segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Quadrinhos: "Busker", "Golias", "Squeak The Mouse" e "Lume"


Clay circula por São Paulo com o violão debaixo do braço e tocando pelas ruas, como tantos outros. No peito o anseio de viver de música, de mostrar a arte para uma quantidade maior de pessoas, de vencer usando o talento. É com essa trama que o designer e ilustrador Ryan Smallman estreou no final de 2018 com “Busker”, publicação independente de 48 páginas em preto e branco. A obra trata de um tema abordado várias vezes e poderia passar batida se não fosse pela suavidade e esmero que o autor utiliza no texto e arte. Mesmo com uma certa previsibilidade nos rumos, agrada e serve para aplacar um pouco o dia a dia tão permeado de notícias ruins. “Busker” é sobre sonhos, sobre acreditar, sobre seguir em frente mesmo quando o mundo diz não (como fala aquela música). E acima de tudo isso é sobre o poder das canções.

Nota: 6,0



A história de Davi e Golias é universalmente conhecida não somente por aqueles que leram a bíblia, mas por várias outras pessoas. A vitória da inteligência contra a força bruta, do pequeno contra o grande, do impossível contra o normal é retratada constantemente como analogia em diversas situações. Só que o quadrinista escocês Tom Gauld deu uma bela revertida nesse conceito, recontando as coisas de maneira diferente. Em “Golias” que a editora Todavia publicou esse ano no Brasil com 96 páginas, o gigante não quer saber de guerra ou briga, prefere a burocracia do que ir para a batalha. Contudo, devido ao seu tamanho e porte físico é deslocado para resolver os problemas da guerra, guerra aliás que é retratada com as irracionalidades e incoerências que lhe são inerentes. Usando poucas cores e traços simples, Tom Gauld faz uma releitura da parábola com fineza, humor e relevância aos nossos tempos.

Nota: 7,0

Instagram do autor: https://www.instagram.com/tomgauld/    


Massimo Mattioli nasceu na Itália em 1943 e faleceu em agosto desse ano. O cartunista e quadrinista foi um dos fundadores de revistas underground como “Frigidaire” e “Cannibale” e aqui teve trabalhos publicados na extinta e saudosa revista “Animal”. No primeiro semestre de 2019 (e antes da sua morte), a editora Veneta publicou uma edição de luxo com capa dura, 160 páginas e vários esboços de extras compilando tudo da dupla mais demente e desvairada já imaginada. “Squeak The Mouse” começou a sair no início dos anos 80 unindo violência, sexo e subversão com muita desordem e depravação sempre repetindo a mesma diagramação básica dos quadros. Como se Tom e Jerry estivessem sobre efeito de todas as drogas possíveis e existentes numa espiral de carnificina e libertinagem extremada indicada única e exclusivamente para leitores adultos. Por mais que algumas coisas tenham envelhecido mal ainda é uma obra com grande valor.

Nota: 7,5



O tempo passa, a juventude fica para trás e no meio da correria louca do processo de sermos adultos e pagar os boletos esquecemos de pessoas e momentos importantes que permearam essa fase complicada da vida. É sobre isso que a artista visual e quadrinista paulista Luiza Nasser conversa em “Lume”, trabalho independente de 68 páginas lançado no ano passado. Em preto e branco alternando os tipos e estilos de quadros e a força do próprio desenho a autora conta com extrema delicadeza uma relação que é bem provável que já tenha acontecido com você ou com algum amigo. Na busca por afirmação, por encontrar um lugar no mundo, por ter um ombro para recorrer quando a vida sai do trilho, de saber que você não está sozinho na vida é que “Lume” se destaca e vai um pouco mais além da sua premissa inicial e brilha de maneira ímpar.

Nota: 8,0







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