sábado, 5 de maio de 2012

Nada Surf - Hotel Gold Mar, Belém (PA) - 04.05.2012



Passava um pouco da meia-noite e meia quando os norte americanos do Nada Surf subiram ao palco do Hotel Gold Mar em Belém para começar sua apresentação. O sábado de 5 de maio se anunciava ainda preguiçoso nas margens da Baía do Guajará enquanto o público presente escutava os primeiros acordes de “Clear Eye Clouded Mind”, que foi seguida pela melódica “Waiting For Something”, ambas integrantes do novo registro da banda, intitulado “The Stars Are Indifferent to Astronomy”.

Antes de falar sobre o show em si, é bom analisar um pouco o panorama geral do evento. Por diversos motivos, entre os quais distância dos grandes centros e público interessado, Belém sempre fica fora das turnês internacionais que desembarcam no país. Isso até que sofreu algumas mudanças recentes com a passagem por aqui de nomes como Iron Maiden e Deep Purple, além de bons nomes do mercado alternativo como Shout Out Louds e El Cuarteto de Nós, ainda que esses últimos em festivais.

Como show individual, por assim dizer, o Nada Surf talvez fosse a primeira grande aposta, pois apesar dos 20 anos de estrada completados em 2012, a banda sempre ficou no cenário mediano do rock internacional. A aposta do pessoal da SeRasgum então tinha certo grau de risco, visto que o discurso do público da cidade e a sua real participação sempre mantiveram certa distância. Em um local bacana, mas que dificulta um pouco para quem precisa de transporte público, isso agrava-se um pouco mais.

Dentro desse cenário foi satisfatório – pelo menos na concepção visual – a presença do público, que antes do Nada Surf ainda teve exibições do Turbo, Elder Effe e banda e The Baudelaires. O respeito aos horários acabou não me deixando ver os dois primeiros, porém se mostrou como uma das coisas positivas do evento, pois é cultural na cidade o desrespeito quanto a isso. Fica a torcida para que no futuro essa decisão seja mantida, o que servirá indiretamente para uma mudança do próprio mercado.

Colocado o que dispôs-se acima, o show do Nada Surf foi agradável e fez valer a presença. O vocalista e guitarrista Matthew Caws esbanjava simpatia e servia as canções com o auxílio dos velhos parceiros Daniel Lorca (baixo) e Ira Elliot (bateria), além dos convidados Doug Gillard (ex-Guided By Voices) na outra guitarra e Martin Wenk (Calexico) nos teclados. Suando uma barbaridade, falou sobre a felicidade de estar na Amazônia e verteu elogios ao trabalho do Greenpeace (que tinha um barco ancorado na cidade).

Esse envolvimento ambiental, com direito a bandeira de “Desmatamento Zero” no palco, às vezes soou pedante, mas não incomodou tanto quanto o estado de “travamento total” do baixista Daniel Lorca, que foi devidamente comparado por alguns ao Wanderley Andrade, um dos ícones do brega local. O público mais jovem se alternando entre celulares e conversas na frente do palco, igualmente não foi o que se esperava para quem sai de casa para assistir a um show, mas não difere em nada do resto do país. (In)felizes tempos modernos.

Usando bem o novo disco, com direito a boas versões de “Teenage Dreams” e “When I Was Young”, além de sucessos da carreira como “Happy Kid”, “Always Love” e “Popular”, sem contar com a porrada de “Blankest Year” usada para terminar tudo, o Nada Surf fez um show pulsante e agregou um público, que de certo modo, é muito carente por eventos do tipo. Bastou sorrisos, simplicidade e canções para serem cantadas de pulmões abertos, para deixar a mangueirosa de bem com a vida. Não foi espetacular ou sensacional, mas afinal de contas o que hoje em dia pode ser classificado assim? 



P.S: As fotos são do site da produtora. Mais aqui: http://www.flickr.com/photos/serasgum

Leia uma entrevista bem bacana com a banda falando sobre a turnê brasileira e outras coisas mais, aqui: http://screamyell.com.br/site/2012/04/27/entrevista-nada-surf


Nenhum comentário: