sábado, 12 de outubro de 2019

Literatura: "A Mulher Na Janela" e "Marrom e Amarelo"


Um dos livros mais vendidos de 2018 nos EUA foi “A Mulher Na Janela” (The Woman In The Window) que logo teve os direitos vendidos para um filme que chega provavelmente no início do ano que vem com a estupenda Amy Adams no papel da protagonista. A editora Arqueiro publicou nacionalmente a obra no ano passado com 352 páginas e tradução de Marcelo Mendes. Com elogios de autores consagrados como Gillian Flynn e Stephen King, o trabalho causou burburinho também por conta do autor. Creditado no livro como A. J. Finn, na verdade descobriu-se depois que se tratava de Dan Mallory, escritor que conta com um histórico de mentiras e invenções na bagagem (mas, isso é outra história). Na trama, Anna Fox sofre de agorafobia e vive trancada em casa com pouco contato real além do psiquiatra e da fisioterapeuta. Tem como principal passatempo espionar os vizinhos pela janela se dedicando a pesquisas virtuais sobre cada um deles, enquanto mistura seus remédios com (muito) vinho, assiste filmes antigos e conversa em um fórum da internet com pessoas que sofrem da mesma doença. Com uma rotina quase que totalmente estabelecida vai muito levemente superando os medos, mas vê as coisas mudarem quando uma nova família muda para a rua. Da curiosidade e excitação inicial a trama gira para uma sequência de ardis, farsas e trapaças embaladas com muita paranoia. Com reviravoltas interessantes a leitura é daquelas capazes de prender o leitor, contudo ao término é esquecida tão rapidamente quanto foi consumida.

Nota: 6,0

Leia um trecho aqui: http://www.editoraarqueiro.com.br/media/upload/livros/amulhernajanela_trecho.pdf


O racismo está entranhado na cultura nacional, por mais que alguns rebolem com argumentos mirabolantes ou comparações esdrúxulas tentando negar esse fato. Está na escola, na rua, na universidade, no escritório, em casa, na festa. Vai desde o apelido “inofensivo” até atos e injúrias que desestruturam e são espelhados em maior grau para o resto da vida em oportunidades de trabalho, promoções, reconhecimento, etc. É sobre isso (e mais um monte de coisa) que o escritor gaúcho Paulo Scott fala em “Marrom e Amarelo”, lançamento desse ano da editora Alfaguara com 160 páginas. Na base é a história dos irmãos Federico e Lourenço em diversos momentos da vida que se entrelaçam do meio para o final, porém vai além disso e é – em algum nível - a história de milhares de pessoas espalhadas pelo país. Começa com Federico entrando em uma comissão federal de um novo governo espúrio que tem como missão rever o processo do ingresso de jovens negros no ensino superior pelo sistema de cotas, retorna para a adolescência em Porto Alegre e deságua no confronto da sobrinha com a Polícia em um protesto. De absurdos maiores como a criação de um software para definir quem é negro ou não até coisas menores do cotidiano, a obra de Paulo Scott é Brasil em estado puro. Com uma narrativa que alterna o tipo de escrita, mas nunca deixa de ser direta, clara e simples, temos um trabalho poderosíssimo e mais atual e relevante do que nunca. Uma pedrada daquelas.

Livro: 9,5

Leia um trecho aqui:
https://www.companhiadasletras.com.br/trechos/28000141.pdf


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