quarta-feira, 26 de julho de 2006

Superman - O Retorno

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Sempre que fazemos um trabalho com paixão, o que estamos produzindo se torna prazeroso, mas ao mesmo tempo carrega uma carga de responsabilidade muito grande. Esse é o caso do diretor Bryan Singer e seu “Superman – O Retorno” que estreou pelo mundo há alguns dias. O retorno do Homem de Aço, talvez o maior herói da história dos quadrinhos aconteceu pelas mãos de um apaixonado pelo personagem, um devoto de carteirinha. Synger é um grande diretor sem sombra de dúvida, ao lado de bons filmes como “Os Suspeitos” e “O aprendiz” em que roteiro e a direção cheia de estilo impressionaram, conseguiu também dar vida de forma espetacular ao universo dos X-Men nos dois seus primeiros filmes, agradando tanto público quanto crítica. Lógico se esperava o mesmo para o filme do último filho de Krypton. E Synger quase conseguiu. O “quase” fica por conta da demasiada preocupação em alongar fatos meio chatos de um roteiro que por si só já não representava grande admiração e também pela Lois Lane da atriz Kate Bosworth (ok, ela é muita mais bonita que a dos primeiros filmes, mas...) ser digamos assim “insossa”, não ter a força que a personagem sempre teve. No mais, U$ 200 milhões de orçamento ajudam muito. Os méritos de Synger foram apostar em um desconhecido para viver o Superman, o ator Brandon Routh além de segurar a barra, lembra bastante o Cristopher Reeve o que dá um sentimento nostálgico ao longa. Também seguiu basicamente os efeitos produzidos nos dois primeiros “Superman” do diretor Richard Donner (esqueça os outros dois), chamou um grande ator para o papel de Lex Luthor (Kevin Spacey está magistral) e investiu mais no lado humano do herói. Aliás, esse lado humano do herói fica responsável pela grande teia condutora do filme. Depois de uma busca pelo espaço por resquícios de Krypton que durou 5 anos terrestres, o Superman volta para o mundo em que ele não tinha deixado, onde muita coisa mudou, inclusive sua amada Lois Lane que se encontra casada e tem um filho (com suspeitíssimos 5 anos de idade) e acaba de ganhar o “Pullitzer” pelo artigo “Por que o mundo não precisa do Superman”, o que é uma facada no coração e na estima do grande herói. A partir disso, Kal-El tenta se acostumar em um mundo que deixou de acreditar nele e que diz não precisar mais de Deuses, ao contrário de tudo que o mesmo vê em todos os lados. Quando mais uma vez Lex Luthor joga sua loucura, inteligência e ódio em cima do mundo, Superman precisa mais uma vez botar tudo no seu devido lugar. Brian Synger produziu um bom filme, honesto, sincero, uma grande homenagem ao personagem e sua história, atualizados para o mundo moderno, deixando o caminho aberto para outras boas seqüências. No entanto quando a sessão acaba parece que ficou faltando um algo mais, um algo mais que o diretor conseguiu colocar em seus X-Men. Um algo mais que deixasse a trama mais surpreendente. Mais espetacular como o seu personagem é.

sábado, 22 de julho de 2006

Mãos de Cavalo - Daniel Galera

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Consciente ou inconscientemente sempre buscamos no decorrer das nossas vidas consertar alguma atitude do passado ou no mínimo pensamos em como seria “se” (o maldito “se”) tivessemos feito diferente. Nesse tipo de eventos que marcam nossa caminhada e são lembrados de tempos em tempos, o passado se torna algo frequente, meio obsessivo em determinados casos, em busca de uma redenção, perdão ou amor perdido. “Mãos de Cavalo”, terceiro livro do escrito gaúcho Daniel Galera, primeiro pela Companhia das Letras lançado neste ano, tenta abordar esse tema de uma forma mais concreta, baseada mais em atitudes do que nas premissas de seus personagens. A narrativa em terceira pessoa tem ritmo forte, acelerado e convence muito bem. O livro entrelaça a formação de Hermano contando sua história entre dois momentos de sua vida: Primeiro na fase dos 10 aos 15 anos, onde é um adolescente que busca conhecer o mundo do seu jeito aliado a todas as descobertas inerentes a essa época, sejam elas de busca de carater ou descobertas sexuais, sempre tendo como pano de fundo uma violência explícita ao personagem que o torna bastante estranho, por assim dizer. No segunda narrativa Hermano já aparece com algo em torno de 30 anos (o autor tem 27, o que colabora bastante com sua intimidade dos fatos), médico de sucesso, em crescente ascensão, mas vivendo como o próprio autor define “no piloto automático”, principalmente no que tange ao seu casamento e sua vida social. A partir do momento que as duas histórias paralelas começam a se encontrar, o autor mostra de forma competente a formação do carater de uma pessoa diante de todas as coisas que a vida arremesa em sua frente. O único senão fica por conta da preocupação em definir determinadas passagens com demasiada inserção de detalhes, que quebram um pouco o ritmo, mas não atrapalham o resultado final. Uma boa surpresa que merece ser apreciada. Recomendamos.

quarta-feira, 19 de julho de 2006

Era uma vez o amor, mas tive que matá-lo (Música de Sex Pistols e Nirvana) - Efraim Medina Reyes


Ah, o amor...coisa bela, sublime, que nos eleva a um patamar de felicidade eterna. Ou não. Na opinião de Rep, personagem de “Era uma vez o amor, mais tive que matá-lo (Música de Sex Pistols e Nirvana)” do escritor colombiano Efraim Medina Reyes o amor “bate mais forte que o Tyson, se mexe melhor que o Ali e é mais rápido que o Ben Johnson dopado”. 

Lançado pela Editora Planeta nesse ano, com 176 páginas o livro traz uma narrativa nervosa, visceral, crua, tendo o amor como mola principal, assim como o sexo. Sendo um arremedo de contos e de histórias curtas, fazendo paralelos e subversões da vida de ídolos do rock como Kurt Cobain e Sid Vicius em certos momentos, usando como uma forma de analogia, o autor concebe uma história recortada, dividida, mas um romance verdadeiro que vai subitamente sendo devorado pelo leitor. 

Grande aposta da literatura colombiana, Efraim Medina foge da fantasia, das tradições que outros autores consagraram como o grande Gabriel Garcia Márquez (que vez ou outra é detonado por Rep em suas crônicas) e volta seus olhos para um mundo globalizado, antenado em todos os lados, abusando da cultura pop. 

Escritor, músico, cineasta, entre outras coisas, o autor se sente bem a vontade de abandonar toda essa antiga verborragia e adentrar em mundo mais real, mais cru e sendo assim mais honesto com a vida que levamos. O personagem principal de seu livro é Rep (diminutivo de Réptil) que divide sua vida entre as cidades de Cartagena (ou Cidade Imóvel) e Bogotá tentando superar através das suas maneiras um amor perdido. 

Só que essa superação nas mãos de Rep vem através de insultos com a vida, bebidas, mulheres, porrada e outras coisas nada sutis, onde a ambivalência do seu personagem se torna primordial, pois ao mesmo tempo em que é apaixonado por essa mulher de aura meio pura ele não consegue sair das ruas e se deparar com todas suas idiossincrasias nada nobres. 

Nos pequenos contos que formam a história, valores se perdem, pequenas coisas ganham demasiada importância, caminhos são perdidos em busca de uma redenção que parece não chegar nunca, pois na verdade o mundo real não abre mais espaço para elas. Tudo isso tratado com cinismo e humor negro. Dentro desse contexto, a concepção de amor é dilacerada, estrangulada, revertida e intensificada até seu grau máximo, convertendo em algumas definições vistas pelo personagem que instigam bastante. 

Vale a pena ler. Recomendo.

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domingo, 16 de julho de 2006

Superguidis

"Superguidis" segundo disco da banda gaúcha do mesmo nome, que tem como integrantes Andrio Maquenzi (voz e guitarra), Lucas Pocamacha (guitarra e vocais), Marco Pecker (bateria) e Diogo Macueldi (baixo) é um dos grandes lançamentos de 2006 até o momento. Lançado pelo Senhor F e apostando em uma sonoridade típica do indie americano de Sonic Youth, Pavement e Guided By Voices, sem esquecer a pegada pop e as melodias assobiáveis.
O disco é para se escutar com um sorriso no rosto do começo ao fim, seja pela primeira música que já nasceu clássica "O Raio que o Parta", cantando as desgraças e desapegos do amor de forma bastante peculiar ou pela última "O Coraçãozinho" com sua índole meio juvenil, meio nosense.
Apostando em guitarras distorcidas e tocadas em um volume alto contrapondo com melodias açucaradas despejadas através de letras às vezes sinceras demais, outras bem humoradas, mas com um frescor de novo insuperável. As composições de Maquenzi e Pocamacha fazem diversão em grande nível.
"Manual de Instruções" talvez a melhor canção do disco traz uma saborosa levada a Teenage Fanclub, enquanto o vocal vai no embalo do "...ah, se as pessoas viessem com manual de instruções...". Destaques ainda para "O Banana", super bem humorada, "Bolo de Casamento" e "Spiral Arco Íris", essa simplesmente impagável.
Como tantas outras bandas legais o Superguidis merecia estar tocando no rádio, na MTV, em qualquer lugar, músicas como "As Coisas que Crescem na Minha Mão", tem uma pegada pop 100% mais justa e honesta do que grande parte das coisas que estão por aí.
Um grande disco, meio leve, meio moleque, mas muito rock n´r roll para ser desgutado diariamente e repassado para os amigos urgentemente. Pode ir sem medo. E com muita vontade. Entre no site deles aqui.

terça-feira, 4 de julho de 2006

Canções de Bolso - Telesonic



Os filósofos antigos, assim como os novos “gurus” de auto-ajuda sempre afirmaram que a perseverança é fundamental na vida. Sem querer concordar com eles, leio perseverança como nunca desistir de seus sonhos, acreditar que poderás fazer algo. Que o diga Klebe Martins. Castanhalense. Músico de longa data, depois de tantos anos e tantos projetos, finalmente conseguiu colocar no mercado um disco próprio, como o projeto Telesonic. Só isso já valeria muito. Vale muito mais quando o disco é muito bom. Realmente bom. 

“Canções de Bolso” do Telesonic, lançado pela Ná Records mês passado, reúne oito composições de Klebe Martins, gravadas no período de Novembro de 2005 a Março de 2006 no Live Estúdio em Castanhal. Como ex-integrante da banda Super 8 e Suzana Flag, entre outras, o músico convidou os amigos para tocarem no trabalho. Elder Effe (Suzana Flag) ficou com a responsabilidade pelo baixo e vocais de apoio, Eliezer Andrade (Ex-Eletrola) pelas guitarras, deixando os violões, guitarras e vocais com o próprio músico. Há ainda a participação de Joel Melo (Suzana Flag), Nathanael Andrade(Ex-Eletrola) e Mizael Crispin (Guitarras), além de André Paiva nos teclados e Júnior Souza na bateria. 

Um grande time para um grande disco. 

A sonoridade é calcada no folk e no rock alternativo, com ecos de Belle and Sebastian, R.E.M, Lemonheads, Nando Reis, Lou Reed, o movimento Alt-Country e outras coisinhas mais escondidas no grande baú de referências do músico. Algumas composições já vinham sendo trabalhadas há algum tempo, enquanto outras são mais recentes, contudo o resultado de todas é um disco bem coeso, interligado entre si, o que acentua um dos seus méritos. 

“Canção de Bolso” abre o álbum, com a frase “eu posso ver a luz do sol...” e já cativa o ouvinte logo de entrada, uma meio canção de amor escondida a frases como “sou mais forte do que a dor...”. Em seguida temos uma das melhores canções do álbum, “Lembre-se”, que soa como um anti-hino para seguir em frente, “lembre nem tudo pode ser como você sempre sonhou...”, mas poderá ser, exemplo próprio do autor. “Mr. Bones” vem em seguida, com um toque de Lemonheads no andamento da canção e na concepção da letra que também remete um pouco aos grande cantadores de folk como Dylan.

“Manhã de Agosto” segue o mesmo caminho trovador e mantém o nível. “Nostalgia” tem uma das mais belas letras que ouvi nos últimos tempos, uma canção de amor (outra!) em que olha o passado com magia e beleza, sem culpas, sem motivos. “Manifesto” vem em seguida dando um pequeno tom de virada, com uma melodia agradável. “Hoje é o dia” é outro grande destaque, vamos em frente, ok?, “hoje é o dia de não pensar mais, de correr atrás do que nos sobrou...”, beira a perfeição. “Outsider” fecha o álbum de forma mais que competente, culminando em uma das mais agradáveis meia hora dos meus últimos meses. 

Klebe Martins através do seu Telesonic, hoje não tem mais o desejo de mudar o mundo, suas músicas não tem o intuito de revolucionar nada, são somente canções, canções belas. Canções para se guardar no bolso e sair escutando em casa, no trabalho, com os amigos, no carro, canções para sair cantando sem se tocar no meio do dia, canções para se entender como a música pode ser tão interessante. Posted by Picasa

domingo, 25 de junho de 2006

Daniel Belleza e os Corações em Fúria

Que os caretas de plantão, as mocinhas inocentes, os nerds certinhos e todos aqueles que rogam praga ao rock se danem. O Rock está vivo, muito vivo e Belém pode ver isso de perto dia 24 de junho último no African Bar com o show da banda paulista Daniel Belleza e os Corações em Fúria. Quem perdeu, sinto muito mas se deu muito mal. Uma noite totalmente rock n´roll sem dúvida, de sorrisos múltiplos e solos mil. A banda paraense Madame Sataan abriu a noite com a habitual competência e o peso de costume emanados pela voz da vocalista Sammliz, despejando em pouco mais de quarenta minutos todos seus sucessos. Em seguida veio Jayme Catarro e seu Deliquentes, mandando ver com seu punk-hardore-rock. Mesmo depois de tantos anos vendo os caras ainda me impressiono com a porrada sonora que produzem. Eis que lá pelas 3 da manhã depois de muita conversa com o pessoal lá embaixo sobe ao palco, aquele que com certeza é um dos melhores show de rock do país no momento. Já tinha visto os caras no Abril Pro Rock 2005 e sabia de tudo que eram capazes e sinceramente foram melhores ainda. Abrindo com “Babe” o delírio foi total. E vieram “Do amor de morte”, “A caixa” (com participação da Sammliz), a cacetada e delírio de “Aonde estão as flores da sua cabeça” e “Sinfonia para Sol Menor” (essa com participação de alguém da platéia, no caso a amiga Pollyana). Ainda rolaram duas covers matadoras, “I Wanna Be Your Dog” dos Stooges com direito a Jayme Catarro em dueto e “21sth Century Boy” do T. Rex. Um puta show de rock n´n roll sem dúvida, onde o visual era totalmente importante para o resultado do show, assim como as perfomances, principalmente do Daniel e do baixista androginíssimo Rangel. Entre plumas e paetês e muito glamour o rock teve uma noite de rei na capital paraense e mostrou toda sua força.

quarta-feira, 7 de junho de 2006

Chinatown - 1974

O cinema noir marcou época, definiu um gênero de cinema, onde dramas policiais ganhavam uma fotografia mais sombria do que a habitual. Nos anos 40 e 50 tal gênero se consolidou e gerou inúmeros filhos bastardos, principalmente órfãos de “O Falcão Maltês”, clássico de John Huston de 1941. Em 1974, o diretor Roman Polanski (após o excelente “O Bebê de Rosemary”) que acabara de perder sua esposa Sharon Tate, resolveu prestar uma homenagem ao cinema noir em “Chinatown”. 

De acordo com Raymond Bord e Etiene Chauteton no site Store Track, existem sete elementos que consolidam o noir, são eles: Um crime. A perspectiva dos criminosos. Uma visão invertida dos fatos, como a corrupção policial. Alianças e lealdade instáveis. A figura da “Femme Fatale”. Violência bruta. Mudanças e motivações estranhas. “Chinatown” reúne grande parte disso. Vencedor do Oscar de melhor roteiro original, além de ser indicado em outras dez categorias, ganhador de quatro Globo de Ouro e 3 Bafta, o filme se tornou também um clássico. 

Na trama, o detetive particular J.J. Gittes (interpretado magistralmente por Jack Nicholson), recebe a visita de uma mulher de nome Evelyn Mulwray que deseja contratar seus serviços, pois acredita que seu marido o Engenheiro-chefe do Departamento de Águas e Energia vem mantendo um caso. Porém, Gittes logo descobre que sua cliente na verdade é uma farsante. 

Após isso, a verdadeira Evelyn Mulwray (a sempre bela e competente Faye Dunaway) o encontra. Quando o marido aparece morto no reservatório de água da cidade, Gittes percebe a gravidade do caso. Seu envolvimento leva-o a ser atacado por gângsters e após manter um romance com Evelyn, descobre que ela é filha de Noah Cross (o grande John Huston), um dos homens mais poderosos da cidade. Gittes começa a desconfiar de tudo e passa a armar esse tremendo quebra cabeça que lhe aparece na frente. 

Um perfeito casamento de drama e suspense, com atuações bem acima da média, uma direção precisa e uma fotografia preciosa, calcados em um grande roteiro. Isso é “Chinatown”. Cenas memoráveis como quando o nariz de Gates é cortado (pelo próprio Polanski em participação mais que especial) ou os desmembramentos finais fizeram historia dentro do cinema, influenciando gerações e prestando tributo a um gênero tão especial como o Noir (que recentemente recebeu outra demonstração de admiração em “Sin City”, um dos melhores filmes do ano passado). 

Um filme que parece ficar melhor a medida em que fica mais velho. 

Obrigatório.

quinta-feira, 1 de junho de 2006

Homem Espuma - Mombojó

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Ano passado no Abril Pro Rock estava ansioso para ver o show do Mombojó, tinha gostado muito do disco “Nadadenovo” e pelo fato de estarem em casa esperava um showzaço. E foi. Mas por outro lado, a banda apresentou muitas músicas novas, em um ritmo bem mais lento e com mais improvisação do que o antigo repertório. Ao mesmo tempo em que ficava com raiva de algumas músicas terem ficado de fora, admirava os caras por terem feito isso. O tempo passa. Eis que surge a nova empreitada de Felipe S (voz), Samuel Dee (baixo), Vicente Machado (bateria), Marcelo Machado (guitarra), Rafa (flauta), Chiquinho Moreira (teclado e sampler) e Marcelo Campello (violão, cavaquinho e escaleta), agora com o apoio de Daniel Ganjaman (do Instituto Coletivo) e de Lúcio Maia (Nação Zumbi) na produção. Sem contar equipamentos muito melhores. E lançamento pelo Trama. Quando uma banda lança um disco que é muito aplaudido, o segundo álbum atrai uma carga de responsabilidade muito grande. Ou você repete as formulas do que já deu certo e cria uma identidade, o que convenhamos é mais comum, ou você pega essa formula e inverte, remexe, acresce, retira, fazendo um trabalho sempre novo. Os recifenses optaram pela segunda. E se deram bem. “Homem Espuma” lançado recentemente é um tiro certeiro. Pode não cativar e nem balançar de primeira como o excelente “Nadadenovo”, mas explora caminhos bem mais diversos que este, com a maestria de seus músicos e a voz cativante de Felipe S. e seu sotaque. O disco foge um pouco mais do samba e rock, vertentes mais exploradas anteriormente e adiciona na panela um pouco de funk, mais bossa nova, eletrônico, uma boa dose de psicodelismo e algumas estranhices decerto. O Mombojó ainda está todo lá, só que com uma outra roupagem, querendo ser mais alguma coisa. “O Mais Vendido” abre o álbum com uma batidinha nonsense e uma letra bacana, trazendo na seqüência “Novo prazer” com um clima meio lounge no ar, almejando “...tomar uma vitamina C...” e culminando no “...sha-la-la....”. A música titulo tem um solo bem bacaninha, mas um dos destaques do álbum vem depois, “Realismo Convicente”, tem uma força coesa, um quê de rock, com um quê de cadência e uma letra bem juvenil e esperançosa “...eu preciso salvar o mundo mesmo que eu não ganhe nada com isso...eu vou tentar...”. Além da participação de Tom Zé. Ponto para os caras. “Tempo de Carne e Osso” também se destaca, com a cortesia da paulistana Céu nos vocais, bem devagarzinha com uma grande quebrada no final. Depois temos a seqüência mais Mombojó do disco, com “Swinga”, “Saborosa” e “Fatalmente”, lembrando outras épocas. “Desencanto” é outra perola a ser descoberta, com Felipe cantando baixinho “...no meu quarto deixei as lágrimas e o desencanto...”. Criatividade sambista em estado bruto. Bons destaques ainda para “Singular” e os metais de “Vazio e o Momento” (que tem uma letra muito interessante). “Minar” fecha o disco botando o clima da psicodelia pelos cantos. Muita gente vem dizendo que os caras aliviaram a mão ou então que o disco não é bom. Proponho um trato. Escute o álbum, deixe um tempo, escute de novo e se depois disso você não gostar eu dou meu braço a torcer. O Mombojó deu um passo a frente na sua música como poucos artistas tem criatividade e ousadia para fazer e nos trazem um disco que com certeza estará entre os melhores do ano. Música prazerosa de ouvir.

quarta-feira, 31 de maio de 2006

Bob & Harv - Dois Anti Heróis Americanos

O mundo é um lugar cheio de aventuras, de coisas fantásticas, de muitos amores. Temos que viver com toda a intensidade que podemos, correto? Não para todos. E principalmente não para Harvey Pekar, o idealizador dos quadrinhos “American Splendor”, cultuado entre os fãs da nona arte, assim como pessoas normais ou nerds em geral. 

Harvey Pekar construiu histórias tendo a sua vida como pano de fundo, onde ele e seus amigos são o prato principal. Nada demais, a não ser pelo fato de que a sua vida é chata, monótona, normal e até mesmo sonolenta. Trabalha como arquivista em um órgão do governo, é fanático por discos de jazz, tem estratégias para conseguir um dólar dos amigos ou simplesmente como ficar na melhor fila no supermercado. 

Essas cenas tão cotidianas de um cara meio paranóico morando em uma cidade onde quase nada acontece, são o tema do recente lançamento da Conrad, “Bob & Harv” que narra o encontro entre Harvey Pekar e o mestre do quadrinhos Robert Crumb (“Blues” e “Fritz The Cat”, entre outros). 

Os dois se conheceram nos idos das décadas de 60/70 e produziram entre 1976-1983, dentro da revista “American Splendor”, uma obra fascinante, repleta de humor negro, sarcasmo, critica social e comportamental e principalmente um culto à contracultura. 

O cartunista Laerte diz no prefácio do livro uma coisa bem interessante, pois nos últimos anos estamos dando tanto de cara com esse EUA tão arrogante e imbecil, que esquecemos o quanto esse país tem de artistas contestadores e inovadores. O movimento cultural dos anos 50/60/70 gerou nomes do porte de Gilbert Sheldon, Lenny Bruce, Jack Kerouac, William Borroughs e Robert Crumb. Nomes que influenciaram gerações. 

“Bob & Harv” é obrigatório. Não somente para os fãs de quadrinhos, mas para todos que apreciam a arte em geral. O encontro de dois gênios. Pekar o anti-herói que tanto fascina, o cronista de um cotidiano sem graça, sem emoção, mas ao mesmo tempo cheio de coisas pequenas que dão um toque especial. Crumb, talvez o maior autor de quadrinhos da história e sem dúvida um dos maiores desenhistas de toda sua geração. Um duelo de palavras e traços calcados um uma amizade singular. 

“Bob & Harv” é humor inteligente. Crítica não obsessiva. É arte. É a vida de um cara ranzinza, repleto de concentrações egomaníacas que de forma independente ficou “famoso”, criou uma admiração sobre seu nome, ganhou filme (muito bom por sinal, com Paul Giamatti no seu papel), que aliado a um mestre daqueles que só pintam de tempos em tempos, nos brinda com suas histórias e um retrato mais que fiel da nossa vida tão normal. 

“Bob & Harv” é para deixar na cabeceira da cama. Nunca emprestar. Sempre reler. E principalmente sempre admirar.

segunda-feira, 29 de maio de 2006

X-Men III - O Confronto Final

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Foram meses de uma espera difícil, onde os fãs se depararam com brigas entre elenco, trocas no comando do filme, fofocas de todo o lado, mas “X-Men III - o Confronto Final”, o provavelmente último filme da série estreou nesta sexta última, com uma bilheteria imensa e com a grande virtude de provocar um sorriso daqueles de ponta a ponta para todos que o assistem. “X-Men III” sofreu pelo chiliques de seu elenco, como Halle Berry (a Tempestade) que queria uma participação maior da sua personagem, Hugh Jackman (o Wolverine, mais uma vez o grande nome da produção) que ameaçou abandonar o navio e principalmente a saída do diretor Bryan Singer que conseguira montar tão bem os dois primeiros longas, para o ingresso de Brett Ratner e todo cetiscimo atrás do seu nome. Mas, como numa virada incrível, tudo se converteu para aquele que é o melhor filme da série. O diretor soube manter basicamente a mesma estrutura dos anteriores, com os três lados e suas divagações (os X-men, a turma de Magneto e os humanos) e a difícil relação entre os seus desejos. Mostra-se também no longa a criação da Irmandade de Magneto, o surgimento da Fênix e outros personagens como o Fera, Anjo e Fanático, além da participação maior de outros como Kitty e Colussus. Evidente que quem espera que tudo seja igual aos quadrinhos (confesso que eu estou nessa) nunca vai ficar satisfeito. Desde o primeiro filme algumas amarras foram cortadas, o que é necessário para que pudesse ser realizado. Os X-men são diferentes de grande parte dos outros heróis, visto que é mais fácil fazer um filme do Homem Aranha e escolher um vilão, do que abarcar um universo de 15 a 20 personagens, sendo todos importantes e queridos. Esquecendo isso, “X-Men III” é ação e satisfação do inicio ao fim. Passados alguns anos após o segundo episódio, onde o governo se torna mais tolerante com os mutantes, há o anúncio de uma “cura” para os mesmos, opondo grande lados e grandes discussões. Será que ser diferente é uma doença? Ou pensar de outro modo é ilegal? Como tratar com o preconceito? Questões como essa são abordadas de forma veemente. Feito o anúncio, Magneto (mais uma vez Ian Mckellen perfeito no papel) começa a montar sua irmandade, convencendo diversos mutantes a se unirem a ele nessa guerra contra a “cura” e por conseguinte contra a própria humanidade. No meio de tudo isso, Jean Grey ressurge das águas com sua outra identidade, o ser universal com poder de um verdadeiro Deus de nome Fênix, provocando um imenso alarde e colocando todos em perigo. Dessa forma não resta nada aos X-Men senão lutar. E que luta. Cenas memoráveis de Fera, Colossus, Magneto, Tempestade e Wolverine que com certeza deixam os fãs de boca aberta. Cenas como a que Vampira debanda do grupo ou a briga entre Homem de Gelo e Pyro já nasceram clássicas. Além de muitas outras que não dá para contar. Os X-men sempre foram diferentes pela sua diversidade, pela inconstância de seus temperamentos e acima de tudo por mostrar que sempre atrás daquela escola, daquelas lutas, existiam pessoas normais, com anseios normais, com paixões, desilusões e medo. Essa característica básica foi preservada em todos os filmes e culmina nesse último de forma sábia. Nada está certo para que continue, mas todos ficamos na expectativa de ver na grande tela, parte das histórias que tanto encantaram fãs ao redor do mundo como o “Massacre de Mutantes”, por exemplo ou a caracterização de vilões como o Sinistro e personagens como Gambit e Banshee, entre tantos outros. No entanto se tudo acabar por aqui, pode ter certeza que valeu. Valeu mesmo.