial como o Noir (que recentemente recebeu outra demonstração de admiração em “Sin City”, um dos melhores filmes do ano passado). 

Um filme que parece ficar melhor a medida em que fica mais velho. 

Obrigatório.

quinta-feira, 1 de junho de 2006

Homem Espuma - Mombojó

Homem Espuma - Mombojó, originally uploaded by Kalnaab.

Ano passado no Abril Pro Rock estava ansioso para ver o show do Mombojó, tinha gostado muito do disco “Nadadenovo” e pelo fato de estarem em casa esperava um showzaço. E foi. Mas por outro lado, a banda apresentou muitas músicas novas, em um ritmo bem mais lento e com mais improvisação do que o antigo repertório. Ao mesmo tempo em que ficava com raiva de algumas músicas terem ficado de fora, admirava os caras por terem feito isso. O tempo passa. Eis que surge a nova empreitada de Felipe S (voz), Samuel Dee (baixo), Vicente Machado (bateria), Marcelo Machado (guitarra), Rafa (flauta), Chiquinho Moreira (teclado e sampler) e Marcelo Campello (violão, cavaquinho e escaleta), agora com o apoio de Daniel Ganjaman (do Instituto Coletivo) e de Lúcio Maia (Nação Zumbi) na produção. Sem contar equipamentos muito melhores. E lançamento pelo Trama. Quando uma banda lança um disco que é muito aplaudido, o segundo álbum atrai uma carga de responsabilidade muito grande. Ou você repete as formulas do que já deu certo e cria uma identidade, o que convenhamos é mais comum, ou você pega essa formula e inverte, remexe, acresce, retira, fazendo um trabalho sempre novo. Os recifenses optaram pela segunda. E se deram bem. “Homem Espuma” lançado recentemente é um tiro certeiro. Pode não cativar e nem balançar de primeira como o excelente “Nadadenovo”, mas explora caminhos bem mais diversos que este, com a maestria de seus músicos e a voz cativante de Felipe S. e seu sotaque. O disco foge um pouco mais do samba e rock, vertentes mais exploradas anteriormente e adiciona na panela um pouco de funk, mais bossa nova, eletrônico, uma boa dose de psicodelismo e algumas estranhices decerto. O Mombojó ainda está todo lá, só que com uma outra roupagem, querendo ser mais alguma coisa. “O Mais Vendido” abre o álbum com uma batidinha nonsense e uma letra bacana, trazendo na seqüência “Novo prazer” com um clima meio lounge no ar, almejando “...tomar uma vitamina C...” e culminando no “...sha-la-la....”. A música titulo tem um solo bem bacaninha, mas um dos destaques do álbum vem depois, “Realismo Convicente”, tem uma força coesa, um quê de rock, com um quê de cadência e uma letra bem juvenil e esperançosa “...eu preciso salvar o mundo mesmo que eu não ganhe nada com isso...eu vou tentar...”. Além da participação de Tom Zé. Ponto para os caras. “Tempo de Carne e Osso” também se destaca, com a cortesia da paulistana Céu nos vocais, bem devagarzinha com uma grande quebrada no final. Depois temos a seqüência mais Mombojó do disco, com “Swinga”, “Saborosa” e “Fatalmente”, lembrando outras épocas. “Desencanto” é outra perola a ser descoberta, com Felipe cantando baixinho “...no meu quarto deixei as lágrimas e o desencanto...”. Criatividade sambista em estado bruto. Bons destaques ainda para “Singular” e os metais de “Vazio e o Momento” (que tem uma letra muito interessante). “Minar” fecha o disco botando o clima da psicodelia pelos cantos. Muita gente vem dizendo que os caras aliviaram a mão ou então que o disco não é bom. Proponho um trato. Escute o álbum, deixe um tempo, escute de novo e se depois disso você não gostar eu dou meu braço a torcer. O Mombojó deu um passo a frente na sua música como poucos artistas tem criatividade e ousadia para fazer e nos trazem um disco que com certeza estará entre os melhores do ano. Música prazerosa de ouvir.

quarta-feira, 31 de maio de 2006

Bob & Harv - Dois Anti Heróis Americanos

O mundo é um lugar cheio de aventuras, de coisas fantásticas, de muitos amores. Temos que viver com toda a intensidade que podemos, correto? Não para todos. E principalmente não para Harvey Pekar, o idealizador dos quadrinhos “American Splendor”, cultuado entre os fãs da nona arte, assim como pessoas normais ou nerds em geral. 

Harvey Pekar construiu histórias tendo a sua vida como pano de fundo, onde ele e seus amigos são o prato principal. Nada demais, a não ser pelo fato de que a sua vida é chata, monótona, normal e até mesmo sonolenta. Trabalha como arquivista em um órgão do governo, é fanático por discos de jazz, tem estratégias para conseguir um dólar dos amigos ou simplesmente como ficar na melhor fila no supermercado. 

Essas cenas tão cotidianas de um cara meio paranóico morando em uma cidade onde quase nada acontece, são o tema do recente lançamento da Conrad, “Bob & Harv” que narra o encontro entre Harvey Pekar e o mestre do quadrinhos Robert Crumb (“Blues” e “Fritz The Cat”, entre outros). 

Os dois se conheceram nos idos das décadas de 60/70 e produziram entre 1976-1983, dentro da revista “American Splendor”, uma obra fascinante, repleta de humor negro, sarcasmo, critica social e comportamental e principalmente um culto à contracultura. 

O cartunista Laerte diz no prefácio do livro uma coisa bem interessante, pois nos últimos anos estamos dando tanto de cara com esse EUA tão arrogante e imbecil, que esquecemos o quanto esse país tem de artistas contestadores e inovadores. O movimento cultural dos anos 50/60/70 gerou nomes do porte de Gilbert Sheldon, Lenny Bruce, Jack Kerouac, William Borroughs e Robert Crumb. Nomes que influenciaram gerações. 

“Bob & Harv” é obrigatório. Não somente para os fãs de quadrinhos, mas para todos que apreciam a arte em geral. O encontro de dois gênios. Pekar o anti-herói que tanto fascina, o cronista de um cotidiano sem graça, sem emoção, mas ao mesmo tempo cheio de coisas pequenas que dão um toque especial. Crumb, talvez o maior autor de quadrinhos da história e sem dúvida um dos maiores desenhistas de toda sua geração. Um duelo de palavras e traços calcados um uma amizade singular. 

“Bob & Harv” é humor inteligente. Crítica não obsessiva. É arte. É a vida de um cara ranzinza, repleto de concentrações egomaníacas que de forma independente ficou “famoso”, criou uma admiração sobre seu nome, ganhou filme (muito bom por sinal, com Paul Giamatti no seu papel), que aliado a um mestre daqueles que só pintam de tempos em tempos, nos brinda com suas histórias e um retrato mais que fiel da nossa vida tão normal. 

“Bob & Harv” é para deixar na cabeceira da cama. Nunca emprestar. Sempre reler. E principalmente sempre admirar.

segunda-feira, 29 de maio de 2006

X-Men III - O Confronto Final

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Foram meses de uma espera difícil, onde os fãs se depararam com brigas entre elenco, trocas no comando do filme, fofocas de todo o lado, mas “X-Men III - o Confronto Final”, o provavelmente último filme da série estreou nesta sexta última, com uma bilheteria imensa e com a grande virtude de provocar um sorriso daqueles de ponta a ponta para todos que o assistem. “X-Men III” sofreu pelo chiliques de seu elenco, como Halle Berry (a Tempestade) que queria uma participação maior da sua personagem, Hugh Jackman (o Wolverine, mais uma vez o grande nome da produção) que ameaçou abandonar o navio e principalmente a saída do diretor Bryan Singer que conseguira montar tão bem os dois primeiros longas, para o ingresso de Brett Ratner e todo cetiscimo atrás do seu nome. Mas, como numa virada incrível, tudo se converteu para aquele que é o melhor filme da série. O diretor soube manter basicamente a mesma estrutura dos anteriores, com os três lados e suas divagações (os X-men, a turma de Magneto e os humanos) e a difícil relação entre os seus desejos. Mostra-se também no longa a criação da Irmandade de Magneto, o surgimento da Fênix e outros personagens como o Fera, Anjo e Fanático, além da participação maior de outros como Kitty e Colussus. Evidente que quem espera que tudo seja igual aos quadrinhos (confesso que eu estou nessa) nunca vai ficar satisfeito. Desde o primeiro filme algumas amarras foram cortadas, o que é necessário para que pudesse ser realizado. Os X-men são diferentes de grande parte dos outros heróis, visto que é mais fácil fazer um filme do Homem Aranha e escolher um vilão, do que abarcar um universo de 15 a 20 personagens, sendo todos importantes e queridos. Esquecendo isso, “X-Men III” é ação e satisfação do inicio ao fim. Passados alguns anos após o segundo episódio, onde o governo se torna mais tolerante com os mutantes, há o anúncio de uma “cura” para os mesmos, opondo grande lados e grandes discussões. Será que ser diferente é uma doença? Ou pensar de outro modo é ilegal? Como tratar com o preconceito? Questões como essa são abordadas de forma veemente. Feito o anúncio, Magneto (mais uma vez Ian Mckellen perfeito no papel) começa a montar sua irmandade, convencendo diversos mutantes a se unirem a ele nessa guerra contra a “cura” e por conseguinte contra a própria humanidade. No meio de tudo isso, Jean Grey ressurge das águas com sua outra identidade, o ser universal com poder de um verdadeiro Deus de nome Fênix, provocando um imenso alarde e colocando todos em perigo. Dessa forma não resta nada aos X-Men senão lutar. E que luta. Cenas memoráveis de Fera, Colossus, Magneto, Tempestade e Wolverine que com certeza deixam os fãs de boca aberta. Cenas como a que Vampira debanda do grupo ou a briga entre Homem de Gelo e Pyro já nasceram clássicas. Além de muitas outras que não dá para contar. Os X-men sempre foram diferentes pela sua diversidade, pela inconstância de seus temperamentos e acima de tudo por mostrar que sempre atrás daquela escola, daquelas lutas, existiam pessoas normais, com anseios normais, com paixões, desilusões e medo. Essa característica básica foi preservada em todos os filmes e culmina nesse último de forma sábia. Nada está certo para que continue, mas todos ficamos na expectativa de ver na grande tela, parte das histórias que tanto encantaram fãs ao redor do mundo como o “Massacre de Mutantes”, por exemplo ou a caracterização de vilões como o Sinistro e personagens como Gambit e Banshee, entre tantos outros. No entanto se tudo acabar por aqui, pode ter certeza que valeu. Valeu mesmo.

domingo, 21 de maio de 2006

O Código da Vinci

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Com todo o alarde que já era esperado, com a bilheteria desejada pelos produtores e acima de tudo com a polêmica anunciada estreou neste fim de semana último nos cinemas do país “O Código da Vinci”, adaptação cinematográfica para o best seller do escritor americano Dan Brown, dirigida pelo diretor Ron Howard (do oscarizado “Uma mente brilhante”) e com Tom Hanks no papel principal. Em seu quarto livro, Dan Brown utilizou mais uma vez seu personagem Robert Langdon (que já constava em “Anjos e Demônios”), um professor de simbologia de Harvard (cátedra que não existe na realidade) para criar uma trama rica em suspense e tensão tendo como pano de fundo monumentos históricos, comunidades secretas, traições e uma verdade escondida através dos tempos, ou seja, o romance de Jesus com Maria Madalena, seu filho e a manutenção de sua descendência até os dias de hoje. Com isso Dan Brown arrumou uma verdadeira guerra com a igreja e aqueles que se julgam donos da moral e dos bons costumes no que tange a suas argumentações a respeito de Jesus Cristo (nada muito novo, diga-se de passagem), assim como aos historiadores em geral que reclamavam da não autenticidade da maioria das informações constantes no livro. O que foi esquecido é que as informações estão contidas em um livro de ficção, onde temos uma história que serve de suporte para o desenvolvimento de uma trama que horas se aproxima da realidade e horas se afasta dela. O direito de expressão ainda é plenamente aceitável no mundo atual (e espero que seja assim por muito tempo). Toda essa “guerra” lembrou a inquisição (guardadas as devidas proporções) e a queima de diversas obras importantíssimas pela igreja (“onde se queimam livros, se queimam pessoas”). È apenas ficção e assim deve ser entendida em primeiro plano. Evidente que depois de tudo isso Hollywood não ficaria atrás e partiu para a transposição do livro para a grande tela, o que rendeu novas brigas e continua rendendo. Dito isso vamos ao filme. Para grande decepção daqueles que gostaram do livro, o filme é apenas razoável. Até a metade o ritmo proposto e as revelações que vão surgindo na tela dão uma boa concepção a trama que no entanto vai se perdendo com o decorrer do longa e o seu fechamento. As atuações da dupla principal de personagens vivida por Tom Hanks e pela francesa Audrey Tatou (que vive a criptóloga Sophie Neveu) está bem simples, sem brilho algum e com pouco destaque individual. Tal destaque fica por conta das interpretações de Paul Bettany, impecável como o albino Silas e Ian McKellen como Sir Leigh Teabing, soberbo do começo ao fim. Como cinema “O Código da Vinci” não agrada muito, pois carece de um melhor desenvolvimento do roteiro, uma vez que quem não leu o livro provavelmente irá se enrolar com os fatos, assim como partes interessantes ficaram de fora e alguns personagens tiveram algumas mudanças leves. Como fenômeno pop, o filme renderá milhões para os bolsos de todos os envolvidos, provocará discussões (algumas bem interessantes, por sinal) e merece ser visto nem que seja para dizer “Eu vi também” e tirar suas próprias conclusões.

sábado, 13 de maio de 2006

"Palestina - Uma nação ocupada"

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Jornalismo é coisa séria, coisa muito séria, individualizado por mídias adultas e responsáveis, ok? Ok. Mas o americano Joe Sacco provou em 1994, que jornalismo também pode ser feito de forma séria em mídias alternativas como os quadrinhos. Joe Sacco já tinha aparecido anteriormente em “O Derrotista” que reunia histórias suas do tempo em que mantinha a revista Yahoo, já com indícios daquilo que virou sua marca registrada, que é o ingresso de fatos e histórias reais retratados através de suas experiências e de seus quadros. Lançado em sua terceira edição pela Conrad em 2004, “Palestina- Uma nação ocupada” é a obra prima do autor. Joe viajou para Israel e passou uns meses a fim de entender uma guerra que dura centenas de anos e que parece nunca vai chegar ao fim. No seu livro, vencedor de vários prêmios o autor exprime através dos seus quadrinhos toda a tensão entre palestinos e israelenses, mostrando principalmente o lado dos árabes que aos olhos do mundo parecem usurpadores da “terra santa”, mas que na verdade são tão donos dela quanto qualquer parte integrante do conflito. É possível entender através dos quadrinhos de Sacco um lado que não vemos nas tvs ou jornais, a complexidade de uma historia que ao mesmo tempo em que é tão distante se mostra bastante simples olhando pelo lado dos povos poderem coexistir, eliminando assim toda a intolerância que persiste. Uma obra prima que sem dúvida elevou a nona arte a um patamar um pouco diferente do usual. Brilhante.

quarta-feira, 10 de maio de 2006

Flores Partidas

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Meses atrás no MSN, uma amiga me chama: - Tens que assistir a “Flores Partidas”, urgente!! - Pois é, ouvi falar é com o Bill Murray né? - Isso, corre que ainda dá, gostei muito.. - Ok, vou ver sim, bem recomendado assim... O tempo passou e eu não vi. Ontem revirando pela locadora vi o DVD e evidente loquei com até certa empolgação não posso negar. Não gostei do que vi, pretensioso demais, com qualidade de menos. Algumas idéias ate são cínicas e engraçadas, mas se perdem no meio das repetições e até mesmo em alguns momentos de igualdade com outros longas. A sensação de já vi isso antes é meio recorrente. Primeiro porque Bill Murray faz o papel que o tirou da lama nos últimos tempos e que vez ou outra repete. Seu personagem (Don Johnston, uma das boas tiradas do filme) vive no mesmo mar de inércia que algumas de suas últimas atuações. Também peca contra o filme cenas a lá “Confissões de Schmidt” (como a que ele está no sofá sozinho e se deita) e as cenas de road-movie que tem uma grande sensação de “já vi isso antes”. No filme, o cinquentão Don é deixado pela sua namorada Sherry (a sempre bela Julie Delpy) e logo em seguida recebe a noticia de que um filho de uma ex-namorada sua está à procura do pai, ou seja, ele. Sem ligar muito, mas convencido pelo seu vizinho metido a detetive ele embarca numa busca que nem ele sabe ao certo qual seja. Nessa sua busca serpenteada em meio a surpresas, inaptidão, socos e muita cor de rosa pelo caminho, o longa se desenrola na boa direção de Jim Jarmusch (ídolo do cinema independente americano). Mas na verdade não convence no todo, fica sempre parecendo que falta alguma coisa apesar de saber que a intenção do diretor é justamente essa, mostrar a procura por algo que não sabemos, as rotinas da vida e por ai vai, mas esse tema já foi bem melhor explorado anteriormente, com bem mais maestria. No mais, conversando com a mesma amiga, começo com a seguinte frase: - Não gostei de “Flores Partidas”. E lógico tive que explicar o porquê....

terça-feira, 9 de maio de 2006

Marcas da Violência

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“Marcas da Violência” é o último filme de David Cronenberg (“Gêmeos” – Mórbida Semelhança e “Spider”, entre outros) baseado na Graphic Novel de John Wagner e Vince Locke, traz no elenco Viggo Mortensen, William Hurt e Ed Harris. O filme recebeu boas criticas e agora chega em DVD. Na pequena cidade de Millbrok no estado de Indiana nos USA, a vida segue normalmente sem maiores problemas para Tom Stall (Mortensen), esposa e filhos. Aquela vida cotidiana que se convencionou a chamar cinicamente de “American Dream”. Tudo corre mais ou menos na tranqüilidade e possibilidades de uma cidade pequena. Eis que um belo dia surge no restaurante de Stall, uma dupla de criminosos que ameaçam a vida de seus empregados e clientes. De súbito o pacato dono do restaurante se transforma e mata os dois assaltantes. No dia seguinte em todas as emissoras de tv, Stall é colocado como um herói americano, o que desperta a atenção de pessoas nada agradáveis que saem ao seu encalço. Os pontos positivos do filme além da direção coesa de Cronenberg, é o fato de como o passado pode mexer com sua vida e até que ponto somos capazes de superar coisas que não vivemos para poder seguir em frente, apesar de tudo. Do lado negativo, o filme é muito curto e o final se desenvolve sem a dinâmica necessária, apesar de ser bem formulado. No conta corrente de erros e acertos, vale a pena ver.