sexta-feira, 14 de abril de 2017

Literatura: "Léxico" e "Meninos em Fúria"


Uma organização misteriosa e secreta treina jovens com potencial para agirem na persuasão de pessoas, ocultamento de fatos e divulgação de verdades não tão verídicas assim, tudo em nome de um suposto equilíbrio mundial. Esses agentes quando vão ao trabalho de campo deixam seus nomes verdadeiros para trás e assumem os de famosos poetas como novos, já que as palavras são sua arma letal, principalmente as combinações que promulgam para invadir a mente dos alvos e alterarem o seu comportamento. Esse é o mote de “Léxico”, livro do australiano Max Barry que há alguns anos nos brindou com o ótimo “Homem-máquina”. Essa nova aventura do autor foi lançada aqui no país pela editora Intrínseca em 2015 (é original de 2013) e tem 368 páginas e tradução de Domingos Demasi. Em “Léxico” temos ação e bom humor em quantidades generosas e mesmo sendo um livro agradável incomoda por utilizar algumas das premissas já utilizadas em “Homem-máquina”. O protagonista, por exemplo, é uma mistura do Charles Neumann do referido livro e Arthur Dent de “O Guia do Mochileiro das Galáxias” do Douglas Adams. Esse protagonista é Will Parke, um pacato cidadão que de repente se vê no meio de uma tremenda confusão sem saber os motivos para tanto. Do outro lado da história está Emily Ruff, uma jovem que vive na rua fazendo trambiques até ser recrutada pela organização que vê potencial nela (apesar de um “lado sombrio”). E no meio de tudo está T. S. Elliot, um renomado e experiente agente que busca solucionar as broncas. Juntando esses três lados e alternando entre presente, passado e futuro, Max Barry promove uma divertida e descompromissada jornada em busca da salvação mundial, enquanto joga no meio do caminho algumas situações levemente críticas e ácidas em relação a esse mesmo mundo.

Nota: 6,0

Leia um trecho diretamente do site da editora, aqui.


 “Nós estamos aqui para revolucionar a Música Popular Brasileira, para dizer a verdade sem disfarces (e não tornar bela a imunda realidade): para pintar de negro a asa-branca, atrasar o trem das onze, pisar sobre as flores de Geraldo Vandré e fazer da Amélia uma mulher qualquer”.

O polêmico e enérgico trecho acima é do final do movimento punk escrito por Clemente Tadeu Nascimento no início dos anos 80. O líder da banda Inocentes, na ativa até hoje, é ícone dessa geração e revê essa época no livro “Meninos em Fúria” em parceria com o escritor Marcelo Rubens Paiva (de “Feliz Ano Velho” e “Blecaute”, entre outros) que também viveu esses momentos e se envolveu neles. Com lançamento pelo selo Alfaguara da Companhia das Letras no ano passado tem 224 páginas e apresenta o subtítulo “E o som que mudou a música para sempre”. Guardadas as dimensões do que essa frase enseja, o livro retrata os primórdios do punk no Brasil e como ele caminhou nesses primeiros anos entre preconceitos, brigas de gangues, acordes rápidos, afirmação e revolta de uma turma que não se sentia representada por nada daquilo que o país exibia de maneira geral. O texto construído na obra esbanja fluidez e se permite transitar não somente pela música que retrata e dá mote ao livro, como também pelas experiências pessoais dos autores, o crescimento e as dúvidas de cada um, além de passar sabiamente pelo começo do processo de abertura política do país, fruto de uma ditadura que deixou corpos e anos tenebrosos no meio do caminho. “Meninos em Fúria” pode ser entendido como um valioso instrumento histórico, retrato parcial de um tempo que hoje já parece distante (mas não é), contudo pode ser entendido também como um romance juvenil e de descoberta envolto em música, namores, sexo, drogas, álcool e muito inconformismo, sendo que por onde quer que se entenda funciona muito bem.

Nota: 8,0




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