Quem quando criança nunca quis
ser um super-herói ou pelo menos ter algum tipo de poder como invisibilidade,
telepatia ou sair voando pela cidade? João Humberto é uma dessas crianças e
fascinado por um personagem de desenho animado chamado Lobo Cinzento sempre
nutriu a vontade de ser o primeiro super-herói de verdade do mundo. Acontece
que, bom, ele cresceu e continuou tendo isso como objetivo principal de vida. “Escolhas” é o novo trabalho de Gustavo
Borges que fez a bonita “Pétalas” em 2015, dessa feita em parceria com Felipe
Cagno que assume o roteiro deixando a arte com o Gustavo e usando as cores
sempre primorosas da Cris Peter. Financiada coletivamente através de
crowdfunding onde superou bem a meta inicial também ganha publicação pelo selo
Geektopia da editora Novo Século, com 100 páginas entre história e extras. A inspiração
para a revista veio de uma palestra do escritor Scott Snyder (de “Batman”) e
daí veio o roteiro que usando de analogias versa sobre perseguir os sonhos por
mais impossíveis que sejam e sobre o processo da vida que sempre nos guia pelas
opções que fazemos. “Escolhas” é uma
história divertida e lírica na maior parte, que homenageia o universo dos
super-heróis em geral e conta com uma arte que consegue transpor ao leitor o
clima necessário para entrar na viagem. O ponto negativo fica na formatação do
casal João Humberto e Nina, onde as crises e apresentação se escoram muito em
clichês batidos, incomodando um pouco. Quando foca somente nos obstáculos que o
protagonista precisa superar para alcançar aquilo que deseja e nos erros que
comete pelo caminho, sem se estender muito em dramas novelescos, é que “Escolhas” rende mais e se torna leitura
prazerosa, se consolidando em um trabalho de qualidade que atesta novamente o
bom momento da produção de quadrinhos no país.
Nota: 7,0
O cineasta francês Luc Besson de
filmes como “O Profissional”, “O Quinto Elemento” e “Lucy” era apaixonado pelos
quadrinhos da dupla Pierre Christin e Jean-Claude Mézières que saia na clássica
revista Pilote a partir da segunda metade dos anos 60 quando ele era criança. Esse
amor é tão grande que depois de muito imaginar o diretor leva a trama para o
cinema, com o filme baseado na obra estreando agora em 2017. Aproveitando a
deixa a Sesi-SP Editora começa a publicar integralmente a extensa série por
aqui, que antes só havia saído como tira nos anos 80. “Valerian – Integral – Volume 1” tem 160 páginas, formato grande
(22x29cm) e extras primorosos como entrevistas e textos informativos. Traz
compilado “Os Maus Sonhos” de 1967, “A Cidade das Águas Movediças e Terras em
Chamas” de 1970 e “O Império dos Mil Planetas” de 1971, essa última sendo a
história que foi adaptada para a telona. Os personagens principais são Valérian
e Laureline, dois agentes do espaço-tempo de uma sociedade futurista que se
envolvem em diversas aventuras indo contra a tirania e sociedades comandadas
por déspotas e criminosos. A série é daquelas primordiais para a ficção
científica e inspirou várias e várias obras em diversas mídias, como por
exemplo “Star Wars” de George Lucas. Nesse primeiro volume (outros mais virão)
o roteiro de Christin, a arte de Mézières e as cores de Évelyne Tranlé vão
evoluindo de acordo com o passar do tempo. Se nas duas primeiras tramas tudo
flui meio toscamente na última temos tudo em grau elevado com humor, crítica
social e ação se unindo de modo avassalador. Tanto por valor histórico, quanto
por méritos qualitativos ou pela edição caprichada, “Valerian” é totalmente recomendável para quem gosta de quadrinhos
e ficção científica, uma obra de vanguarda e até mesmo visionária que continua
fluindo com maestria mesmo depois de tanto tempo.
Nota: 9,5
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