sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

"Histórias Cruzadas" - 2012

A busca pela igualdade, ou a simples conquista, dos direitos civis objetivando o fim da segregação racial imposta aos negros nos Estados Unidos rendeu ótimos filmes no decorrer da história do cinema como “Mississipi em Chamas” (1988) de Alan Parker, entre tantos outros. O ator e diretor Tate Taylor investiu nesse período histórico para elaborar o seu mais recente trabalho, “Histórias Cruzadas” (“The Help”, no original).

Baseado em best-seller de Kathryn Stockett (amiga de infância do diretor), o filme retorna a década de 60 para a pequena cidade de Jackson no estado do Mississipi. Nessa cidade encontra a jovem Skeeter Phelan (Emma Stone de “Superbad”) inquieta com suas ambições e com o mundo que está a sua volta. Recém formada, quer de todas as formas ser escritora, nem que para tanto comece no pequeno jornal da cidade natal.

O começo de Skeeter passa por uma coluna direcionada para as mulheres negras da região, que atendem a esmagadora maioria das casas dos brancos. Em um período conturbado, onde em uma cidade sulista do porte de Jackson o tratamento para os negros era desumano e repleto de soberba e maldade, a incipiente escritora que reside em Skeeter vê a chance de publicar uma história comovente e que faça justiça as fontes escolhidas.

Ela convence Aibileen Clark (Viola Davis de “Dúvida”) a contar sua vida e a maneira com que os brancos se "dignam" a conviver diariamente. Logo em seguida, a falastrona e divertida Minny Jackson (Octavia Spencer de "Sete Vidas") também se põe a falar devido a insuportável convivência com sua patroa Hilly Holbrook (Bryce Dallas Howard de “Manderlay”) e suas amigas, como a insossa e patética Celia Foote (Jessica Chastain de “A Árvore da Vida”). 

“Histórias Cruzadas” tem um cuidado impecável ao recriar o momento em que se situa, até mesmo porque tanto o diretor quanto a escritora (que também assina o roteiro) foram criados na região. As roupas, o jeito que as pessoas se comportam, a hipocrisia de um modo de vida repleto de aparências e raso de coisas válidas e importantes, se configura como o grande destaque, acima inclusive das boas atuações individuais.

No entanto, apesar das suas qualidades, o longa distribui superficialidade e não escapa de parecer um pequeno conto de fadas. Nesse pequeno conto de fadas é a jovem branca e cheia de ideias e amor no coração que vem salvar (ou aliviar, que seja) a vida de sofridas mulheres negras. Percebe-se que o buraco é mais embaixo e ao optar por seguir esse caminho, o filme acaba desmerecendo aquelas que visa honrar.

É inegável que “Histórias Cruzadas” é bonito e bem feito, e que ao decidir deixar a política de lado e se concentrar apenas nos aspectos pessoais, se configura em um produto palatável e com forte carga de emoção para as massas. A prova disso são as indicações para o Oscar desse ano. Porém, contudo e todavia, Tate Taylor se utiliza de uma moral um tanto duvidosa para servir de vestimenta nas suas boas intenções.

Nota: 7,0

Assista ao trailer:



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