sábado, 30 de julho de 2011

"A Missão do Gerente de Recursos Humanos" - 2011


Chega uma hora na vida que a pessoa tem que fazer alguma coisa certa, ir até o fim em algo realmente bom, por mais que depois retorne aos mesmos erros e índole duvidosa. Se essa pessoa verdadeiramente nunca produziu nada que valha a pena ser citado e a vida incomoda muito depois de um tempo, a busca por alguma redenção se torna obrigatória, mesmo que isso soe como fantasia ou ilusão.

É isso que acontece com o personagem principal do filme “A Missão do Gerente de Recursos Humanos” que estreou em alguns cinemas nacionais há poucas semanas. O mais recente trabalho do cineasta israelense Erik Riklis de “Lemon Tree” (2008) trata com tudo que lhe é permitido sobre essa busca por redenção, esse esperado momento de se encontrar alguma paz no meio de tanta bagunça.

Mark Ivanir (de “A Lista de Schindler” e “O Bom Pastor”) é gerente na maior padaria de Jerusalém. Está lá de favor, pois esconde algum passado que precisa de perdão. Enquanto toma conta do setor de pessoal da empresa, tenta se reconciliar com a esposa e manter com a única filha algum tipo de relação. Quando uma funcionária morre em um atentado terrorista, a vida dele começa a dar uma guinada.

A funcionária que morreu carregava um cheque de pagamento da empresa, mas o gerente desconhecia sua presença. A imprensa sensacionalista vê o caso como um prato cheio para arremessar isso na capa dos tablóides e usa para tanto um estabanado repórter (Guri Alfi). Com um tremendo abacaxi nas mãos, o gerente (que não tem nome) precisa viajar para levar o corpo ao país de origem da moça assassinada.

“A Missão do Gerente de Recursos Humanos” convence bem mais na sua primeira metade, antes que os personagens partam para a missão em algum país do leste europeu. Nessa parte da viagem, Erik Riklis não consegue fugir de situações manjadas e transforma rapidamente obrigação em afinidade quando o gerente faz uma caravana com o filho da mulher e mais uma boa turma de estereótipos.

É um filme que emociona em momentos isolados e diverte com seus casos tragicômicos. Porém, desliza ao tentar fazer tudo valer a pena demais. Erik Riklis desenvolve boas tiradas sobre o fim do comunismo e suas carcaças ainda resmungando no caixão, mas não traz a tona à natureza mais política que a trama merecia, o que resulta em um filme mediano, que só consegue agradar de espasmo em espasmo.

Assista o trailer: 

quinta-feira, 28 de julho de 2011

"Que Isso Fique Entre Nós" - Pélico - 2011


Uma guitarra surge leve para depois receber o acompanhamento de um clarinete e um fagote. A sonoridade meio circense traz uma voz afirmando que apesar de tudo, não existe razão para se guardar mágoa e que ainda não é tempo de chorar. Com uma melancolia simples, o paulista Pélico abre seu mais recente disco intitulado “Que Isso Fique Entre Nós”, que sucede o bom “O Último Dia De Um Homem Sem Juízo” de 2008.

 

Para ajudar no novo trabalho, o músico chamou o parceiro de longa data Jesuz Sanchez (Los Pirata) para a produção e mixagem. Companheiros antigos como Régis Damasceno (Cidadão Instigado) e João Erbetta (Los Pirata) também aparecem ao lado de outros nomes que auxiliam nos mais diversos instrumentos como sanfona, banjo, órgão, violino, trombone e trompete, o que serve para enriquecer bastante a sonoridade do álbum.

 

Quase todas as canções de “Que Isso Fique Entre Nós” versam sobre amores que carregam suas chagas, mas também uma esperança redentora, que deixa o caminho mais suave por mais inevitável que seja a porrada. Em “Tenha Fé, Meu Bem”, por exemplo, Pélico canta que nada vai alcançar ele e seu amor, mas sabe que em toda paixão existem percalços e que “não se atravessa uma vida sem magoar alguém”, como diz a sofrida “O Menino”.

 

Essa sonoridade robusta do novo disco rende agradáveis passagens. Entre as maiores podemos citar o brega moderno de “Vamo Tentá”, com Marco Delfino (tuba), Sidnei Borgami (trombone), Nahor Gomes (trompete), Isabel de LaTorre (clarinete) e Ramoska (fagote) guiando o ritmo ou a bonita “Se Você Me Perguntar”, que faz uma ode as baladonas de Roberto Carlos e tem um ukulele tocado por Jesus Sanchez para dar mais um plus.

 

Outro belo momento fica por conta de “Não Éramos Tão Assim”. Com melodia cativante e vocal nostálgico de Pélico, essa canção faz uma análise em retrospectiva sobre o que mudou na vida até os presentes dias. Retrata nos seus versos a passagem do tempo e a transformação de características pessoais como tolerância e volúpia, que inegavelmente foram alteradas com os anos, mas assume que isso é normal e que o caminho precisa ser seguido.

 

“Que Isso Fique Entre Nós” é um disco repleto de nuances e traz um artista mais tranquilo que antes e principalmente mais consciente do que pode fazer. Sem pressa, Pélico envolve aos poucos o ouvinte com um verso aqui, uma melodia ali, uma flauta acolá. A vida nem sempre é boa, mas não cabe nela desesperos ou medidas drásticas. A história é seguir em frente, sem correr, sem matar e sem morrer, como diz uma das canções desse bonito registro.

 

Site Oficial com o disco para download: http://pelico.com.br

 

Twitter: http://twitter.com/pelicomusica

 

Assista um teaser do disco com “Ainda Não é Tempo de Chorar”:

terça-feira, 26 de julho de 2011

"Ilustrado" - Miguel Syjuco


As Filipinas são um arquipélago composto de mais de 7.000 ilhas localizado na Ásia. Na sua história já passaram a colonização espanhola e a americana, a invasão japonesa na Segunda Guerra Mundial e a ditadura corrupta de Ferdinando Marcos que entre 1965 e 1986 reinou absoluta e infeliz. Crispin Salvador é um renomado romancista filipino, que partiu para os Estados Unidos desiludido com os caminhos do seu país e de seu povo.

É este Crispin Salvador que desencadeia todo o processo de “Ilustrado”, livro de Miguel Syjuco lançado esse ano pela Companhia das Letras, com 438 páginas e tradução de Fernanda Abreu. O autor que foi premiado com o “Man Asia Literary Prize” por conta dessa estreia, é filipino como os personagens que cria e utiliza para passar em linhas gerais todas as fases do país, com atenção mais voltada para as desgraças do terceiro mundo.

“Ilustrado” começa com o corpo do falecido Crispin Salvador encontrado no rio Hudson em Nova York. Isso é o bastante para que Miguel (personagem que carrega o mesmo nome do autor), parta para entender melhor as causas dessa morte. Aluno do romancista na Universidade de Columbia, Miguel vinha escrevendo uma biografia sobre o mesmo e esperara ansioso a publicação de um mítico livro chamado “As Pontes em Chamas”.

Para compor a trama, o autor utiliza de diversas ferramentas que vão desde trechos de livros anteriores de Crispin Salvador até comentários recentes de um blog de Manila, capital das Filipinas. Entre as diversas situações que cria, também cita entrevistas e pequenas passagens da biografia em andamento. Esses detalhes que vão sendo colocados, em um primeiro momento não fazem tanto sentido, até que a parte final comece a amarrá-los.

No seu romance de estreia, Miguel Syjuco consegue duas proezas. Além de criar uma história interessante, também surpreende no final, por mais que este seja apontado vez ou outra pelo caminho. No entanto, “Ilustrado” é um livro que peca bastante no seu ritmo e acaba não envolvendo como poderia. Os seus méritos, que são fáceis de identificar, terminam assim sendo prejudicados por certo preciosismo de estilo e conexões desnecessárias. 

domingo, 24 de julho de 2011

"One Beer, One Blues" - Big Bill Broonzy - 2011


“Eu tenho a chave para a estrada e já paguei minhas contas. Estou de saída, vou sair correndo daqui (...) vou caminhar nessa antiga estrada, até o nascer do dia.” Assim cantava Big Bill Broonzy em “Key To The Highway”, provavelmente uma de suas músicas mais conhecidas e que ganhou regravações de nomes como BB King, Eric Clapton, Rolling Stones e Jeff Beck.

Nascido ainda no final do Século 18 no estado do Mississipi, USA, filho de uma família grande (tinha mais dezesseis irmãos), se mudou para Chicago no começo de 1924 para se tornar um dos nomes mais respeitados do blues de todos os tempos. Primeiramente sozinho ao violão, como predizia o estilo da época, aos poucos foi transformando essa estrutura fechada. 

“One Beer, One Blues” é mais uma coletânea que visa mostrar a carreira do músico e abrange gravações de boa parte do período produtivo dos anos 20 até o falecimento no ano de 1958. Outras coletâneas já trataram da sua música como “An Introduction To Big Bill Broonzy” de 2007 e a série em 12 volumes “Complete Recorded Works” lançada no começo dos anos 90.

Apesar de não poder levar a alcunha de essencial, esse novo projeto é uma saborosa coleção de grandes canções. São 17 ao todo e incluem além de “Key To The Highway”, pérolas como “Swing Low Sweet Chariot”, “When I've Been Drinkin'”, “Walkin' The Lonesome Road”, “Get Back” e “Hey, Hey!”. Blues na sua melhor forma, tocado com toda a alma possível.

O trabalho de Big Bill Broonzy inspirou monstros como Muddy Waters e Willie Dixon e converteu fãs como o guitarrista Ronnie Wood dos Stones. Escutar suas músicas em pleno 2011, revela acima de tudo o poder que a arte tem de atravessar o tempo. “One Beer, One Blues” é disco para se ouvir com cuidado, apreciando a crueza e o sentimento que conceberam suas canções.

Um site sobre o músico: http://www.broonzy.com

Ouça “Get Back”:

quinta-feira, 21 de julho de 2011

"O Concerto" - 2010

Andreï Filipov era um grande maestro da conceituada Orquestra do Teatro Bolshoi fundada em 1776 na Rússia. Especialista na obra de Tchaikovsky, teve a carreira abortada por causa da política. Mais de três décadas depois, ele continua trabalhando para o Teatro Bolshoi, mas agora exerce a função de servente. Quando aparece um fax solicitando uma apresentação em Paris, inventa uma maneira de reunir os antigos parceiros de música e embarca como se fosse a verdadeira orquestra.

Em “O Concerto”, o diretor romeno Radu Mihaileanu (de “Trem da Vida”) explora o improvável para construir uma história bem humorada, espirituosa e nobre de coração. Disponível em DVD, o longa parte da premissa bastante absurda contida no final do parágrafo anterior para explorar outras vertentes. Usa de humor político e casual para camuflar uma busca por reencontro e satisfação pessoal, utilizando a música ao mesmo tempo como fio condutor e personagem.

O ex-maestro Filipov (Alexei Guskov) precisa encontrar 55 músicos e um empresário para viabilizar a viagem para França. Em surdina, junta forças com o amigo Dmitri Nazarov (o ótimo “Sasha” Abramovih Grosman) e sai recrutando antigos parceiros da época de ouro. Esse recrutamento rende ótimas passagens e faz uma velada (mas não menos ácida) crítica aos caminhos da Rússia atual, assim como destrona antigas premissas comunistas que o tempo já foi competente em destruir.

Quando a viagem começa a tomar forma, várias pessoas passam a demonstrar outros interesses embutidos que não passam necessariamente pela apresentação em si. O próprio Filipov tem muito mais a contar do que apresenta de ínicio e quando a solista francesa Anne-Marie Jacquet (a bela Mélanie Laurent de “Bastardos Inglórios”) entra na trama, esses segredos se revelam aos poucos. Porém, nessa segunda metade o filme cai um pouco por deixar mais o humor e partir para o drama.

O diretor Radu Mihaileanu fez em “O Concerto” um trabalho que para gostar tem que deixar em descanso o lado mais chato e rabugento de cada um. È lógico que o plano do ex-maestro Andreï Filipov não daria certo na vida real, mas o cinema também é uma casa para se explorar fantasia e onde às vezes tudo é permitido. Tem falhas e defeitos, mas no total o resultado é positivo. O final que traz o concerto que dá nome ao filme sendo executado, respalda isso e singelamente emociona.

Assista ao trailer:

terça-feira, 19 de julho de 2011

"Harry Potter e As Relíquias da Morte - Parte 2" - 2011

Na metade final de “Harry Potter e As Relíquias da Morte - Parte 2”, o alvoroço que se fazia presente na extensa fila de antes da sessão, já fez suas malas e foi embora. O público da sala na maioria é composto de jovens e mesmo os mais novos agora fazem silêncio e prestam atenção no que se desenrola na telona. O silêncio só é cortado, vez ou outra, por alguma vibração desencadeada por uma vitória conquistada pelo lado do personagem que dá nome a série.

Não tem como se discutir o impacto que os livros de J.K. Rowling e os oito filmes lançados desde 2001 tiveram na cultura pop da última década. Milhares de jovens cresceram junto com Harry Potter, Rony Weasley e Hermione Granger e cultivaram o prazer pela leitura e cinema. Por mais que hoje já estejam com outros horizontes à vista e com outros gostos, é inegável que uma grande carga de emoção e ansiedade está inserida nos seus semblantes.

“Harry Potter e As Relíquias da Morte - Parte 2” cumpre a tarefa de encerrar bem a franquia com a chamada “chave de ouro”. É o melhor filme de todos, com uma mesclagem objetiva de ação, drama e suspense. O diretor David Yates apaga as más impressões que a “Parte 1” havia deixado e faz um ótimo trabalho, apesar de alguns furos no roteiro, principalmente no imperdoável episódio envolvendo o sumiço e o reaparecimento da espada de Gryffindor.

O trio de ferro da trama comandado por Daniel Radcliffe, Rupert Grint e Emma Watson ganha o apoio de personagens pouco explorados até então, como Neville Longbottom (Mattew Lewis) e redime belamente o Severo Snape de Alan Rickman. Até atores apagados anteriormente resolvem se sobressair, como é o caso de Ralph Fiennes com seu Lorde Voldemort, que até então ainda não tinha conseguido imprimir a real carga de intensidade que lhe era necessária.

Mesmo tendo sido rodado na mesma época que a primeira parte, o desfecho final da trama das “Relíquias da Morte” é muito superior e ao levar Harry e seus amigos na luta para derrotar Lorde Voldemort e extinguir todo o mal que ele representa, consegue emocionar. Se a franquia acabará mesmo ou se terá algum real legado, ainda é cedo para prever, no entanto, a sua parte final é um bonito testemunho do que a amizade e a nobreza são capazes de proporcionar.

Sobre o filme anterior, passe aqui.

Assista ao trailer:

domingo, 17 de julho de 2011

"Volume 2: High and Inside" - The Baseball Project - 2011


O beisebol é um dos esportes mais amados pela população dos EUA, levando milhares aos estádios a cada temporada e provocando amores exaltados sobre os times da Major League, a principal divisão em disputa. Não é surpresa então achar no meio da música, fãs ardorosos do esporte e de times tradicionais como o Boston Red Sox, New York Yankees e San Francisco Giants, entre tantos outros.

Entre esses fãs estão Scott McCauguey (Minus 5, Tired Pony) e Steve Wynn (Dream Syndicate) que no meio de alguns jantares e bons vinhos se empolgaram em criar música tendo o esporte como referência. A história tomou forma em 2008 e junto com Peter Buck (R.E.M) e Linda Pitmon (Golden Smog) formaram o The Baseball Project, que em 2008 fez “Volume 1: Frozen Ropes And Dying Quails”.

O primeiro álbum foi muito bem recebido e trazia histórias envolvendo o beisebol com guitarras e muito bom humor em uma roupagem rock, com influências de pop, punk e bubblegum. Com o sucesso do trabalho, a ideia foi dando cria e este ano surge “Volume 2: High and Inside”, com a mesma pegada divertida da estreia, porém tendo como foco um pouco mais de letras pessoais em relação ao esporte.

Scott McCauguey e Steve Wynn também resolveram convidar mais amigos e abriram a porta para Craig Finn do Hold Steady (que canta a ótima “Don't Call Them Twinkies”), Ben Gibbard do Death Cab For Cutie, Ira Kaplan do Yo La Tengo e Chris Funk e John Moen do Decemberists. O resultado de tanta gente boa reunida é um prazeroso disco de rock feito com alegria, descompromisso e paixão.

É claro, no entanto, que o universo das letras funciona bem mais para quem conhece o esporte e está familiarizado com suas expressões, rivalidades e nomes de ídolos como Roger Clemens e Suzuki Ichiro. Mas isso não é extremamente necessário para que “Volume 2: High and Inside” seja agradável. A linguagem do rock é universal, ainda mais quando bem feito como este “home run” do Baseball Project.

Site Oficial:http://thebaseballproject.net

As letras dos 2 discos estão aqui (para entender melhor): http://lyrics.wikia.com/The_Baseball_Project

Assista “Don't Call Them Twinkies” ao vivo com Craig Finn: 

sexta-feira, 15 de julho de 2011

"Intermediário.com" - 2010


Nos Estados Unidos, dois completos idiotas que tem a palavra fracasso escrita em letras maiúsculas na testa, acertam em uma grande jogada e em poucos meses faturam alguns milhões de dólares. Mais um retrato de vitória e superação na terra das oportunidades? Mais ou menos, se levarmos em consideração que essa grande jogada envolve pornografia, uma quantidade respeitável de drogas e álcool envolvidos e negócios com a máfia russa. 

“Intermediário.com” (“Middle Man” no original) não passou pelos cinemas nacionais e desembarca diretamente em DVD. O filme é dirigido por George Gallo (“Mais do Que Você Imagina”) e escrito por ele em parceria com Andy Weiss, mais conhecido pelo trabalho na série “Punk’d” da MTV. É uma opção divertida de entretenimento que pode ser entendida como uma mistura de “Boogie Nights” de 1997 com filmes tradicionais de máfia.

Giovani Ribisi (“Avatar”) e Gabriel Macht (“O Amor e Outras Drogas”) vivem os dois amigos que no meio de uma discussão sem o menor sentido descobrem uma maneira de explorar a pornografia no ainda então iniciante mundo da internet. Como tudo era muito novo e básico, eles retiram fotos de revistas masculinas e colocam na grande rede, cobrando o acesso através de cartões de crédito oriundos de qualquer parte do mundo.

Como não sabem lidar com o repentino sucesso, os dois acabam se envolvendo com a máfia russa e é preciso que o resolvedor de problemas Jack Harris (Luke Wilson de “Os Excêntricos Tenenbaums”) chegue e ponha ordem na casa. Com Jack, o negócio cresce e se torna extremamente lucrativo. No entanto, alguns problemas ainda estão escondidos e tornam a aparecer enquanto Jack se equilibra entre a família e o mundo de luxúria que faz parte. 

“Intermediário.com” avisa no início que é baseado em fatos reais, mas deve ser muito superficialmente inspirado. As tramas e loucuras do filme são tantas que acabam não sendo tão verossímeis. Por outro lado, é isso que transforma o filme em algo divertido e prazeroso de ser visto. O elenco tem atores experientes como James Caan e Robert Forster e isso ajuda bastante o ótimo trabalho que Luke Wilson e Giovani Ribisi desenvolvem na tela.

Assista ao trailer: 

quarta-feira, 13 de julho de 2011

"A Treasure" - Neil Young International Harvesters - 2011

O baú de Neil Young é inesgotável. Nos últimos anos além do esplêndido “Archives Volume 1”, álbuns ao vivo como “Live At Filmerore East 1970”, “Live At Massey Hall 1971” (ambos também inclusos na caixinha) e “Dreamin' Man Live '92” - respectivamente lançados em 2006, 2007 e 2009 - trouxeram bons momentos da carreira do velho bardo canadense à tona. Agora são registros recuperados de apresentações realizadas em 1984 e 1985 que ganham vida. 

“A Treasure” traz apresentações de Neil Young em um conturbado período profissional, com problemas com a sua gravadora e recebendo críticas pesadas para discos como “Re-ac-tor” de 1981, “Trans” de 1982 e “Everbody’s Rockin’” de 1983. O próximo passo seria um trabalho voltado para a música country intitulado “Old Ways” (que seria apresentado em 1985), tendo a participação de um timaço de respeitados músicos da cena de Nashville.

Entre os músicos que tocam nas apresentações estão nomes como Ben Keith na guitarra, Joe Drummond no baixo, Hargus “Pig” Robbins no piano e Karl Himmel na bateria. São doze faixas que trazem duas que fariam parte do já citado “Old Boys” (“Bound For Glory” e “Get Back To The Country”) e mais cinco inéditas. Entre as inéditas destacam-se mais o tradicionalismo bonito de “Amber Jean” e as guitarras blueseiras de “Soul Of A Woman”.

Passando por lugares como Pasadena, Austin e Berkeley, as apresentações mostram uma banda entrosada, onde os instrumentos de cordas estão em perfeito casamento com a estrutura base e os vocais. Faixas como “It Might Have Been” e “Nothing Is Perfect” são bons exemplos disso. A voz de Neil Young surge límpida e acrescenta brilho em outras como “Let Your Fingers Do The Walking” e “Flying On The Ground Is Wrong”. 

“A Treasure” ganha (lá fora) lançamento em vários formatos, incluindo cd deluxe e vinil e serve para dar uma levantada em uma época que é geralmente renegada. Nas doze faixas em que toca junto com a International Harvesters (nome da banda que o acompanhava no período), Neil Young demonstra que apesar das oscilações que permearam esses anos, quando subia no palco, nada parecia mudar e ele continuava grande como de costume.

Site oficial: http://www.neilyoung.com

Assista “Amber Jean” na apresentação que está no disco:

segunda-feira, 11 de julho de 2011

"Mono Maçã" - Lê Almeida - 2011

Com o avanço da tecnologia nos últimos anos, fazer música como lhe convêm independente das ferramentas que tem a disposição no momento, se tornou algo mais descomplicado de se conseguir. O carioca Lê Almeida se enquadra nessa corrente já há algum tempo e produz suas músicas no quarto, na sala ou no quintal de casa, tocando quase que sempre todos os instrumentos.

Esse esquema já proporcionou bons registros como os EP’s “Loufailândia” de 2007 e “Revi” de 2009, onde faixas como “Letícia Cristina”, “Nunca Nunca” e “22 Anos” se apresentaram como maiores destaques. A sonoridade que Lê Almeida busca, se inicia com as guitarras e partir delas explora o lo-fi com influências de Pavement, Guided By Voices, Sebadoh e Built To Spill.

Um dos fundadores do selo “Transfusão Noise Records” e produtor de bandas novas como o Top Surprise, Lê Almeida finalmente lança o primeiro disco completo. “Mono Maçã” já tinha ganhado uma edição menor no ano passado (lançado somente na Inglaterra), mas só agora se apresenta por inteiro. São 23 faixas que seguem a tradição lo-fi na duração, vocais e instrumentos.

Abrindo com o powerpop de “Transporpirações” e fechando com os excelentes seis minutos de “Por Favor Não Morra”, “Mono Maçã” desfila seu repertório com um pouco mais de qualidade na produção e novas influências. A tríade “Marcha dos 6 Elefantes”, “Sonho K” e “Longeridite”, por exemplo, senta para olhar o céu e evocar os Beatles na sua matadora fase psicodélica.

As guitarras explodem em distorções, pequenos solos e outras fuleiragens e pedem para que o volume seja aumentado. Faixas como “Eles Estão Na Minha Rua”, “Vamos Ver o Sol” e “Amigo Comprimido” mostram o Lê Almeida já conhecido anteriormente (mas com leves mudanças), e recheiam um disco que agrada bastante, principalmente quem gosta da estética a que se destina fazer parte.

Baixe o disco gratuitamente aqui: http://transfusaonoiserecords.blogspot.com

Assista “Por Favor Não Morra” em uma longa versão ao vivo:

sábado, 9 de julho de 2011

"O Retorno de Bloodworth" - 2010


Como recuperar o tempo que passou? Essa é a pergunta que E. F. Bloodworth faz para si mesmo quando resolve retornar para o lar de onde partiu 40 anos antes para ganhar o mundo com um violão nas costas. A música, que como ele mesmo afirma foi sua maldição e salvação, apenas o fez sobreviver e não levou ao sucesso, fama ou glórias. Já velho e doente opta em passar os dias finais na pequena cidade encravada no interior do estado do Tennessee, USA. 

“O Retorno de Bloodworth” chega diretamente em DVD por aqui e pode ser confundido inicialmente com o ótimo “Coração Louco” de Scott Cooper, mas apesar de ter uma via em comum explora outras nuances. O velho cantor que regressa é interpretado por Kris Kristofferson, a vontade em um papel que devido a sua extensa carreira de músico e ator, não lhe faz surpresa. Nesse regresso, o que pode ser entendido apenas como uma busca por redenção, vira outro jogo.

Em seu segundo filme, o diretor Shane Dax Taylor perde a chance de construir um trabalho mais consistente. O roteiro de W. Earl Brown (que também atua como filho do velho trovador no longa) distribui o foco em muitas frentes e insiste demais no desgastado drama da família disfuncional de uma cidade pequena norte-americana. Isso acaba quebrando o ritmo, pois transfere histórias mais interessantes para outras que não funcionam como deveriam.

Baseado em uma novela de William Gay chamada “Provinces Of Night”, a trama falha na tentativa de manter o nível em todos suas esferas. Enquanto acerta na relação de Bloodworth com os filhos e o neto (Reece Thompson de “Provas e Trapaças”) que carrega o seu nome, não agrada tanto quando conta os dramas pessoais de cada um e que envolvem fanatismo religioso, abuso de álcool e paixões que transitam entre pólos distintos do céu e do inferno total. 

“O Retorno de Bloodworth” ainda traz um Val Kilmer (“The Doors”) cada vez mais ridículo e em declínio nos seus papeis no cinema e uma trilha sonora que com a produção de T-Bone Burnett e a execução de Kris Kristofferson poderia alcançar níveis bem maiores. É um filme que até a primeira metade parece que vai funcionar, mas acaba se perdendo mais adiante, por mais que tente se redimir um pouco no fim. Indicado apenas para dias sem muitas opções.

Assista o trailer: 


quinta-feira, 7 de julho de 2011

"The Beatles Vs. The Rolling Stones - A Grande Rivalidade do Rock' n’ Roll" - Jim Derogatis e Greg Kot


Mesa de bar em um dia qualquer. Várias cervejas na mesa e alguns amigos e amigas batem papo sobre os assuntos mais importantes do mundo envolvendo futebol, cinema, música, cotidiano, amores e coisas tão imprescindíveis quanto. Em determinado momento quando o assunto circula no jardim da música, surge uma pequena e didática discussão sobre a melhor banda de todos os tempos. Beatles ou Rolling Stones? Os ânimos se acirram um pouco, diminuem com mais uma bebida e não se chega a conclusão nenhuma.

Você provavelmente já se deparou com alguma discussão desse tipo. Se não foi entre Beatles e Stones, foi entre R.E.M e U2, Legião Urbana e Engenheiros, Nirvana e Pearl Jam, Led Zeppelin e Black Sabbath, ou qualquer coisa que se equivalha, até mesmo quando certa vez houve diversos argumentos afirmando com total veemência que a melhor banda do mundo era uma que você nunca ouviu falar. Todavia, nesse relevante tipo de discussão, quase que sempre o assunto viaja pelos ícones ingleses fundados no decorrer dos anos 60.

Utilizando essa premissa, dois jornalistas, escritores e radialistas norte americanos resolveram finalmente provar por A + B quem foi (ou é) maior. “The Beatles Vs. The Rolling Stones - A Grande Rivalidade do Rock' n’ Roll” foi elaborado por Jim DeRogatis e Greg Kot e ganha edição nacional nesse ano pela Editora Globo em formato grande (28 x 24 cm) e 194 páginas. Nessas páginas são expostas fotos fantásticas sobre as duas bandas, além de pôsteres de shows, capas de discos, reproduções de badulaques e outras coisas do tipo.

Não dá para encarar o livro como uma obra essencial ou realmente séria, apesar de que os autores no meio das suas discordâncias e dissertações tratem mais ou menos assim. Não é uma obra indicada para quem quer conhecer mais sobre as bandas e sim para aqueles que já conhecem e são apaixonados pela sua música e tudo que lhes é inerente. O trabalho visual é impecável e a questão que empresta o nome ao título tenta ser solucionada por meio de oito capítulos que vão entre comparações de discos e instrumentistas.

No livro são espelhadas as conversas dos autores sobre temas que vão fazer você levantar e esbravejar algumas vezes por conta das opiniões emitidas e “infâmias” cometidas. Quando a discussão invade o terreno dos álbuns duplos e dos bateristas, por exemplo, razão não faltará para isso. “The Beatles Vs. The Rolling Stones - A Grande Rivalidade do Rock' n’ Roll” é supérfluo, não dá para classificar de outra forma, no entanto é tão bonito e prazeroso de ser lido que é uma daquelas besteiras que vale a pena ter na biblioteca.

Mas e você? Preferia ser um Beatle ou um Stone?

Sobre Jim Derogatis: http://www.jimdero.com

Sobre Greg Kot: http://www.gregkot.com


Sobre o programa de rádio “Sound Opinions” que os dois apresentam no EUA (inclusive com download de podcasts): http://www.soundopinions.org

terça-feira, 5 de julho de 2011

"Contra Corrente" - 2009

O dia amanhece e o cara olha para a cama pensando nas justificativas que pode arrumar para que não se prolongue o caso iniciado com a mulher que se enrola no lençol. Ela entende e se antecipa para sair do quarto. Ele se arremessa em uma cadeira e começa a olhar para um calendário na parede que traz a data de 28 de agosto marcada em destaque. Essa é a cena inicial de “Contra Corrente” (“Against The Current” no original) e dirá bastante sobre o filme que se apresentará a seguir.

Escrito e dirigido por Peter Callahan, o longa foi lançado em 2009 e pode ser encontrado em DVD por aqui. É um trabalho que fala sobre a dificuldade de se encerrar ciclos e seguir em frente mesmo quando uma grande tragédia insiste em não deixar a cabeça em paz. É nesse estado que o cara da primeira cena se encontra. Paul (Joseph Fiennes de “Shakespeare Apaixonado”) está com 35 anos e carrega consigo a dor da morte da esposa e da filha que ainda estava na barriga da mãe.

Vivendo sem muita vontade depois disso, com um trabalho do qual não gosta e se envolvendo o mínimo possível, ele não consegue ir adiante. Em uma ida ao bar do amigo Jeff (o ótimo Justin Kirk, o Andy da série “Weeds”), ele o convence a entrar em um projeto inusitado que é percorrer o rio Hudson por mais de 240 quilômetros até chegar a Nova York. Além de agregar Jeff para o projeto, ainda consegue o apoio de Katie (Samanta Shermann), que se incorpora na jornada marítima.

Enquanto Paul vai nadando e os dois amigos acompanham em um barco velho e lento ao lado, as coisas começam a se explicar e aparece o real motivo que iniciou a aventura. Em homenagem aos 5 anos de falecimento da esposa e da filha, Paul planeja chegar em Nova York e se suicidar. Essa revelação, inegavelmente abala toda a estrutura da viagem, e passa a construir os melhores momentos do filme, que passa a duelar no delicado campo da vontade própria contra os costumes sociais.

O roteiro de “Contra Corrente” exibe algumas falhas quando faz as coisas acontecerem rapidamente e espalha facilidades pelo caminho da viagem. No entanto, isso acaba não sendo tão prejudicial, pois na verdade o filme trata sobre a inabilidade que temos em aceitar as coisas e perceber que tudo uma hora chega ao fim e é preciso continuar caminhando. Sem muito sentimentalismo, vira um bom filme que ao final coroa o espectador com uma bela sequencia ao som de “Holes” do Mercury Rev.

Assista ao trailer em inglês (não achei legendado):


domingo, 3 de julho de 2011

"Foo Fighters: Back and Forth" - 2011


Deve ter sido muito difícil para Dave Grohl recomeçar depois da morte de Kurt Cobain. Uma hora você está lá no topo do mundo e mesmo sem assimilar bem as causas, em outro momento perde um amigo que você admirava e também o emprego. A decisão de recomeçar foi considerada por meses até que em 1995 gravou algumas músicas, onde tocava todos os instrumentos. Essas músicas virariam o primeiro álbum do Foo Fighters e o início de uma nova caminhada para o topo.

“Foo Fighters: Back and Forth” é um documentário que visa não somente reconstruir os passos da banda até os dias atuais, como também promover o lançamento de “Wasting Light”, o sétimo registro de estúdio da carreira. Com direção do experiente James Moll (que tem um Oscar pelo documentário “The Last Days” de 1998), entrevista todos que já fizeram parte do grupo e entrecorta com momentos de clipes e shows, como o realizado no estádio de Wembley na Inglaterra para 80 mil pessoas.

O foco central obviamente fica em Dave Grohl, que visivelmente emocionado relembra a relação com Kurt Cobain e os meses depois da sua morte. Mostra todo o já conhecido lado divertido da personalidade do músico, porém exibe um lado controlador e severo que pouco se comenta. Essa faceta é ilustrada por dois momentos fortes como nas demissões do baterista William Goldsmith por questões técnicas e do guitarrista Franz Stahl, um amigo de longa data, mas que não se adequou a banda.

“Back And Forth” faz seu caminho até chegar na parte em que enquadra o ótimo novo trabalho da trupe e retrata o ambiente tranquilo em que as novas sessões foram desenvolvidas, utilizando métodos antigos e rolos de fita. Butch Vig, o responsável por “Nevermind” do Nirvana, foi o escolhido para a produção e engrandece o longa com seus comentários, assim como Krist Novoselic que participa de “I Should Have Known” e o grande Bob Mould (Husker Dü) que entra em “Dear Rosemary”.

Após o documentário aparece como bônus na telona uma apresentação da banda executando fielmente o repertório de “Wasting Light”, mas isso não acrescenta muita diferença ali sentado em uma poltrona. A música do Foo Fighters não foi feita para ser consumida assim. O mais interessante realmente fica mesmo por conta de Dave Grohl e de como sobreviveu para curtir o topo do mundo novamente. Hoje o Foo Fighters é muito grande e “Back And Forth” ajuda a entender as causas disso.

Site oficial do filme: http://intl.foofightersfilm.com  

Veja o trailer aqui: