terça-feira, 29 de novembro de 2011

"O Guarda" - 2011


Três jovens estão de carro em uma velocidade considerável com som alto e emborcando uma garrafa de álcool. Ziguezagueando pela estrada passam pelo ponto de vigília de um policial que ao vê-los faz uma careta meio sem sentido. Depois de um tempo ele segue os jovens e depara com o carro arrebentado e os corpos espalhados pelo chão. Faz uma pequena expressão de reprovação e revista os bolsos até encontrar pílulas de ectasy, que coloca uma na boca e joga fora o restante.

A cena de abertura de “O Guarda (The Guard)” diz bastante sobre o trabalho que vamos encontrar mais a frente. Brendan Glesson (o professor Alastor Moody da franquia Harry Potter) vive o Sargento Gerry Boyle, que na pequena Galway no interior da Irlanda exibe pensamentos poucos convencionais e nem um pouco agradáveis ou corretos. Na sua pequena rotina de pequenos casos, bebidas e prostitutas nada parece mudar, até que uma operação internacional resolve aparecer.

Essa operação de drogas surge em meio a um assassinato, coisa rara para o cotidiano de Galway. Esse assassinato rende uma das sequencias mais engraçadas do filme, quando o sargento junto com um novo policial se dispõe a decifrar os possíveis “símbolos ocultos” do crime. Para dar uma pressão maior, um agente do FBI interpretado por Don Cheadle (de “Hotel Ruanda”) aparece com seus procedimentos profissionais e destoantes da maioria do corpo de segurança da cidade.

“O Guarda” traz nos coadjuvantes nomes experientes como Mark Strong, Liam Cunningham e David Wilmot, que colaboram para que o núcleo das piadas e sacadas não fique restrito somente ao personagem de Glesson. O filme também ostenta uma leve dualidade nessa figura em particular, pois faz contrastar todo humor negro e impaciência com uma relação de amor com a mãe e meio de pai com um moleque que vive no seu caminho e o ajuda a encontrar armas para o grupo terrorista IRA.

Dirigido e escrito por John Michael McDonagh (roteirista do razoável “Ned Kelly”), o longa se segura na figura desse policial de meia idade com ideias pouco sociais para com irlandeses de Dublin, ingleses e americanos, além de temas como racismo e drogas. Com diálogos eficientes e perspicazes e forte teor de acidez e humor britânico, “O Guarda” se mostra um trabalho bem construído, inteligente e eficaz, bem longe do habitual lugar comum em que hoje reside a grande maioria das produções.

Assista ao trailer: 


domingo, 27 de novembro de 2011

"Nirvana: Live At The Paramount" (DVD) - Nirvana


31 de outubro de 1991. Noite de Halloween no Paramount Theatre em Seattle, a maior cidade do estado de Washington nos Estados Unidos. Neste dia tocavam três caras que ainda não tinham a dimensão do que iam se tornar. Kurt Cobain, Krist Novoselic e Dave Grohl subiam ao palco da casa para mostrar para 5 mil pessoas o show do recém lançado “Nevermind”, que alguns dias antes havia alcançado a marca de 500 mil cópias vendidas em solo americano. Mudhoney e Bikini Kill também faziam parte do evento.

Aquele que muitos consideram um dos grandes shows da curta e intensa carreira do Nirvana, finalmente é lançado em DVD e Blu-ray. “Nirvana: Live At The Paramount” é obrigatório para os fãs do grunge. São 19 canções que abrangem tanto a estreia do “Bleach”, quanto o álbum final “In Utero” (com uma execução de “Rape Me”), passando logicamente pelo recém estourado “Nevermind”, pelo disco posterior de sobras “Incesticide” e covers preciosos como “Jesus Doesn’t Want Me For a Sunbeam” do Vaselines e “Love Buzz” do Shocking Blue.

A gravação impressiona pela sua simplicidade e força. Uma bateria pequena e sem maiores apetrechos, um baixo pulsante e uma guitarra aliada apenas a um mero pedal são capazes de produzir uma barulheira devastadora. Canções como “School”, “Breed”, “Negative Creep”, “Blew” e “Territorial Pissings” são exemplos desse poderio todo. Com uma iluminação apenas correta, sem animações de vídeo passando atrás do palco e poucas câmeras circundando o show, mostra-se que acima de invencionices tecnológicas, pode se vangloriar apenas da música.

Em “Live At The Paramount”, o Nirvana é capturado em um momento ímpar da carreira, ainda sem estar de saco cheio do mundo e onde a fórmula calmaria-tempestade das canções funcionava a plenos pulmões. Do hino maior “Smells Like Teen Spirit” até outras como “Lithium” e “Sliver” isso casava perfeitamente bem. Em cima do palco Dave Grohl socava a bateria como o Animal dos Muppets, enquanto Novoselic, descalço, não parava de pular tal qual o Aríete do He-Man, para tudo convergir na destruição desengonçada e tímida de Cobain.

Depois desse show muita coisa mudou. A banda vendeu milhões de discos e ficou conhecida no mundo todo, para desespero do seu líder e vocalista, que optou por dar fim a vida em 05 de abril de 1994. Krist Novoselic ficou mais na sua, enquanto Dave Grohl criou o Foo Fighters, uma das grandes bandas da atualidade. Vinte anos depois de “Live At The Paramout” e com o relançamento de “Nevermind” em versão luxuosa, a banda de Seattle volta a tona para relembrar os motivos que lhe levaram a causar tanto estardalhaço no mundo da música.

Assista a versão matadora de “Breed”:

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

6º Festival Se Rasgum - Belém(PA) - 18, 19 e 20 de Novembro

 

Em meio a uma guitarra distorcida aqui, uma bateria ritmada ali e uma base eletrônica acolá, se ouvia no Centro de Convenções do Hangar em Belém (PA) nos dias 18, 19 e 20 de novembro, murmurinhos e opiniões que destoavam daquilo que os olhos se agradavam em ver. É verdade que essas conversas eram uma minoria, mas realmente chegavam a incomodar um pouco. Enquanto desfrutavam de uma estrutura excelente, alguns optavam por um discurso pobre, reducionista e conformista.

De todos os lados que o Festival Se Rasgum teve na 6ª edição, esse lado destacado acima foi o menos satisfatório. Depois de edições que passaram por Parque dos Igarapés, Açaí Biruta e African Bar, o festival desembarcou de vez esse ano no Complexo do Hangar, para aumentar o gradual salto de qualidade de produção que vem exibindo desde o começo. Na sexta-feira ainda dividindo o espaço com o sucesso platinado de Paula Fernandes e assumindo sozinho no sábado e no domingo.


Essa edição teve 22 shows que abraçaram de vez a diversidade de ritmos que o festival se empenha em fazer nos últimos anos. Uniu nomes consagrados como Lobão e Leoni a alternativos como Bidê ou Balde e DeFalla, passou por promessas como Gang do Eletro e Maquine e por queridinhos da mídia como Marcelo Jeneci, além dos destaques regionais Mestre Vieira e Arraial do Pavulagem. E talvez tenha sido nesse ano que essa diversidade tenha funcionado de modo mais coeso.

A esses shows, some-se uma estrutura física que poucos festivais exibem país afora. Setores climatizados, banheiros extremamente limpos, uma praça de alimentação com boa comida, fácil acesso e estacionamento amplo. Para fazer coro aos dois palcos do festival, o Laboratório Música Paraense que exibe DJ’s e atrações ao vivo, invadiu o deck do Hangar e proporcionou além de um lugar de descanso ao ar livre, uma diversificação total de música que agradava em uma bela paisagem com água em volta.


Com tudo isso, ficava cada vez mais difícil aceitar o discurso com pérolas como “O Se Rasgum não foi feito para o Hangar” ou “As coisas não estão fluindo legal no Hangar”. Isso é típico de uma cidade como Belém, sempre amarrada nas suas certezas e pretensa conversa crítica, mas que se revela oca e vazia quase sempre. Para quem participou de todas as edições do festival, ficava claro e latente que ali se iniciava uma nova fase, a fase do “quero ser grande e conquistar muito mais público”.

E é esse o negócio. Quanto mais público pagar para entrar, mais retorno todos terão. Entre eles produtores, músicos, patrocinadores e o próprio público que poderá ver cada vez mais atrações de alto nível. Quem saiu de casa para ver somente o Leoni, conheceu o Suzana Flag, Projeto Charmoso e Eddie. No dia do Lobão, deu para se divertir com a Gang do Eletro e DeFalla e apreciar a mistura do Maquine e o rock de arena competente dos uruguaios do El Cuarteto de Nos.


No domingo, a bordoada do Fusile e o showzaço do Mestre Laurentino com os Cascudos (Elder Effe, João Lemos, Camilo Royale e Junhão), fez coro a beleza regional do Arraial do Pavulagem e a do Mestre Vieira, que acompanhado da sua banda os Dinâmicos, encantou os presentes com boa música e o carinho do vocalista Dejacir. Isso sem contar a cacetada sonora de BNegão e Os Seletores de Frequência e o show perfeito e corretinho de Marcelo Jeneci já na madrugada da Cidade das Mangueiras.

É lógico que houveram pequenas falhas e ainda alguns atrasos, mas nada que pudesse arranhar a última edição de um festival que busca cada vez a passos mais largos um lugar entre os maiores do país (entre os melhores, dá para afirmar que já está). O que se viu no Hangar nos dias 18, 19 e 20 de novembro de 2011, foi o Se Rasgum afirmando com classe e convicção a vontade de ser maior. Um marco para o festival e uma pena para aqueles que vivem no passado e acham que ser bem tratado faz mal para a música.



Top 5 – Melhores Shows do Festival

1 – Bidê ou Balde

2 – Lobão

3 – Laurentino e os Cascudos

4 – DeFalla

5 – Gang do Eletro


Top 5 – Melhores Canções do Festival

1 – Mesmo que Mude – Bidê ou Balde

2 – Felicidade – Marcelo Jeneci

3 – Os Outros – Leoni e Suzana Flag

4 – Lealdade – Eddie

5 - It’s Fuckin’ Borin’ to Death - DeFalla

Site oficial: http://www.serasgum.com.br 
Twitter: http://twitter.com/serasgum

Fotos pelo próprio evento: http://www.flickr.com/serasgum

terça-feira, 22 de novembro de 2011

"A Primavera do Dragão - A Juventude de Glauber Rocha" - Nelson Motta


Na contracapa de “A Primavera do Dragão”, o autor Nelson Motta é descrito como um biógrafo pop e amoroso. Nada mais adequado. As experiências anteriores justificam esses adjetivos. Pop, por levar para uma quantidade maior de pessoas em uma linguagem acessível a vida de artistas como Tim Maia e momentos da música nacional como fez em “Noites Tropicais” e amoroso, pois evita entrar em conflitos maiores e privilegia o lado bom de quem retrata.

Se nos livros anteriores isso funcionou bem, o mesmo não pode se dizer com a obra que trata da vida do cineasta Glauber Rocha, lançada pela Editora Objetiva com 370 páginas. Mesmo que o autor avise no subtítulo: “A Juventude de Glauber Rocha”, o trabalho fica superficial demais para um personalidade tão genial e confusa quanto a deste baiano nascido em 14 de março de 1939 em Vitória da Conquista e falecido no Rio de Janeiro em 22 de agosto de 1981.

Glauber Rocha foi uma figura controversa que se arremessava de cabeça no que acreditava. Gostava de um poema de Murilo Mendes chamado “Mapa”, que pregava o “desespero de não poder estar presente a todo os atos da vida” para “inaugurar no mundo o estado de bagunça transcendente.” Esse desejado estado, ele colaborou para existir principalmente na tríade “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, “Terra em Transe” e “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro”. 

“A Primavera do Dragão” mostra a infância de Glauber e reconstrói os primeiros passos da família, o levando ao colégio e a formação das primeiras amizades, com nomes como João Ubaldo Ribeiro. Depois envereda pelo raciocínio mais crítico e a paixão avassaladora pelo cinema, que foi responsável pelas mais diversas peripécias. Repleto de casos espirituosos, Nelson Motta encerra o livro justamente na participação de “Deus e o Diabo na Terra do Sol” em Cannes, deixando muita coisa de fora.

Da parte que talvez seja a mais brilhante com “Terra Em Transe”, e depois passando pelo exílio até os últimos anos de difícil convivência e trato, Nelson Motta preferiu se abster. Uma atitude sábia do ponto de vista de aceitação do trabalho, pois se optasse por tratar desses fatos, evidente que fugiria do subtítulo da obra, mas principalmente a deixaria mais densa e traumática e assim não poderia ostentar colocá-la entre a lista de mais vendidos onde vez ou outra se faz presente.

A fórmula “Nelson Motta” de biografias não parece desgastada em si, só que fica melhor direcionada para artistas com um lado menor de problemas existenciais (não que Tim Maia fosse um anjo, mas...). Para tentar entender Glauber Rocha, o maestro que impulsionou o Cinema Novo, não cabe somente a leitura desse “A Primavera do Dragão” e sim a de outras obras, algumas inclusive relacionadas como própria fonte de pesquisa do livro. Como ínicio para os mais jovens, até que funciona. Mas, só isso. 

Site bacana sobre o cineasta: http://www.tempoglauber.com.br 

Sobre a biografia de Nelson Motta sobre o Tim Maia, passe aqui.

Assista a um teaser de lançamento:

domingo, 20 de novembro de 2011

"Homem de Honra - Os 10 Mandamentos da Máfia" - Wagner Patti e Edson Leal


“Da máfia só se sai morto”. Quem assistiu filmes ou leu livros sobre a máfia italiana, a cosa nostra, já deve ter se deparado com essa frase. Dentro do universo da organização existem preceitos sobre honra e pequenas regras de conduta que se assemelham a uma seita em determinados ângulos. Criada na segunda metade do século XIX, a máfia ganhou status e sofreu quedas, mas até hoje se espalha por países mundo afora, por mais que atue em uma escala menor que antes. 

“Homem de Honra - Os 10 Mandamentos da Máfia” trata desse universo. Com 132 páginas e lançamento pela Panda Books, a graphic novel foi escrita pelo jornalista Wagner Patti (da Espn Brasil) e contou com a arte de Edson Leal. Com formato americano, capa dura e um tratamento luxuoso nas páginas, a HQ é uma competente trama de tudo aquilo que a máfia sempre expôs como perdas, assassinatos, lealdade, família, crueldade e vidas arremessadas pela janela.

Wagner Patti usa a grande São Paulo como ambiente para o desenvolvimento de sua ficção. Persegue por alguns dias um mafioso chamado Lorenzo Galantuomo, que está prestes a entrar para o seleto grupo de frente da organização. Nesse ínterim prévio faz o personagem esbanjar sua verve assustando empresários, corrompendo políticos, forjando acordos e finalizando desafetos. Jogos, licitações, proteção e prostitutas fazem parte do jogo diário de um coletor oficial e qualificado.

A arte de “Homem de Honra” é estática e não exibe muita velocidade ou pirotecnia. Parece uma fotonovela encartada em uma revista antiga, mas isso não representa necessariamente uma falta de qualidade. Usando como matrizes as cores branca, preta, vermelha e cinza, Edson Leal consegue retratar com intensidade os fatos chaves da história. Essa intensidade visual auxilia a dramaticidade que o roteiro busca passar no crescendo das revelações que circundam o objetivo final. 

“Homem de Honra” consegue a proeza básica de uma boa obra de quadrinhos: unir um bom roteiro (mesmo sem ser espetacular) com uma arte bacana (por mais que não seja fantástica) e assim se apresenta como um trabalho bem recomendável. Para quem é fã do universo da máfia italiana no mundo da cultura pop, é um prato bem servido e que enche a barriga. Ao ler, só deixe as páginas um pouco longe, afinal de contas nunca se sabe quando uma bala pode ricochetear em você.   

Twitter do Wagner Patti: http://www.twitter.com/wpatti   

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

"O Palhaço" - 2011

Tem um samba antigo que diz assim: “Sei que choras palhaço (...) enxuga as lágrimas e me dê um abraço. E não te esqueças que és um palhaço, faça a platéia gargalhar. Um palhaço não deve chorar”. De autoria de Nelson Cavaquinho junto com Oswaldo Martins e Washington Fernandes, essa música reflete bem o momento da vida pelo qual Benjamin, mais conhecido como o palhaço Pangaré, vem passando a frente do seu circo que viaja com o lúdico nome de “Esperança”.

No Brasil dos anos 70, o circo que Benjamin comanda junto com o pai Valdemar (o palhaço Puro Sangue) se mete em cidades pequenas espalhando um pouco de alegria e batalhando para sobreviver. Junto aos dois palhaços interpretados por Selton Mello e Paulo José (em um trabalho soberbo), se reúne uma turma de desajeitados que a sua maneira própria constituem uma espécie de família. Uma família que na cabeça de Benjamin, parece que não lhe serve como antigamente.

Assim funciona “O Palhaço”, o novo filme de Selton Mello como diretor após o bom “Feliz Natal” de 2008. Contando novamente com a ajuda de Marcelo Vindicatto no roteiro, o cenário que se vê é quase que plenamente diferente do primeiro trabalho. Em comum aos dois filmes, talvez fique somente o silêncio imposto em alguns momentos. No mais, “O Palhaço” é uma alegoria de drama com comédia em tom menor, onde o pano de fundo é a busca por se encontrar.

Enquanto o circo se apresenta para públicos de 30, 40, 50 pessoas e repete as mesmas piadas envolvendo o prefeito, o vagabundo e o local de prostituição da cidade, Benjamim parece cada vez mais distante e sem tesão para continuar. As coisas não vem dando certo e falta dinheiro para comprar desde um ventilador até um sutiã novo para uma integrante da trupe. Mesmo sem muita habilidade emocional, cresce cada vez mais a vontade de mudar, de conhecer novas estradas.

A situação pela qual o personagem de Selton Mello passa é comum a todos em algum grau da vida. Chega sem explicar aquele dia em que você pensa seriamente se o que está fazendo te faz feliz, te completa de alguma maneira. A esse sentimento tão comum, “O Palhaço” insere pequenas pinceladas de fantasia e emoção, embarcadas com sabedoria na direção de arte de Claudio Amaral Peixoto, na fotografia de Adrian Teijido e na música de Plínio Profeta. Um mosaico de beleza e dor.

O longa também é um balcão de homenagens que vai desde “Bye Bye Brasil” (filme de Cacá Diegues de 1979) e Os Trapalhões até Charles Chaplin e Oscarito. Presenças rápidas como a de Moacyr Franco e Ferrugem dão um brilho ainda maior a um trabalho feito na medida certa para encantar. Quem morou no interior e viu circos iguais ao Esperança na juventude, vai sentir uma doce nostalgia no coração enquanto assiste a busca do palhaço Pangaré por sorrisos também na sua própria vida.

Site oficial: http://www.opalhacofilme.com.br 

Sobre “Feliz Natal”, o filme anterior de Selton Mello, passe aqui.

Assista ao trailer: 

terça-feira, 15 de novembro de 2011

"As Esganadas" - Jô Soares


O que tem em comum o poeta português Fernando Pessoa, o militar brasileiro Filinto Müller e o mago inglês Aleister Crowley? Tirando alguns delírios mais desastrosos, não muito a ser compartilhado, sem dúvida. A exceção que une esses três nomes fica por conta de “As Esganadas”, o novo romance de Jô Soares (Companhia das Letras, 264 páginas) que utiliza em alguns momentos aparições dessas figuras históricas para construir sua trama.

No seu quarto livro, o humorista e entrevistador retorna a visão para um serial killer, que dessa vez sai a cometer atrocidades no Rio de Janeiro dos anos 30. O alvo desses crimes são donzelas que não primam por silhuetas charmosas e pequeno apetite, mas sim corpos roliços e uma fome quase inesgotável. Assim como gosta de fazer, Jô Soares expõe logo o assassino para o leitor e assim o insere dentro da caçada que percorre os variados capítulos.

Como é costumeiro nos seus romances, Jô Soares cria alguns personagens impecáveis e repletos de idiossincrasias quase freudianas. Os maiores acertos dessa nova empreitada ficam por conta de um anão que além de trabalhar em um circo é um exímio cantor de ópera e a do responsável pelas mortes, o dono de uma prestigiada empresa funerária que recebe o apropriado nome de Caronte (mais aqui: http://pt.wikipedia.org/wiki/Caronte).   

Nesse pequeno universo de personagens bem sacados existe espaço também para o bonachão detetive Tobias Esteves, um rico português que ajuda na resolução dos casos e o impagável ajudante de Caronte, mais conhecido na Lapa como Cu de Veludo. Porém, “As Esganadas” sofre o mesmo problema dos trabalhos anteriores do autor: não consegue funcionar como história, apesar dos acertos na construção dos envolvidos no desenrolar dos fatos.  

A trama não flui bem e além de tudo repete várias facetas e vícios do autor, como o uso dos mesmos lugares (Confeitaria Colombo, por exemplo) e os maneirismos estereotipados de detetive a lá Sherlock Holmes. Mesmo divertindo vez ou outra, “As Esganadas” é um livro apenas razoável e que até resolve o problema de uma sala de espera, mas não pode ambicionar ser mais que isso. Ainda não foi dessa vez que Jô Soares conseguiu unir seus (bons) personagens com uma (boa) história. Fica para a próxima.

Teaser do livro: 

domingo, 13 de novembro de 2011

"Reféns" - 2011


O diretor Joel Schumacher tem algumas podreiras pesadas no currículo como “Batman Eternamente” (1995), “8mm” (1999) e “O Fantasma da Ópera” (2004) que contrastam com bons filmes como “O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas” (1985), “Os Garotos Perdidos” (1987) e “Um Dia de Fúria” (1993). Seu novo trabalho chamado “Reféns” não chega a entrar para o grupo das podreiras, mas bate na porta e espera calmamente a alguns pequenos passos.

O longa conta com Nicolas Cage e Nicole Kidman nos papeis principais, interpretando o casal bem sucedido que mora em uma casa fantástica e repleta de segurança. Ele é uma espécie de mercador de diamantes, ela é uma arquiteta que projetou o próprio lar. Para completar a família, temos a filha jovem e rebelde feita pela bela Liana Liberato de “Confiar”. Com o time devidamente apresentando e pronto para entrar em campo, a (confusa) trama se desenrola.

Por conta da atividade do pai, a família se vê acossada na própria residência, pois desperta a cobiça em um grupo de assaltantes. Essa cobiça que inicialmente se mostra apenas material, deixa de ter algum sentido quando desenrola para outros lados. A tentativa de justificar o ato em si deixa o já fraco roteiro de Karl Gajdusek (do bom “Desconhecido”), mais fragilizado ainda. Com reviravoltas constantes e explicações risíveis para elas, o longa caminha para ser apenas suportável.

A atuação dos atores tem pelo menos um lado positivo, pois traz Nicolas Cage em um papel menos ridículo do que o dos seus últimos trabalhos. Mesmo não sendo espetacular, ele controla melhor seus trejeitos e vícios e até consegue imprimir alguma carga de boa atuação no seu personagem. Já a estonteante Nicole Kidman parece perdida e totalmente desfocada da ótima atriz que é. Serve apenas como o rosto feminino que desencadeia emoções fortes nos homens. 

“Reféns” é um filme que funcionaria melhor se a carga de tensão envolvida fosse muito maior. Sem maiores justificativas ou considerações, apenas o medo elevando em potência máxima o desespero dos personagens e consequentemente dos espectadores. Não é isso que se vê na tela. Até que em certas passagens temos algumas leves arrancadas rumo a esse objetivo, mas fica somente nisso. Indicado somente para aquele dia em que as opções nas salas de cinema foram parcas e previsíveis.

Assista ao trailer:

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

"27" - Kim Frank


Dentro do universo de histórias que o rock produziu desde que deu os primeiros passos, uma das mais intrigantes são os músicos que faleceram aos 27 anos. A lista é extensa e conta com nomes representativos como Jim Morrison, Jimi Hendrix, Brian Jones, Janis Joplin e Kurt Cobain. Essa estranha marca sempre gerou especulações e teorias da conspiração. Foi partindo disso que o alemão Kim Frank saiu para escrever seu primeiro romance em 2009.

Esse primeiro livro não gratuitamente se chama “27” e ganhou lançamento esse ano no seu país de origem, sendo amparado em solo nacional pelo selo Tordesilhas da Alaúde Editorial Ltda. Com 216 páginas e tradução de Eduardo Simões, trata de um jovem chamado Mika que tem o número chave da trama sempre lhe perseguindo, o que o leva a crer que irá falecer com esse número de primaveras vistas. Quando tem contato com o rock, isso se agrava mais.

“27” é um livro que pode até ter sido forjado de boa vontade e real crença na história, afinal de contas, Kim Frank foi vocalista e líder de uma banda de rock com relativo sucesso local na Alemanha (Echt) e se mostra um fã do estilo. No entanto, soa quase que exclusivamente como oportunismo barato, o que não seria um problema se a história fosse boa e bem escrita, mas isso não chega perto de acontecer. “27” é um imenso desperdício de tempo em meio a variados clichês.

O garoto que gosta de poesia e de repente se vê a frente de um grupo de sucesso na Europa (o que, diga-se de passagem, não aconteceu com o Echt), passando por todo o processo tradicional de deslumbre, álcool, mulheres, drogas, arrependimento e queda, não empolga e já foi melhor retratado antes pelo menos uma centena de vezes. O cuidado com a revisão é fraco e as referências que o autor usa não podem ser mais claras e amplamente conhecidas.

A única maneira que dá para imaginar “27” funcionando é em algum jovem (bem jovem mesmo) alheio ao mundo do rock e que veja nisso um motivo para ouvir essas música. No mais, o livro é insosso, lento, mal construído e sem charme algum. Mesmo com um elemento poderoso como condutor (o medo), Kim Frank não consegue fazer sua prosa soar coesa e agradável, o que nos leva a crer que a carreira de escritor vai tomar o mesmo caminho da sua antiga banda.

Site oficial: http://27-kimfrank.de

terça-feira, 8 de novembro de 2011

6º Festival Se Rasgum - Centro de Convenções Hangar - Belém/PA - 18 a 20 de Novembro de 2011


Salve, salve minha gente amiga...

Mais uma edição do Festival Se Rasgum em Belém/PA - um dos mais bacanas do país - se aproxima. Neste 6º ano de evento, a casa se muda para o Hangar, o Centro de Convenções da cidade, que possui uma estrutura excelente e invejável.

O festival será realizado de 18 a 20 de novembro, e conta na programação com shows, entre outros, de Leoni + Suzana Flag, Eddie, Bidê ou Balde, Lobão, DeFalla, El Cuarteto de Nós (URU), Arraial do Pavulagem, Fusile, Mestre Vieira + João Erbetta, Laurentino e Os Cascudos, BNegão e Os Seletores de Frequência e Marcelo Jeneci.

A programação completa você pega no site do evento: http://www.serasgum.com.br

Informações sobre as bandas, preços, como chegar, etc e tal, é só passar na página do Facebook: https://www.facebook.com/serasgum?sk=app_220539458013699
Lá no Facebook, entre outras coisas, você encontra também as oficinas que serão feitas e as atrações do Laboratório Música Paraense.

E ainda tem mais:


Se tiver por perto, não dá nem para pensar em perder.

Paz Sempre!

domingo, 6 de novembro de 2011

"Smoking In Heaven" - Kitty, Daisy & Lewis - 2011


Em uma resenha de 2 de janeiro de 2009, eu classificava o trio inglês formado pelas adolescentes Kitty e Daisy mais o irmão Lewis como “uma grata e deliciosa surpresa de 2008”. De lá para cá muita coisa mudou. A banda de Kentish Town, Londres, fez turnê abrindo para o Coldplay e recebeu palavras afetuosas de nomes como Amy Winehouse. Em 2011, com mais alguns anos na bagagem e não mais tão jovens como outrora, o trio chega a um novo álbum.

“Smoking In Heaven” tem 13 faixas e foi gravado em uma garagem, e assim como o primeiro utilizou somente aparelhos analógicos nesse processo. Lançado pelo selo Sunday Best, o registro mostra um evidente crescimento em relação a estreia. A sonoridade dos anos 50 calcada no rockabilly mais cru de um pub qualquer desse tempo, ganhou novos adornos e passa a transitar pelo ska e pop sessentista, dois estilos tão enraizados na cultura da música jovem inglesa.

Se anteriormente o convite era direcionado somente a diversão do rock básico e baseado quase que exclusivamente em covers, agora esse convite ganha músicas compostas pelos integrantes e um grau mais elevado de swing. Uma prova dessa nova faceta já ouvimos logo na abertura com “Tomorrow”, um ska que remete as origens jamaicanas do estilo, porém não foge de nomes contemporâneos como The Specials ou Madness, ícones maiores da onda do ska no Reino Unido.

A partir daí o jovem trio se divide em boogie-woogie (“Will I Ever”), country rock (“Baby Don't You Know” e “Smoking In Heaven”), rock mais moderno (a ótima “Don't Make A Fool Out Of Me”), rockabilly seco (“I'm Going Back” e “You'll Be Sorry”), instrumentais (“Paan Man Boogie” e “What Quid?”), pop dancehall (“Messing With My Life”), blues (“You'll Soon Be Here”), novamente ska (“I'm So Sorry”) e pequenas baladas com cheiro de naftalina (“I'm Coming Home”).

Com “Smoking On Heaven”, Kitty, Daisy & Lewis se posicionam de vez no campo de uma juventude que renega parte dos modos atuais e prefere música e vestimentas de outra época. O avanço da sonoridade indica uma diversão menor, no entanto passa a mostrar o lado compositor dos músicos, que vão acertando e errando como quaisquer outros em formação. No final, representa um disco gostoso de ser ouvido, principalmente para quem admira os anos que o trio homenageia.

Sobre o álbum de estreia, passe aqui.


Assista o clipe de “Don't Make A Fool Out Of Me”: 

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

"Corações Perdidos" - 2010

A vida de Doug Riley parece ter acabado, mas esqueceu de avisar. Não que ele esteja contente com isso, apesar de assumir a situação e não fazer muita coisa para mudá-la. Com um pouco mais de 50 anos, vive um casamento sem graça desde que a filha faleceu em um acidente de carro uns anos atrás. Desde então, sua mulher não sai de casa para nada. O único alívio que ainda tem é um dia automático de pôquer e um caso com uma garçonete.

Em “Corações Perdidos” (Welcome To The Rileys, no original), o diretor Jake Scott constrói todo o longa em cima do personagem de Doug, interpretado de maneira consistente por James Gandolfini, bastante conhecido pelo trabalho magistral como Tony Soprano na série de tevê. É em cima desse senhor que não sente mais o menor prazer de viver, que se desenvolve uma trama de perdão, segundas chances e aprendizado, acima de tudo.

Mesmo nesse clima de aceitação e de conformismo, em uma viagem para New Orleans para participar de uma convenção, Doug resolve não voltar mais para a casa em Indianápolis e avisa isso a esposa Lois (Melissa Leo de “O Vencedor”). Esse desejo é motivado em grande parte, porque no seu caminho atravessa a stripper Mallory (Kristen Stewart), que com apenas 16 anos utiliza do próprio corpo para angariar o sustento cotidiano.

Quando as cartas estão todas na mesa e parece que vai acontecer um jogo interessante, o roteiro investe em premissas conservadoras e apáticas. Ken Hixon (de “O Último Suspeito”), não consegue levar a trama para longe do convencional e acaba abortando um filme que poderia ser muito melhor, mas que acaba se salvando somente pelas atuações dos três personagens principais. Nada surpreende e os passos são previsíveis e sem muita inspiração.

Ainda não foi em “Corações Perdidos” que Jake Scott (filho de Ridley Scott) acerta seu caminho no cinema. Conhecido por trabalhos na área da música com bandas como R.E.M e U2, ele peca por não conduzir melhor o competente trabalho dos atores. Mesmo usando de alicerces fortes como casamento, companheirismo e desilusão, não consegue ir além de um parco campo de visão, onde o preto segue sempre preto e o branco parece nunca querer deixar de ser branco.

P.S: Disponível em DVD.

Assista ao trailer:

terça-feira, 1 de novembro de 2011

“Noel Gallagher’s High Flying Birds” - Noel Gallagher’s High Flying Birds - 2011

No futebol, entre todas as posições em campo, duas funções quase sempre resultam em um diferencial para qualquer time. A primeira é a do meia armador, que organiza o meio de campo com classe e faz o time andar, funcionando até como ponta de lança e indo para área fazer de gols de vez em quando, mas que tem como objetivo primordial servir os atacantes. A segunda função é a do centroavante, o cara que está na frente e tem como missão receber os passes e marcar os gols necessários para a vitória. Às vezes esse centroavante é marrento, mas o que interessa é que cumpra esse papel.

Fazendo a analogia do futebol com a música, uma banda que detenha um integrante capaz de produzir melodias bonitas e que resultam em canções marcantes, via de regra se torna algo diferente da grande média. Cantando essas músicas adicione um vocalista competente, que cheio de estilo e marra, conte essas histórias para os ouvintes. Os britânicos tinham isso no Oasis. Os irmãos Gallagher possuíam em Noel, aquele camisa 10 bom de bola, que era capaz de brilhantismos durante um disco e em Liam o vocalista cheio de estrelismo que repassava com seu canto próprio o produto final para o ouvinte.

Pelo Oasis, os irmãos Gallagher elaboraram dois grandes álbuns: “Definitely Maybe” de 1994 e “(What’s The Story) Morning Glory?” de 1995. Depois deixaram o ego falar maior que a qualidade em si e foram apresentando discos cada vez menores. Acharam que já estavam em um nível de excelência muito alto, jogando mais bola do que aquela que realmente jogavam. Com “Dig Out Your Soul” de 2008, uma pequena centelha de criatividade aparecia novamente no gramado de jogo, mas esse último suspiro não foi suficiente para que a banda continuasse e desse a volta por cima.

Já com o fim do Oasis decretado, Liam juntou os ex-parceiros de banda e partiu para um novo time, o Beady Eye. Lá, continuou marcando seus golzinhos (mesmo sabendo que não briga mais por títulos) e fez um bom trabalho, de acordo com o que se espera dele, um rock focado nos anos 60 e 70 e sem maiores invencionices. Já Noel, ficou quieto no seu canto, compondo, produzindo e esperando propostas. Resolveu então criar um time e um selo próprio (Sour Mash) e lançou “Noel Gallagher’s High Flying Birds”, onde juntou alguns amigos e só não tocou bateria e teclado nas 10 faixas do registro.

Com “Noel Gallagher’s High Flying Birds”, o irmão mais talentoso faz o que mais ou menos se aguardava de um camisa 10 diferenciado como ele. Constrói belas harmonias e as preenche com violões, orquestrações, pianos, solos breves de guitarra e até mesmo metais. Tudo como seu estilo indicaria que fosse: grandioso e com tendência ao épico. No entanto, nem tudo é magistral no disco. Assim como no Oasis, Noel embrulha obras primas absolutas como “The Death Of You And Me” com outras faixas apenas razoáveis, como “Everybody's On The Run” e “(Stranded On) The Wrong Beach”.

Cabe aqui lembrar que isso também acontecia no Oasis. Para cada “Wonderwall”, “Don’t Look Back In Anger” ou “Live Forever” feita por ele, tinha também uma "Put Yer Money Where Yer Mouth Is" ou uma "Mucky Fingers" (apenas para ficar em algumas). Mas mesmo oscilando entre brilhante e mediano, a estreia de Noel Gallagher é melhor que a do irmão, apesar de não lhe caberem tantos superlativos quanto os que lhe são direcionados pela maioria da imprensa. Com sua técnica apurada, nos oferece belas faixas como “Dream On”, “Soldier Boys And Jesus Freaks” e “AKA... Broken Arrow”.

Fica difícil prever o quanto esse projeto durará (ou se a antiga banda retornará um dia) e quão significativo ele será para a música atual, pois nem mesmo ele sabe ao certo, como atestou em recente entrevista para a revista Rolling Stone. O que dá para saber com elevado grau de certeza é que Noel não se esqueceu de como tocar uma bola com classe, por mais que os últimos anos de Oasis levassem a essa crença. “Noel Gallagher’s High Flying Birds” é um bonito trabalho, que mostra um cara com um dom supremo de criar melodias, mas que no final das contas, voltando as analogias futebolísticas, sempre é um pouco atrapalhado por se imaginar como um gênio, ao invés de "somente" um craque.


Assista ao clipe da estupenda “The Death Of You And Me”: