quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Literatura: "O Circo Mecânico Tresauli" e "O Vendido"


“O Circo Mecânico Tresaulti” (A Tale Of The Circus Tresaulti, no original) apresenta um mundo pós-apocalíptico sem definição de tempo ou de lugar, onde a única realidade sabida é que guerras e mais guerras devastaram quase tudo e a humanidade regrediu anos e anos sem direito a tecnologia que experimentou em outrora e se esconde ou em pequenas vilas ou em cidades muradas e protegidas a todo custo. A obra da escritora Genevieve Valentine foi lançada em 2011 e logo com esse primeiro romance já ganhou indicação ao prêmio Nebula relativo a livros de ficção científica e fantasia. Teve edição aqui pela Darkside Books e em 2016 saiu em outra versão, mais luxuosa e com capa dura (que a editora chama de “Limited Edition”) com ilustrações do brasileiro Wesley Rodrigues que servem para dar amplitude a obra, deixando que um pouco da imaginação se concretize mesmo sem revelar nada da trama. O primeiro terço do livro é um pouco arrastado enquanto a autora situa os fatos e os personagens e a maneira que conta a história sem amarrar tanto as coisas, acaba prejudicando o leitor mais preguiçoso. Contudo, a partir disso, a trama flui muito bem. Mesmo que se imagine onde tudo vai chegar, a maneira com que os personagens são construídos com seus dramas pessoais e histórias passadas, faz com que isso seja relevado. O circo comandado por Boss roda o mundo para conferir um pouco de esperança, alegria e paz em cenários tão tristes, ao mesmo tempo em que recupera pessoas prestes a morrer ou fugindo de algo para dar uma nova chance, uma nova vida, construída através do uso de engrenagens e ferramentas. Com as personagens femininas, mulheres fortes e decididas, dando o tom do livro, Genevieve Valentine cria um trabalho repleto de bons momentos.

Nota: 7,0


Morador de um subúrbio que simplesmente teve o nome apagado em Los Angeles, Eu (sim, esse é o nome do protagonista) começa a narrar os fatos de “O Vendido” direto da Suprema Corte dos Estados Unidos onde está para ser julgado por, entre outras coisas, reinstaurar (ou pelo menos tentar) a segregação racial em Dickens, o referido subúrbio. De início avassalador, com prosa rápida e mordaz, cheio de referências das mais diferentes áreas, exibe em igual escala acidez e bom humor. Confronta o leitor constantemente com explanações sobre raça e identidade e derruba sem medo o fino manto que cobre a sociedade americana (e tantas outras) no que se refere a um racismo permanente e nem tão velado assim. Eu, teve uma formação singular, para dizer o mínimo. Durante a infância não frequentou escolas, pois era a parte principal dos estudos e experimentos do pai, um sociólogo cheio de ideias bem incomuns. Após o assassinato do pai “por engano” pela polícia, começa a cuidar da fazenda da família investindo em frutas de sabor único, como também em novas espécies de maconha. Se junta a Hominy Jenkis, o mais famoso morador da localidade por ser o último astro vivo da série “Os Batutinhas” (mais aqui: https://goo.gl/4LnJn8) e com ele embarca no inusitado projeto que o levou até a Suprema Corte. “O Vendido” (The Sellout, no original) ganhou o prestigiado prêmio britânico Man Booker Prize de 2016 e seu autor, Paul Beatty, participou da FLIP de 2017 aqui no Brasil. Com 320 páginas, tradução de Rogério Galindo e publicação no ano passado pela Todavia Livros é o tipo de obra que ao chocar e cutucar, enquanto diverte sabiamente, se coloca como extremamente necessária para o tempo em que habita.  

Nota: 9,5

Mais sobre o livro no site da editora: http://www.todavialivros.com.br/livros/o-vendido# 


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