sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Livros: “Tó Teixeira - O Poeta do Violão” e “Bêbado Gonzo e Outras Histórias”

O paraense Salomão Habib é exímio músico, domina como poucos a arte de tocar violão e além disso é compositor, pesquisador e professor. Por mais de duas décadas se debruça sobre a obra de Antônio Teixeira do Nascimento Filho, o Tó Teixeira, que nasceu em 13 de junho de 1893 e faleceu em 29 de outubro de 1982 aos 89 anos. Tó Teixeira é um importante nome da cultura paraense, sendo inclusive dele o nome da Lei de Incentivo à Cultura de Belém. Salomão Habib é fã confesso desse músico e compositor de vários estilos que principalmente na primeira metade do século passado encantava a cidade com seu dedilhar. Essa admiração originou o livro “Tó Teixeira – O Poeta do Violão” publicado pela Editora Violões da Amazônia em 2013 com 270 páginas, parte de um projeto maior que inclui também cds, dvd e um álbum de partituras. É inegável a relevância do resgate feito nesse livro de um artista apaixonado por música e de boa índole, em uma cidade ainda romântica mesmo que enclausurada dentro das relações sociais da época, que não davam margem para muito sucesso sem a subserviência aos poderosos. “Tó Teixeira – O Poeta do Violão” é um livro relevante por esse fator, porém peca bastante na forma em que o autor usa para explanar os fatos, principalmente quando emite opiniões próprias que exalam não somente uma saudade desmesurada (de um tempo que não viveu) como também certo grau de conservadorismo em relação as possibilidades da música nos últimos tempos. Isso, em conjunto com uma revisão desleixada em alguns momentos chega a incomodar, no entanto, não tira a importância da obra.

Nota: 6,0

Em 2012 o jornalista paraense Anderson Araújo iniciou um projeto de crowdfunding com o intuito de publicar o seu primeiro livro. O objetivo foi alcançado e em 2013 “Bêbado Gonzo e Outras Histórias” foi lançado de maneira independente com 24 contos e crônicas espalhados em 194 páginas. O nome foi retirado de um blog que o autor mantinha e combina relativamente bem com o teor dos temas escolhidos para os textos que misturam fatos verídicos com pura ficção e que fabricam uma mistura de malandragem, sexo, solidão, azar e cotidiano. Não obstante, os personagens desenvolvidos por Anderson Araújo estão meio cansados da vida ou então se deparam com um obstáculo estranho para ser ultrapassado, porém, esses personagens são sempre envolvidos com uma boa carga de humor e sarcasmo, mesmo que a tristeza fique guardada ali em algum canto na espreita. Como os contistas de boa estirpe, o autor apresenta ótima desenvoltura, por exemplo, em “O Choro da Pata”, “A Bala Perdida de Carlos Enoque”, “Fim de Festa” e principalmente no afiado “22o. Andar”. Ainda que o regionalismo seja utilizado em demasia e prejudique um pouco a visão geral da obra, “Bêbado Gonzo e Outras Histórias” é uma boa estreia que mostra que a literatura do estado continua viva e se defendendo mesmo sem o apoio das grandes editoras.

Nota: 7,0

Twitter do autor: http://twitter.com/andersonjor

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Documentários: "Good Ol’ Freda" e "Supermensch: The Legend Of Shep Gordon"

O baú dos Beatles parece ser inesgotável. Dentro dele já saíram centenas de produtos relacionados a banda mais famosa do mundo e sempre que parece que todas as histórias já haviam sido contadas surge uma nova, ou então, pelo menos um ponto de vista diferente. É assim com “Good Ol’ Freda” (2013) documentário dirigido por Ryan White que narra a história de Freda Kelly, hoje uma senhora com filha e neto, que durante 11 anos foi secretária tanto dos quatro garotos de Liverpool, quanto de Brian Epstein, o empresário do grupo. Freda começou a assistir aos Beatles ainda no início, no tempo das apresentações no Cavern Club e logo virou admiradora, entrando para o fã-clube oficial que comandaria pelos anos seguintes. O documentário é leve, quase pueril, e dele não saem grandes revelações ou notícias relevantes, é apenas o ponto de vista de quem conviveu bastante com o quarteto e com as famílias, respondendo cartas, pegando autógrafos e realizando serviços administrativos diversos com lealdade e discrição. Querida por todos os integrantes, Freda passou anos sem contar seus casos e nunca se aproveitou da fama para ganhar mais uns trocados ou algo do tipo, afinal para ela já bastou estar aos 17 anos onde a grande maioria das garotas do mundo queria estar nos anos 60. Por conta desse tom tranquilo e sem alardes, “Good Ol’ Freda” não acrescenta quase nada a trajetória dos Beatles e é indicado somente para fãs.

O documentário está disponível no Netflix.

Nota: 5,0

Shep Gordon iniciou a carreira de empresário meio por acaso depois de levar um soco em um motel de Hollywood logo na chegada a cidade. O primeiro cliente foi o desconhecido Alice Cooper que teve toda a carreira moldada pelo empresário tendo como ápice discos como “School’s Out” de 1972 e “Billion Dollar Babies” de 1973. Gordon não sabia muito bem o que estava fazendo mas foi decisivo para esse sucesso na promoção de atos feitos para chocar e principalmente na teatralidade do espetáculo em si. “Supermensch: The Legend Of Shep Gordon” (2013) é um documentário que trata da vida desse judeu afeito a mulheres, farras, mas honesto e bom de coração. Dirigido pelo ator Mike Myers e por Beth Aala, o filme diverte com histórias bizarras e quase impossíveis, além de expor as armações feitas para alcançar o sucesso como no caso de um show da cantora folk canadense Anne Murray no lendário Troubadour. Passa ainda rapidamente pela vida pessoal, pela incursão no cinema e pela invenção do chef de cozinha como uma celebridade, mas foca mais na parte interessante que é dentro do meio musical. Em quase uma hora e meia conta com depoimentos de Steven Tyler, Sammy Hagar, Sylvester Stallone, Willie Nelson e Michael Douglas, entre outros. “Supermensch: The Legend Of Shep Gordon” é uma divertida homenagem de Mike Myers para uma figura bem especial (e que entre outras coisas namorou com a Sharon Stone, o que por si só já vale uma vida).

O documentário está disponível no Netflix.

Nota: 7,5

Assista abaixo a dois vídeos relacionados (em inglês):


domingo, 22 de fevereiro de 2015

“À Noite Andamos em Círculos” - Daniel Alarcón

Em algum momento da vida a sensação de estar perdido, sem saber muito bem o que fazer e nem para onde ir anda do lado de cada um, ainda mais na juventude quando as ambições não passam de quimeras quase impossíveis. É com essa sensação que encontramos Nelson, o personagem principal do livro “À Noite Andamos em Círculos” de Daniel Alarcón, com a vida carecendo de sentido para existir já que o horizonte não é dos mais brilhantes diante das circunstâncias em que se encontra.

Lançado nos EUA em 2013 com o título “At Nigth We Walk In Circles”, a obra ganhou lançamento nacional pela Editora Objetiva no ano passado com 320 páginas e tradução de Rafael Mantavani. Esse é o segundo romance de Daniel Alarcón, um peruano de nascença que desde cedo mora em terras norte-americanas, sendo que o primeiro (“Rádio Cidade Perdida”) foi publicado aqui no Brasil pela Editora Rocco. O autor, que já foi citado em algumas listas importantes como uma das promessas da literatura, veio aqui para a FLIP do ano passado no Rio de Janeiro.

“À Noite Andamos em Círculos” é ambientando em um país andino que em nenhum momento tem o nome citado, mas que poderia muito bem ser o próprio Peru, ou a Colômbia, ou a Bolívia, já que a caracterização geral se adequa em qualquer um deles. O livro é narrado por um jornalista que não se sabe muito bem como se envolveu com a história, mas que como testemunha ocular em alguns pontos e participativa em outros vai montando pequenas peças no decorrer das páginas, juntando uma aqui e a outra ali, edificando pouco a pouco o que ambiciona descrever.

O personagem principal é o já citado Nelson, um jovem ator e pretenso dramaturgo que não vê futuro pela frente. Vive com a mãe, o pai morreu, o irmão mora nos EUA e quebrou a promessa de lhe levar para lá e o relacionamento com a namorada anda aos trancos e barrancos. É quando surge uma oportunidade para se juntar ao grupo de teatro Diciembre, famoso nos anos 80, mas que sucumbiu junto a ditadura militar imposta no país, que nesse momento está fora de uma guerra civil tem pouco tempo.

Ao conseguir se juntar ao Diciembre, que nesse momento é formado somente por Henry Nuñez e Patalarga, Nelson acha um sentido para a sua vida, já que a programação da reunião de aniversário se configura em uma turnê pelo interior, passando por vilas, vilarejos, aldeias e pequenas cidades levando teatro a todo o povo com a remontagem da peça “O Presidente Idiota”, de texto controverso, satírico e crítico, que inclusive levou Henry a ser preso no regime militar e sucumbir por um bom tempo em uma prisão detonada em um lugar qualquer do país.

Essa intrépida viagem rumo ao desconhecido, por assim dizer, reacende velhas chagas, antigas dores e proclama sentimentos no peito de cada um, inserindo novos temas que na condução da história avisam a um desfecho desfavorável para todos os envolvidos. É nessa colagem de fatos para chegar ao final anunciado (mas que o leitor não tem ideia bem do que seja) que reside todo o brilho de “À Noite Andamos em Círculos”, com uma força narrativa intensa e grande habilidade na construção dos cenários e na composição detalhada de cada personagem.

Para elaborar a obra, Daniel Alarcón visitou presídios antigos em Lima, no Peru, e se inspirou na peça “El Mandatario Idiota” do dramaturgo Walter Ventosilla, como também na história real da trupe de teatro Setiembre e as histórias mil dos seus integrantes. Utilizando isso junto com uma imaginação fluente fez um livro de rara maestria utilizando recursos complexos em certos aspectos, sem deixar em nenhum momento de atrair o leitor para dentro da história, mesmo com os rumos que a trama toma no início e, gera assim, grande expectativa para seus trabalhos futuros.

Nota: 9,0

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Quadrinhos: “Sandman: O Teatro do Mistério – O Tarântula” e “Fashion Beast – A Fera da Moda”

 
 Quando no final dos anos 80 o britânico Neil Gaiman começou a formular o seu Sandman, pouca gente sabia que o título (embora o conceito fosse completamente diferente), já havia feito sucesso na Era de Ouro dos quadrinhos. Surgido em 1941, o Sandman original era um vigilante que lutava contra crimes diversos, em histórias de clima noir e com essência pulp. Esse Sandman não sobreviveu ao final da segunda guerra mundial e sofreu cancelamento, mas foi revisitado a partir de 1993 por Matt Wagner e Guy Davis e durou até 1999, com um bom nível de qualidade (a série chegou a ser publicada aqui no país pela Editora Abril em 1995, mas não foi até o fim). Ano passado a Panini Comics resolveu disponibilizar novamente esse material e colocou o primeiro arco em um encadernado de 116 páginas chamado “Sandman: O Teatro do Mistério – O Tarântula”, reunindo as quatro primeiras edições. Essa reinvenção mostra Wesley Doods em 1938 tentando desvendar casos de mulheres sequestradas e assassinadas por um homem misterioso. Longe de ter super-poderes, o personagem principal usa somente uma arma com gás sonífero e a inteligência para sobrepor os obstáculos. Com um roteiro sem furos e uma arte bastante peculiar de Guy Davis, esse momento do antigo herói é um saboroso prato para quem gosta de histórias com ambientação noir, suspense, uma pitada de terror psicológico e aventuras policiais, mostrando assim que a passagem dos autores pelo título não foi em vão.

Nota: 7,5

Imaginem Alan Moore (“Watchmen”) e Malcolm McLaren (a mente por trás dos Sex Pistols e de um bocado de outras coisas) trabalhando juntos na montagem de um filme? Seria no mínimo algo interessante de se ver, não é verdade? Pois é, isso aconteceu há um bocado de tempo, mais infelizmente não saiu do papel e foi esquecido. Até que William Christensen da editora Avatar encontrou uma cópia do manuscrito e com a aprovação da dupla transformou isso em uma história em quadrinhos com a adaptação do roteiro pelas mãos de Antony Johnston (“Wasteland”) e a arte com Facundo Percio (“Anna Mercury”). Publicada originalmente em dez capítulos de agosto de 2012 a maio de 2013, “Fashion Beast – A Fera da Moda” foi lançada aqui pela Panini Comics no ano passado em edição única com 276 páginas (que bem poderia ter capa dura). Utilizando como base o clássico “A Bela e A Fera” e o tumultuado e conflituoso mundo da moda, a graphic novel expande a abrangência e trata do egoísmo humano, da superficialidade das relações e da ambição exagerada em um mundo patético e a beira do caos de maneira estupenda, com críticas ferozes e diálogos bem alinhados. A arte de Facundo Percio é fantástica tanto na ambientação sombria quanto nos figurinos criados para os personagens. É uma pena que “Fashion Beast” não tenha conseguido virar filme, pois tem muito potencial e causaria um estrago danado nas mãos de diretores como Tim Burton e Jean-Pierre Jeunet, ou até mesmo de Wes Anderson.

Nota: 9,0


domingo, 8 de fevereiro de 2015

Quadrinhos: "Vingança" e "Justiceiro MAX: Mercenário"

“Vingança” (Vengeance, no original) foi publicada nos EUA entre setembro de 2011 e fevereiro de 2012 em seis edições, sendo que aqui a Panini Comics lançou esse material no ano passado com 140 páginas em um encadernado de capa dura. A minissérie nasceu de forma peculiar, pois a Marvel tinha seis capas produzidas primorosamente pelo artista Gabrielle Dell’Otto usando os vilões Magneto, Mercenário, Doutor Octopus, Loki, Caveira Vermelha e Doutor Destino, mas não sabia o que fazer com elas. Joey Casey (Vingadores) foi chamado para montar uma trama a partir dessas capas e para cuidar da arte convidou o habilidoso Nick Dragotta (Fundação Futuro). O roteiro usa o conceito de uma recente Brigada Juvenil (criada nos anos 60) que se depara contra uma também jovem versão dos Mestres do Terror, com a inclusão de novos personagens no caminho e a inserção de veteranos como a Mulher-Hulk e o Falcão Noturno. Ambientada dentro do contexto geral do Universo Marvel da época a narrativa usa a aventura com um humor meio cínico, explorando um teor consideravelmente mais adulto para o que se está acostumado a ver (a classificação, por exemplo, é para 16 anos) e acaba divertindo sem maiores ambições, pois mesmo que tenha um argumento até mediano para ser usado, o desenvolvimento deste acaba sendo confuso e a edição serve mais pelas cenas de ação do que pela história propriamente dita.

Nota: 6,0

A Marvel tem uma linha editorial chamada MAX, onde o conteúdo é liberado para incursões de quase toda estirpe, inclusive explícitas. Frank Castle, mais conhecido como Justiceiro, é um dos personagens mais importantes desse espaço e a Panini Comics colocou no mercado no início de 2015 mais um encadernado de capa dura estrelado por ele. “Justiceiro MAX: Mercenário” reúne as edições de “Punisher Max” de 6 a 11 lançadas originalmente entre junho de 2010 e maio de 2011 lá fora e vem suceder o álbum anterior que trazia os cinco primeiros exemplares e mostrava a ascensão do Rei do Crime ao poder. Ainda parte integrante da excelente fase comandada pela dupla Jason Aaron (Wolverine) e Steve Dillon (da magistral “Preacher”), esse novo arco de histórias supera o começo da jornada e insere o Mercenário no caminho do Justiceiro, com o Rei do Crime como coadjuvante. O Mercenário aparece aqui mais insano do que nunca visto antes, usando e abusando da violência gratuita e desnecessária a fim de entender o Justiceiro, enquanto o persegue e desmorona toda a sua rede de segurança colocando inclusive a polícia em seu encalço. Com um roteiro básico, porém inteligente, aliado a diálogos eficientes, caminhos narrativos interessantes e uma arte extremamente habilidosa, “Justiceiro MAX: Mercenário” se configura em uma ótima pedida para fãs da nona arte.

Nota: 8,5


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Séries - "Gotham" e "Constantine"

No momento em que anunciaram uma série sobre Gotham, a cidade defendida tão ferozmente pelo Batman nos quadrinhos e no cinema, criou-se automaticamente uma expectativa elevada já que a série deveria servir como uma apresentação do futuro Cavaleiro das Trevas, apresentando assim um Bruce Wayne ainda criança (David Mazouz, o garotinho de “Touch”) logo após o assassinato dos pais, como também usar a cidade como protagonista focando em tramas policiais e desenvolvendo nuances criminais tendo o detetive Jim Gordon (Ben McKenzie) como esteio. Antes de assistir aos primeiros episódios a ideia era que tudo giraria em torno de séries dos quadrinhos como “Batman: Ano Um” e “Gotham City Contra o Crime”, porém, mesmo usando alguns elementos dessas fases, a tendência é fugir e criar algo novo, inclusive personagens como a criminosa Fish Mooney (Jada Pinket Smith).

O resultado iniciado ano passado e que até agora já passou da metade da primeira temporada é bem irregular. Agrada o clima soturno utilizado, a temática policial quando assumida em contrapartida com a corrupção da cidade, assim como as atuações de Robin Lord Taylor como Pinguim e Cory Michael Smith como Edward Nygma, o futuro Charada. Por outro lado, a série peca em várias situações como a pressa de mostrar logo ao telespectador a maior quantidade possível de personagens da vida do morcego vigilante, nos diálogos bem humorados e romanceados que não condizem com a ambientação desalentadora e, principalmente, na formatação de alguns personagens como o próprio Jim Gordon. “Gotham”, por enquanto, se apresenta sem muito destaque, apenas como mais um produto dentro do universo do Batman e nada além disso.

Nota: 5,5

Onde assistir? Warner Channel, segundas, às 22:30.


O britânico John Constantine é um dos personagens mais interessantes da DC Comics desde que surgiu na primeira metade dos anos 80 na série de quadrinhos “Hellblazer”. Típico anti-herói, é arrogante, sarcástico, cínico, repleto de piadas de tom duvidoso e aterrorizado por males das mais distintas espécies e origens. Com destaque no mundo da DC dentro do universo da magia, Constantine é quase um mago, mas também pode ser encarado como um vigarista, dependendo de quem o encontre. Em 2005, o astro Keanu Reeves interpretou o personagem em um filme que mesmo não sendo ruim, estava longe do que poderia ser feito, já que desvirtuou bastante dos quadrinhos. Na série produzida pela NBC que estreou no ano passado essa distância entre as mídias se encurta e mesmo apresentando também coisas novas o resultado final é bastante interessante.

O ator galês Matt Ryan faz o protagonista do show e incorpora todos os trejeitos e audácia que se espera, usando o tradicional sobretudo e a camisa branca com gravata. Do seu lado está o fiel parceiro Chas Chandler (Charles Halford) e a bela Zed Martin (Angélica Celaya), que fazem uma espécie de brigada contra um grande mal que está avançando sobre o mundo. Como é passada dentro do mundo da magia e do sobrenatural, a série usa de artifícios como encantos, poções, exorcismos e afins, unindo aventura com terror e humor. “Constantine” tem como primordial vantagem o fato de não se levar muito a sério e nem se focar em agradar a um determinado “possível” público. É uma pena que a NBC ainda esteja pensando se vai renovar ou não para uma nova temporada, pois momentos memoráveis como o episódio “The Devil’s Vinyl” por si só já valem mais do que muita coisa que está por aí na tevê.

Nota: 8,5

Onde assistir? Canal Space, sextas, às 22:30.


Assista a vídeos das séries abaixo:


segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

"Invencível" - 2015

Em 2001, a escritora norte-americana Laura Hillenbrand lançou “Seabiscuit: An American Legend”, livro que se tornou um best-seller e viria a ser a base para o filme “Seabiscuit” (por aqui recebeu o adendo “Alma de Herói”) que levou seis indicações para o Oscar de 2004. Em 2010 ela repetiu a dose com “Unbroken: A World War II Story Of Survival, Resilience, And Redemption”, que também vendeu milhões até agora e virou um novo sucesso editorial. Aqui no Brasil o livro foi publicado em 2012 pela Editora Objetiva e é baseado nele que a atriz Angelina Jolie constrói o segunda longa como diretora.

“Invencível” (“Unbroken”, no original) chegou aos cinemas nacionais agora em 2015 e traz consigo três indicações para o Oscar desse ano em categorias técnicas, a saber: melhor fotografia, melhor edição de som e melhor mixagem de som. Por se tratar de uma história de guerra e de uma superação fantástica que beira o surreal, a diretora porém, esperava mais, já que foi meio esnobada por quase todas as grandes premiações, como o Globo de Ouro. Depois de passar mais de duas horas na poltrona do cinema dá para se ter uma noção dos motivos disso ter ocorrido.

Angelina Jolie estreou como diretora no apenas razoável “Na Terra de Amor e Ódio” de 2011, e pelo tema escolhido para o segundo trabalho dá para se ter uma ideia do tipo de projeto que sempre irá procurar, tendo em vista a sua dedicação em prol de refugiados de guerra e a briga contra o mal provocado por ela. O livro de Laura Hillenbrand é assim uma ótima escolha, devido ao seu sucesso nas livrarias e ao assunto abordado, sendo que para adaptá-lo foram convocados os geniais irmãos Cohen, além dos rodados Richard LaGravenese e William Nicholson.

O enredo é montado em cima de Louis Zamperini, filho de imigrantes italianos que participou das Olimpíadas de Berlim em 1936 (as Olímpiadas de Jesse Owens). Mesmo sem ganhar medalha, ele teve uma elogiada participação e já tinha anseios para a próxima edição dos jogos que viria a acontecer em Tóquio. Entretanto, a Segunda Guerra Mundial eclodiu e além de não participar da competição cancelada, o atleta foi convocado para servir ao exército e tragicamente em uma missão de resgate o avião que estava caiu no mar.

Em um pequeno bote salva-vidas, Zamperini passou simplesmente 47 dias perdido em alto mar junto com outros dois companheiros, brigando contra a sede, a fome, os devaneios, os tubarões e o todo o mal que uma jornada desventurada dessa pode promover. Conseguiu ser resgatado, mas como desgraça pouca é bobagem, caiu nas mãos do exército japonês e desse ponto em diante sofreu torturas e maus tratos nas mãos de um sádico oficial nipônico (uma fraca atuação de Takamasa Ishihara).

Os destaques de “Invencível” ficam por conta da belíssima atuação de Jack O’Connell (da série “Skins”) como o personagem principal e a fotografia brilhante de Roger Deskins (de “Um Sonho de Liberdade”), além de duas cenas realmente memoráveis: o exercício de bravura e resistência de Zamperini carregando uma viga perante o oficial japonês e uma tomada aérea que pega os soldados americanos sujos de carvão dentro de um rio. Mas, tirando isso, nada consegue ir muito além do correto e funcional, isso valendo inclusive para a direção de Angelina Jolie.

Louis Zamperini morreu em 2014 aos 97 anos apesar de tudo que lhe aconteceu na vida, um sobrevivente na melhor acepção que o termo pode ter, e merecia muito ter sua história contada para um público maior. “Invencível” cumpre essa missão, no entanto, como cinema deixa a desejar, ainda mais por ser extremamente parcial, tratando os japoneses como “malvados” e os americanos como “bonzinhos”, quando que em uma guerra ambos os lados são capazes das maiores atrocidades possíveis como a história comprova. Uma coisa que Angelina Jolie deveria estar cansada de saber, assim poderia se supor.

Nota: 6,0

Assista a um trailer legendado: