quarta-feira, 19 de junho de 2013

"A Parte dos Anjos" - 2013

Da segunda metade da década passada em diante, o diretor britânico Ken Loach tem engatado uma sequência de trabalhos que além de mostrarem uma qualidade elevada, tem ajudado um pouco a diversificar o seu cinema, como por exemplo, ocorreu com “À Procura de Eric” em 2009 e agora com “A Parte dos Anjos”, lançado esse ano por aqui. A verve engajada e política apareceu de maneira mais forte nesse período em “Rota Irlandesa” (2000) e “Ventos da Liberdade” (2006), mas deu uma relaxada nos outros dois longas citados.

Ken Loach faz cinema desde o final da década de 60 e sempre mostrou uma paixão em mostrar questões sociais e políticas na telona. Isso, de certa maneira, até engessou a própria criatividade e em determinados momentos aparecia como um tema geral a ser explorado de maneira contínua. Isso já não ocorre em “A Parte dos Anjos”, que situado em Glasgow na Escócia até apresenta temas como o desemprego, a falta de oportunidades e a violência, mas opta por outro caminho para conduzir a história em uma aventura bem peculiar.

O filme concorreu a palma de ouro em Cannes e levou o prêmio do júri na edição do ano passado, fazendo de Ken Loach quase um membro honorário do festival, de tanto que ele vem aparecendo por lá com seus filmes. Centrado na figura do jovem Robbie (Paul Brannigan), o roteiro de Paul Laverty, costumeiro parceiro do diretor, apresenta uma história de aprendizado e de busca por um futuro melhor, que apesar de tão explorada anteriormente, aqui é apresentada por um viés diferente, regada ao tradicional uísque escocês.

O longa começa em um tribunal, onde alguns delinquentes e azarados são colocados para prestar serviços comunitários como alternativa aos seus danos. Nesse grupo está Robbie, colocado sob a batuta do paternal Harry (John Henshaw, o nome mais conhecido do elenco). Através dele o jovem perdido e violento conhece as maravilhas do uísque e recebe ajuda na forma de lidar com a namorada que recentemente teve um filho seu. O rapaz vai mudando e assim passa a perseguir um futuro distante daquele círculo de violência que está inserido.

Essa peregrinação por dias melhores ganha tons divertidos e leves, o que conquista o espectador quase que de imediato. O título do filme tem origem em como é chamada a pequena parcela do uísque que vai evaporando nos barris com o passar do tempo, explicada didaticamente em visita a uma destilaria. “A Parte dos Anjos” não é o melhor filme do diretor de filmes como “Kes” (1969), “Terra e Liberdade” (1995) e “Pão e Rosas” (2000), mas é um dos mais simpáticos e bem dosados e assim mantêm o cinema de seu diretor ainda vivo e vibrante.

Nota: 7,0

Textos relacionados no blog:
- Cinema: “À Procura de Eric” (2009)


Assista ao trailer legendado:

quarta-feira, 29 de maio de 2013

"Garota Exemplar" - Gillian Flynn

O poeta e escritor escocês Robert Louis Stevenson classificava o casamento como uma longa conversa entremeada com disputas. Se na verdade é isso ou não, o livro “Garota Exemplar” deixa mais um atestado no caminho dessa afirmação. É o primeiro trabalho da jornalista e escritora Gillian Flynn a ser publicado aqui no Brasil (os inéditos são “Sharp Objects” e “Dark Places”), depois de passar por mais de 20 países e ter alguns milhões de exemplares vendidos. A Editora Intrínseca é a responsável pelo lançamento tupiniquim, que conta com tradução de Alexandre Martins e 450 páginas.

Em “Garota Exemplar” o leitor é convidado a entrar na vida do casal Amy e Nick Dunne. Ela é uma mulher de metrópole, criada em Nova York, com pais que fizeram fortuna com uma série de livros infantis e juvenis baseados na própria filha, onde a protagonista exala todo e qualquer tipo de perfeição que possa existir. Já ele, é um crítico cultural, com gostos meio simplórios e comuns, que acabou perdendo o emprego na revista em que trabalhava devido a transposição do mercado para a internet e a consequente reforma que isso iniciou na segunda metade da década passada.

Por um desses encontros e desencontros da vida os dois se interessaram um pelo outro, preenchendo (pelo menos momentaneamente) algumas lacunas necessárias e se casam. No ponto em que o livro começa estamos no dia do aniversário de cinco anos de matrimônio e as coisas já não andam lá tão bem. A fortuna de Amy foi se esvaindo aos poucos, Nick continuou desempregado e por uma questão que aliou problemas familiares e necessidade pessoal, o casal mora agora em uma casa situada nas margens do Rio Mississippi, longe de tudo aquilo com que se acostumaram.

Gillian Flynn alterna os capítulos individualmente de cada lado e entrecorta presente e passado na primeira parte do livro. Essa construção é necessária para que o leitor entre em uma zona de conforto e ache que já é senhor da trama, para que mais lá na frente sinta o baque e seja convocado a se levantar e deixar essas primeiras impressões de lado. Assim, os dois personagens são bem construídos, expondo suas imperfeições e defeitos, sendo que nesse momento é bem mais fácil se agradar com Amy do que propriamente com o lado masculino do par.

Uma das grandes vantagens de “Garota Exemplar” é deixar seus personagens com um lado ambíguo e duvidoso, optando em navegar em áreas cinzas ao invés do tradicional preto ou branco. Ambos têm coisas para se odiar. Quando Amy simplesmente desaparece na manhã do aniversário de casamento já citado e a procura da polícia começa a apontar para o envolvimento de Nick (deixando de lado a opção de sequestro), é que isso aparece mais, com tons mais traiçoeiros e capciosos onde as demais pessoas envolvidas no caso (família, amigos e público em geral) partilham entre si também dessa faceta dúbia e se entregam facilmente aos seus interesses pessoais.

Mesmo com a tarja estampada de “milhões de cópias vendidas”, que pode assustar o leitor mais exigente por se imaginar o enquadramento como uma literatura banal, “Garota Exemplar” esquiva-se dessa provável regra e é uma boa e surpreendente exceção. Um livro não remete linhas muito lisonjeiras para a instituição casamento e assim passa perto de afirmações como a do ex-presidente norte-americano Abraham Lincoln que definia o casamento como “nem o paraíso e nem o inferno, apenas o purgatório”.

Nota: 7,5

Site oficial da autora: http://gillian-flynn.com


A Editora Intrínseca disponibiliza um trecho gratuitamente para leitura, aqui.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

"Demolidor Noir" - Alexander Irvine, Tomm Coker e Daniel Freedman

Em 2009 a Marvel resolveu criar uma nova linha de quadrinhos baseada nos seus personagens clássicos. A ideia primordial era ambientar essas histórias nos anos 30 e caracterizar estas com um aspecto noir e inspiradas na literatura pulp da época. O noir que como literatura e, principalmente cinema, rendeu ótimos frutos, invadiria assim os quadrinhos com suas tramas policiais com detetives, assassinatos, cores negras, homens dúbios e mulheres provocantes e não confiáveis. A ideia foi dando certo e a Marvel estendeu essa linha para uma gama bem ampla do catálogo.

A Panini Comics começou a publicar esses produtos por aqui e o resultado é sempre mais ou menos satisfatório, apesar de não convencer exatamente pelo brilho do personagem principal e sim por algum outro atrativo, caso dos aspectos sociais e econômicos expostos em Homem-Aranha ou do ritmo de aventura visto em Homem de Ferro. Porém, era meio claro que quem teria mais condições de se adequar a esse estilo era o Demolidor. Era só não estragar tudo como fizeram no horrível filme de 2003.

“Demolidor Noir” foi publicada em terras brazucas agora em 2013 e apresenta as quatro edições lançadas lá fora entre junho e setembro de 2009 em um arco fechado. Com roteiro do escritor Alexander Irvine, arte de Tomm Coker e cores de Daniel Freedman, o homem sem medo é transportado para o período da lei seca, mas continua na Cozinha do Inferno. Lá, ele não é mais um advogado, mas um ajudante do amigo Foggy Nelson, travestido aqui nesta versão em um investigador particular.

O Matt Murdock de “Demolidor Noir” é um homem mais atormentado que de costume, e assim, diferente das outras publicações dessa linha editorial, assume o posto de destaque. Sem encontrar seu lugar, vive sofrendo com dúvidas, inquietações e um sentimento de raiva pela morte do pai que lhe move adiante contra o crime. Seus instintos aumentados são um benefício sem dúvida, mas também uma dor constante, que lhe tiram o sossego e aplicam no seu ego uma confortável e perigosa dose de arrogância.

É essa arrogância que o atira dentro de um caso junto com o rei do crime Wilson Fisk, um novo gângster que tenta lhe roubar o trono e, evidente, uma bela mulher, tão comum nas histórias do Demolidor e do próprio gênero noir. Quando atualmente o personagem passa por mais uma das suas inúmeras (e interessantes) reconstruções pessoais, esse olhar diferente com cores escuras e densas serve para reafirmar o potencial e carisma do Demolidor, mesmo que sempre renegado a mero coadjuvante pela Casa das Ideias.

P.S: Só o uniforme que não ficou lá essas coisas. Perdoável.

Nota: 8,5

Mais sobre os autores Alexander Irvine, Tomm Coker e Daniel Freedman você encontra aqui (http://alexirvine.blogspot.com.br) e aqui (http://www.corvxstudios.com).

terça-feira, 21 de maio de 2013

“Baby’s in Black, o Quinto Beatle: A História de Astrid Kirchherr e Stuart Sutcliffe” - Arne Bellsdorf

 
Uma bonita e triste história de amor. Com enredo inicial que remete a tantos e tantos casos no decorrer dos tempos. Rapaz conhece uma garota, que conhece o rapaz e assim se desencadeia uma atração que torna praticamente impossível não tocar a vida juntos naquele momento. Piegas? Sim, como deve ser o amor. Principalmente na juventude, antes do cinismo e da proteção pessoal se estender como um manto invisível que proíbe novas incursões no futuro. Foi assim a história de Astrid Kirchherr e Stuart Sutcliffe.

Para entender um pouco mais é preciso voltar bem no tempo. Voltar para 1960 quando John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, Pete Best e Stuart Sutcliffe desembarcaram na cidade de Hamburgo para levar adiante o sonho de ter uma banda de rock. Ali, no princípio da história da maior banda de todos os tempos, houve também um conto de amor e paixão. Em meio aos bares, prostituas e bebidas, os Beatles tinham uma tremenda prova de fogo e viam o primeiro dos seus integrantes a abandonar o barco.

Stuart não queria ser músico, mas como tinha dentro de si uma efervescência pelo novo, pelo diferente, resolveu deixar a escola de arte e aceitar o convite do amigo John e começar a tocar baixo, mesmo sem saber nota alguma. Quando a banda chega à cidade de Hamburgo, ainda sem Ringo Starr na bateria e com ele no baixo, eis que atravessa no seu caminho a bela fotógrafa Astrid Kirchherr, que aos 22 anos cruzava a Alemanha do pós-guerra exibindo independência e alguns sonhos dentro do jovem coração.

Dentro do sujo bar Kaiserkeller, os dois tem o primeiro contato e a partir disso fica difícil não estar perto um do outro. Com ajuda do amigo Klaus Voormann (que entre outras coisas fez a capa do álbum “Revolver” dos Beatles e tocou baixo em discos de John Lennon e Lou Reed), Astrid passa a se comunicar com o mundo de Stuart no intervalo das apresentações da banda, onde clássicos dos anos 50 como “Roll Over Bethoven” e “Money” são executados dia após dia por aqueles que um dia dominariam a música mundial.

Tudo isso está na boa graphic novel “Baby’s in Black, o Quinto Beatle: A História de Astrid Kirchherr e Stuart Sutcliffe”, escrita e desenhada pelo alemão Arne Bellstorf, que originalmente foi lançada no seu país em 2010. A HQ chegou ao Brasil no final do ano passado pela 8Inverso Graphics com 208 páginas e tradução da dupla Augusto Machado Paim e Cássio Pantaleoni e tem a relação de amor do subtítulo como mote principal da trama, se dando ao luxo de deixar os Beatles como meros coadjuvantes.

Um filme muito interessante sobre essa época pré-Beatles é “Backbeat – Os 5 Rapazes de Liverpool”, registro de 1994 do diretor Iain Softley que conta com uma trilha sonora impecável e arrebatadora (mais aqui: http://www.imdb.com/title/tt0106339). Nele pode-se entrar um pouco mais no universo de Stuart Sutcliffe, que mesmo falecendo em 10 de abril de 1962 por causas até hoje não identificadas totalmente, continua tendo a sua história servindo de inspiração nos nossos dias.

Nota: 7,0

Veja um trecho diretamente do site da editora, aqui.

Site do autor: http://www.bellstorf.com

Textos relacionados no blog:

- Quadrinhos: “O Pequeno Livro dos Beatles” – Hervé Bourhis
- Cinema: “O Garoto de Liverpool” (2010)
- Quadrinhos: “Johnny Cash – Uma Biografia” – Reinhard Kleist

segunda-feira, 20 de maio de 2013

"O Que Aconteceu Ao Homem Mais Rápido do Mundo?" - Dave West e Marleen Lowe

Herói é uma figura que reúne em si os atributos necessários para superar de forma excepcional um determinado problema de dimensão épica. Essa é uma das diversas definições que encontramos sobre a palavra “Herói” nos dicionários de plantão. Quando lemos a graphic novel “O Que Aconteceu Ao Homem Mais Rápido do Mundo?” de Dave West e Marleen Lowe, somos apresentados a uma pessoa comum que pode ser enquadrada nesse significado, mesmo que sua maneira de resolver a questão não seja exatamente espetacular.

O álbum foi lançado na Inglaterra pela Accent UK (onde o autor é fundador) e ganhou publicação nacional pelas mãos da competente Gal Editora em 2010. Com 64 páginas e tradução conjunta de Eliane Galucci e Maurício Muniz, é daquelas histórias que você lamenta ter conhecido tardiamente. O roteiro de Dave West apresenta Bobby Doyle, um sujeito que está devidamente habituado a ser um cidadão médio, com desejos simples como ter uma vida tranquila, casar com uma mulher bacana, ter dois filhos e assim por diante.

Acontece que Bobby Doyle não é um sujeito qualquer. O destino (ou seja lá o que for), lhe deu o poder de parar o tempo a sua volta. Ele na verdade nunca se interessou muito em saber o porquê disso e nem contou a ninguém sobre tal dom. Para ser bem honesto, usou isso pouquíssimas vezes, pois quando utiliza essa habilidade, também recebe a conta dos ônus pessoais. Assim, o roteiro de Dave West o coloca diante de uma situação em que fazer o que é certo supera todas as dificuldades e o vincula a um sacrifício extraordinário.

A maneira com que esse ato de heroísmo é chamado a acontecer é uma bela homenagem aos quadrinhos. Um cientista insatisfeito coloca a cidade de Londres sob pressão quando coloca uma bomba que vitimará milhares, a não ser que o governo lhe pague uma determinada quantia. O que poderia ser um clichê de proporções jurássicas, acaba se transformando em um gancho nostálgico. Os desenhos em preto e branco da artista Marleen Lowe contribuem para esse tom meio antigo, quando os quadrinhos apareceram como uma ponte para imaginação.

Diante do problema, Bobby Doyle não reluta, mas também não sugere uma solução fantástica. Identifica uma maneira de solucionar o problema – mesmo que essa solução não seja das mais brilhantes – e parte para resolvê-lo e salvar a vida das pessoas, que é a única coisa que importa. Em “O Que Aconteceu Ao Homem Mais Rápido do Mundo?” a relação entre poder e responsabilidade tão explorada em heróis como o Homem-Aranha ganha novos contornos através de Dave West e seu personagem tão comum que podia estar ao seu lado agora.

P.S: A edição ainda apresenta alguns bônus, como uma história inédita de Bobby Doyle.

Nota: 9,0

Twitter do autor: http://twitter.com/AccentUK

Textos relacionados no blog:
- Quadrinhos: “Fracasso de Público” – Alex Robinson
- Quadrinhos: “Fracasso de Público – Adeus” – Alex Robinson

terça-feira, 16 de abril de 2013

"Machu Picchu" - Tony Bellotto


Tony Bellotto é um cara talentoso. Não há como se negar isso. Seja junto com os Titãs na produtiva primeira parte da carreira - que durou até o álbum “Domingo” de 1995 - ou em boa parte da vida de escritor iniciada com “Bellini e A Esfinge”, também do mesmo ano de 1995. Pode-se até afirmar que uma atuação profissional substituiu a outra, se formos analisar mais severamente. E enquanto a carreira da banda murcha sofrivelmente, a de escritor ia, na verdade, ganhando mais corpo.

Ia, isso mesmo, ia. O novo livro intitulado “Machu Picchu” joga contra essa evolução que ficou mais clara em “No Buraco” de 2010, que apresentava um Bellotto mais leve e divertido na narrativa, usando os recursos da literatura pop das últimas décadas misturado com reminiscências da própria vida, onde causos interessantes não faltaram. Essa temática pode ser estendida ao novo livro, mas com a mudança do foco principal para uma família normal do Rio de Janeiro nos dias atuais.

No livro somos apresentados ao casal Zé Roberto e Chica, que se conheceram durante os eventos da Eco-92 (para saber mais, clique aqui: http://pt.wikipedia.org/wiki/ECO-92) e daí partiram para um duradouro casamento que completa 18 anos no dia em que o livro se desenvolve. Nesse dia, a cidade do Rio de Janeiro presencia um engarrafamento descomunal e os dois ficam presos separadamente no trânsito, onde aproveitam para passar a limpo o status da vida naquele exato momento.

Acomodação, insatisfação e arrependimentos são as molas propulsoras para esses pensamentos em meio a imensidão de carros parados. É quando vemos que o casamento de Zé e Chica já não anda tão bem das pernas, e a traição dupla é apenas o ponto principal disso. No meio dessa crise ainda ocultada pelo “bem maior”, Bellotto adiciona dois filhos, uma enteada, dois amantes e mais uma ex-mulher. E assim cria uma sitcom para contar de maneira divertida os dramas e agruras que expõe.

Nesse sétimo romance (e oitavo livro a ser publicado), Tony Bellotto não consegue agradar. Além da trama estereotipada, com um lado bonachão que não fisga o leitor, tem um sério problema na obrigação de soar pop, usando referências mil da cultura em geral. Rapidamente dá para contar mais de setenta em um livro curtinho, de apenas 120 páginas. De Dead Kennedys a Zé do Caixão. De Agepê a Henry Miller. Um uso demasiado que ao invés de satisfazer, só consegue incomodar e atrapalhar.

“Machu Picchu” tem novamente como casa a Companhia das Letras e significa para a carreira de escritor de Tony Bellotto exatamente o que o álbum “Sacos Plásticos” significou para os Titãs. Absolutamente nada.

Nota: 4,5


Textos relacionados no blog:
- Literatura: “No Buraco” – Tony Bellotto.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

"Phil Spector" - 2013


Phil Spector foi uma figura muito marcante no cenário musical dos Estados Unidos, principalmente nas décadas de 60 e 70. Como compositor e produtor emplacou sucesso atrás de sucesso. Do seu repertório saíram canções como “Be My Baby” com as Ronettes e “Unchained Melody” com os Righteous Brothers. Além disso, trabalhou com os Beatles no fatídico “Let It Be” e posteriormente com John Lennon, George Harrison, Ramones e Leonard Cohen, entre tantos outros.

Em 2003, já com 60 e poucos anos e bem mais recluso do que na época de ouro, foi acusado da morte da atriz Lana Clarkson, a qual teria levado para a sua mansão, colocado uma arma na boca dela e atirado. No segundo julgamento ocorrido no ano de 2009, foi condenado pelo júri e cumpre seus anos de prisão no estado da Califórnia. Foi em cima dessa história que o experiente diretor David Mamet resolveu ambientar o filme “Phil Spector”, mais precisamente na fase do primeiro julgamento.

David Mamet é mais conhecido pelo seu trabalho como roteirista em filmes como “O Veredicto” de 1982, “Os Intocáveis” de 1987 e “Mera Coincidência” de 1997. Em “Phil Spector” ele também assume essa tarefa. Com produção da HBO voltada para a televisão, o longa começou a passar nos canais da rede aqui no Brasil recentemente. Com Al Pacino no papel do personagem principal, traz ainda Helen Mirren (“A Rainha”) como Linda Kenney Baden e Jeffrey Tambor (da série “Arrested Development”) como Bruce Cutler. Ambos, advogados.

Em pouco mais de uma hora e meia o que vemos é um trabalho que não encontra forças para se afirmar. Fica no meio termo entre ser um filme de tribunal e uma rasa biografia. Enquanto filme de tribunal não apresenta nada de novo e não se sobressai, pois não gera tensão alguma, uma vez que já se sabe o resultado final da jornada. Como biografia, deixa ainda mais a desejar, pois simplesmente “arremessa” alguns dados da carreira de Phil Spector, utilizando esses dados mais como adereço do que informação.

De bom em “Phil Spector”, só mesmo a dupla Al Pacino e Helen Mirren, mas mesmo assim eles não conseguem salvar o trabalho. Em meio as perucas e pensamentos não muito conexos da figura retratada, Al Pacino mostra todo seu talento, ainda que atrapalhado pelo insosso roteiro e a incipiente direção de David Mamet. E, vá lá, para dizer que não tem mais nada, tem uma boa tirada envolvendo o “Let It Be” e Paul McCartney. Porém, é somente isso e nada mais. Um tremendo desperdício do personagem que dá nome ao filme.

Nota: 5,5

Assista aqui ao trailer (em inglês):

sexta-feira, 12 de abril de 2013

"Invasão à Casa Branca" - 2013


O filme “Atraídos Pelo Crime” de 2009 representava aquela famosa luz no final do túnel para a carreira do diretor Antonie Fuqua. Isso, porque depois do ótimo “Dia de Treinamento” de 2001, que rendeu um Oscar para o ator principal (Denzel Washington) e uma indicação de ator coadjuvante para Ethan Hawke, o diretor não conseguiu levar adiante o prometido talento e embarcou em produções nada espetaculares como “Lágrimas de Sol” e o sofrível “Rei Arthur”.  

O longa de 2009 não era extraordinário, mas exibia um pouco do brilho do trabalho mais famoso e dava certa esperança de recuperação. “Invasão à Casa Branca” é o imediato passo seguinte a essa ligeira promessa. O diretor conseguiu reunir um elenco com muito potencial a ser explorado com Gerard Butler (“300”), Aaron Eckhart (“Batman - O Cavaleiro das Trevas”), Melissa Leo (“O Vencedor”), Dylan McDermott (“Os Candidatos”), além de veteranos como Morgan Freeman e Robert Forster.

Só que as promessas começam a desmoronar já na primeira olhada para o roteiro de Creighton Rothenberger e Katrin Benedikt. Mike Banning (Butler) é um ex-agente do Serviço Secreto que abalado por uma falha do passado se encontra agora trabalhando em uma mesa no Tesouro Nacional. Essa falha ocorreu quando era responsável pela segurança do Presidente (e amigo) Benjamin Asher (Eckhart). No entanto, quando ocorre uma invasão terrorista na Casa Branca ele é o único que se mantêm vivo para salvar o dia. Uma espécie de redenção.

Banning é rodeado por culpa e insatisfação e quando aparece a chance de derrubar um grupo terrorista o sentimento de dever fala mais alto e ele vê a oportunidade como uma segunda chance, além de cumprir com o dever patriótico. Dentro da Casa Branca, várias situações conhecidas são exploradas. A desconfiança, o atrito com o general prepotente, os discursos vazios dos “vilões”, o êxito marcado por alguns segundos apenas e declarações afetivas sobre relações pessoais.

Nesse amontoado de estripulias baratas e óbvias, nem os bons atores se salvam. Usando a moeda da vez do terrorismo como mola motivadora (aqui no caso, a Coréia do Norte e do Sul), “Invasão à Casa Branca” não consegue envolver mais do que 20 minutos (isso sendo bastante benevolente). Com o novo filme, fica cada vez mais claro e evidente que o vigor de “Dia de Treinamento” nunca mais será visto na obra de Antoine Fuqua, e que o aconteceu antes não passou de um acaso, de um tiro de sorte.

Nota: 4,0

Textos relacionados no blog:


Assista ao trailer legendado:

terça-feira, 2 de abril de 2013

Lollapalooza Brasil - 29,30 e 31 de março de 2013 - Jockey Club (São Paulo)

 
O Lollapalooza chegou a sua segunda edição brasileira nesse final de semana de páscoa. Nos dias 29, 30 e 31 de março, o Jockey Club de São Paulo recebeu dezenas de atrações e contou com a presença de 167 mil pessoas nos três dias (de acordo com informação do próprio evento). Uma venda de mais de 92% da totalidade dos ingressos disponibilizados a um preço que para muitos foi bastante salgado (inteiras de R$ 330,00 a R$ 350,00 por dia). Antes de falar sobre o principal item em um festival de música, que olha só, deveria ser a música, vou me ater a alguns outros pontos.

Quando pagamos um valor, qualquer que seja ele, em troca de uma mercadoria ou serviço, é lógico que esperamos uma contrapartida a altura do que investimos. Quando o valor é elevado, entende-se como normal que a cobrança seja do mesmo tamanho. Não foi exatamente o que vimos no Lollapalooza. Do pulo dos dois dias de 2012 para os três dias de 2013, a produção do evento reconheceu erros e prometeu melhorias, o que na verdade não ocorreu em quantidade satisfatória. É evidente que não é fácil fazer uma estrutura desse porte funcionar 100% no que tange a transporte, comodidade, alimentação, higiene e serviços em geral. Mas isso nunca pode ser encarado como desculpa, que é o que geralmente acontece. Paga-se muito. Exige-se muito. É assim que funciona. Ou pelo menos, é assim que deveria funcionar.

Logo na sexta-feira deu para perceber que existiriam dores de cabeça. Quem deixou para retirar os ingressos na hora do evento levou de uma a três horas para cumprir tal (simples?) tarefa. Absurdo é pouco, ainda mais agravado se lembrarmos que existe a cobrança da famigerada taxa de conveniência (que não serve para nada, a não ser aumentar os lucros dos responsáveis). Ao entrar no Jockey Club logo se deparava com filas e mais filas para compras as “Pillas”, a moeda oficial do evento. E de novo, filas e mais filas para ir ao banheiro, que em determinado momento era um amontoado de sujeira, ou filas e mais filas para resgatar alguma coisa para beber ou comer. Some-se a isso o fato da chuva ter espalhado lama por toda a área (o que poderia ter sido resolvido nos dias seguintes com proteção nos piores setores). Conectar o telefone a internet ou conseguir uma ligação era um milagre na maioria das operadoras. Congestionamento de linhas beirando proporções épicas.

Quando enfim se passa por um sacrifício que repito, não se justifica de maneira alguma, e finalmente entramos na música em si, esses esforços e pesares vão perdendo importância e acabam sendo, se não esquecidos, pelo menos relevados e até mesmo, pasmem: perdoados. É de botar medo o discurso do “valeu a pena, apesar de tudo”. Pois dessa maneira, o consumidor se coloca em uma posição de estar agradecido por alguém ter lhe dado a chance de ver a banda predileta. Uma chance que não lhe “deram”, e sim foi paga por um valor respeitável para se assistir e merece ser atendido da melhor maneira possível. Esse tipo de discurso é o que contribui, e muito, para que as coisas continuem sendo do jeito que são.

Dito isso, vamos partir para os shows. Não vi no Jockey Club nenhum show histórico ou algo do tipo, mas sim, ocorreram apresentações ótimas e memoráveis. Um festival é sempre um exercício de escolha, é bom lembrar, e entre as diversas opções (e no Lollapalooza eram 4 palcos), você opta pelo que mais gosta ou faz alguma aposta que possa surpreender. É humanamente impossível ver tudo, isso é pura balela. E entre afirmações, loucuras e decepções, distribuo minhas impressões abaixo em algumas categorias:

- Melhores shows (em ordem de preferência):

1-Pearl Jam: Foi a última apresentação do festival e também foi a melhor. Em duas horas e pouco, Eddie Vedder e sua trupe destilaram versões poderosas de canções como “Corduroy”, “State Of Love And Trust”, “Rearviewmirror” e principalmente a já clássica “Black”. Ainda houve tempo para homenagear os Ramones com a versão de “I Believe In Miracles” e o The Who com uma versão para “Baba O’ Riley”. Foram 26 músicas e um belo show de rock para velhos, jovens, crianças e seres de qualquer planeta cantarem e pularem juntos.

2-Queens Of The Stone Age: Josh Homme, assim como no SWU, abriu logo com dois hits. Dessa vez as escolhidas foram “The Lost Art of Keeping a Secret” e “No One Knows”. E assim o público estava ganho. Desse ponto em diante veio o rock visceral, enérgico e muito bem tocado da banda. Com direito a uma música nova (“My God Is The Sun”), o QOTSA deixou um sorriso espalhado de lado a lado nos rostos no Jockey. Mesmo que inexplicavelmente tenha acabado uns 10 minutos mais cedo e “Feel Good Hit Of The Summer” tenha ficado de fora.

3-Alabama Shakes: Tipo do show em que tudo deu certo. Final de tarde, o céu mudando de cor, pássaros voando por cima do palco (sim, eu vi isso e estava lúcido) e Britanny Howard com muita vontade de tocar e cantar. Inspiradíssima e apoiada na capacidade dos seus parceiros destilou o repertório do ótimo álbum de estreia “Boys & Girls” do ano passado. Faixas como “Hold On” e “Heartbraker” ganharam uma dimensão diferente ao vivo e colaboram para fazer um show simples, porém, emocionante.

4-Flaming Lips: Wayne Coyne parecia ter vindo de um futuro distante para o Lolla. Como um pregador após o apocalipse espalhou sua mensagem para os sobreviventes com um “bebê” no colo que alimentava uma cascata de luz atrás dele. Só saiu do pequeno palanque em que ficou no final. Com projeções ensandecidas de cores e texturas acompanhando a música repleta de nuances progressivas e fora dos padrões, deixou alguns fiéis mais crentes ainda, ao passo que afastou muitos novos adeptos. Para os fiéis, mandou entre o repertório praticamente novo, preces conhecidas como “Yoshimi Battles the Pink Robots” e “Dou You Realize??” como prêmio. E dessa maneira, fez rezar na virtuosa viagem que escolheu comandar.

5-Planet Hemp: Tocando em um horário nobre no domingo (coisa raríssima para bandas nacionais), Marcelo D2 e BNegão não perderam a oportunidade. Mesmo com o som explodindo algumas vezes, comandaram um som pesado, com groove e preenchido por hits. O Planet é daquelas bandas que são associadas diretamente a uma temática e não tem como fugir disso. O discurso bem humorado no telão (que foi muito bem usado) com o Away no início podia ser menor, mas tirando isso até que o discurso não encheu o saco. Dividido em três atos que exploraram os discos lançados, ainda teve no final uma bacanuda homenagem a Chico Science com uma versão respeitável de “Samba Makossa”.

6-The Killers: Gostando ou não das músicas (ou da postura) de Brandon Flowers e companhia, uma coisa ficou inegável no Jockey Club: a banda está jogando no time de cima do rock mundial. Sua mistura de rock de estádio com farofa e anos 80 culminando em refrãos com ganchos poderosos, funcionou muito e fez um grande público se envolver no show. E o desempenho em cima do palco também foi proporcional. Simpático, usando de bons clichês e cantando limpamente, o vocalista comandou um show competente, um rock preparado para arenas e públicos grandes. Goste-se ou não, repito, a banda entende do negócio em que se meteu.

7-Tomahawk: O projeto paralelo que Mike Patton (Faith No More) leva em frente junto com John Stainer (Helmet), Duane Denison (Jesus Lizard) e Trevor Dunn (Mr. Bungle), fez um show bem interessante. O vocalista podia ser facilmente confundido com um brasileiro enquanto se expressava ao público, pois fala praticamente como se fosse um. Deixando um pouco de lado as canções mais experimentais, o grupo sentou a mão em um repertório coeso e pesado, que incluiu também faixas do recém-lançado “Oddfellows”.

8-Graforréia Xilarmônica: Frank Jorge, Carlo Pianta, Marcelo e Alexandre Birck só não entraram mais acima, pois devido ao horário só assisti as 7 últimas músicas (de 20 tocadas). Com um som claro e forte, o grupo tocou suas canções bem humoradas e alegrou o pequeno público presente. O fechamento foi com “Bagaceiro Chinelão”, “Benga Velha Companheira” e “Rancho”. Ficou o arrependimento de não ter assistido mais, se bem que apenas 7 músicas da Graforréia ainda valem mais do que muita coisa por aí.

- Os Piores Shows

1-A Perfect Circle: Concorreu seriamente pelo posto da pior coisa que o festival produziu. E olha que a concorrência era forte se adicionarmos as filas, a lama e tudo mais na briga. Show capaz de assombrar os sonhos por um bom tempo.

2-Two Door Cinema Club: Não dava para entender todo aquele público cantando e vibrando quando se escutava as canções ou a sua execução no palco. A alegria era inversamente proporcional a qualidade do que saia das caixas. Daquelas coisas inexplicáveis da vida.

- As Decepções

1-Cake: Uma das bandas mais esperadas, o Cake decepcionou bastante. Começou bem com a dobradinha “Frank Sinatra” e “Love You Madly”, no entanto foi se perdendo com o decorrer do tempo. As longas paradas entre as músicas e o falatório completamente desnecessário de John McCrea foram fundamentais para essa queda. Na parte final ainda houve uma tentativa de retomar o público com canções como a cover de “I Will Survive” e as próprias “Never There” e “Short Skirt/Long Jacket”, mas aí já era tarde demais, o jogo já estava perdido. Infelizmente.

2-The Black Keys: Sabe aquela mulher que você vê na capa das revistas e tudo está incrivelmente no lugar, mas quando você a vê em uma imagem na rua ou na praia, a coisa é beeem diferente? Pois é, assim foi o show do Black Keys. Não chegou a ser ruim, mas era claro que a mistura de blues e rock de garagem do duo Dan Auebach e Patrick Carney não estava funcionando como deveria. Mesmo abrindo com “Howlin’ For You” e “Next Girl” e passando por coisas como “Thickfreakness”, não convenceu completamente. Melhor ficar com os discos ou esperar um show em um ambiente diferente. E menor.

- Melhores canções de cada dia:

1-Sexta: “Mr. Brightside” – The Killers
2-Sábado: “Hold On” – Alabama Shakes
3-Domingo: “Black” – Pearl Jam

- Melhor Lanche:

Os Churros foram imbatíveis, mas as tirinhas de frango também fizeram bonito e quase arrebataram o primeiro posto nesse quesito.

O Lollapalooza Brasil 2013 teve pontos positivos como os shows, o acesso fácil (pelo menos para chegar, para sair já foi outra história), a diversidade de lanches oferecidos (mesmo que fosse complicado adquiri-los) e o chopp quase sempre bem gelado. Mas pecou muito nos pontos descritos nos primeiros parágrafos. Pontos relevantíssimos, afirme-se novamente aqui. Que a edição de 2014 já confirmada para 18,19 e 20 de abril, venha melhor e com mais respeito ao público, que é a engrenagem que financia um evento desse porte. Respeito é bom e até onde eu sei, faz muito bem. E que o público também mude a postura do “valeu a pena, apesar de tudo” e cobre por condições melhores para usufruir do dinheiro que está investido na sua diversão.

2014 é bem ali. Vamos esperar para ver.


Todas as fotos foram retiradas dos endereços oficiais. Tanto do site (http://www.lollapaloozabr.com) quando do facebook (http://www.facebook.com/LollapaloozaBR). 

quarta-feira, 27 de março de 2013

Séries - "The Following"


Uma quantidade considerável de séries se inicia a cada ano. Some-se isso a aquelas séries que conseguiram vencer a primeira temporada e estão levando adiante suas tramas e ideias. A briga entre produtoras e redes de televisão tem sido acirrada para explorar esse filão que tem se mostrado bastante lucrativo. Para o telespectador fica praticamente impossível acompanhar tudo que o mercado lhe despeja de modo contumaz e tanto faz se ele consume diretamente dos canais a cabo ou usando os sites de compartilhamento de arquivos que a internet dispõe.

Como quantidade, na grande maioria das vezes, não é sinônimo de qualidade, muitas dessas séries são bem fracas e nem conseguem suplantar a primeira temporada. Algumas até avançam mais do que isso, porém amarradas mais em motivos específicos de nicho de mercado ou moda da vez, do que propriamente qualidade. Dentro desse universo, um trabalho que consegue se sobressair (e fora do circuito HBO, onde o nível é sempre alto) é “The Following”, que estreou no Brasil em 21 de fevereiro e passa no Warner Channel às quintas-feiras.

Criada por Kevin Williamson de séries como “Vampire Diaries” e “Dawson’s Creek” (que ficam naquele grupo do “fizeram sucesso, mas não eram lá muita coisa“), “The Following” é encabeçada por Kevin Bacon (de “Sobre Meninos e Lobos” e “O Lenhador”), mais um ator de cinema que investe em uma carreira na televisão, o que já rendeu frutos para outros atores, sendo uma boa parte da sua geração. No entanto, quem rouba a cena e dita o ritmo das histórias é James Purefoy, de trabalhos bons como a série “Roma” e coisas sofríveis como “Sangue e Honra”.

James Purefoy encarna o professor universitário Joe Carroll, um apaixonado pela literatura de Edgar Allan Poe que se transforma em um serial killer com uma pequena lista de assassinatos. No momento inicial ele se encontra preso, obra do personagem de Kevin Bacon, o agente afastado do FBI Ryan Hardy. Até chegar a prisão do assassino anos antes, Hardy passou por um processo lento de análise e montagem das peças do quebra-cabeça e não saiu impune disso, pois devido a um ferimento nessa caçada acabou por ter um marcapasso cravado dentro do peito.

E quando Joe Carroll subitamente foge da prisão, o FBI novamente requisita os serviços de Ryan Hardy que (não podia ser diferente) está quase acabado, se afogando em culpa, depressão e uma boa quantia de álcool. Envolvido de novo com a adrenalina da perseguição a um criminoso, o ressuscitado agente mal imagina que está apenas entrando na superfície de um caso com proporções muito maiores e que contará com o envolvimento de diversos outros personagens em uma espécie de seita que se reúne para adorar a visão e os modos do ex-professor.

“The Following” tem seus defeitos, como investir em soluções amplamente já utilizadas antes tanto no cinema quanto na televisão, como também não explicar muito bem as limitações que o marcapasso de Ryan Hardy lhe impõe. Como se trata de um foco específico (a busca pelo assassino), preocupa também a questão da renovação, para que as coisas não se repitam em um loop eterno que acabará por cansar o telespectador. No entanto, nos episódios da série até agora, não é isso que se vê. O ritmo alucinante e as alternâncias de poder funcionam muito bem.

Outros atores têm destaque como Shawn Ashmore (da trilogia “X-Men”), Valorie Curry (de “Veronica Mars”) e Debra Parker (Annie Parisse de “Person Of Interest”), contudo é em cima do vilão de James Purefoy que tudo flui. Joe Carroll é daqueles vilões que com charme, carisma e inteligência conseguem conquistar certa torcida, mesmo com todas as bússolas morais apontando para uma direção contrária. Com episódios fortes, onde a tensão e o suspense são rotineiros, a série alcança o desejado patamar de deixar aquele gosto de “quero mais” a cada semana.

Nota: 8,0


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Assista a um trailer legendado: