sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Quadrinhos: "Ghetto Brother, Uma Lenda do Bronx" e "O Legado de Júpiter"


O condado do Bronx no final dos anos 60 e início dos anos 70 não era uma das paisagens mais exuberantes da cidade de Nova York. A violência e a pobreza marcavam o terreno prejudicado por uma série de medidas do governo que levaram a desindustrialização da área e a falta de investimentos externos, culminando assim em desemprego e tudo que isso traz. Para os jovens que lá viviam com suas famílias oriundas de diversas partes da cidade devido ao custo de moradia era praticamente impossível não ingressar em uma das dezenas de gangues que demarcavam os territórios com ferocidade. Em 8 de dezembro de 1971 a cidade estava pronta para uma guerra que o poder público pouco se importava. Mais de 100 líderes se reuniram devido ao brutal assassinato de um integrante dos Ghetto Brothers. Foi quando o líder dessa gangue tomou a palavra e em vez de pregar a violência, pediu a paz aos demais. Um gesto que ao ser acolhido plantou pequenas sementes que por mais que fossem novamente desvirtuadas lá na frente, foram fundamentais para a época. “Ghetto Brother, Uma Lenda do Bronx” conta essa história focada em Benjy Melendez, o imigrante porto-riquenho responsável pelo gesto citado. A graphic novel saiu esse ano pela editora Veneta e traz 128 páginas com extras que explicam mais aquilo que os autores alemães Julian Voloj e Claudia Ahlering se dispuseram a contar. Originalmente publicada em 2015, a obra é um retrato de um período conturbado que traça paralelos com diversas outras situações. A arte em preto e branco é rabiscada e escura expondo bem os momentos que apresentam e apesar da empatia talvez demasiada dos autores pelo personagem principal, é importante para marcar não só questões profundas como a paz, como serve de atestado do início da cultura hip-hop (o grande Afrika Bambaataa é integrante de uma das gangues) que germinaria em um movimento que hoje movimenta milhões e milhões de dólares pelo mundo.

P.S: Os Ghetto Brothers também fizeram (boa) música. Procure o álbum “Power Fuerza” de 1972 e confira.

Nota: 7,0



Uma pergunta recorrente para quem lê quadrinhos com pessoas com superpoderes, alienígenas invulneráveis ou magos quase invencíveis é como seria um mundo governado por eles, um mundo em que eles tomassem para si o poder na base da força e medo. Essa questão desde sempre é explorada, DC e Marvel, por exemplo, a usam em futuros distópicos ou realidades paralelas. Fora das duas gigantes muito já se leu nesse sentido também, com um mundo não só governado por indivíduos imbatíveis como com estes como bala de canhão do governo. Difícil imaginar então que se extraia algo de novo e bom ainda dessas diretrizes, algo que ainda não tenha sido explorado. Mas, Mark Millar (“Kick-Ass” e “Superior”) e Frank Quitely (“Grandes Astros: Superman”) conseguiram. Em “O Legado de Júpiter” os dois autores usam essa normativa para construir uma história que se à primeira vista não apresenta nada de realmente novo reúne tantas e tantas referências que validadas pelas talentosas mentes e mãos da dupla criam uma trama empolgante e cheia de boas ideias. Inserida no universo criado por Millar (o Millarworld), “O Legado de Júpiter” é publicada aqui esse ano pela Panini Books em um encadernado de capa dura com 140 páginas juntando as edições originais de 1 a 5 lançadas entre 2013 e 2015. Millar apresenta um mundo (abrilhantado pela arte sempre magistral de Quitely) que envolve não só aventura e super-heroísmo, mas também questões como família, herança, futuro, responsabilidade, economia e política envoltas com traições, drogas, redenções e golpes drásticos. Com início remetendo a dura crise dos EUA no final dos anos 20 e decorrer dos anos 30, pula para os dias atuais onde o autor aproveita e critica não só o comportamento da sociedade e sua postura, como também quanto pode custar a ambição em detrimento de tudo mais. Ao final da leitura do volume fica aquela ansiedade e vontade de ver logo o que vem pela frente, coisa bem rara de se conseguir.

Nota: 9,0



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