sábado, 31 de dezembro de 2011

Que venha 2012!


Salve, salve minha gente amiga...

Mais um ano que chega ao fim deixando para trás bons momentos para a cultura em geral. Tivemos ótimos trabalhos na música, cinema, literatura, quadrinhos e até mesmo nas séries de TV. Que no ano que bate na porta esperando para entrar, isso aconteça em uma quantidade maior, afinal coisas boas são sempre bem vindas.

Que esse último dia sirva para repensarmos a vida, as nossas atitudes e o caminho que optamos em trilhar. Que as estradas que ainda vamos pavimentar pela frente estejam repletas de realizações e alegrias e que ao construir essas novas estradas, nunca nos esqueçamos do compromisso único de fazer desse mundo um lugar melhor para as gerações futuras.

Em 2011 o Coisapop teve a maior quantidade de acessos desde que foi criado, ainda engatinhando lá em meados do ano de 2005. Por isso o meu muito obrigado a todos que passaram aqui, concordando ou não com o teor dos textos. Um abraço virtual em todos os leitores, amigos e colaboradores que fazem com que isso seja levado em frente dia a dia.

Que nesse novo ano se possa honrar nossos sonhos e ideias como eles merecem.

Que venha um grande ano.

Paz Sempre.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

"Liebe Paradiso" - Celso Fonseca e Ronaldo Bastos - 2011

O cineasta polonês Roman Polanski disse certa vez que criar e recriar eram a mesma coisa. Esse é um bom princípio para entender a decisão de Celso Fonseca e Ronaldo Bastos em reinventar seu álbum “Paradiso” lançado em 1997 e que ganha nova versão em 2011. O segundo rebento da parceria entre os cariocas, situado entre “Sorte” de 1994 e “Juventude/Slow Motion Bossa Nova” de 2002, foi revisitado em conjunto com uma vasta gama de convidados e conquistou um nome maior: “Liebe Paradiso”.

Geralmente obras com essas características têm como olhar principal o aproveitamento barato de algum nicho de mercado ou suspiros finais de quem já está com a criatividade agonizando. Definitivamente não é o caso aqui. A labuta levou dois anos e envolveu os criadores com o engenheiro de som Duda Mello e o produtor uruguaio Leonel Pereda. Com muito esmero na elaboração, as concepções sonoras foram revistas em uma roupagem diferenciada e o resultado é um trabalho bem diferente do seu guia.

No bom “Paradiso” de 1997, 10 intimistas canções se apresentavam com a levada da mpb alinhada com a da bossa nova e Celso Fonseca cantando todas as faixas compostas sempre na companhia de Ronaldo Bastos. Em “Liebe Paradiso” um time de peso passa pelos instrumentos como Marcos Valle, Arthur Maia, Sacha Amback, Domenico Lancelotti e Márcio Montarroyos, como também algumas músicas adquirem intérpretes como Luiz Melodia, Nana Caymmi, Paulo Miklos, Adriana Calcanhotto e Sandra de Sá.

Na comparação entre os dois discos, que se torna inevitável, apenas o samba triste “Alma de Pierrô” e a balada noturna “Out Of The Blues” permanecem mais ou menos parecidos. As demais sofrem alterações que combinadas com a melhor produção, as fazem nascer novamente. A ótima “Você Não Sacou”, por exemplo, vira um intrincado pop rock cantado pelo titã Paulo Miklos em toda a esperteza da letra que diz: “já subi a Penha de joelhos, mas você não mudou/já enchi um saco de conselhos, mas você não sacou”.

Outras amostras dessa mutação aparecem na divertida “Denise Bandeira”, que vira um sambão bem mais alegre, em “Polaróides” que ganha um embalo mezzo funk/soul e um surpreendente vocal de Sandra de Sá (que consegue controlar um pouco o habitual histrionismo) e principalmente em “Ela Vai Pro Mar”, que com uma interpretação arrasadora de Luiz Melodia estaciona a quilômetros de distância da anterior, encantando ao olhar mais para o jazz, com a presença notável do trombone de Vittor Santos.

A dupla ainda faz cama, mesa e banho para que Nana Caymmi assombre com extrema habilidade a climática “Flor da Noite” e insere trechos do escritor alemão Goethe na atmosfera lounge de “Paradiso”, além de musicar um poema do escritor britânico John Keats em “A Thing Of Beauty/Juventude”, que junto com “O Tempo Não Passou” (originalmente gravada em “Sorte” de 1994 e aqui interpretada corretamente pela Adriana Calcanhotto) são as únicas que não faziam parte do álbum concebido em 1997.

Celso Fonseca e Ronaldo Bastos, esses dois cariocas separados por 8 anos de diferença (o primeiro nasceu em 1956 e o segundo em 1948), quebram em “Liebe Paradiso” alguns paradigmas, pois atingem um ponto bastante elevado na carreira mediante a arriscada opção de recriar um disco que já tinha um conceito de apreciação. Nas 12 canções nele inseridas provocam o antigo ao mesmo tempo em que acenam com um sorriso nos lábios para o contemporâneo, sem esquecer de honrar a qualidade da música acima de tudo.

Página do disco no Facebook: https://www.facebook.com/liebeparadiso  

Assista ao clipe de “Ela Vai Pro Mar”: 

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

"Best Of The BBC Vaults" - Ella Fitzgerald - 2011


Do baú quase inesgotável da rede BBC de Londres, surge mais um interessante produto. “Best Of The BBC Vaults” traz quatro apresentações de Ella Fitzgerald na tevê, abrangendo o período de 1965 a 1977. Lançado lá fora no ano passado, ganha edição nacional em 2011 pela Som Livre em uma bonita caixinha com livreto, CD de 18 músicas e um DVD contendo 35 canções espalhadas em 4 exibições que alcançam duas horas e meia de duração.

A cantora nascida em 25 de abril de 1917 e falecida no dia 15 de junho de 1996 aos 79 anos, deixou uma carreira fecunda em grandes momentos. Consolidou a vida artística nos anos 40 e 50 apoiada em belos discos que visitavam as obras de George Gershwin, Cole Porter e Duke Ellington, porém nunca parou de produzir, elaborando uma extensa discografia. “Best Of The BBC Vaults” cobre um período de afirmação, alguns problemas pessoais e recomeço.

O registro mais raro é logo o primeiro, intitulado “Show Of The Week: Ella Fitzgerald Swings (1965)” com 25 minutos. Nele, Ella destaca boas canções do seu repertório mais habitual como “Cheek To Cheek”, “St. Louis Blues” e uma versão bem pessoal de “The Girl Of Ipanema”. Sempre bem educada com o público, entre as canções apresenta o que virá pela frente. Por ser a mais antiga, aparece em preto e branco e tem o som apenas razoável.

Em “Ella Fitzgerald Sings (1965)”, também em preto e branco, temos praticamente um prolongamento do anterior e traz o Tommy Flanagan Trio acompanhado pela orquestra de Johnny Spence. O resultado é o mais fraco de todos, com a cantora voltando para o tempo em que se apresentava com big bands nos anos 30. No entanto, temos agradáveis ocasiões como em “Too Marvellous For Words”, “Manhattan” e “That Old Black Magic”.

“Omnibus Presents Ella Fitzgerald At Roonie Scott’s (1974)” vem com o habitual trio de Tommy Flanagan (piano), preenchido excepcionalmente pela guitarra de Joe Pass, além do onipresente baixo de Ketter Bats e a bateria de Bobby Durham. No tradicional reduto do jazz britânico, a banda se sobressai bastante enquanto a artista produz boas interpretações (apesar da voz já enfraquecida) para “The Man I Love” e “The Very Thought Of You”.

Mas o melhor fica mesmo para o final. Em “Jazz From Montreaux (1977)”, Ella se aventura em arriscadas faixas como “My Man” e “Day By Day”, além de cantar novamente Tom Jobim em “One Note Samba” e encerrar de modo brilhante com “You Are The Sunshine Of My Life” de Stevie Wonder. E basta essa última canção para mostrar as razões que a levam ser apontada como a maior cantora que o jazz americano já viu em todos os seus anos de existência.


Assista ao teaser de lançamento:

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

"Missão: Impossível - Protocolo Fantasma" - 2011


“Missão: Impossível - Protocolo Fantasma” é um daqueles filmes que antes de começar já tem algumas perguntas para responder. Dentre o rol dos questionamentos destaca-se: Será que Tom Cruise aos 49 anos ainda tem fôlego para encorpar o agente Ethan Hunt? O premiado diretor de animação Brad Bird (“Os Incríveis” e “Ratatouille”) possui cacife suficiente para estar no nível de Brian de Palma, John Woo e J.J Abrams, os diretores anteriores? Será que a franquia não se esgotou nos três primeiros longas?

Depois de assistir os 133 minutos de projeção, todas essas interrogações chegam a devida conclusão. A série iniciada pelo astro na segunda metade dos anos 90 sempre se mostrou um porto seguro para continuar impulsionando sua carreira. Com o quarto filme não é diferente. Com versão em IMAX, já se mostra nos primeiros dias de exibição como um sucesso de bilheteria e o diretor Brad Bird, que estreia no comando de atores reais, capricha no que é uma constante da marca: cenas de ação com tensão e desfechos mirabolantes.

Em “Protocolo Fantasma”, Ethan Hunt está trancado em uma prisão russa quando os agentes Jane (Paula Patton de “Preciosa”) e Benji (Simon Pegg de “Missão Impossível III”) do IMF aparecem para libertá-lo. Logo em seguida o grupo precisa invadir o Kremlin para recuperar uns arquivos, no entanto, a missão vai por água abaixo e resulta na desativação da agência (o protocolo do título), no assassinato do secretário da IMF (Tom Wilkinson) e na inclusão do analista Brandt (Jeremy Renner de “Guerra ao Terror”) no time.

A partir disso começa a velha (e boa) perseguição para tentar salvar o mundo. Dessa vez de um ataque nuclear programado por um intelectual sueco desiludido (Michael Nyqvist da trilogia européia de “Millennium”). Para tanto o quarteto de agentes viaja o mundo e se mete em brigas e confusões, tal qual a frenética e exuberante sequência em cima do edifício Burj Khalifa em Dubai, o mais alto do mundo. Pendurado por fora de um prédio no 130º. andar, Ethan Hunt coloca toda sua experiência e doses calculadas de loucura em ação. 

“Missão: Impossível - Protocolo Fantasma” é um trabalho que honra o antecessor. Exibe uma gama de cenas espetaculares e lutas bem coreografadas com um roteiro encabeçado por Josh Appelbaum e André Nemec (da série “Life On Mars”) que é realista e factível no que dá pra ser, além de contar com gente grande no apoio como Paul Hirsch (de “Star Wars”) na montagem e Michael Kay (“A Origem”) nos efeitos especiais. O único senão fica por conta da quantidade de humor inserido, que acaba por diminuir a pressão em certas passagens.

Quanto as perguntas realizadas no primeiro parágrafo do texto, pode-se afirmar que Tom Cruise continua a vontade no papel de Ethan Hunt e de novo dá sobrevida a carreira. Brad Bird ainda não está no nível dos outros diretores da franquia (em produções “reais”), mas exibe um cartão de visitas bacana e forja de modo competente a difícil fórmula “blockbuster = bom filme”. Quanto ao esgotamento da série, ainda não foi com “Missão: Impossível - Protocolo Fantasma” que isso ocorreu, então, pode-se esperar por mais aventuras nos anos vindouros.

Assista ao trailer:

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

"Margin Call - O Dia Antes do Fim" - 2011

Eric Dale (Stanley Tucci) está em frente ao computador de trabalho, com olhar compenetrado no que vê. Nada parece distinguir esse dia de outro dos últimos 19 anos em que é funcionário da mesma empresa, até ser chamado por uma pessoa que nunca viu antes que vem lhe explicar que está demitido (uma pessoa como o Ryan Bingham de “Amor Sem Escalas”). Lá ele ouve sobre o desligamento, fica com raiva, mas aceita. Antes de sair do prédio encontra um dos subordinados e entrega um arquivo em que trabalhava. Pede “cuidado” quando for analisar.

Estamos em setembro de 2008 em plena Wall Street, um dia antes de emergir a pior crise da história estadunidense desde o ano de 1929. A crise que derrubou titãs do mercado financeiro como o banco de investimentos Lehman Brothers (no qual o longa parece livremente se inspirar). E é nesse calamitoso dia que o estreante diretor (e roteirista) J.C. Chandor fez nascer “Margin Call - O Dia Antes do Fim”, um filme que tem a habilidade de balancear estreitos dramas pessoais com o cenário maior que irá se desencadear para milhares de cidadãos.

O arquivo que Eric Dale trabalhava preocupado cai nas mãos do talentoso Peter Sullivan (Zachary Quinto, o Sylar da série “Heroes”) e ele por curiosidade e ambição se debruça nele para concluir. Para tanto, vara a madrugada. O resultado é que parece não ser nada animador, aliás, é completamente alarmante. Os números e projeções indicam que o patrimônio da empresa caminha para a desvalorização quase total, o que significa um desmoronamento rápido e absoluto, causado pela falta de compromisso e de zelo com as regras do mercado.

Ao pressentir a merda que se encaminha para o ventilador, Peter chama o chefe (Paul Bettany) de uma farra e depois todo o alto escalão é convocado como se fosse uma boneca russa se sobrepondo. Primeiro o diretor da seção Sam Rogers (Kevin Spacey), em seguida seu superior Simon Baker (Jared Cohen) e no final mais uma diretora (Demi Moore) e o grande leão da selva, o presidente (ou CEO, como preferir) John Tuld (Jeremy Irons). Em uma reunião farta de cobranças e medo, soluções são buscadas sem se ater a ideia do que é correto, apenas de resistir.

“Margin Call” é uma fotografia bem batida da podridão e egoísmo que o dinheiro faz despertar no ser humano. Em um lugar onde alguns lucram milhões por ano, de nada importa as pessoas que andam pelas ruas sem saber o que vai acontecer no próximo dia, como avalia em certa passagem o personagem de Zachary Quinto. Ao lado de “Trabalho Interno” de Charles Ferguson, o filme de J.C. Chandor forma um panorama abundante da linguagem que os chefões do mercado financeiro dominante no mundo conhecem. A linguagem do lucro e da sobrevivência.

Assista ao trailer:

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

"Peixe Homem" - Madame Saatan - 2011

Quem já viu um show do Madame Saatan sabe do poder do grupo ao vivo. Uma vocalista talentosa e performática comanda uma verdadeira celebração calcada em um rock pesado que usa o heavy metal tradicional para flertar com outros estilos e nuances. Junte a isso um guitarrista acima da média e dois excelentes instrumentistas no comando do baixo e da bateria e temos uma apresentação, que quase sempre, não deixa ninguém passar impune.

Faltava para Sammliz (vocal), Ed Guerreiro (guitarra e backing vocal), Ícaro Suzuki (baixo) e Ivan Vanzar (bateria) converter todo esse poderio para um disco. Se o primeiro ensaio veio com o EP “O Tao do Caos” em 2004, as ideias ganharam amplitude e força na estreia com o disco homônimo em 2007. De lá saíram canções potentes como “Devorados”, “Molotov”, “Vela” e “Cine Trash”. Entretanto, mesmo assinalando um bom registro, faltava algo mais.

Esse algo mais apareceu em 2011 com “Peixe Homem”, o mais recente trabalho do grupo de Belém agora radicado em São Paulo. São 12 faixas que sob a batuta da produção de Paulo Anhaia (Velhas Virgens) e masterização no West West Side Music nos EUA, reflete tudo aquilo que se esperava da banda em um disco. O peso continua praticamente o mesmo, mas ganha muito em qualidade, limpeza e percepção de tudo que está sendo tocado.

Abre com a estupenda “Respira” (uma das músicas nacionais do ano), que versa sobre “a cidade que mora embaixo do céu, calor, concreto, aço e lama” e daí segue fazendo a cabeça balançar. As letras novamente são todas em português (o que por si só já é um grande mérito) e escritas na totalidade pela vocalista Sammliz. Os temas passam por caos urbano (“Sonâmbula”), crenças e sacrifícios (“Sete Dias”), amores quebrados (“Invisível”) e um leve desespero (“A Cicatriz”).

Já na sonoridade, “Peixe Homem” se espalha por coisas mais tradicionais como “Moira” e “Insônia”, porrada na medida certa em “Até o Fim” e “Rio Vermelho”, além de leves experimentações em “Foice” e “Sombra em Você”. Sem nunca desprezar a pegada que dita o ritmo do trabalho e que o torna diferente do que é produzido hoje no país, resulta diretamente em um álbum que esbanja peso, melodia e energia como poucos obtiveram sucesso em fazer nos últimos anos.

A banda colocou o disco para download gratuito no site oficial: http://www.madamesaatan.com 

Assista o ótimo clipe de “Respira”: 

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

"O Garoto da Bicicleta" - 2011


O jovem Cyril Catoul está aflito e ansioso. De uma hora para outra se viu morador de um orfanato, deixado lá pelo pai. Ele não consegue compreender os motivos que levaram a isso e faz a convivência com as pessoas da instituição ser repleta de conflitos e fugas. Além de procurar saber por onde anda o pai para resgatá-lo de volta, também deseja reencontrar sua bicicleta, que naquele momento lhe parece o refúgio certeiro para parte dos males que o assolam.

É focado na figura dessa criança partindo para a juventude, que os irmãos belgas Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne edificam seu mais recente filme, “O Garoto da Bicicleta”. Novamente premiado em Cannes, os irmãos continuam acreditando em um cinema com a propensão humana em primeiro lugar e que já rendeu excelentes obras como “Rosetta” (1999) e “A Criança” (2005). A simplicidade no foco da direção aparece aqui quase que inalterada.

Porém, no atual trabalho, os irmãos perdem um pouco a mão na condução do roteiro e principalmente nos motivos dos personagens. Entre as corridas e escapadas de Cyril (em uma atuação firme do estreante Thomas Doret), ele acaba se deparando com Samantha (Cécile de France de “Além da Vida”) em um consultório médico. Ao se agarrar na moça para evitar que o levem, desperta de modo não intencional uma reação que irá ditar os próximos passos da sua vida.

Samantha, com esse sentimento de bondade acordado no peito, primeiramente compra a bicicleta de volta para o garoto, para em seguida passar com ele os finais de semana. Essa tarefa é hercúlea e nada fácil, uma vez que o menino quer mesmo é achar o pai sobre todas as coisas. Logo que percebe que o pai (o velho conhecido dos diretores, Jérémie Renier) não está nem um pouco interessado em tê-lo de volta, Cyril parte para a transgressão ingênua, pura e simples. 

“O Garoto da Bicicleta” trata de temas como bondade, compaixão e escolhas, no entanto, não deixa claro as razões para que essas ações ocorram. O que leva Samantha a abdicar da vida por um garoto que mal conhece? O que aconteceu com o pai para renegar tão veemente assim o filho? Perguntas sem respostas, que dessa forma deixam a bonita embalagem com um conteúdo apenas lúdico e pueril, e que assim como Cyril em suas corridas, parece completamente perdido.

Sobre “O Silêncio de Lorna”, outro filme dos irmãos Dardenne, passe aqui.

Assista ao trailer:

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

"Contágio" - 2011



Já fazia um tempo que o competente diretor Steven Soderbergh estava devendo um filme realmente bom, pois por mais simpática que seja a trilogia dos homens e seus segredos, ela não pode receber esse adjetivo. Isso parecia que vinha com “Che” em 2008 (mas ficou distante disso) e quase chegou no razoável e divertido “O Desinformante” de 2009.

Com a recente estreia de “Contágio”, ele enfim gera um trabalho para marcar presença na linha de frente da sua carreira, junto com filmes do porte de “Sexo, Mentiras e Videotape” de 1989, “Traffic” de 2000 e “Confissões de Uma Mente Perigosa” de 2002. Usando do medo e da paranoia, cria uma trama tensa e repleta de analogias com outras frentes.

O longa começa direto no que chama de “Dia 2”, quando Beth Emhoff (Gwyneth Paltrow) está em um aeroporto esperando a hora de retornar para casa, enquanto faz confissões indecorosas ao telefone. Ao chegar começa a passar mal, tem convulsões, espuma pela boca e acaba falecendo para tristeza do esposo Mitch Emhoff (Matt Damon, muito bem).

Depois do “Dia 2” vários núcleos são apresentados e o espectador se vê diante de um vírus, que começa a se alastrar por dias a fio, causando mais mortes e pânico. Inglaterra, Japão, Hong Kong, Estados Unidos. Todo o mundo começa a perder a noção da calma e o desespero surge forte e poderoso, gerando estragos e mais dor junto com o vírus.

Steven Soderbergh usa Laurence Fishburne como o Dr. Ellis Cheever para contar o drama dentro do órgão governamental do Controle de Doenças. Jude Law é o jornalista blogueiro Alan Krumwiede que sem escrúpulo nenhum tenta se dar bem com a crise mundial. Marion Cottilard é uma doutora suíça enviada para Hong Kong que acaba raptada.

Em todos essas pequenas alas, “Contágio” se sai muito bem, mas é em cima do personagem de Matt Damon que mostra seu maior domínio. Um homem que de um dia para o outro descobre ter sido traído, vê a esposa e o pequeno enteado sucumbir e precisa juntar forças para defender com tudo que lhe resta a filha que não foi afetada ainda.

Em “Contágio” Steven Soderbergh coloca um grande elenco em um clima tenso e de falta da humanidade quando esta é ameaçada. Igualmente inicia pequenas discussões sobre o papel do governo e da imprensa em crises, como também circula pela forma que os alimentos chegam a nós. E acima de tudo, faz acreditar que tudo seria plenamente possível de acontecer.

Sobre “O Desinformante” de 2009, passe aqui.

Assista ao trailer: 


segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

"Asterios Polyp" - David Mazzucchelli


Uma forte chuva despenca dos céus enquanto começa a ser mostrada uma casa imunda e bagunçada com restos de comida e contas a pagar arremessadas pelos quatro cantos. Um pouco mais adiante aparece um homem jogado na cama assistindo a um filme pornô e balançando um isqueiro na mão. Nesse momento um raio tomba em direção ao prédio de apartamentos e ao invés de lhe conceder poderes especiais como em uma velha história em quadrinhos, faz é iniciar um incêndio que irá consumir todo o edifício.

Assim começa “Asterios Polyp”, a premiada graphic novel de David Mazzuccelli (abocanhou prêmios como o Eisner e o Harvey Awards) que ganha edição nacional pelo selo Quadrinhos na Cia. da Companhia das Letras. Com 344 páginas e tradução de Daniel Pellizzari, o álbum lançado em 2009 lá fora marcou o retorno triunfal de David Mazzuccelli a cena da nona arte. Responsável junto com Frank Miller por obras do calibre de “Batman: Ano Um” e “Demolidor: A Queda de Murdock” nos anos 80, o artista andava sumido e meio recluso.

O homem na cama vendo filme pornô é o que dá nome ao álbum e está no dia do seu aniversário de 50 anos. Com a vida inteira desmoronada, ele vê o incêndio como a chance de fugir e recomeçar. Escolhe três pequenos objetos no apartamento e sai em disparada em busca de um trem que o leve até onde o dinheiro que tem na carteira consiga pagar. O destino final, bem longe da Manhattan que morava, é uma pequena cidade cravada em algum ponto ermo e distante dos Estados Unidos, onde terá a chance de ter outra vida.

A história é narrada por Ignazio, irmão gêmeo natimorto de Asterios que serve como guia para toda a carga de dualidade que é inserida. Mazzucchelli alterna os dias atuais com passados, a fim de mostrar como seu personagem chegou onde está. Professor que fez reputação como “arquiteto de papel” e nunca teve um projeto construído, conhecemos uma pessoa teimosa, egocêntrica e intransigente, que nem no casamento aprendeu a deixar isso de lado. Logo, todo processo de redenção que a trama oferecerá durante seu decorrer será bem vinda.

“Asterios Polyp” chama a atenção, além do romance repleto de arrependimento e aprendizagem, pelo tratado estético no qual o autor se ofereceu a realizar. Em torno da carga dramática da história, a arte dos quadrinhos é explorada em todas as suas formas, traços, cores, linhas e desenhos. David Mazzucchelli une todas as maneiras conhecidas e mistura fazendo nascer algo diferente e até mesmo novo. Um trabalho poético e com visual instigante de um autor que domina magistralmente o que se propõe a fazer.

P.S: O único ponto negativo da obra é a capa, que poderia ser em papel mais duro e resistente devido ao formato e grande volume de páginas.

A Companhia das Letras liberou um trecho para leitura. Veja aqui.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

"Encruzilhada" - D'Salete


Em qualquer cidade grande e problemática como São Paulo, fatos distintos acontecem quase ao mesmo tempo. Enquanto um jovem entra na loja para adquirir uma camisa de uma marca famosa, outro se mete em um assalto de carro. Quando uma criança aprende sobre matemática em um colégio respeitável, outra enche o corpo de crack pelas vielas do centro. Se alguém compra o DVD da última banda do momento, outro alguém vende esse DVD pirata pelas ruas.

Marcelo D’Salete, como morador da capital paulista, sabe bem disso e faz uso para povoar as histórias de “Encruzilhada”, álbum em quadrinhos com lançamento esse ano pela editora Barba Negra. Em 122 páginas ele narra cinco pequenos contos com personagens que navegam naquela área entre a sobrevivência e o esquecimento. Como coadjuvantes temos pobreza, corrupção, necessidade e pequenos sonhos, que acabam destruídos e arremessados em uma esquina qualquer.

A arte de “Encruzilhada” se inspira no grafite de rua e é propositadamente suja, rabiscada e sombria. Serve bem ao intuito de dar o visual necessário para que os pequenos dramas se apresentem.  No meio desses dramas o autor coloca marcas consagradas em destaque nos quadros como Adidas e Motorola, forjando um contraponto bem sacado (e sem soar banal) sobre a vida dos personagens com o poder do mercado de consumo, que pouco se importa com tudo e segue avançando.

Os contos retratam primeiro um garoto que é acossado pela polícia, na qual o chefe esconde suas próprias desilusões. Depois o valor de uma vida é arremessado contra o vício das drogas. Em sequência (baseado em texto de Kiko Dinucci) a prostituição se correlaciona com medo e religião. Para finalizar duas jovens mulheres precisam lidar com a dura batalha de resistência nas ruas e fecha com uma história onde a estupidez humana é alçada para patamares elevadíssimos.

“Encruzilhada” é uma obra de cunho extremamente social e mesmo tratando de um tema geral que ganha discursos vazios a cada momento, escapa com habilidade desse cenário opaco. Os traços e a narrativa de Marcelo D’Salete alcançam o objetivo essencial de um trabalho desse tipo, que é incomodar o leitor. Se esse leitor depois de incomodado vai mudar alguma coisa ou tomar alguma atitude, isso já não pode se prever, apenas afirmar que o pontapé inicial para tanto foi dado.

Site do autor: http://dsalete.art.br

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

"Midiendo El Tempo Con Canciones" - Ruidoblanco - 2011


Ruido blanco é um sinal aleatório produzido pela combinação de freqüências sonoras diferentes entre si, assim como é o nome de um disco ao vivo lançado pelos argentinos do Soda Stereo nos anos 80. Em Barcelona, na Espanha, também significa o nome de uma banda que está junta desde 2007, com a diferença que aparece junto, sem espaço. Essa banda depois de dois singles lança enfim o primeiro disco, intitulado singelamente de “Midiendo El Tempo Con Canciones”.

O Ruidoblanco é formado por Salva Codinach (vocal, guitarra e piano), Cris Carreño (vocal e teclados), Dani Fernández (guitarra), Chano Sánchez-Gómez (baixo) e Cristian Cuesta (bateria).   Eles definem suas canções como “música popular melodramática”, no entanto possuem mais alguns adendos. Dentro do pop rock simples e melódico do grupo, dá para pescar pedaços de Arcade Fire, Delgados, Coldplay e Morrisey, como também de bandas espanholas como o Vetusta Morla.

Nas 12 faixas do registro, o piano aparece quase sempre como o principal condutor e amplifica a emoção com que os dois vocalistas inserem suas letras nas melodias bem feitas e agradáveis. O duelo de vozes entre Salva e Cris, na verdade, é o ponto alto de todo o trabalho, como atestam as bonitas “Última Vérsion de Ti” e “La Ciudad Más Gris Del Mundo”. O foco das (boas) letras habita tanto em buscas pessoais, quanto amorosas, retratadas em desejos e intenções.

Nos 50 minutos do álbum, o Ruidoblanco encaixa a maior parte das canções de modo positivo, vide o eficiente pop rock de “Octubre” ou a baladona conduzida pelos violões de “Palabras Que Apagaron El Incendio” que conta com a participação preciosa de Iván Ferreiro (ex-Los Piratas). Em outras como “Olores”, há tamanha emoção embutida que é bastante fácil se deixar levar e ver a mente passear por setores que até então você julgava já estarem devidamente fechados.

Fora os destaques selecionados acima, “Midiendo El Tempo Con Canciones” é um trabalho limpo e bem produzido, sem maiores modernidades, e que acaba conquistando justamente por isso. Ótimos vocais que com a ajuda do piano e de guitarras econômicas, mas precisas, causam pequenos estragos nessa estreia. Um ruído aleatório sim, mas gerado pela junção de influências sonoras distintas, mostrando novamente a boa safra de bandas que a Espanha vive. Plenamente indicado.



Assista ao clipe de “Última Vérsion de Ti”: 

domingo, 4 de dezembro de 2011

"Smart Flesh" - The Low Anthem - 2011

Passando na frente de um cemitério abandonado, um homem encontra fantasmas solitários que lhe chamam não para fazer mal, mas para ser apenas companhia, liberando assim um pouco da sua tristeza. O bluesman Big George Carter contou essa história na canção “Ghost Woman Blues” que o The Low Anthem, grupo de Providence em Rhode Island nos Estados Unidos, utiliza para abrir o seu terceiro álbum de estúdio intitulado “Smart Flesh”.

Nessa releitura, o vocal de Ben Knox Miller ganha basicamente a singela companhia dos backing vocals de Joice Adams, junto com um piano acústico e um leve sopro. Assim, a banda que estreou tão bem em 2007 com “What The Crow Brings” tenta voltar a boa forma. É bom ressaltar que entre esses dois discos, teve o “Oh My God, Charlie Darwin” que arrancou críticas elogiosas, mas na verdade parecia perdido entre o folk rock e um enérgico blues.

Em “Smart Flesh”, Ben Knox Miller, Jeff Prystowsky, Joice Adams e Mat Davidson (que já saiu para entrar Mike Irwin), buscam voltar para o clima da estreia, só que em uma velocidade menor e baseados quase que sempre em violas, banjos, pianos e pouca bateria. As influências de Neil Young, Tom Rush, Bert Jansch e Mojave 3 percebidas anteriormente, agora ganham a companhia de outras como James Taylor, Tom Waits e até mesmo Fleet Foxes.

O disco quase todo é sobre temas tristes e pouco convidativos. Em “Apothecary Love”, um porre ao lado de uma solitária garota de olhos tristes e fardos nas costas é contado. Em “Matter Of Time” a letra fala que é apenas uma questão de tempo para tudo dar errado, enquanto em “Burn” se presencia a queda perante um mundo cruel que não dá a chance de se tornar aquilo que se poderia ser. Até a instrumental “Wire” é tema para cortar os pulsos em um dia ruim.

O tema só muda um pouco na explosão de guitarras e vocal gritado de “Boeing 737”, apresentando um voo enquanto as torres caem no 11 de setembro de 2001. Momentos distintos também ficam com a satírica “Hey, All You Hippies!”, com direito a guitarras e que invoca Ronald Reagan e diz para os filhos da geração do amor dar um tempo nas suas besteiras, assim como em “I'll Take Out Your Ashes” misturando culpa e mal de Alzheimer com ovos e bacon.

Com “Smart Flesh” o Low Anthem faz um disco perfeito para aquele momento da vida em que o mundo desaba e a tristeza toma conta de tudo. Aqueles dias em que mesmo tentando levantar a vontade é enfiar mais ainda a cara na vala da melancolia. Mesmo que vez ou outra o alvo se vire de modo cínico para religiões, famílias e vida cotidiana, a maioria das canções trata sobre fases nada ostentáveis de qualquer vida. Ouça, mas guarde os objetos cortantes antes.

Site oficial: http://www.lowanthem.com 

Assista o bonito clipe de “Ghost Woman Blues”:


sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

"Os Muppets" - 2011

- Bonecos de pano, parecidos com umas marionetes, duelando com seres humanos e sendo a atração principal de um filme em pleno 2011?
- Isso nunca que vai funcionar, a criançada e a juventude de hoje tem mais interesse em efeitos especiais de última geração, com cenas de ação deslumbrantes e frenéticas. Nem ligam para coisas antigas e fadadas ao esquecimento. 

É, esse pensamento realmente tem sua razão de existir. No entanto, quando os 103 minutos de “Os Muppets” acabam de passar na grande tela, essa razão diminui consideravelmente. Os bonecos criados pelo falecido norte-americano Jim Henson fizeram sucesso nos anos 70 e 80 e se eternizaram no inconsciente coletivo daquela geração. Sempre com a participação especial de alguma pessoa conhecida, virou uma casa bem visitada e devidamente explorada.

O novo longa da turma (o último data de 1999) chega com o aval da Disney e foi dirigido por James Bobin (da série “The Flight Of The Conchords”) e escrito pelo ator Jason Segel (“Ressaca de Amor”) em parceria com Nicholas Stoller (de “As Aventuras de Dick e Jane”). O projeto, na verdade, foi idealizado pelo próprio Segel, e traz todo o encanto que os Muppets apresentaram ao longo dos anos. Coisas simples envoltas em boas piadas e um clima de doce alegria.

A história da recente aventura começa em uma pequena cidade que parece perdida nos anos 60. Nela, os irmãos Walter (um Muppet) e Gary (Jason Segel) passam a vida construindo uma sincera amizade em torno das suas deficiências. São fãs confessos da série televisiva e dos filmes estrelados pela equipe e dedicam horas a diversão de assisti-los. Quando Gary resolve ir a Los Angeles com a namorada Mary (Amy Adams de “O Vencedor”), a vida ganha cores novas.

O solitário Walter é convidado para ir na viagem e logo traça como objetivo a visita ao teatro onde os shows eram feitos e gravados. Para decepção e tristeza, esse antigo palco de sorrisos se encontra abandonado e prestes a ser vendido para um magnata do petróleo (Chris Cooper de “Adaptação”). A fim de evitar esse trágico final, os três moradores da pequena Smalltown vão atrás de Kermit, o Sapo (no Brasil conhecido como Caco), com o intuito de reverter esse quadro.

Acontece que o grupo está separado e vive hoje de diversas outras maneiras, sem nem ao menos manter uma comunicação. Porém, como o motivo é nobre, Kermit sai em busca dos velhos comparsas como o Urso Fozzie, Gonzo, Animal e o grande amor da sua vida, a porquinha Miss Piggy. Usando de vários recursos e alguma dose de sorte, a antiga equipe se reúne novamente para um evento beneficente que visa arrecadar a quantia necessária para salvar a velha casa. 

“Os Muppets” é um filme calcado em valores pouco usuais no mercado de hoje e apresenta brincadeiras antigas como metalinguagem e sentimentos expressados por canções, uma marca registrada. Os personagens tiram sarro deles, do próprio filme e de quem ousar passar pela frente. Sobra até para as músicas “F**k You” do Cee Lo Green e “Smells Like Teen Spirit” do Nirvana. Jack Black vivendo a si mesmo, é outro que sofre um bocado na mão dos intrépidos bonecos.

Com trilha sonora aos cuidados do experiente Christophe Beck (de “Burlesque”) e participações de Emily Blunt, Whoopi Goldberg, Jim Parsons e Selina Gomez, entre tantos outros, “Os Muppets” agrada todo tipo de público, independentemente se for um quarentão saudosista ou uma criança que joga videogame e assiste tevê o dia todo. Para os Muppets a vida é uma alegre canção, por isso não se espante caso algo estranho comece a contagiar o ar. Isso tem nome: se chama magia.

Assista o trailer: