sábado, 17 de outubro de 2015

Quadrinhos: "Turma da Mata - Muralha" e "Bone - Fora de Boneville"

 

Dentro do projeto Graphic MSP foi o artista paraibano Shiko que conseguiu ir mais além no que tange a liberdade criativa. Isso, até agora. Com o lançamento de “Turma da Mata – Muralha”, esse posto é repassado sendo a graphic novel a que mais se distancia da obra referencial, apesar de manter no seu âmago os conceitos básicos. Se assemelha bastante com o que Shiko fez em “Piteco – Ingá” tanto na questão do ritmo quanto na reinvenção dos personagens, mas vai além, bem além. Utilizando muitas referências que vão desde quadrinhos da Marvel até desenhos animados da televisão, passando pela literatura de fantasia, a obra é um gol e tanto feito pelo trio Artur Fujita (roteiro), Roger Cruz (arte) e Davi Calil (cores). Jotalhão, Coelho Caolho, Rei Leonino, Raposão, Rita Najura, Tarugo e companhia estão irreconhecíveis (o que é muito bom), mesmo preservando as características criadas por Mauricio de Sousa. O roteiro cria toda uma trama política com traição, egoísmo, ambição demasiada e golpes, para rechear com uma história de perseverança e luta por ideais. Explorando uma rixa entre a turma da mata e o reino por conta da exploração de um minério raro que vale muito dinheiro, o roteiro é inspirado até a última palavra. A arte de Roger Cruz, artista de talento reconhecido que por muito tempo trabalhou com a franquia dos X-Men é absolutamente precisa e forte, retratando as ações com força, contando com o auxílio das cores de Davi Calil que não se furta de brincar com estas de diversas maneiras. “Turma da Mata - Muralha” sai pela Panini Comics e com 82 páginas carrega o mérito de não só ser original dentro de um processo de revitalização, como também gerar um trabalho que vai surpreender quem já conhecia os personagens e mesmo assim fazer algo independente do passado para os novos leitores.

Nota: 8,5

Sobre “Piteco – Ingá” no blog, passe aqui.


Maior criação do quadrinista norte-americano Jeff Smith, “Bone” volta a ser publicada no Brasil, agora em cores. A HQM Editora lançou no primeiro semestre o primeiro de nove álbuns previstos com o personagem e pretende ir até o final da trama, algo que a Via Lettera não fez quando publicava a série por aqui. Jeff Smith é um artista altamente influenciado pelas tirinhas que saíam nos jornais e por nomes como Charles M. Schulz e Bill Waterson. Começou a narrar a saga de “Bone” em 1991 e nela se estendeu por anos angariando por diversas vezes os maiores prêmios do mundo dos quadrinhos. O primeiro volume chamado “Fora de Boneville” com 144 páginas apresenta a figura central e seus dois primos (Smiley Bone e Phoney Bone) quando eles são expulsos de sua cidade devido a alguns planos escusos executados por um dos primos, bastante ganancioso e sem índole ou moral. Fone Bone é que salva Phoney Bone do linchamento em praça pública e leva o outro primo Smiley Bone só para aborrecer o familiar mau, já que Smiley é descompromissado, inquieto e até meio bobo. Os três se veem então perdidos no meio de um deserto, se desencontram e a partir disso abordam várias encrencas para se reencontrar, sem saber que algo está na espreita e nutre interesse especial sobre eles. É difícil achar somente um viés para “Bone”. Nele, Jeff Smith construiu uma aventura que mescla humor simples com doses negras e politicamente incorretas, mas sempre fazendo o leitor sorrir. No meio disso enxerta a série com muita fantasia (nas temáticas e na criação de criaturas exóticas e estranhas) e críticas pungentes sobre comportamento humano, ética e política, sem deixar de fazer dessas críticas instrumentos para a diversão. “Bone” é uma série de extremo valor, recomendável para todos os tipos de públicos e é uma alegria saber que enfim vamos ter toda a série disponível no país. Vale muito.

Nota: 9,5

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Literatura: “Antes de Partir Desta Pra Uma Melhor” e “O Orfanato da Srta. Peregrine Para Crianças Peculiares”



Depois de cinco livros, entre eles “Sete Dias Sem Fim” que virou filme nas mãos do diretor Shawn Levy ano passado, dá para entender bem quais as características da literatura do escritor norte-americano Jonathan Tropper. E “Antes de Partir Desta Pra Uma Melhor” (One Last Thing Before I Go, no original), o recente trabalho que a Editora Arqueiro publicou aqui em 2015 com 256 páginas e tradução de Marcello Lino apresenta todas elas. O personagem principal é Drew Silver, um baterista que teve um único sucesso com a banda que tocava e em pouco tempo ascendeu para a posição de rockstar para logo depois galgar o panteão do ostracismo. Vive em um hotel cheio de divorciados e perdedores. Sim, ele foi deixado pela mulher e mantêm uma péssima relação com a filha. Tem como fonte de renda os trocados que ganha tocando em aniversários, batizados e coisas do tipo e a venda de esperma para uma clínica local. Tipo do cara que não ambiciona nada na vida. Até que de uma só tacada descobre que a filha adolescente está grávida, que a ex-mulher vai casar de novo e que tem um problema no coração que se não operar vai lhe matar. Drew Silver carrega as mesmas cores que outros personagens do autor como o Zachary King de “Tudo Pode Mudar”, o  Doug Parker de “Como Falar com um Viúvo”, ou mesmo o Judd Foxman de “Sete Dias Sem Fim”. Da autopiedade a busca por alguma redenção, mesmo que de modo atrapalhado e involuntário. Nos seus livros, Jonathan Tropper sempre pega o personagem principal no meio de um momento ruim, com alguma doença ou morte aparecendo e indica uma reviravolta que precisa ser feita para nisso enxertar bons diálogos de humor no meio do drama. “Antes de Partir Desta Pra Uma Melhor” é mais um exemplo disso e apresenta um autor confortável na repetição e que agrada somente quem o lê pela primeira vez, pois para quem já leu os demais livros a sensação de cansaço supera a diversão.

Nota: 4,0


Tem um trecho disponível para leitura, aqui.


Jacob Portman sempre foi muito chegado ao seu avô. Principalmente quando era criança e enveredava em histórias surreais e fantásticas que eram contadas por ele. Com o tempo foi crescendo e, normalmente, passou a não mais acreditar nessas histórias se tornando um adolescente como qualquer outro, cheio de insatisfações diversas. Contudo, ainda assim continuou nutrindo um carinho todo especial por essa figura e quando este é assassinado em circunstâncias nada normais, Jacob enlouquece perante o que viu no dia da morte e o que lhe foi sussurrado no ouvido antes do falecimento. Aos poucos percebe que as histórias do avô não eram tão surreais assim e para tirar a prova de tudo se manda junto com o pai para uma inóspita ilha do País de Gales onde conhece as tais crianças especiais que tanto ouvia sobre na infância. Essa é a trama inicial de “O Orfanato da Srta. Peregrine Para Crianças Peculiares” (Miss Peregrine’s Home For Peculiar Children, no original) livro de autoria do escritor e cineasta Ransom Riggs originalmente publicado em 2011 que ganha reedição nacional pela Editora Leya nesse ano. Com 336 páginas e tradução de Edmundo Barreiro e Marcia Blasques, o livro encantou tanto o diretor Tim Burton que ele resolveu levar a história para o cinema, com adaptação prevista para estrear no ano que vem. Realmente a narrativa e a ambientação têm tudo a ver com o diretor. No livro se fundem terror, suspense, fantasia e aventura de modo esplêndido em uma obra onde o público jovem é o alvo principal, mas que também agrada a adultos. O diferencial do livro é que é permeado por fotografias antigas que vão do curioso ao bizarro sendo parte fundamental do processo da narrativa, auxiliando e muito nas sensações descritas pelas páginas. Em “O Orfanato da Srta. Peregrine Para Crianças Peculiares”, o autor cria uma trama sombria misturando diversos conceitos fantásticos tanto da literatura quanto dos quadrinhos (a alusão aos X-Men é óbvia) que funciona como literatura e promete muito mais nos cinemas.

Nota: 8,5

Site oficial do autor: http://www.ransomriggs.com

domingo, 11 de outubro de 2015

Quadrinhos: "Vírus Tropical" e "Penadinho - Vida"


Paola Gaviria nasceu em Quito, capital do Equador em 1977, mas sua família é de origem colombiana o que levou a uma frequente relação entre os dois países. Filha de um pai metido a padre, mas que atuava na clandestinidade, e de uma mãe dramática que lia o futuro das pessoas no dominó, ela foi a caçula que veio fazer companhia para duas irmãs. A mãe ficou grávida dela mesmo após fazer uma operação para não ter mais filhos e diversos médicos achavam que ela estava com algum tipo de vírus e não grávida. Com o decorrer do tempo essa caçula que veio ao mundo meio sem querer virou a artista Power Paola e esse processo de crescimento está relatada na graphic novel “Vírus Tropical”, publicada originalmente lá fora em 2010 e com lançamento aqui esse ano pela Editora Nemo. Com 160 páginas e tradução conjunta de Nicolas Llano Linares e Marcela Vieira a história envereda pela infância e juventude da autora que retrata em preto e branco o processo de amadurecimento e formação da própria personalidade. Histórias autobiográficas tem lugar cativo e habitual nos quadrinhos das últimas duas décadas, pelo menos. Cada vez mais autores utilizam a nona arte como meio de expressão e “Vírus Tropical” segue essa toada. Power Paola usa do humor para espantar alguns demônios pessoais e fazer as pazes com o passado. O tom é melodramático, mas permite risadas ao leitor. Com a arte transitando entre o cartum e o fanzine, optando por ser brusca e direta, Power Paola apresenta um trabalho que se não traz nada de novo, pelo menos é um mais do mesmo com luz própria.

Nota: 6,5

Leia um trecho gratuitamente: http://grupoautentica.com.br/nemo/amostra/1245 


O projeto Graphic MSP que revitaliza as obras de Mauricio de Sousa através da visão de novos autores continua com a missão em 2015. Ainda no primeiro semestre foi a vez de “Penadinho – Vida”. Idealizada e feita a quatro mãos pelo casal Paulo Crumbim e Cristina Eiko (de “Quadrinhos A2”) com 84 páginas, o álbum visita os personagens do cemitério capitaneados pelo fantasminha que empresta o nome ao título. A trama inicia quando Penadinho recebe da Dona Cegonha a notícia de que Alminha – o amor da sua “morte” – vai reencarnar na próxima manhã. Ocorre que Penadinho nunca falou sobre esse amor e com a partida eminente da amada para o mundo dos vivos resolve enfim se declarar a ela. Porém, ele não consegue, afinal nem sempre é fácil falar essas coisas não é mesmo? Então, enquanto procura coragem e uma maneira para demonstrar toda paixão, Alminha é raptada por um estranho ser sugador de almas. A partir disso toda a turma do cemitério sai em busca de realizar o resgate e em uma aventura empolgante enfrenta obstáculos e encontra personagens bem singulares. É verdade que o tom de “Penadinho – Vida” é mais infantil que a maioria das seis obras anteriores, contudo versa sobre temas bem delicados como a morte e o amor. A maneira com que trata isso e ainda envolve bom humor e ritmo hábil, representam o grande mérito da empreitada do casal de autores. Com cores bonitas, arte que remete um pouco ao mangá e um roteiro de fácil assimilação, porém bem construído, o álbum é mais um acerto dentro do projeto Graphic MSP.

Nota: 7,0


quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Literatura: "O Grande Jogo de Billy Phelan" e "Fogo-Fátuo"


Billy Phelan ganha a vida rodeado por jogos e apostas. Mora em Albany nos anos 30, capital do estado de Nova York, no período da grande depressão e antes do início da segunda guerra mundial. Leva a vida em qualquer tipo de jogo. Boliche, bilhar, turfe, dados, nada parece não merecer sua habilidade. Orgulhoso, digno de um código de conduta próprio, parece que podia ter sido algo mais na vida e além disso é um herói improvável, que ninguém vê muito mérito, isso incluído ele mesmo. Esse é o personagem principal de “O Grande Jogo de Billy Phelan”, que a editora Cosac Naify lançou aqui em 2010 em uma caprichada edição com 344 páginas e tradução de Sergio Flaskman. Publicado originalmente em 1978 é o segundo livro do chamado “Ciclo de Albany” que o escritor americano William Kennedy fez ao longo da carreira. Nascido em 1928 tem a literatura comparada a nomes como Ernest Hemingway e Scott Fitzgerald. Além de livros, escreveu peças de teatros e roteiros de filmes (como “Cotton Club” do Coppola). Sua obra mais conhecida é “Ironweed”, trabalho que lhe rendeu o Pulitzer, e virou filme nas mãos do diretor Hector Babenco em 1987 com Jack Nicholson e Meryl Streep nos papeis principais. Em “O Grande Jogo de Billy Phelan” o autor convida o leitor para um passeio em uma cidade dominada por uma família, que manda e desmanda em tudo, da igreja a política, dos bares aos prostíbulos. Além de Phelan, temos outro grande personagem no livro, Martin Daugherty, um colunista do jornal local de bom coração e com culpa familiar pesando no peito. Envolvidos no meio de um sequestro, ambos precisam usar a cabeça para não se afundar e entrar em desespero, isso tudo permeado com acessos de violência, humor seco e uma busca por esperança e aceitação escondida lá no fundo da desordem.

Nota: 8,0


Mesmo dando voltas e mais voltas ao lado do tema, a escritora paulista Patrícia Melo nunca fez de uma obra sua propriamente um romance policial com tudo que o estilo tem direito. Isso só foi acontecer no ano passado em “Fogo-Fátuo”, publicado pela editora Rocco com 304 páginas. Sucessor do ótimo “Ladrão de Cadáveres” de 2010, a obra apresenta Azucena Gobbi, chefe do Setor de Perícias da Central Paulista de Homicídios, mulher forte e decidida, mas que atravessa um verdadeiro vendaval na vida pessoal.  Quando Fábbio Cássio, ator famoso que também tinha uma vida bastante tumultuada acaba atirando na própria cabeça em cima do palco durante uma peça ela se envolve em uma história com tons nada sublimes e cheias de picuinhas e interesses próprios. Na verdade, não se sabe ao certo se o ator se matou ou foi assassinado por alguém que colocou as balas onde não deviam estar e essa busca pela verdade é o tom maior que envolve o romance. Todavia, é nas suas margens que Patrícia Melo brilha e entrega muito mais. Primeiro, versa sobre uma cidade dominada pelo medo, onde a criminalidade galgou níveis assustadores e produz vítimas em escala industrial. Depois, enverada pela ineficácia de boa parte da polícia seja por capacidade mesmo ou por política. E conclui atirando contra a indústria das celebridades cada vez mais horrenda e atroz na correria para vender “notícias”. Em “Fogo-Fátuo”, temos uma escritora com absoluto domínio do seu ofício e que a cada livro parece crescer mais ainda. Na obra novamente exibe a tradicional falta de crença na bondade humana dos seus livros e mesmo sendo um romance policial tradicional, caminha por vielas um pouco diferentes, o que é sempre muito bem-vindo.

Nota: 8,5

Leia um trecho, aqui.

Textos relacionados no blog:

- Literatura: “Jonas, o Copromanta – Patrícia Melo
- Literatura: “Ladrão de Cadáveres” – Patrícia Melo 

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Quadrinhos: "Você é Minha Mãe?" e "Pílulas Azuis"


Em “Fun Home - Uma Tragicomédia em Família” que a editora Conrad publicou por aqui em 2007, Alison Bechdel mergulhava na infância e crescimento e olhava mais para as ações do pai, um professor que escondeu a homossexualidade durante anos. Em um álbum que unia arte e texto de maneira triste, mas ao mesmo tempo de modo encantador, a autora se destacou, chamou a atenção do mundo dos quadrinhos e angariou elogios e prêmios. “Você é Minha Mãe?” (Are You My Mother? no original) é a sequência natural de “Fun Home” e lançado lá fora em 2012 ganhou edição nacional em 2013 no selo “Quadrinhos na Cia.” da Companhia das Letras. Com 294 páginas e tradução de Érico Assis traz novamente caráter biográfico em um drama que faz leves alusões ao pai, mas que dessa vez apresenta a relação com a mãe como foco. Na verdade, assim como em “Fun Home”, “Você é Minha Mãe?” serve como escape para afugentar (ou acalmar, que seja) os demônios de Alison Bechdel. É uma graphic-novel densa, repleta de conceitos psicológicos, onde os sonhos desempenham papel importante na maneira que a autora procura um caminho em meio a dúvidas, questionamentos, inseguranças e um humor involuntário.  A escritora Virginia Woolf e o psicanalista Donald Winnicott são os dois alicerces que ela baseia todo esse entendimento da vida pessoal, com vários trechos das suas obras citadas nas páginas. “Você é Minha Mãe?” apresenta algumas qualidades já vistas antes, como a arte funcional, porém é cansativa e em termos de ritmo e texto fica bem abaixo de “Fun Home”, infelizmente.

Nota: 5,5

Leia um trecho gratuitamente no site da editora, aqui.


Sem pessimismo barato, mas atualmente é cada vez mais difícil se deparar com um caso de amor límpido, sincero, bonito, como aqueles das canções clássicas ou dos poemas mais célebres. Inúmeros são os motivos para tanto, alguns justificáveis, outros não, contudo é verdade que isso é cada vez mais raro, mais esporádico. Talvez seja por isso que o impacto de “Pílulas Azuis” (Pilules Bleus no original) seja tão demasiado. Publicado originalmente em 2001, a graphic-novel do suíço Frederik Peeters ganha edição nacional esse ano através da editora Nemo. Com 208 páginas e tradução de Fernando Scheibe o autor de Aâma traça em uma autobiografia seu romance com Cati, uma história de amor com dificuldades, superações, temores, mas também com muita entrega, companheirismo e amor. O tom que tinha tudo para descambar para o piegas ou o sentimentalismo de feira, aqui passa longe de acontecer. A história começa com o básico garoto conhece garota, mas se estende por alguns anos até que realmente ocorra a união. Uma união que tem como parte inerente o vírus da Aids, já que tanto Cati, quanto o pequeno filho dela são soropositivos. A maneira como o autor trata de questões tão delicadas é excepcional. Insere uma carga de drama necessária, mas a envolve com humor e dedicação. A arte em preto e branco, ora rabiscada, ora detalhada, se destaca nas expressões faciais que refletem muito bem o momento a que se dedicam. Com tudo isso, “Pílulas Azuis” é um história como poucas, que espanta o preconceito para bem longe e narra uma bela e bonita história de amor. Sim, essas histórias ainda existem. Ainda bem.

Nota: 9,0

Leia um trecho gratuitamente no site da editora, aqui.


quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Quadrinhos: "Seres Urbanos" e "Supernada"

 
Existiu um tempo antes do advento da internet, ou ainda, bem no início desta, que os fanzines foram fundamentais na propagação de uma cultura que não aparecia nas grandes mídias, além de servir como plataforma para uma arte que não achava espaço em outros locais. Os “zines” se faziam presentes em todo o país e não foi diferente em Fortaleza, capital do Ceará. Lá a produção chegou a ter destaque nacional e o grupo Seres Urbanos foi o expoente disso. Formado inicialmente por Weaver Lima e Marcílio Nascimento, o grupo agregou outros nomes (Elvis, Lupin, Galba, Mychel e Kaos, este último infelizmente falecido no ano passado) e foi responsável por fanzines, exposições e festas que movimentaram a capital cearense nos anos 90. “Seres Urbanos – Antologia do quadrinho underground cearense (1991-1998)” é um álbum que compila parte dessa produção e passou por um processo lento desde que foi contemplado por edital da secretaria de cultura estadual em 2011, só realmente conhecendo a vida agora em 2015. Em preto e branco, com formato grande (21x30cm) e 100 páginas os quadrinhos exibem um humor ácido e atravessam comportamento, música, sexo, política e religião, sempre de maneira um pouco anárquica, sem muitas formas pré-definidas. Também demonstra tipos distintos de arte e de traços, que na maioria dos casos funciona de acordo com o objetivo pretendido. Uma entrevista com os membros no final enaltece o espírito da coisa toda e atesta “Seres Urbanos” como um projeto relevante, e acima de tudo, bem interessante de ser lido.


Nota: 8,0
A safra atual de quadrinhos nacionais surpreende positivamente a cada dia. Não somente os artistas e escritores acham mais espaço dentro de projetos endossados por editoras, como também desbravam caminho nos financiamentos coletivos, fazendo com que de modo independente as ideias ganhem um cuidadoso aparo de publicação. Esse é o caso de “Supernada” dos paulistas Raphael Mortari e Daniel Sanchez que através de campanha no site Catarse viabilizaram a imaginação para o campo físico. Com 40 páginas em preto e branco o álbum apresenta alegorias e trabalha em cima de uma fábula triste e incrivelmente real nas suas aplicações. O personagem principal que nasce sem vício algum vai gradualmente sendo exposto a um vírus que atinge quase toda a população, mas que é aceito perante os olhos dela. Visualmente com uma arte simples, porém bastante funcional, esse personagem vai se transformando em porco, ficando cada vez mais parecido com todos a sua volta. “Supernada” é retrato fiel do que acontece a uma parte considerável da sociedade, apaixonada por bens (e que mede o sucesso pela aquisição desses), mas extremamente vazia de sentimento e conteúdo. Versa também em como o comodismo toma conta de cada um com o passar dos anos e quando menos se percebe tudo passou e nada foi construído, seja também por medo, procrastinação ou uma superficial sensação de alegria com que o mundo nos brinda vez ou outra. É uma obra crítica e ao mesmo tempo emocional, é uma obra que não só convence, mas faz também o leitor tirar alguns minutos depois de ler para pensar nos caminhos que anda traçando, em resumo, é uma obra estupenda.


Nota: 9,5 


terça-feira, 1 de setembro de 2015

Séries - "Narcos"

Pablo Emilio Escobar Gaviria nasceu em Rionegro na Colômbia em 01 de dezembro de 1949 e logo jovem iniciou com pequenos delitos uma carreira criminosa que lhe colocaria como um dos homens mais ricos do mundo. Sua vida e história já foram retratadas em programas de televisão, livros, novelas e em alguns filmes, como indiretamente em “Profissão de Risco” de 2001 ou diretamente em “Escobar: Paraíso Perdido” do ano passado (lançado em dvd aqui nesse ano). Agora foi a vez de uma série se debruçar sobre esse controverso personagem.

“Narcos” estreou no Netflix no dia 28 de agosto e é uma parceria do canal com a produtora francesa Gaumont da ótima série “Hannibal”, infelizmente cancelada esse ano. Como de costume a empresa disponibilizou todos os 10 episódios que compõem a primeira temporada de uma só vez (uma segunda já está confirmada) e vê nela mais um produto para continuar a linha de crescimento da qualidade do trabalho autoral produzido pelo canal, vide outras séries como “Demolidor”, “Orange Is The New Black”, “Better Call Saul” e, principalmente, “House of Cards”.

Essa aventura pelo narcotráfico colombiano das décadas de 70 a 90, tem o envolvimento relevante do diretor brasileiro José Padilha (“Tropa de Elite”, “Robocop”), que mesmo sem ser o criador da série (os criadores são Chris Brancatto, Carlo Bernard e Doug Miro), dirige os dois primeiros episódios que dão o tom da trama, assim como a maneira como ela vai ser contada, além de ser produtor executivo. O dedo do diretor está presente não só no formato que vemos nos capítulos como na escalação de Wagner Moura para viver Pablo Escobar.

Wagner Moura, ator de comprovada competência, foi inicialmente uma surpresa para o papel, já que não sabia o idioma com o qual teria que tratar nesse trabalho. Depois de alguns meses de treinamento, ele se sai bem nesse aspecto e mesmo não sendo excepcional compensa isso com uma atuação hábil e intensa, por mais que refaça alguns trejeitos visuais já vistos em outras atuações. A caracterização física, por exemplo, é perfeita, com ele engordando 20 quilos para exibir a barriga do traficante.

Todavia, apesar de Pablo Escobar ser o foco de “Narcos”, não convém a ele ser o protagonista. Isso fica a cargo do agente do DEA (agência antidrogas americana) Steve Murphy, vivido pelo ator Boyd Holbrook de “Milk: A Voz da Igualdade”. Murphy, realmente existiu e ele que narra todos os eventos em off durante a trama explicando tudo ao espectador tintim por tintim e até mesmo antecipando alguns fatos. Esse recurso que José Padilha tanto gosta, serve para o espectador menos atento, porém incomoda aos demais porque é usado de maneira demasiada por toda a primeira temporada.

“Narcos” inicia quando Pablo Escobar, já um contrabandista de respeito no seu país, recebe pelo primo e sócio Gustavo (Juan Pablo Rabla) a possibilidade de trabalhar com um novo produto: a cocaína. Junto com outros, principalmente os irmãos Ochoa (vividos por Roberto Urbina de “Che” e o brasileiro André Mattos de “Tropa de Elite”) e o sanguinário José Rodriguez Gacha (o sempre competente Luis Gúzman de tantos e tantos filmes bacanas como “Boogie Nights”), forma o Cartel de Medellín, uma organização que movimentava milhões de dólares por mês.

A narrativa entrecorta a ficção com vários pontos documentais e mostra um retrato bem claro da América nesse período, com, somente para variar, a intervenção dos Estados Unidos em diversos países, sempre se baseando nos próprios interesses políticos e comerciais e direcionando suas forças somente quando assim lhe se convém, indo do governo Nixon, passando pelo desastre chamado Ronald Reagan e acabando com Bush pai. O tom do roteiro é sempre crítico nesse sentido, mesmo quando aponta aspectos positivos de algumas decisões.

Depois de sua morte em dezembro de 1993 aos 44 anos, o controle da cocaína e do narcotráfico só mudou de mãos para o Cartel de Cáli e depois para as mãos das FARC’s e assim muda até hoje em dia, uma vez que a demanda para o produto continua insaciável nos Estados Unidos e no mundo.

O seriado cumpre bem o papel de mostrar esse reinado de ascensão e queda e tecnicamente é de uma competência bem alta. Além de José Padilha passam pelos episódios o diretor brasileiro Fernando Coimbra (do estupendo “O Lobo Atrás da Porta”), o mexicano Guillermo Navarrro (diretor de fotografia de “O Labirinto do Fauno”) e o colombiano Andi Baiz (“O Quarto Secreto”). A música de abertura chamada “Tuyo” é também de um brazuca (Pedro Bromfman) e interpretada pelo eterno ex-Los Hermanos Rodrigo Amarante.

Ao que tudo indica “Narcos” será mais um sucesso da Netflix e mesmo se considerando os desgastes relacionados com a questão do idioma e das extensivas explicações do narrador, que podem (e devem) ser corrigidas na segunda temporada, ainda assim é um produto com diversas qualidades e que apresenta pelo menos três grandes episódios: “A Espada de Simón Bolivar”, “Haverá Futuro” e “La Catedral” (os de número 2, 5 e 9, respectivamente), sendo que nenhum dos demais é ruim ou deixa cair o ritmo. 

Nota: 7,0

Textos relacionados no blog:
- Séries: "Marco Polo"

Assista ao trailer legendado:

domingo, 30 de agosto de 2015

"Submissão" - Michel Houellebecq

No dia 7 de janeiro desse ano, a redação do jornal francês “Charlie Hebdo” foi invadida por homens armados que assassinaram 12 pessoas e deixaram mais alguns com ferimentos. O atentado foi motivado por charges que faziam graça com Maomé, figura central do Islamismo, publicadas pelo jornal, conhecido pelo tom de sátira e humor com que permeia as páginas. A edição mais recente desse mesmo jornal trazia uma charge com a caricatura do escritor local Michel Houellebecq fazendo alusão ao lançamento do romance “Submissão” (“Soumission”, no original) naquela mesma época.

Ficou difícil então a partir deste acontecimento desassociar o livro do atentado, tanto por conta do conteúdo quanto pelo próprio autor, conhecido por suas polêmicas e pensamentos. Autor de obras como “Plataforma” e “O Mapa e o Território”, Houellebecq tem essa vertente como uma marca pessoal. O selo Alfaguara da Editora Objetiva publicou recentemente aqui no país esse romance, com 256 páginas e tradução de Rosa Freire d’Aguiar.

Ambientando em um futuro bastante próximo, o leitor é apresentado a uma França que nas eleições de 2022 fica sob o poder do fictício partido da Fraternidade Muçulmana, liderado pelo candidato Mohammed Ben Abbes, que une tanto direita quanto esquerda em um segundo turno que acaba com velhas tradições políticas do país. Os fatos são contados por François, professor universitário da Sorbonne, que há muito leva uma vida sem grandes emoções ou ambições e se considera um fracasso, por mais que goze de respeito dentro do círculo profissional.

Fascinado pelo escritor francês Joris-Karl Huysmans (1848-1907), o qual considera como um companheiro e um amigo fiel, e justifica muito das suas decisões e pensamentos, François de repente se vê no meio de uma mudança drástica de pensamento em seu país e de início não sabe bem como se portar, até mesmo pelo simples fato de que no âmbito pessoal as coisas não andam também lá as mil maravilhas. E mesmo que as mudanças já sejam oriundas de um processo em andamento, ele simplesmente não se dá conta disso.

Na primeira parte do romance o processo eleitoral toma conta com os acordos, negociatas, sujeiras, dissidências e controvérsias inerentes a esse tipo de processo. Há um interlúdio quando o personagem principal a fim de sair da confusão que toma conta do país (mas que não chega a ser tão grande como ele imaginava) sai em retiro para o interior, e, logo após isso, existe a segunda parte que finaliza o romance mostrando as alterações introduzidas pelo novo governo.

Em “Submissão” há muito com o que se revoltar, caso você tenha ideia de um mundo mais justo, unido e com maior aceitação, visto que as ideias expostas quase que em sua totalidade são um arcabouço de conservadorismo, xenofobia, machismo e misoginia. Todavia, há de se considerar que o tom utilizado regularmente é proposital e habilmente colocado pelo autor para essa condição de suscitar questionamentos, discussões e debates que circundam tanto questões comportamentais quanto religiosas.

Ao colocar nas entrelinhas de “Submissão” que a salvação do ocidente seria aceitar os termos do Islã, indo assim na direção inversa de preceitos e valores, Michel Houellebecq não só expõe várias feridas da atual realidade mundial, como instiga o leitor a pensar com mais afinco sobre aquilo que acabou de ler. É o tipo de livro que causa mais rebuliço não pelas qualidades literárias e sim pelas ideias expostas, sejam elas absurdas ou não, mas que cumprem com o objetivo de provocar e fazem da obra uma das melhores dos últimos anos.

Nota: 9,0

Leia gratuitamente um trecho do livro, aqui.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Quadrinhos: "Homem-Formiga: Mundo Pequeno" e "Besouro Verde: Ano Um"

 

O Homem-Formiga nunca esteve no primeiro escalão de heróis da Marvel. Mesmo sendo fundador dos Vingadores sempre ficou como coadjuvante na maioria das histórias, nas sombras do cidadão por trás da máscara, o cientista Hank Pym. Com a chegada do (divertido) filme lançado esse ano sobre o personagem, a Marvel tenta jogar uma luz maior em torno dele, sendo que isso reflete aqui no Brasil também com alguns lançamentos, entre eles “Homem Formiga: Mundo Pequeno”, que dá uma boa visão geral sobre o herói. Três foram aqueles que vestiram o traje: Hank Pym no início, Scott Lang a partir do final dos anos 70 (é ele que aparece no longa envergando a roupa) e o degenerado Eric O’Grady de um tempinho para cá. Essa coletânea de histórias que a Panini Comics coloca no mercado traz em suas 146 páginas aventuras de todas essas fases. A melhor trama é a mais recente, no entanto, existem republicações de valor histórico como a primeira aparição do Homem-Formiga e a estreia da Vespa, parceira, namorada e esposa de Hank Pym. Apresenta também as tramas de 1979 onde Scott Lang inicia suas tarefas do lado dos mocinhos e não mais como bandido. Algumas dessas histórias ainda não tinham sido publicadas aqui no país, ou então, fazia muito tempo que isso havia acontecido. Tendo em vista entender melhor esse diminuto super-herói, “Homem-Formiga: Mundo Pequeno” serve bem, porém seu valor fica praticamente nisso, como introdução e valor histórico, não conseguindo ir muito além.

Nota: 6,0


Britt Reid é um jovem que depois do falecimento do pai assume como presidente do jornal da família. Inconformado com a situação da cidade dominada pela máfia e com um senso de justiça estourando no peito, coloca uma máscara no rosto, usa a fortuna para criar diversas geringonças e apetrechos e sai para as ruas combatendo o crime junto com um parceiro. Ok, a ideia não é das mais originais, porém foi assim que nasceu o Besouro Verde nas rádios dos anos 30. Nos anos 60 em um seriado de televisão que tinha Van Williams como o vigilante e Bruce Lee como Kato (parceiro e mordomo na luta contra o crime) é que o personagem ganhou uma dimensão maior, desaguando até nos cinemas em um longa razoável de 2011. Nos quadrinhos desde mais ou menos a época da criação, o Besouro Verde passou por inúmeros cancelamentos e reestreias, e nunca agradou por completo até que a Dynamite Entertainment conseguiu a franquia e convocou Matt Wagner (Sandman, Batman) para o roteiro e Aaron Campbell (O Sombra) para a arte. O resultado publicado lá fora entre abril de 2010 e março de 2011, ganhou este ano edição nacional pelas mãos da Mythos Books em mais um trabalho belíssimo da editora. “Besouro Verde: Ano Um” tem 304 páginas, capa dura e um trabalho gráfico repleto de cuidado. É narrado o começo da carreira, voltando para as raízes familiares, atravessando viagens de conhecimento pessoal e culminando na luta contra a máfia. É uma história de formação, com muitas cenas de ação, diálogos divertidos e uma mensagem crítica sempre planando ao fundo. Quem gosta de aventura com uma arte exuberante, enxertos de histórias policiais e aquela clima pulp no ar, esse encadernando é um prato muito bem servido.

Nota: 8,5


domingo, 2 de agosto de 2015

Quadrinhos: "Coffin Hill: Crimes e Bruxaria Vol. 1" e "Lições"


Desde os primórdios o terror teve lugar garantido dentro dos quadrinhos. Seja em histórias chinfrins e baratas, seja em outras mais elaboradas e significativas, sempre se fez presente. “Coffin Hill: Crimes e Bruxaria Vol. 1” que a Panini Comics coloca no mercado nacional é mais um título que faz essa tradição perdurar na nona arte. Esse volume compila as sete primeiras edições do título publicadas nos Estados Unidos pelo selo Vertigo entre dezembro de 2013 e junho de 2014. Com roteiro da escritora Caitlin Kittredge (da trilogia “O Código de Ferro”), arte de Inaki Miranda (“Fábulas”) e cores de Eva de La Cruz ambiciona honrar o gênero olhando para o passado de clássicas tramas, com um mal que espreita em uma floresta, mas que ninguém sabe exatamente do que se trata e de onde veio. A protagonista é Eve Coffin, descendente de uma antiga e rica família que tem no sangue a bruxaria. Tentando renegar isso em conjunto com um perverso acontecimento na adolescência, ela acaba se tornando policial e fica famosa ao prender um assassino serial. Logo após isso, porém, a personagem acaba saindo da polícia e retorna para a cidade natal no meio de uma bagunça que remete ao fato que a fez fugir quando jovem. Com roteiro bem construindo e mesclando passado e presente sem perder a atenção do leitor, “Coffin Hill” é uma boa história apesar da arte voltada mais para o público adolescente. Além disso, convenhamos que atualmente ter algo de terror que não envolva zumbis, vampiros ou lobisomens já se configura em relevante mérito.

Nota: 6,0


Em 2013 os irmãos Vitor e Lu Cafaggi encantaram milhares de leitores com “Laços”, releitura feita para Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali, os clássicos personagens de Mauricio de Sousa, possível graças ao projeto “Graphic MSP”. O acerto foi tão grande que outra empreitada com a turminha logo foi prometida. “Lições” é essa sequência com lançamento agora pela Panini Comics com 82 páginas e duas opções disponíveis (capa cartonada ou dura), sendo o oitavo rebento oriundo da ideia de revitalização pretendida. “Lições” é um prolongamento lógico de “Laços”, onde a turminha está um pouquinho mais velha, um ano mais adiantada na escola, e, evidentemente, com uma nova gama de coisas e descobertas acontecendo ao seu redor. Os irmãos Cafaggi criaram de novo uma história comovente, que dessa vez não vem na embalagem de uma grande aventura com todos, mas na superação de obstáculos individuais, tendo como guia a forte amizade dos quatro. A trama é simples, porém funcional. Depois de uma travessura com um final não planejado os pais das crianças resolvem entrar na jogada e mudar a rotina deles para que aprendam com o episódio (daí vem o título). Com isso a garotada precisa sair dos costumes diários e encarar alguns desafios. A arte de “Lições”, assim como os personagens, também evolui e por si só já vale o trabalho. As feições, os olhares, a tristeza e alegria retratadas são de uma peculiar beleza. Em tempos de tanto cinismo e pouco afeto, essa nova releitura é um alívio singelo que faz cada um lembrar de uma época em que a vida era provavelmente mais amorosa e emocionante.

Nota: 8,5

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