sexta-feira, 27 de maio de 2011

"O Mágico" - 2010


No final dos anos 50 um velho mágico perambula de teatro em teatro tentando vender o mundo de ilusões do qual é fornecedor. Estamos em uma época onde o mundo começa a tomar um rumo onde velhas profissões já não fazem o mesmo sentido de antes, já não possuem o mesmo impacto. Apesar do evidente cansaço com a vida que leva, o velho mágico ainda procura viver da sua arte e tenta sobreviver em cidades da França, Inglaterra e Escócia.

“O Mágico” que chega agora em DVD ao nosso país é o segundo longa de animação do diretor Sylvain Chomet (“As Bicicletas de Belleville”) e recebeu indicações para diversas premiações mundo afora, incluindo o Oscar desse ano. Acima de todas as suas projeções e objetivos, trata-se na sua essência de um trabalho em homenagem ao diretor francês Jacques Tati falecido em 1982, pois foi baseado em texto inédito deixado por ele e adaptado por Chomet e Henri Marquet.

Usando boa parte da estética visual do seu longa anterior, Sylvain Chomet compõe uma triste canção na qual os versos mais fortes ganham amplitude no desencanto e em uma vida que passou. Nas suas andanças o mágico Tatischeff (sobrenome original de Jacques Tati) parte para uma pequena ilha da Escócia depois de já não ser aceito nas grandes cidades e lá encontra uma jovem camponesa, que em uma atitude curiosa resolve lhe acompanhar para Edimburgo.

Os dois trocam suas necessidades mais veementes, que passam por uma estrada paralela a aquela do amor e da paixão. O mágico enxerga nela um público perdido que ainda se empolga com suas pequenas transformações e ela vê nele um mundo de magia diferente da labuta doméstica que enfrentava. Passando a viver em um hotel com outros artistas fracassados como um ventríloquo bêbado, a relação não bem explicada entre os dois tem prazo para desandar.

Praticamente sem utilizar palavras, o filme faz uma bonita homenagem ao cinema mudo e a um tempo que parece estar mais distante do que é verdade. O mágico atrapalhado que não é respeitado nem pelo próprio coelho ganha uma sinfonia repleta de acordes tristes, mas não menos belos e emocionantes. De onde estiver curtindo a existência que agora lhe cabe, Jacques Tati com certeza bateu palmas e derrubou algumas lágrimas ao assistir “O Mágico”. Faça o mesmo.

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