quarta-feira, 17 de junho de 2009

“Um Romance de Geração” - Sérgio Sant’anna

Refletir os dramas e realizações de uma geração não é tarefa das mais fáceis. Ainda mais de uma geração que esteve na linha de fogo, seja com armas ou com palavras, durante os anos mais tristes da história nacional, quando a ditadura militar aqui se impôs. O escritor carioca Sérgio Sant’anna, responsável por obras do nível de “Confissões de Ralfo” de 1975 e “Um Crime Delicado” de 1997, partiu para essa reflexão, mesmo que de maneira anárquica.
“Um Romance de Geração”, originalmente lançado em 1980, logo após a anistia durante o governo do General Figueiredo em 1979, ganha uma nova edição este ano pela Companhia Das Letras. Formatado em uma estrutura de peça de teatro, que deveria ser de três atos, mas que acabou somente em um, que se estendeu bastante, este romance olha de uma maneira inconseqüente e errática para a herança dos que viveram os anos 60 e 70 no Brasil.
O personagem principal é Carlos Santeiro, um escritor mineiro que apesar de ter lançado um livro de sucesso na época da ditadura, se encontra envolto a fantasmas pessoais, crises existências e falta de inspiração. Carlos recebe em uma noite qualquer no moquifo onde mora em Copacabana, a jornalista Clea, que está escrevendo uma matéria sobre a literatura brasileira no período de regime militar e seus legados.
Ao recebê-la Carlos começa um veemente ato teatral, onde liberta uma verborragia confusa ao mesmo tempo em que fascina, citando durante seus pontos de vista, nomes como Zico, Rimbaud, Edgar Allan Poe, Fernando Pessoa e John Cage. O jogo entre Carlos e Clea, vai ganhando em tensão no decorrer dos diálogos, que variam entre longos monólogos e pequenas passagens repletas de cinismo.
Aditivado com muita vodca barata, o clima do livro vai fluindo para que os dois se entrelacem em uma aventura sexual, que ao que parece já estava mais ou menos programado na cabeça dos dois. Em “Um Romance de Geração”, Sérgio Sant’anna apresenta um retrato nada encantador e repleto de desilusões e perdas de uma época menos encantadora ainda. Interessantíssimo.

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