segunda-feira, 17 de abril de 2017

Quadrinhos: "Superman: Fim dos Dias" e "Thanos: Revelação Infinita"


Chega a dar certa tristeza o que a DC Comics faz com o Superman nos últimos anos. Dentro dos anos 2000, por exemplo, pouco se salva. Várias mentes e mãos se alternaram nesse período e aliadas com as questionáveis decisões editorais raramente produziram material de qualidade e que faça jus a um dos pilares dos heróis nos quadrinhos. E quando se pensa que as coisas não podem piorar, bom, é melhor não duvidar. Amostra recente disso temos no encadernado “Superman: Fim dos Dias” que a Panini Comics coloca agora nas bancas com capa cartonada e 196 páginas. Estão reunidas as revistas Superman (51-52), Batman/Superman (31-32), Action Comics (51-52) e Superman/Wonder Woman (28-29) lançadas em junho e julho de 2016 nos EUA. Trata-se, como o nome supõe, de um encerramento, mais precisamente da fase do Homem de Aço em “Os Novos 52” e que abre caminho para o novo (outro) projeto da DC chamado “Rebirth” (“Renascimento”, por aqui). Esse encerramento é a morte do Superman que detonado por vários eventos anteriores (que são explicados no volume) está exaurido e fraco, descobrindo que vai falecer e não tem saída ou cura para tanto. Ao mesmo tempo em que isso ocorre uma nova gama de desafios surgem enquanto ele busca avisar aos mais próximos o que acontecerá. O foco é deixar as coisas acertadas quando não estiver mais por aqui, contudo tem que lidar com as ameaças que aparecem na forma de três envolvidos que também dizem ser o Superman. Em uma trama confusa criada por Peter J. Tomasi (de “Batman & Robin”), quase nada se salva, somente uma arte aqui e outra ali, o envolvimento com a Mulher-Maravilha e o teor emocional do final. No entanto, “Superman: Fim dos Dias” consegue uma proeza rara: desagradar tantos fãs antigos quanto mais recentes e afastar neófitos das revistas do personagem no futuro. Parabéns a todos os envolvidos. De pé.

Nota: 2,0


Jim Starlin é um dos maiores ases dos quadrinhos quando se fala em temas cósmicos e espaciais. Foi ele que nos anos 70 criou Thanos, o Titã Louco, e com ele produziu sagas memoráveis como “Desafio Infinito”. Mas o trabalho de Starlin vai além. Criou também Dreadstar e fez trabalhos estupendos a frente do Capitão Marvel e também “Morte em Família” e “Odisseia Cósmica” pela DC. São credenciais e tanto, temos que convir. Em 2014 o autor voltou para aquele que já declarou ser seu personagem favorito e concebeu “Thanos: Revelação Infinita”, onde é responsável pelo roteiro e pelos desenhos que contam com a arte-final de Andy Smith. A obra é inserida dentro de uma linha da Marvel chamada OGN (Original Graphic Novels) que apresenta histórias fechadas fora da cronologia normal, porém de acordo com bases já concebidas anteriormente de modo geral. Essa linha já teve os Vingadores e o Homem-Aranha nas primeiras edições e agora abre caminho para um dos vilões mais poderosos e insanos do universo. Jim Starlin exibe um Thanos meio cansado com tudo que aos poucos nota uma inconformidade pairando no ar, algo que diz que as coisas não andam da maneira correta. Isso passa a lhe incomodar e acrescenta o ânimo que faltava para mandar o cansaço embora e sair singrando pelas estrelas atrás de respostas, sendo uma destas de fundamental importância. Como parceiro da missão está o ressuscitado Adam Warlock, um de seus maiores inimigos e o catálogo de personagens estelares da Marvel bate ponto com nomes como Surfista Prateado, Guardiões da Galáxia, Ronan, o Acusador e o Gladiador dos Shiar. “Thanos: Revelação Infinita” tem tudo que os fãs das aventuras espaciais gostam e se deliciam sob a batuta de um mestre desse cenário. Contudo, é uma obra menor do autor com Thanos se compararmos com o que já fez antes. Nem mesmo os mestres conseguem sempre a excelência. 

Nota: 6,0


sexta-feira, 14 de abril de 2017

Literatura: "Léxico" e "Meninos em Fúria"


Uma organização misteriosa e secreta treina jovens com potencial para agirem na persuasão de pessoas, ocultamento de fatos e divulgação de verdades não tão verídicas assim, tudo em nome de um suposto equilíbrio mundial. Esses agentes quando vão ao trabalho de campo deixam seus nomes verdadeiros para trás e assumem os de famosos poetas como novos, já que as palavras são sua arma letal, principalmente as combinações que promulgam para invadir a mente dos alvos e alterarem o seu comportamento. Esse é o mote de “Léxico”, livro do australiano Max Barry que há alguns anos nos brindou com o ótimo “Homem-máquina”. Essa nova aventura do autor foi lançada aqui no país pela editora Intrínseca em 2015 (é original de 2013) e tem 368 páginas e tradução de Domingos Demasi. Em “Léxico” temos ação e bom humor em quantidades generosas e mesmo sendo um livro agradável incomoda por utilizar algumas das premissas já utilizadas em “Homem-máquina”. O protagonista, por exemplo, é uma mistura do Charles Neumann do referido livro e Arthur Dent de “O Guia do Mochileiro das Galáxias” do Douglas Adams. Esse protagonista é Will Parke, um pacato cidadão que de repente se vê no meio de uma tremenda confusão sem saber os motivos para tanto. Do outro lado da história está Emily Ruff, uma jovem que vive na rua fazendo trambiques até ser recrutada pela organização que vê potencial nela (apesar de um “lado sombrio”). E no meio de tudo está T. S. Elliot, um renomado e experiente agente que busca solucionar as broncas. Juntando esses três lados e alternando entre presente, passado e futuro, Max Barry promove uma divertida e descompromissada jornada em busca da salvação mundial, enquanto joga no meio do caminho algumas situações levemente críticas e ácidas em relação a esse mesmo mundo.

Nota: 6,0

Leia um trecho diretamente do site da editora, aqui.


 “Nós estamos aqui para revolucionar a Música Popular Brasileira, para dizer a verdade sem disfarces (e não tornar bela a imunda realidade): para pintar de negro a asa-branca, atrasar o trem das onze, pisar sobre as flores de Geraldo Vandré e fazer da Amélia uma mulher qualquer”.

O polêmico e enérgico trecho acima é do final do movimento punk escrito por Clemente Tadeu Nascimento no início dos anos 80. O líder da banda Inocentes, na ativa até hoje, é ícone dessa geração e revê essa época no livro “Meninos em Fúria” em parceria com o escritor Marcelo Rubens Paiva (de “Feliz Ano Velho” e “Blecaute”, entre outros) que também viveu esses momentos e se envolveu neles. Com lançamento pelo selo Alfaguara da Companhia das Letras no ano passado tem 224 páginas e apresenta o subtítulo “E o som que mudou a música para sempre”. Guardadas as dimensões do que essa frase enseja, o livro retrata os primórdios do punk no Brasil e como ele caminhou nesses primeiros anos entre preconceitos, brigas de gangues, acordes rápidos, afirmação e revolta de uma turma que não se sentia representada por nada daquilo que o país exibia de maneira geral. O texto construído na obra esbanja fluidez e se permite transitar não somente pela música que retrata e dá mote ao livro, como também pelas experiências pessoais dos autores, o crescimento e as dúvidas de cada um, além de passar sabiamente pelo começo do processo de abertura política do país, fruto de uma ditadura que deixou corpos e anos tenebrosos no meio do caminho. “Meninos em Fúria” pode ser entendido como um valioso instrumento histórico, retrato parcial de um tempo que hoje já parece distante (mas não é), contudo pode ser entendido também como um romance juvenil e de descoberta envolto em música, namores, sexo, drogas, álcool e muito inconformismo, sendo que por onde quer que se entenda funciona muito bem.

Nota: 8,0