quarta-feira, 17 de agosto de 2011

"Solar da Fossa - Um Território de Liberdade, Impertinências, Ideias e Ousadias" - Toninho Vaz


Quem está visitando o Rio de Janeiro muito provavelmente já passou pelo Shopping Rio Sul. Um dos mais antigos da cidade maravilhosa (desde 1980) está localizado em uma área nobre do bairro de Botafogo. O que pouca gente sabe é que no lugar onde hoje o consumo carioca bate ponto, antigamente existia uma pensão que abrigou entre 1964 e 1971, uma parte relevante da cultura e jornalismo nacional. A pensão, mais conhecida como Solar da Fossa, agora tem sua história contada em livro. 

“Solar da Fossa - Um Território de Liberdade, Impertinências, Ideias e Ousadias” (256 páginas) é escrito por Toninho Vaz (autor das biografias de Torquato Neto e Paulo Leminski) e depois de algum tempo engavetado por conta de questões judiciais, finalmente ganha a primeira edição em uma parceira da Casa da Palavra com a Editora Leya. O autor que também foi morador da famosa pensão naqueles anos, relata alguns dos fatos cotidianos dos moradores e da época em geral.

No Solar da Fossa (que no começo era só Solar, o Fossa veio depois) moraram em algum momento das vidas, nomes como Caetano Veloso, Paulinho da Viola, Tim Maia, Paulo Coelho, Zé Keti, Cláudio Marzo, Betty Faria, Gal Costa, Maria Gladys, Naná Vasconcelos, Ruy Castro e Darlene Glória, entre tantos e tantos outros. Guardada todas as devidas proporções, foi uma espécie de Chelsea Hotel nacional, onde cantores, músicos, poetas e escritores se tornaram um coletivo efervescente.

Na pensão comandada por Dona Jurema, nasceram músicas como “Alegria, Alegria” do Caetano e se consolidaram parcerias entre personagens que poucos anos depois tomariam de assalto o cenário nacional. Era a época dos festivais e da libertação da juventude que logo foi cerceada pela ditadura militar e todos seus desmandos. Era época em que a música, o cinema e o teatro tentavam se renovar e ir contra movimentos velhos e desgastados. Era época de se encontrar, de achar o próprio lugar.

As histórias do livro se misturam com as dos personagens e são repassadas por Toninho Vaz como se fosse um grande bate papo, constituindo um mérito do trabalho. Para reconstituir esse momento pouco documentado, o autor entrevistou diversos ex-moradores, obtendo quase sempre o testemunho: “tenho ótimas lembranças, foi um tempo maravilhoso”. Assim, reconstruiu os quartos, as alas, a forma de convívio, os arredores, os bares e o ambiente quase lúdico que por lá reinava.

Depois de ler histórias (que são quase contos) divertidas, românticas e festivas, acaba-se inconscientemente fazendo parte daquele instante. Sendo assim, quando o Solar da Fossa teve todos os moradores despejados pela justiça para a demolição, sente-se também um pouco da tristeza dos dias que Toninho Vaz assim definiu: “o vazio cultural deixado como sequela das divergências políticas, que duraram quase uma década, era uma realidade indigesta do país, naquele início de ano.

Um lugar importante para a cultura nacional, onde referências se espalhavam como nos versos de “Panis Et Circenses” (“mandei plantar folhas de sonho no jardim do solar”), ganha um registro detalhado e escrito em tom companheiro. E tem saborosas passagens, como a que diz que quando a polícia chegava lá, os moradores enterravam os livros subversivos (Marx, Engels, etc.) no jardim. Livros que hoje residem embaixo de um centro que vai contra aquilo que pregavam naqueles tempos.

Blog do autor: http://toninhovaz.blogspot.com

Assista a um vídeo de lançamento: 

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