domingo, 15 de janeiro de 2017

Quadrinhos: "Bear - Volume 3" e "Sopa de Lágrimas"


Uma menininha de uns seis anos mais ou menos se perde dos pais e com sorte encontra alguém mais velho e pede ajuda para encontrá-los novamente. A bronca é que esse alguém é um urso meio rabugento que ela tem a estupenda ideia de despertar em uma caverna e que surpreendentemente comovido assume a incumbência. Essa é trama básica de “Bear” da quadrinhista curitibana Bianca Pinheiro, que publicada originalmente como uma webcomic ganhou versão impressa pela editora Nemo e já está no terceiro volume lançado no ano passado. “Bear – Volume 3” dá continuidade a jornada dos dois e dessa vez muda o local da aventura para dentro da água. Com 88 páginas e o mesmo formato dos anteriores (20x32cm), personagens já conhecidos retornam enquanto a dupla vai produzindo o bem enquanto tenta achar os pais de Raven. Bianca Pinheiro é dotada de um senso extremo de sensibilidade que espalha pelas páginas do álbum e que também podemos ver em outro lançamento seu chamado “Dora” e na Graphic MSP “Mônica: Força”. A fantasia infanto-juvenil que ela elabora nesta obra consegue ir além do público esperado e agrada com seus traços limpos e cores bem usadas. Além disso, brinda o leitor com diversas referências aqui e ali, umas bem óbvias e outras nem tanto que gera uma repentina satisfação ao se perceber, como também expande as formas de linguagem inserindo até a si mesmo como uma espécie de “oráculo”. Leve, descompromissada e divertida, mas sem ser boba demais, “Bear” mostra uma autora com completo domínio da história que conta e é leitura certeira para seu filho, sobrinho ou afilhado, que irão se encantar com as peripécias de Raven e Dimas.

Só uma dica: antes de passar a eles dê uma lida também. Não te arrependerás.

Nota: 7,0

Site de “Bear”: http://bear-pt.tumblr.com 


Pegue a literatura de Gabriel Garcia Márquez, José J. Veiga e Manuel Scorza e adicione obras de cunho juvenil daquelas que trazem humor, pirraças e descobertas. No meio coloque uma farta dose de sensualidade latina, sem muito pudor ou reserva disso para no final completar com acentuadas pitadas de escárnio e crítica social. O resultado de tudo é “Sopa de Lágrimas” (Heartbreak Soup, no original) do quadrinhista Gilbert Hernandez, mais conhecido por seu trabalho na necessária “Love And Rockets” feita junto com os irmãos. A editora Veneta resolveu relançar em 2016 a história no Brasil e o primeiro volume (outros dois estão previstos) tem 288 páginas, tradução de Marina Della Valle e cobre o período de publicação de 1983 a 1986. A obra que já recebeu elogios de nomes do porte de Robert Crumb, Howard Chaykin e Neil Gaiman se situa na fictícia Palomar, uma pequena (mas nada pacata) cidade situada em algum país da América do Sul. Para criar tão fielmente a ambientação e seus personagens o autor se valeu também das histórias que ouvia em casa de avós e tias que moraram no México antes de partirem para os EUA, sendo que boa parte desses causos foi repassado ao papel. Em preto e branco, com desenhos privilegiando formas e rostos e capítulos que vão e voltam no tempo sem ordem determinada, Gilbert Hernandez criou em “Sopa de Lágrimas” uma obra poderosa, visceral e divertida ao mesmo tempo. Com destaque para mulheres de personalidade forte como a fantástica Luba e a musculosa Chelo, o autor insere diversos outros personagens que pouco a pouco ganham a simpatia do leitor como Pipo, Carmem e o memorável Tip e sua relação nada fácil com amores não correspondidos. “Sopa de Lágrimas” é o tipo de obra altamente recomendável, o tipo de obra que faz dos quadrinhos uma arte mais rica e exuberante.

Nota: 9,5



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