terça-feira, 5 de junho de 2018

Literatura: "Hippie", "Os Beneditinos" e "Fechado Por Motivo de Futebol"


Paulo Coelho chegou ao vigésimo livro. Chama-se “Hippie” o novo rebento de 288 páginas e lançamento pela Paralela, selo da Companhia das Letras. Dois anos depois de lançar “A Espiã” ele agora mergulha nas lembranças da juventude no final dos anos 60 e início dos anos 70 onde tateava ainda sem muita convicção o seu futuro. Extremamente autobiográfico, o livro foi escrito em terceira pessoa, permitindo assim que os demais personagens tivessem maior destaque. Paulo é um jovem que viaja junto com a namorada mais velha pela América do Sul, até que uma prisão na cidade de Ponta Grossa no Paraná em 1968 em plena ditadura faz com que esse amor termine. Do outro lado já encontramos Paulo em 1970 chegando a Amsterdã com algumas expectativas na mochila e a cabeça aberta para novas experiências. Quando Karla, uma holandesa forte e bela surge no seu caminho, embarcam em um ônibus intitulado Magic Bus com destino ao Nepal. Nessa aventura pelo desconhecido temos um romance de descoberta, de pessoas querendo achar o lugar no mundo. Ao deixar um pouco de lado toda a espiritualidade e os chavões que tanto gosta de usar (ainda que eles apareçam em boa dose), Paulo Coelho faz em “Hippie” um de seus melhores trabalhos em muito tempo.

Nota: 6,0

Leia um trecho aqui: https://www.companhiadasletras.com.br/trechos/88283.pdf 





O que fazer quando o emprego vai embora, a vida já não oferece grandes atrativos no pequeno apartamento em que se mora sozinho e para completar a saúde já não anda lá essas coisas e requer privações e cuidados mil? Bom, para o narrador de “Os Beneditinos” a saída é reunir os velhos amigos do tempo de colégio primário e propor a eles uma última aventura em Londres para disputar o primeiro campeonato de Walking Football, um jogo feito para veteranos onde não é permitido correr, somente andar com a bola nos pés. Nas 152 páginas do romance publicado recentemente pelo selo Alfaguara da Companhia das Letras, o jornalista carioca José Trajano finaliza uma espécie de trilogia involuntária composta antes por “Procurando Mônica” de 2014 e “Tijucamérica” de 2015. Assim como eles, “Os Beneditinos” carrega em si vários pontos autobiográficos de um autor que durante muito tempo foi odiado e amado nas mesas de debate esportivo e no comando nacional de um grande canal de esportes. De opinião forte, às vezes até mesmo irascível, mas inteligente e bem-humorado, Trajano versa belamente no novo trabalho sobre o envelhecer e as boas lembranças que guardamos dentro do peito, ao mesmo tempo em que cutuca levemente os tempos sombrios em que vivemos.

Nota: 7,0




O escritor uruguaio Eduardo Galeano (de “As Veias Abertas da América Latina”) sempre foi um apaixonado por futebol. Falecido em 2015 costumava pregar um aviso na porta de casa em época de Copa do Mundo que dizia “cerrado por fútbol”. Nada mais direto e claro. A paixão era tanta que escreveu “Futebol ao Sol e à Sombra” onde se debruçava magistralmente sobre o esporte fazendo as correlações que lhe eram possíveis. Em 2018 a L&PM Editores publica aqui no Brasil nas vésperas de mais uma Copa do Mundo, “Fechado Por Motivo de Futebol”, coletânea com textos que não entraram no livro anterior e saíram em jornais, revistas e livros, compilando até mesmo coisas inéditas. O escritor que como tantos outros queria ser jogador de futebol, mas como ele mesmo afirmava só conseguia fazer isso dignamente nos sonhos, usou as mãos e a mente para produzir a arte que os pés não permitiram. Em um livro extremamente aprazível, Galeano conta saborosos casos sempre margeando os mesmos com política e história, o que faz com que pequenos textos de uma página apenas, por exemplo, se tornem ainda mais. Passando da seleção uruguaia pelos craques que admirava como Pelé, Maradona e Zidane até desconhecidos brilhantes, “Fechado Por Motivo de Futebol” é leitura mais que recomendável.

Nota: 8,5


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