quinta-feira, 28 de julho de 2016

"O Gigante Enterrado" - Kazuo Ishiguro


Kazuo Ishiguro nasceu em Nagasaka no Japão no ano de 1954, ainda com a segunda guerra mundial recente e exercendo extremo impacto na região. Mudou-se para a Inglaterra aos 5 anos onde depois virou escritor e abocanhou prêmios importantes como o Booker Price em 1989. Entre seus livros mais conhecidos estão “Os Vestígios do Dia”, “Noturnos” e “Não Me Abandone Jamais”. A obra mais recente é do ano passado, se chama “O Gigante Enterrado” (The Buried Giant, no original) e recebeu edição nacional também em 2015 pela Companhia das Letras.

Com 400 páginas, tradução de Sonia Moreira e um belo projeto gráfico a obra é o primeiro trabalho elaborado nos últimos dez anos e apresenta o autor se aventurando com coragem e ambição para caminhos novos na sua literatura. Alguns temas recorrentes marcam presença em “O Gigante Enterrado” como a relação de medo e receio dos personagens com o passado, o amor vinculado como importante moeda e a relação de cada um com a própria memória. Contudo, isso é embebido de muita fantasia e recursos fantásticos.

Situado na Inglaterra, provavelmente entre os séculos V e VI, anos após a época arturiana e os confrontos entre bretões e saxões, o livro apresenta Axl e Beatrice, um casal de velhinhos que mora em uma aldeia como tantas outras, mas que nos últimos tempos tem sofrido nas mãos dos próprios vizinhos e das regras da comunidade. Isso só alimenta mais a vontade que o casal possui de sair da aldeia em busca do lar do filho que não veem há muito tempo. E é isso que ocorre.

Só que nem tudo é simples e fácil, uma vez que uma estranha névoa permeia os céus e faz com que os habitantes não consigam lembrar do passado e esqueçam rapidamente até coisas feitas horas antes. Adentrar o percurso correto então vira uma intrincada tarefa que durante o desenrolar faz com que o casal se depare com criaturas lendárias, assim como outras pessoas que acabam sendo inseridas na jornada como um jovem e um hábil guerreiro, além do sobrevivente cavaleiro da Távola Redonda, Sir Gaiwan.

Depois de paquerar um pouco com a ficção científica em “Não Me Abandone Jamais”, Ishiguro agora assume um namoro com a fantasia e a usa como escape para fazer delicadas e sutis analogias e metáforas sobre memória, amor e morte. No bojo da trama temos um dragão e alguns ogros, fadas, duendes e magos, porém a correlação com obras famosas que exploram as mesmas coisas como as de Tolkien e George R. R. Martin fica somente na ambientação, já que os temas explorados e o tom da narrativa são inteiramente distintos.

“O Gigante Enterrado” além de um livro enternecedor e extraordinário, talvez o melhor da carreira do autor até aqui, é um trabalho construído com audácia e ousadia por Kazuo Ishiguro, que sai bastante da seara que está acostumado a trabalhar. Como seria bom se isso ocorresse com mais escritores por aí, que abdicassem do conforto e buscassem novos rumos, novas ideias, novas sensações. “O Gigante Enterrado” é o tipo de livro que merece ficar com destaque na sua biblioteca, nada é mais justo que isso.

Nota: 9,5

Facebook do autor: http://www.facebook.com/KazuoIshiguro 

A Companhia das Letras disponibilizou um trecho para leitura, aqui.

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