quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Top Top - Os Melhores de 2012


Salve, salve minha gente amiga...

2012 foi embora. Chegou ao fim exatamente um mês atrás e como de costume publicamos nossa listinha de melhores discos e músicas nesse dia. O nosso tradicional “Top Top” parte para o 7º ano seguido, sempre com o objetivo de dar um panorama geral (na nossa opinião, evidentemente) do que aconteceu no ano que se encerrou.

Sem mais delongas, eis a nossa listinha:

TOP 25 – DISCO NACIONAL

1 – E Você Se Sente Numa Cela Escura, Planejando a Sua Fuga, Cavando o Chão com as Próprias Unhas – Jair Naves
2 – Claridão – SILVA
3 – Sintoniza Lá – B Negão & Os Seletores de Frequência
4 – Tatá Aeroplano – Tatá Aeroplano
5 – Caravana Sereia Bloom – Céu
6 - Aleluia – Cascadura
7 – As Crônicas do Bandido – Elder Effe
8 – Tudo Tanto – Tulipa Ruiz
9 – Eles São Assim. E Assim Por Diante – Bidê ou Balde
10 – Molho Negro – Molho Negro
11 – A Mágica Deriva dos Elefantes - Supercordas
12 – História Universal do Esquecimento - Lestics
13 – No Dust Stuck On You – Black Drawing Chalks
14 – A Vida Secreta das Referências – Giancarlo Ruffato
15 – Nobody Can Live Forever The Existential Soul of Tim Maia – Tim Maia
16 – Arrocha - Curumin
17 – A Trip To Forget Someone – A Trip To Forget Someone
18 – Enfim Terra Firme – André Mendes
19 – Fábula – Cris Braun
20 – Tropicália Lixo Lógico – Tom Zé
21 – Próxima Estação - Volver
22 – A Máquina de Retratos - Novanguarda
23 – Inspire – Sonic Junior
24 – Todo Futuro É Fabuloso – Bazar Pamplona
25 – Violins – Violins

TOP 25 – MÚSICA NACIONAL

1 – Par de Tapas que Doeu em Mim - Tatá Aeroplano
2 – Enquanto a Noite Puder Fingir um Sorriso - Giancarlo Ruffato
3 – Aparelhagem de Apartamento - Molho Negro
4 – Carmem, Todos Falam Por Você? - Jair Naves
5 – Essa é Pra Tocar no Baile - B Negão & Os Seletores de Frequência
6 – Fator X – Elder Effe
7 – Me Deixa Desafinar – Bidê ou Balde
8 – Mamãe no Face – Zeca Baleiro
9 – Tão Sós – André Mendes
10 – O Rei do Olhar - Cascadura
11 – Passarinho - Curumin
12 – Chegar em Mim – Céu
13 - Inflamável – Sonic Junior
14 – London – A Trip To Forget Someone
15 – Dois Cafés – Tulipa Ruiz
16 – O Céu Sobre as Cabeças - Supercordas
17 – Dedo de Zombie – Macaco Bong
18 – 2012 - SILVA
19 – Pronto Para Morrer (O Poder De Uma Mentira Dita Mil Vezes) – Jair Naves
20 – Se Ela Não é Lésbica, Tem Namorado – Molho Negro
21 – Meu Jeans – Lê Almeida
22 – Capítulo IV – La Orquestra Invisível
23 – Tanto Faz Para o Amor – Cris Braun
24 – Ela Falava - Otto
25 – Radio Cabeça – Los Bife

TOP 25 – DISCO INTERNACIONAL

1 – New Multitudes – Jay Farrar, Will Johnson, Anders Parker & Yim Yames
2 – Blunderbuss – Jack White
3 – Psychedelic Pill – Neil Young & Crazy Horse
4 – Sweet Heart Sweet Light – Spiritualized
5 – Between The Times And The Tides – Lee Ranaldo 
6 – Wrecking Ball – Bruce Springsteen
7 – Sunken Condos – Donald Fagen
8 – Silver Age – Bob Mould
9 – Sonik Kicks – Paul Weller
10 – Head Down – Rival Sons
11 – Boys & Girls – Alabama Shakes
12 – That’s Why God Made The Radio – The Beach Boys
13 – Big Moon Ritual – Chris Robinson Brotherhood
14 –  King Tuff – King Tuff
15 – Old Ideas – Leonard Cohen
16 – Delta Time – Hans Theessink & Terry Evans
17 – Researching The Blues – Redd Kross
18 – The Seer – Swans
19 – Home Again – Michael Kiwanuka
20 – Electric Cables - Lightships
21 – Channel Orange – Frank Ocean
22 – Blues Funeral – Mark Lanegan Band
23 – The Stars are Indifferent to Astronomy – Nada Surf
24 – Rebirth – Jimmy Cliff
25 – I Bet On Sky – Dinousar Jr.

TOP 25 – MÚSICA INTERNACIONAL

1 – So Long You Pretty Thing - Spiritualized
2 – You Don't Have To Love Me - Blues Traveler
3 – Walk Like a Giant - Neil Young & Crazy Horse
4 – I'll Get Along - Michael Kiwanuka
5 – Sky High - Ben Folds Five
6 – Memorabilia – Donald Fagen
7 – Delta Time – Hans Theessink & Terry Evans
8 – Careless Reckless Love - Jay Farrar, Will Johnson, Anders Parker & Yim Yames
9 – Love Interruption – Jack White
10 – Spring Vacation – The Beach Boys
11 – Hold On – Alabama Shakes
12 – My Valentine – Paul McCartney
13 - Waiting for Something – Nada Surf
14 – Off The Wall – Lee Ranaldo
15 – Tattoo – Van Halen
16 – Amerigo – Patti Smith
17 – Black Betty – Dinousaur Jr.
18 – Hollywood Forever Cemetery Sings – Father John Misty
19 – Bleeding Muddy Waters – Mark Lanegan Band
20 – You Want To – Rival Sons
21 – Briefest Moment – Bob Mould
22 – V.A.L.I.S – Bloc Party
23 – Outsider – Jimmy Cliff
24 – Drifters – Paul Weller
25 – Alone & Stoned – King Tuff

Paz sempre!!

P.S: Para ver como fechou o “Top Top” de 2006 para cá, é só clicar aqui.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

"Banksy - Guerra e Spray" - Banksy

O falecido arquiteto mexicano Luis Barragán Morfin escreveu em determinada ocasião que “a arte é feita pelos anônimos para os anônimos”. Tal afirmativa pode muito bem ser direcionada a obra de Banksy, o artista inglês que ninguém sabe quem é verdadeiramente, mas que a cada dia que passa conquista mais admiradores pelo mundo. Porém, considerando que a arte tem como tradição sempre exigir doses complementares de amor e ódio, a quantidade de hostis também cresce relativamente.

Aqui no Brasil, a produção deste oculto grafiteiro ganhou um livro no ano passado. “Banksy – Guerra e Spray” foi originalmente publicado no Reino Unido em 2005 e depois de ter sido um sucesso de vendas, só agora desembarcou no país. Com lançamento da Editora Intrínseca em formato grande (26x21cm), conta com 240 páginas e tradução de Rogério Durst. Com uma leve introdução e seis capítulos posteriores, são retratadas algumas intervenções feitas até aquela data, aliadas com pequenas histórias.

Durante os anos muito se especulou sobre a verdadeira identidade de Banksy. O tabloide inglês Daily Mail chegou a cravar que ele é Robert Banks, nascido em 1973 na região de Bristol na Inglaterra. Outros especulam que Thierry Guetta, o protagonista do documentário que concorreu ao Oscar de 2011, “Exit Through The Gift Shop” (com Banksy destacado como diretor) seja quem se procura, e outros ainda consideram que o nome seja na realidade um conjunto de artistas de vários países.

No entanto, independente de quem seja, a verdade é que o trabalho de Banksy oferece impacto e colisões constantes. O anonimato causa mais interesse, é lógico, mas isso é apenas mais um adendo sobre o cenário geral e aquilo que mais importa, que é o cutucão que a sociedade como um todo recebe. Utilizando seu spray e praticando estêncil (uma espécie de desenho feito com buracos na superfície), as tintas usadas não isentam ninguém. Governos, religiões, cotidianos, polícia. Todos são alvos.

Um dos trechos do livro diz que “é preciso muita coragem para, numa democracia ocidental, se erguer anonimamente e clamar por coisas em que ninguém mais acredita – como paz, justiça e liberdade.” A assertiva que pode parecer ingênua em um mundo que sucumbe cada vez mais a aceitação de ideias prontas e do lema do “isso não é comigo”, funciona mais do que o esperado, pois incomoda e perturba um pouco a mente de conservadores, reacionários e omissos de quaisquer estirpes.

É fato que o discurso de Banksy extrapola alguns pontos, como em relação a invasão de propriedade privada e as máculas em monumentos históricos, mas mesmo isso não chega a ser exatamente ofensivo. Outras questões como a arte com alcance gratuito, copyright e lucro também são inerentes perante alguns produtos gerados pela marca cada vez maior do artista, no entanto, esses questionamentos acabam por expirar perante o significado das manifestações assinadas pela alcunha.

Tratando o grafite como uma “das mais honestas formas de arte disponíveis”, ele consegue contrapor de modo inteligente a “sujeira” provocada pelas suas pinturas com aquelas que as empresas e governos fazem legalmente e que enchem as ruas de propagandas e coisas do tipo. O ferrão irônico e provocador produz situações como a de policiais se beijando ou a menina Phan Kim Phúc sendo acompanhada pelo Mickey e Ronald McDonald na famosa foto da Guerra do Vietnã tirada no ano de 1972. 


E quando trata de situações em que governo, guerra e política são explorados, é que o livro se abrilhanta mais, porém sem esquecer das injustiças sociais. Em uma das passagens temos:

“A raça humana promove o tipo mais estúpido e injusto de corrida. Muitos dos corredores não calçam um tênis decente nem têm acesso a água potável. Alguns já nascem largando muito na frente, recebem toda a ajuda possível ao longo do trajeto e ainda assim os fiscais de prova parecem estar do lado deles. Não surpreende que muitos desistam de competir, preferindo se sentar na arquibancada, comer porcarias e gritar que foi tudo marmelada. O que a corrida humana precisa é de muito mais nudistas invadindo a pista.”

As criações de Banksy invadiram outros países como Estados Unidos, Israel, Japão e Espanha e entre pegadinhas com transeuntes e críticas repletas de humor negro e ironia, serviram para sacudir um pouco a apatia e a falsa sensação de conforto que se espalha como um vírus no ar. Como ele mesmo afirma que “é sempre mais fácil conseguir perdão do que permissão”, podemos esperar muito mais pela frente, além daquilo que já está retratado nesse ótimo “Guerra e Spray”.

Nota: 9,5

Site oficial: http://www.banksy.co.uk

Assista abaixo (completo e legendado) o documentário “Exit Through The Gift Shop”:


sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

"Homem-máquina" - Max Barry


Em 2009, o escritor australiano Max Barry estava com um indesejado bloqueio criativo. Nada que ele começava a escrever conseguia se desenvolver. Ideias iam para a lixeira, roteiros de filmes não eram lidos e manuscritos entravam em gavetas para nunca mais ver alguma luz. Foi quando resolveu postar pedaços de uma nova história chamada “Homem-máquina” no seu site. A coisa foi fluindo, gerou interesse e recebeu vários pitacos de leitores que foram considerados no decorrer da trama.

A investida deu tão certo que em 2011 “Homem-máquina” ganhou edição física lá fora (com várias diferenças em relação a versão online) e no ano passado a Editora Intrínseca publicou aqui no Brasil. Com 288 páginas e tradução de Fábio Fernandes é o terceiro dos quatro livros do escritor a ser lançado em terras brazucas (os outros são “A Companhia” e “Eu S/a”). Nele, o autor cria um romance que usa a ficção científica como base em paralelo com um bem-humorado thriller de conspiração.

O personagem principal é o Doutor Charles Neumann, um engenheiro que trabalha na conceituada empresa de ciências Futuro Melhor. Na verdade, ele não sabe muito bem o que constrói na empresa e nem onde essas invenções são aplicadas. Mas, isso não o impede de ter uma posição de destaque dentro do laboratório que mais parece uma prisão. Sem qualquer vestígio de vida social, ou seja, sem nenhum amigo, contato com família ou namorada, tem como companheiro o moderno celular.

É esse celular que em uma passagem inicial divertidíssima leva ao acidente de trabalho que lhe custa uma das pernas. Ao invés de olhar para isso como uma tragédia, o Dr. Neumann vê uma grande janela de oportunidades a partir do envolvimento da especialista em próteses Lola Shanks. Fascinado por máquinas e pela ideia de aprimoramento contínuo, ele dá partida a uma busca tresloucada e sem limites pela perfeição, pela ideia de um corpo funcionando com partes melhores e menos frágeis.

É meio óbvio que essa busca vai resultar em um tremendo desastre. Como afirmava o filósofo francês Voltaire, “toda perfeição é um defeito” e isso fica bastante claro para o leitor, mesmo que para o Dr. Neumann isso não seja assim tão visível. Enquanto encaminha seu personagem para um destino praticamente sem retorno, Max Barry faz uma zombaria inteligente sobre o apego exercido nos nossos tempos com a tecnologia, o que gera vícios e neuroses e resulta em pensamentos malucos de poder e necessidade.

Na segunda metade, “Homem-máquina” amplifica essas neuroses e é conduzido por outros caminhos, como a relação entre o personagem principal e os interesses da empresa com um olhar mais focado na área militar governamental para as invenções que vão surgindo. O escritor ítalo-americano Felice Buscaglia dizia que a “ideia da perfeição o assustava”, já para Max Barry a caça por essa perfeição gerou um livro interessantíssimo, que consegue ser crítico e divertido ao mesmo tempo.

Tem uma pequena parte inicial para leitura (em inglês) aqui.

Nota: 8,5

Site oficial do autor: http://maxbarry.com       

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

"Essa Tal de Bossa Nova" - Bruna Fonte e Roberto Menescal


Em 2010 a escritora e fotógrafa Bruna Fonte publicou um livro sobre um dos fundadores da bossa nova intitulado “O Barquinho Vai... Roberto Menescal e suas histórias”. De leitura rápida e prazerosa continha alguns causos de um dos participantes mais importantes do movimento, além de simpáticos depoimentos. A iniciativa gerou em 2012 uma espécie de irmão. “Essa Tal de Bossa Nova” exibe novamente a parceria e se ambienta mais ou menos nos mesmos moldes de antes.

Com 160 páginas e lançamento pela Editora Prumo, o livro serve para comemorar os 50 anos do histórico show da turma da bossa nova no Carnegie Hall em Nova York, assim como os 75 anos de vida de Roberto Menescal. A obra é dividida basicamente em duas partes, onde a primeira conta histórias do nascimento e crescimento da música que tomou conta do mundo, enquanto a segunda traz fatos da época em que o homenageado era diretor artístico da gravadora Polygram.

O livro tem como objetivo ser leve e descontraído, e consegue isso, apesar de às vezes parecer pueril e ingênuo demais, o que acaba atrapalhando um pouco. Têm pequenas seções dentro dos capítulos e vários “top five”, contendo tópicos como “O Rio de Janeiro em cinco músicas” ou “Tom Jobim em cinco duetos”, não se preocupando somente com a bossa nova e expandindo horizontes para gêneros como o tango, por exemplo, além de indicar álbuns para serem escutados.

Uma das coisas mais latentes do livro é que entre notas divertidas e curiosas sobre artistas tão díspares como Raul Seixas e Sidney Magal, fica demonstrado a alienação parcial de uma parte (da qual Menescal é integrante) da bossa nova com fatos alheios ao seu mundo de praia, música, mar, sol e alegria. A mostra mais clara disso fica quando a ditadura tem início no país e as coisas começam radicalmente a mudar e versos como “dia de luz, festa de sol” não tem mais como existir.

“Essa Tal De Bossa Nova” é um livro sem pretensões maiores e acaba funcionando justamente por isso, não devendo ser encarado como uma obra ampla ou essencial. É livro para ler em uma tarde ensolarada. As cores geralmente são as mais risonhas possíveis e coisas pesadas passam longe de ser colocadas no papel. Isso reflete bem a personalidade de Roberto Menescal, um músico e produtor importante da história nacional, que sempre levou a vida com um sorriso no rosto.

P.S: O livro ainda traz textos de nomes como Nelson Motta, Paulo Coelho, Stacey Kent e Ivan Lins.

Nota: 6,5

Site oficial de Roberto Menescal: http://www.robertomenescal.com.br

domingo, 6 de janeiro de 2013

"A Terrível Intimidade de Maxwell Sim" - Jonathan Coe


Enlouquecer. Estourar. Explodir. Dar um tremendo de um chute na própria vida quando ela saiu completamente do eixo. Tem momentos que pensamos seriamente em fazer isso. Ou fazemos mesmo, vá saber. A verdade é que é praticamente impossível passar imune a um momento desses enquanto andamos cheios de preocupações bestas pelo mundo. É o que acontece, por exemplo, com Maxwell Sim, o comportado e normal personagem do mais recente livro do inglês Jonathan Coe a ser publicado por aqui.

“A Terrível Intimidade de Maxwell Sim” foi originalmente lançado em 2010 no Reino Unido, mas só chegou ao Brasil no final de 2012. Tem 416 páginas e conta com tradução de Christian Schwartz. Nele, um dos escritores mais interessantes da atualidade faz um retorno à boa forma de livros anteriores como “O Legado da Família Winshaw” e a dobradinha “Bem-vindo Ao Clube/Círculo Fechado”, mantendo alguns temas já utilizados antes, mas também adicionando novas visões a habitual narrativa crítica e ácida.

O protagonista que dá nome ao livro é um sujeito comum, de inteligência mediana, sem maiores planos para a vida que não seja as coisas do dia a dia. Trabalha em uma loja de departamentos no setor de atendimento ao cliente e vive sem maiores surpresas. No entanto, quando a esposa e a filha adolescente resolvem ir embora para uma vida nova, esse pequeno mundo que ele construiu desmorona completamente, o que causa uma depressão aguda seguida da saída do emprego e uma viagem para reencontrar o pai na Austrália.

Maxwell Sim está com 48 anos, sua mãe já morreu e lhe sobrou apenas o pai, com quem sempre teve uma relação repleta de ausência e medo. Essa viagem para reencontrá-lo é onde o livro realmente tem partida, pois ele vê em um restaurante uma desconhecida jantando com a filha e exibindo uma assustadora intimidade, coisa que na verdade ele nunca teve. Isso provoca um sentimento de se conectar novamente as pessoas, de começar a conversar, de ser mais social, de sair das sombras que o mundo moderno lhe reservou.

Para tanto, depois de alguns fatos inusitados pelo caminho, ele aceita uma proposta de trabalho do único amigo que tem (apesar de no Facebook esses amigos serem 74). Uma proposta que consiste em fazer uma viagem para um dos pontos mais distantes do Reino Unido na Escócia, que servirá como estratégia de marketing para o lançamento de uma revolucionária escova de dente com conotações ambientais.  Nessa viagem (que daria um ótimo road-movie) ele tenta reatar alguns laços, mas acaba por sucumbir a própria história.

Com descobertas sobre seu passado e da sua família cada vez mais avassaladoras, Maxwell Sim se envolve em um casulo solitário, onde os melhores momentos são quando conversa com o GPS do carro. Nesse ponto, Jonathan Coe amarra a história real de Donald Crowhurst junto com a do seu personagem. Crowhurst foi um navegador solitário que no final dos anos 60 se aventurou a dar a volta ao mundo e no fim ajoelhou perante a loucura (mais sobre essa história, passe aqui). Essa junção funciona muito bem e provoca passagens interessantes.

“A Terrível Intimidade de Maxwell Sim” mostra alguns temas já explorados pelo autor, como uma família constituída a base de segredos, mentiras e silêncios, assim como a solidão em sua forma mais dolorosa. O personagem principal tem uma inadequação extraordinária para a vida, e isso é que o transforma em algo mais e dá a possibilidade para que seja forjado um retrato bastante curioso sobre a vida nos dias atuais, onde quando mais parece que estamos perto de tudo e de todos, mas distantes nos colocamos uns dos outros e das relações pessoais.

Nota: 8,5

Site oficial do autor: http://www.jonathancoewriter.com

Textos relacionados no blog:
- Literatura: “A Chuva Antes de Cair” – Jonathan Coe

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

"As Aventuras de Pi" - 2012


O que pode fazer a vida ser realmente fantástica? As experiências que acumulamos durante os anos? A dificuldade dos obstáculos que temos que ultrapassar para seguir em frente? As ousadias a que nos permitimos durante o caminho? Sem dúvida, tudo isso e mais um monte de outras coisas são responsáveis por transformar a vida em uma experiência realmente interessante, que fuja do banal, que fuja do comum.

O diretor Ang Lee usa os questionamentos acima como uma das partes que compõem seu mais recente filme. “Aventuras de Pi” é baseado em um livro do escritor canadense Yann Martel, que por sua vez se inspirou na obra “Max e Os Felinos” do falecido brasileiro Moacyr Scliar publicada originalmente no início dos anos 80 (mais sobre isso, aqui). É o trabalho que marca a volta do peculiar cineasta aos holofotes.

Ang Lee apareceu para valer com “Razão e Sensibilidade” de 1995. De lá para cá alternou bons filmes como “O Tigre e o Dragão” de 2000 com outros apenas razoáveis, vide o superestimado “O Segredo de Brokeback Mountain” de 2005, e até mesmo uns bem ruins, como o chatíssimo “Hulk” de 2003. É o típico diretor que se situa entre os extremos das paixões dos fãs e da raiva (ou descaso) dos detratores que lhe apedrejam.

Com “As Aventuras de Pi”, isso não será diferente. Com roteiro de David Magee (“Em Busca da Terra do Nunca”), o longa mistura as aventuras do título com filosofia e religião distribuídas em pequenas alegorias e parábolas. Todavia, isso nem chega próximo de ser o principal atrativo. Essa primazia fica por conta do visual que dá vida aos pensamentos do diretor. Extremamente belo aos olhos, praticamente carrega o filme nas costas.

Não que o roteiro seja horrível, apenas está um patamar abaixo das realizações visuais que inundam a história de Pi (Suraj Sharma), um indiano que depois de buscar alívio (e não encontrar de modo geral) em deuses e na própria família, se vê à deriva depois do naufrágio do navio que o levava para uma nova vida no Canadá. Isso, em conjunto com uma hiena, uma zebra, um orangotango e um tigre dentro do bote salva-vidas.

É Pi quem narra essa parte da vida para um escritor (Rafe Spall) que vem atrás de ouvir essa extraordinária história. Já casado e com filhos (e nesse momento interpretado pelo tarimbado Irrfan Khan), o indiano - que agora é professor no Canadá - retorna a infância, passando pela origem do seu nome e a relação conflituosa com o pai, até chegar onde realmente as pouco mais de duas horas de duração começam a valer a pena.

O naufrágio e as consequências são um verdadeiro deleite para os olhos (e funciona muito bem em 3D). Da “relação” com o tigre até o desembarque em uma ilha bem diferente, todos os momentos causam encanto. Se a história em si tem buracos e deixa a desejar enquanto busca amarrar as pontas, isso acaba sendo o de menos. Como disse Alfred Hitchcock certa vez, “há algo mais importante que a lógica: a imaginação”. Confie nisso.

Nota: 7,5

Textos relacionados no blog:

- Cinema: “Aconteceu em Woodstock” de Ang Lee.

Assista ao trailer legendado: