sábado, 10 de setembro de 2011

"Pequeno Irmão" - Cory Doctorow


O terrorismo realmente mudou o mundo depois do 11 de setembro. Se o mundo mudou então os Estados Unidos mudaram ainda mais, com direitos de cidadãos sendo rasgados em nome da segurança nacional. O tema já foi bastante abordado de lá para cá em filmes como “Medo e Obsessão” de Win Wenders em 2004, em livros diversos ou mesmo em séries como 24 horas. “Pequeno Irmão” de Cory Doctorow é mais um exemplo que cerceia o assunto.

O livro foi lançado em 2008 no exterior e ganha edição nacional esse ano pelas mãos da Editora Record com 400 páginas e tradução de André Gordirro. A obra visa explorar o universo jovem, tanto é que o seu herói é um garoto de 17 anos chamado Marcus Yallow, mas que atente pelo nick W1n5t0n na internet. Porém, como aborda ideias sobre liberdade de expressão, política e o papel do governo na vida dos cidadãos, pode ser estendido para um público maior.

A obra chega ao país depois de ser referendada por nomes como Neil Gaiman (“Sandman”) e Brian K. Vaughan (“Y: O Último Homem”), além de publicações importantes como o Los Angeles Times. Para construir sua história, Cory Doctorow lança um atentado na Bay Bridge em São Francisco na Califórnia, USA, assim como em partes do metrô. Marcus Yallow e mais 3 amigos que estavam gazetando aula por ali, são pegos para interrogatórios como suspeitos.

O Deparmento de Segurança Nacional, retratado no livro como um monstro corpulento e poderoso, mas um pouco carente de boas ideias, leva os estudantes para uma prisão e lhe faz torturas, principalmente por conta do nível de aparelhos eletrônicos que são encontrados em posse do grupo. Marcus e sua trupe são nerds (ou hackers em certos momentos) de informática que conseguem burlar diversos sistemas e crackear os mais renomados produtos.

Ao ser libertado da prisão e sofrer ameaças, Marcus vê sua cidade sitiada pelo exército e demais agentes federais, que sem constrangimento algum passam a procurar terroristas por toda a parte. Então, através da internet, cria-se uma pequena resistência a esses abusos que vão causar muita dor de cabeça para ambos os lados, sempre utilizando a tecnologia como fiel aliada. É nesse ponto, que a aventura proposta pelo livro se inicia verdadeiramente.

“Pequeno Irmão” tem uma narrativa ágil e informativa, que volta-se para fãs de tecnologia em geral e jovens nerds arremessados no fundo de suas cadeiras. Ao mesmo tempo em que critica o governo pelo seu posicionamento, faz uma luta pelo direito a liberdade na internet e ao uso de softwares, já que o seu autor Cory Doctorow é atuante nesse campo, tendo sido diretor da Electronic Foundier Fundation, uma associação filantrópica que luta nesse sentido.

Como aventura o livro agrada bem, mas desliza nas suas partes adjacentes. O personagem principal, por exemplo, toma atitudes que seriam mais cabíveis para um garoto de 14 ou 15 anos ao invés de 17. O discurso contra a segurança nacional não pesa o lado da balança da real necessidade dela existir, mesmo que com outros moldes, além do fato da revisão da editora ter deixado escapar várias falhas no texto, o que acaba diminuindo o bom resultado final da obra.

P.S: Sendo fiel aos temas que defende, o autor coloca no final uma vasta bibliografia sobre tecnologia, como também disponibiliza gratuitamente bons trechos do livro em inglês aqui: http://craphound.com/littlebrother/download

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