quinta-feira, 21 de outubro de 2010

"O Sol do Meio Dia" - 2009

Artur (Luiz Carlos Vasconcelos) sai da cadeia com o olhar perdido, longe de tudo e de todos. Seu crime ainda não foi demonstrado na tela, mas aos poucos descobre que se trata de algo brutal, tanto pela reação das pessoas da cidade para onde retorna, quanto pelos próprios fantasmas pessoais que o circundam. Artur não se faz de coitado, mas dá para perceber que sua vida já era, ele perdeu o combate por causa de erros próprios e precisa seguir mesmo assim.
“O Sol do Meio Dia”, filme da diretora Eliane Caffé (de “Kenoma” e “Narradores de Javé”) demorou um bom tempo para ser concluído, mudou de nome e só ano passado estreou em circuito aberto, sendo que só chegou a cidade onde maior parte da trama se desenvolve agora em outubro. Começando de uma pequena cidade do interior e viajando pelos rios da região até Belém, o filme carrega consigo a dor e a fina esperança do seu trio de personagens.
Quando resolve partir para Belém, Artur pede carona a Matuim (Chico Diaz) no seu barco. Matuim por sua vez está completamente enrolado com criminosos da região e busca a solução em um transporte de contrabando, que não sai como o esperado. Ao chegar em terra, Ciara (Cláudia Assunção) entra e sai da vida dos dois até que seus caminhos se cruzem novamente. O trio amoroso formado, foge do lugar comum e demonstra atuações acima da média.
Artur, Matuim e Ciara carregam em si apenas uma pequena linha de esperança em mudar suas vidas. Os três, cada um a sua maneira, trazem consigo dores que o tempo não pode mais curar. Eles estão só cumprindo tabela, esperando a hora em que tudo vai acabar. O roteiro não destrincha suas emoções, prefere demonstrá-las e assim sendo não nutre explicações, motivos ou causas. Em “O Sol do Meio Dia” a vida apenas existe, por mais combalida que esteja.
Não é um filme fácil em momento algum. O público não chora ou ri facilmente. Mesmo Matuim que explora o lado cômico do longa, está mais para trágico por mais engraçado que seja. Na verdade a maior sensação que temos é de desconforto. Não há cenas espetaculares em “O Sol do Meio Dia”, muito menos obviedades cinematográficas. Há apenas três pessoas sem muito sentido em seguir em frente se agarrando a migalhas de desejo para continuar.

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