sexta-feira, 13 de março de 2015

Literatura: Coleção "A Torre Negra"

"Já escrevi romances e contos suficientes para encher um sistema solar da imaginação, mas a história de Roland é meu Júpiter, um planeta que faz de anão todos os outros...” (Stephen King sobre “A Torre Negra”)

Stephen King ainda era um jovem universitário nos anos 70 quando começou a rabiscar a ideia inicial de uma saga inspirada no universo criado por J.R.R Tolkien em “O Senhor dos Anéis”, muito antes do diretor Peter Jackson levar a história para o cinema e auferir uma atenção muito maior em torno dela. O hoje premiadíssimo escritor estadunidense usou também como base primária um poema épico do século XIX, de Robert Browning, chamado "Childe Roland to The Dark Tower Came" para compor a série que hoje já foi traduzida para mais de 40 países e vendeu milhões de livros.

A primeira parte dessa epopeia se chama “O Pistoleiro” e inicialmente foi publicada em capítulos dentro de revistas no final dos anos 70, conhecendo sua versão como romance completo apenas em 1982. Em 2004, Stephen King publicou o último dos sete livros originais (chamado “A Torre Negra”), porém é bom salientar que posteriormente em 2012 lançou mais outro (“O Vento na Fechadura”) inserindo ele no meio da trama original, um livro que não chega a agregar quase nada, sendo apenas um pouco de mais do mesmo, nesse caso em específico.

Foram escritas mais de 4.000 páginas para cobrir toda a história de Roland de Gilead, um pistoleiro (o último) condenado a vagar por um mundo devastado em busca de salvação e de achar a torre negra que dá título ao trabalho. Além da claríssima influência já citada dos livros de Tolkien, “A Torre Negra” tem toques do faroeste de Sérgio Leone, da ficção científica de Stanley Kubrick e da literatura de Mario Puzo e Robert Jordan, além de inúmeros enxertos de cultura pop como, por exemplo, o livro “Ardil 22” de Joseph Heller e canções como “Velcro Fly” do ZZ Top e “Paint It Black” do Rolling Stones.

O começo dessa aventura de obstinação, desespero, morte, esperança, terror, suspense, medo e aprendizado começa na perseguição do protagonista a uma enigmática figura em que o tempo se contorce, se quebra e se mistura sem lógica aparente, até formar seu ka-tet (um grupo), concebido através do futuro visto no tarô. Esse grupo tem coadjuvantes fundamentais como Eddie Dean, um viciado em heroína que vive nos anos 80, Odetta, uma paraplégica ativista dos direitos civis e raciais dos anos 60, e o garoto Jake, que precisa ser resgatado de outro mundo depois de morrer por lá.

O início não é fácil e demora a deslanchar, o que só acontece no final do segundo livro e segue sempre respondendo a algumas perguntas e levantando outras, como a razão pela qual o mundo de Roland “seguiu adiante”. Um dos pontos altos é a ambientação dos lugares, que deixa para o leitor um compêndio narrativo capaz de possibilitar a visualização destes locais, principalmente cidades como River Crossing, Lud e Calla Bryn Sturgis. Em determinado momento é inserida outra história do personagem principal, referente ao passado, e isso constrói um adendo interessante pois a trama principal é colocada basicamente de lado, e sobrevive.

Depois de percorrer os sete volumes, conclui-se que “A Torre Negra” não é o tipo de obra que chega ao ápice no final, esse ápice aparece durante a trama, nos livros intermediários. A parte realmente interessante que desafia o leitor está entre os livros 2 (“A Escolha dos Três”) e 6 (“A Canção de Susannah”). O final da saga além de um pouco confuso, exibe leve exercício de ego do escritor (que já havia se inserido dentro da própria trama), para depois amarrar a maioria das pontas soltas no decorrer do caminho e convencer o leitor que o acompanhou por todo o caminho.

“O mais longo romance popular de todos os tempos”, como o autor o intitulou, apresenta muitas qualidades (apesar dos excessos) e tenta se transpor para o cinema e a tevê - sem sucesso infelizmente por enquanto - mesmo sendo encabeçado pelo conceituado diretor e produtor Ron Howard e tendo nomes de peso cogitados para os papéis como Javier Bardem, Russell Crowe e Aaron Paul. Nos quadrinhos já foi feita essa transposição de modo eficiente, sucinto e eficaz, dentro daquilo que poderia se esperar para a trilogia cinematográfica desejada, a fim de que o ambíguo, obcecado e carismático Roland de Gilead alcance um número maior de pessoas com a sua incansável perseguição.

P.S: A Editora Objetiva publicou os sete livros da coleção original aqui no Brasil entre 2005 e 2007, assim como o posterior “Vento na Fechadura” em 2013.

Nota (coleção dos sete livros originais):  8,5


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