domingo, 30 de novembro de 2008

"Estandarte" - Skank - 2008

O Skank é uma banda que não tem medo de mudar. Nunca teve. Quando se pensa que os caras vão seguir determinada fórmula, eles dão uma mexida, alteram algumas coisas e saem com uma sonoridade sempre um pouco diferente. Basicamente os mineiros tem dois lados, um mais pop e dançante de discos como “Calango” (1994) e “O Samba Poconé” (1996) e outro com uma levada mais rock exibido em trabalhos como “Cosmotron” de 2003 e “Carrosel” de 2006.
Em 2008, Samuel Rosa, Lelo Zaneti, Henrique Portugal e Haroldo Ferreti lançam mais um disco, intitulado “Estandarte” que surge como uma fusão dos dois lados citados acima. Enquanto a banda retoma sua veia mais suingada e dançante, continua apostando nos climas sessentistas e de levada rock dos últimos anos. “Estandarte” é uma fusão de vários “skanks” dentro de um único registro, espalhado em doze músicas que não deixam os fãs decepcionados.
“Pára Raio”, abre com os metais sangrando e guitarra funkeada. “Ainda Gosto Dela” é uma bonita balada que conta com a parceria de Negra Li nos vocais. Bem bacana. “Chão” vem repleta de programações, totalmente dançante. “Canção Áspera” brinca com o final dos anos 70 em mais outra canção para cima. “Noites de Um Verão Qualquer” tem um climão de praia, malemolente e suave. “Escravo” chega com as guitarras ditando o ritmo, para que Samuel brinque com improvisos vocais, uma velha marca.
“Noticias do Submundo” chega flertando com a psicodelia e traz mais guitarras. “Sutilmente” é melhor faixa do trabalho. Uma baladaça linda, com letra marcante, que diz: “quando eu estiver triste simplesmente me abrace/quando eu estiver louco subitamente se afaste/quando eu estiver fogo suavemente se encaixe...”. Já virou uma das preferidas aqui da casa. “Um Gesto Qualquer” esbanja ritmo e efeitos, enquanto Samuel vai cantando uma pequena crônica cotidiana.
“Assim Sem Fim” tem uma estrutura um pouco mais complexa, com mais nuances e efeitos. “Saturação” é a faixa mais longa, tem seis minutos e qualquer coisa de mudanças de andamento e pequenas experimentações. “Renascença” encerra tudo, de maneira urgente e rápida. Em “Estandarte”, o Skank demonstra toda honestidade para com a sua música que sempre guiou a sua carreira. Um disco sem grandes alarmes ou maiores surpresas, mais com bons momentos, para não fazer nada feio na discografia de um dos maiores grupos do país.
Site Oficial: http://skank.uol.com.br
Mais Skank no Coisapop? Passe aqui.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

"Loyalty To Loyalty" - Cold War Kids - 2008

Era meados de 2005 e um Epzinho chamado “The Mulberry Street” era lançado sem compromisso por uma banda nova de Fullerton, na California, USA, chamada Cold War Kids. O Ep tinha seis fortes canções, com um vigor admirável, com destaque para os petardos “Heavy Boots” e “The Weeding”. Em 2006 chegava o ótimo disco de estréia “Robbers e Cowards” que além de alargar os horizontes do grupo, adicionava alguns toques a mais.
Desse ponto partimos direto para setembro de 2008, quando Nathan Willett (vocal, piano e guitarra), Jonnie Russell (guitarra e percussão), Matt Maust (baixo) e Matt Aveiro (bateria) chegam ao segundo disco, “Loyalty To Loyalty” onde além de manter o nivel anterior, colocam outros “novos” toques na produção e na concepção das canções. As quatro faixas que abrem o trabalho, “Against Privacy”, “Mexican Dogs”, “Every Valley Is Not A Lake” e “Something Is Not Right WIth Me” são de fazer inveja a muitas bandas por aí.
A produção que deixou a sonoridade do disco meio abafada, com um gosto de coisa antiga é um charme a mais. Na sequência da abertura chega “Welcome To Ocuppation”, que mantêm a porrada em cima, enquanto Matt Maust cria todo um climão lá atrás. “Golden Gate Jumpers” arrastada por Nathan no piano, parece recém saida de algum bar sujo dos anos 50. Tom Waits ficaria feliz se ouvisse. Mais destaques para “Dreams Old Men Dream”, “I´ve Seen Enough” e o encerramento com “Cryptomnesia”.
O Cold War Kids continua meio fora do esquemão das novas bandas, fazendo uma mistura interessante de jazz, blues e rock de vários pontos distintos, elaborando uma música que fica dificil de passar impune. Seja pelo vocal competentíssimo de Nathan Willet, pelas boas letras, pela “sujeira” ou principalmente pela busca por não ser tão óbvio, o quarteto convence muito. Corra atrás desse “Loyalty To Loyalty”, aumente o som e curta bem um dos grandes trabalhos de 2008.
Site Oficial: http://www.coldwarkids.com
My Space: http://www.myspace.com/coldwarkids

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

"Radiolarians I" - Medeski, Martin & Wood - 2008

Não faz muito tempo que a música do trio de Nova York, Medeski, Martin & Wood me foi apresentada. Mais ou menos um ano, um ano e pouquinho. Nesse periodo, o trio vem calmamente consquistando um lugar de maior destaque aqui na casa. A música que John Medeski (piano, teclados, órgão e escaleta), Billy Martin (bateria e percussão) e Chris Wood (contrabaixo) elaboram é de uma natureza completamente cativante.
Na estrada desde 1991, o trio é dono de uma vasta discoteca em que álbuns como “The Dropper” de 2000 ou “End Of The World Party (Just In Case)” de 2004, são exemplares de excelência. Misturando o jazz tradicional com outros estilos de jazz e adicionando a mistura muito groove extraído de ritmos como o funk, , pop, reggae, samba e o escambau, os caras fazem uma mistura que ao mesmo tempo em que esbanja suingue mostra grandes tonalidades de arte.
Em 2008, após lançar um disco dedicados as crianças, colocam no mercado “Radiolarians I”, o primeiro de três volumes a ser produzido agora em selo próprio. Este álbum é bem diferente daqueles que caracterizaram a sonoridade da banda para a maior parte do seu público, sendo bem mais experimental e complexo, remetendo a sonoridade de discos como “Farmer´s Reserve” de 1997.
Em “Radiolarians I” temos 10 temas que viajam na grande maioria das vezes para acima dos seis minutos de duração, com diversas improvisações, frases se cortando e os intrumentos apontando para lugares distintos. Destaques maiores para as faixas “Professor Nohair”, “Reliquary”, “Sweet Pea Dreams” e “Hidden Mon”. Coloque o disco no player, o fone no ouvido e se prepare para a viagem sonora, cortesia mais uma vez de Medeski, Martin & Wood.
Site Oficial: http://www.mmw.net

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

"Vicky Cristina Barcelona" - 2008

As concepções sobre determinados assuntos mudam e variam de acordo com o tempo, se adequam as realidades a que estão inseridas historicamente. O amor e a relação que nós mantemos com ele, já se alterou bastante e hoje caminha de acordo com os nossos dias atuais. É baseado nisso que o diretor Woody Allen, cria seu mais recente filme, “Vicky Cristina Barcelona”, nos brindando com um dos seus melhores trabalhos nos últimos anos.
A Espanha é a bola da vez da incursão européia do diretor, que dessa vez ambienta sua trama em Barcelona e em um momento que guiará o restante do filme, na pacata cidade de Oviedo. Allen brinda o espectador com uma bonita trilha sonora e adiciona como pano de fundo obras de artistas como Miró e Gaudi, como a Igreja Sagrada Família e as famosas Ramblas, entre outras.
Na trama, somos apresentados a Vicky (Rebecca Hall) e Cristina (Scarlett Johansson, mais uma vez belíssima), que chegam a Barcelona para passar o verão. As duas tem na cabeça motivações diferentes. Enquanto Vicky procura pesquisar para concluir sua tese de mestrado que versa sobre a cultura catalã, Cristina está a procura de um caminho, de um amor, de uma vida, de qualquer coisa. Vicky está noiva e Cristina é solteira e gosta de se arremessar nas suas paixões meio que casuais.
No caminho das duas, surge o pintor Juan Antonio Gonzalo (Javier Bardem em ótimo trabalho), que com sua prosa direta, consegue convencer as duas a passarem uma semana com ele em Oviedo, em um dos melhores momentos do filme. A partir desse final de semana, tudo toma caminho. As paixões começam a se desencadear e ganham outro contorno, quando a ex mulher de Juan, Maria Elena (Penelópe Cruz) aparece e faz tudo virar de cabeça para baixo.
Em “Vicky Cristina Barcelona”, Woody Allen constrói um mosaico de emoções que vai se dilacerando e se dissipando em pequenos espaços de tempo. O diretor versa sobre a forma que o amor vem vestido nesses novos tempos, caótico, libertário e paradoxalmente com saudade do passado, mas versa principalmente sobre um amor que parece não existir mais e se transveste em falta de compromisso ou adequação de vida em um casamento sem nada especial.
Mais Woody Allen no coisapop: Match Point e O Sonho de Cassandra.

sábado, 22 de novembro de 2008

"Macao" - Jards Macalé - 2008

O carioca Jards Anet da Silva já fez muita coisa na vida. Mais conhecido como Jards Macalé, já foi chamado de maldito e maluco, entre outros nomes. Sua música sempre nos brindou com uma visceralidade que parece ser impossivel caber nas cordas de um violão. Dono de algumas canções clássicas como “Gotham City” e “Vapor Barato”, o Macão, como é chamado pelos amigos lançou este ano o seu décimo disco na carreira pelo selo Biscoito Fino.
Para quem tem mais de 40 anos de estrada, lançar dez discos realmente é muito pouco. Entre esses dez, um pequeno clássico de 1974, chamado “Aprendendo a Nadar”. No entanto assim é Macalé e assim é a nossa música que demora para reconhecer (quando reconhece) seus talentos. Em “Macao”, temos onze músicas que se misturam em um universo de inéditas, releituras próprias e algumas homenagens em convers.
Basicamente o disco se guia pelos violões do músico, se contrapondo a sua voz. No campo das inéditas apresenta-se o samba gostoso de “O Engenho de Dentro”, mais samba classudo com “Se Você Quiser” e uma bonita parceria com Ana de Hollanda na curtinha “Balada”. As releituras tem seu maior destaque pela passagem de abertura com “Farinha do Desprezo”, lançada originalmente no seu primeiro trabalho de 1973, mas que cai muito melhor agora com seus versos.
Nas releituras de outros artistas, Macalé passa por uma grande versão para “Um Favor” de Lupicínio Rodrigues, desembarca cruel e belamente no clássico “Ronda” de Paulo Vanzolini, sobe em “Só Assumo Só” do Luiz Melodia e ainda nos brinda com “Corcovado” de Tom Jobim. Em “Macao”, Macalé presenteia os amantes de música brasileira com um belo registro, dotado tanto de simplicidade quanto de toques de maestria. Vale muito a pena.
Site Oficial:
http://www.brazilianmusic.com.br/macale/

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

"Para Todo o Mal" - Mesa - 2008

Eita mundão de meu Deus...em todo lugar se faz música boa, ainda bem. Nas últimas semanas o que tem tocado bastante aqui na casa é o terceiro disco dos portugueses do Mesa, chamado “Para Todo o Mal”. A banda foi formada em 2000 e tem outros dois discos já lançados, “Mesa” de 2003 e “Vitamina” de 2005. Apesar de não conhecer esses trabalhos anteriores, li bastante coisa boa a respeito.
O núcleo do Mesa é composto basicamente pela ótima vocalista Mônica Ferraz, que transita o seu vocal pelo pop trazendo acentos de música jazz, clássica e tradicional portuguesa. A outra parte da banda é João Pedro Coimbra, baterista, mas também uma espécie de faz tudo, que além de compor quase todas as canções, toca outros instrumentos e ainda cuida de parte da produção.
O som do Mesa além de bastante experimental em alguns momentos, flerta de maneira saborosa com o pop em outras passagens. Os anos 80, o rock e a eletrônica taambém se fazem presentes em boa parte dos temas. Depois de uma abertura com uma faixinha introdutória de 43 segundos, chega uma tríade de responsa para seguir adiante, “Estrela Carente”, “Tribunal de Relação” (tente não viciar nessa) e “Quando as Palavras”.
As outras faixas do trabalho viajam dentro de um universo de pegada mais pop e outro de maior experimentação e mistura. No entanto, a banda funciona muito bem mesmo quando exala seu vigor pop no ar. Poderia direcionar mais para esse caminho. Em um ano com tanta coisa bacana vinda de toda a parte do planeta, os portugueses do Mesa entram no rol não dos melhores do ano, mas com um bom disco enquadram-se tranquilamente nas boas descobertas de 2008.
Fique de olho e enquanto isso grave “Tribunal de Relação” para sair tocando por aí.
Site Oficial: http://www.mesa.pt
My Space: http://www.myspace.com/mesapt

terça-feira, 18 de novembro de 2008

"007 - Quantum Of Solace" - 2008

Ainda não dá para engolir o Daniel Craig no papel de 007. O ator não tem a metade do charme que Sean Connery, Roger Moore e até mesmo Pierce Brosnan emprestaram para o inglês espião que ganhou o mundo e rendeu milhões em bilheteria no decorrer dos anos, se tornando um ícone da cultura pop. Se você consegue passar por isso sem problema e gosta de filmes de ação, “007 - Quantum Of Solace” vai lhe agradar em cheio.
Esse “novo” 007, apesar de não trazer o charme dos filmes anteriores, ganha muito mais pontos no quesito “realidade”. Em determinados momentos, Daniel Craig até esboça alguns gracejos típicos do velho espião e convence bem melhor que na apenas razoável performance que fez no seu primeiro trabalho a frente do personagem. O 007 de hoje usa e abusa do seu poder físico. Sangra, se suja, apanha e diminui bastante as parafernálias tecnológicas.
A história de “Quantum Of Solace” começa imediatamente após o final de “Cassino Royale” na Itália, o que se a memória não me trai, é a primeira vez que acontece. Bond está em uma perseguição implacável de carro, que de entrada já tira um bom fôlego do espectador. A partir disso as cenas de perseguição invadem outros países como o Haiti, Áustria, Bolívia e Inglaterra e se estendem além das vias terrestres para o ar e o mar.
Bond age motivado pela vingança, em busca do assassino de Vésper (Eva Green) e de quem tentou lhe matar e também a M (Judi Dench). Para tanto se envolve no meio de uma grande tramóia internacional guiada por um inimigo desconhecido, uma corporação que se esconde muito bem e parece quase um fantasma. Na sua empreitada, Bond encontra a bela Camille (Olga Kurylenko), agente secreta do governo boliviano que também busca sua vingança pessoal.
No vigésimo segundo filme (e o mais curto) de sua carreira, James Bond precisa se adaptar as expectativas de um novo mundo. Tanto no que tange as novas configurações políticas e econômicas, quanto a exigência de um público totalmente novo, acostumado com games de uma realidade absurda. O diretor Marc Foster (de "Em Busca da Terra do Nunca") consegue fazer isso muito bem. Mas ainda fica no ar a missão de casar o “novo” Bond com o charme e maestria do “antigo” Bond. Sem o Daniel Craig no papel do agente, de preferência.

domingo, 16 de novembro de 2008

"Sonic Youth - Dormindo Noites Acordadas" - 2007

O ano era 2006 e o Sonic Youth passava com sua turnê do ótimo “Rapper Ripped” pela cidade de Reno, no estado de Nevada, nos USA. Um grupo de jovens liderados pelo diretor Michael Albright resolveu documentar em preto e branco um dia na vida dos músicos e evidentemente gravar o show da banda por aquelas paragens que há muitos anos não tocavam.
O documentário que ganhou o título de “Dormindo Noites Acordadas (Sleeping Nights Awake)” foi o primeiro trabalho do Project Moonshine, uma organização sem fins lucrativos com o intuito de ensinar cinema para adolescentes. O filme com seus poucos mais de 85 minutos é bem divertido e passa por interpretações da banda para canções como “Incinerate”, “Shaking Hell”, “Kool Thing” e “100%”, além da excelente "Do You Believe In Rapture?" como pano de fundo.
Esquecendo a digamos assim, falta de experiência, daqueles que estão atrás das câmeras, “Dormindo Noites Acordadas” é uma ótima diversão. Principalmente para os fãs da banda ou aqueles que conhecem um pouco a sua história. Os depoimentos de Thurston More, Kim Gordon e Lee Ranaldo são abertos, espontâneos, totalmente condizentes com a atitude que a banda sempre teve na carreira.
Entre a sinceridade de Kim Gordon, as peraltices e piadas de Thurston Moore e o papo nerd e meio sem sentido de Lee Ranaldo, somos apresentados aos fãs, as guitarras, pequenas histórias e um ou outro segredo banal. Uma das bandas mais importantes das ultimas três décadas focada em meio ao seu cotidiano, sem grandes alarmes ou maiores surpresas, apenas seguindo a sua vida normal.
Para ver o trailer, passe aqui.
Site do Projeto Moonshine: http://www.projectmoonshine.org

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

"Black Music" - Arthur Dapieve

A violência está cada vez mais espalhada país afora. Em grandes cidades, como o Rio de Janeiro a situação chega a beirar o absurdo. Como tratar disso sem recorrer a maneiras não tão usuais? Como abordar o tema, sem esbarrar na mesma estrutura de sempre? O jornalista Arthur Dapieve tenta um caminho paralelo em seu segundo romance, intitulado “Black Music”(Ed. Objetiva, 112 páginas) e consegue um resultado bastante interessante. Dapieve usa novamente o Rio de Janeiro, como pano de fundo e personagem coadjuvante da história, assim como fez no seu livro anterior “De Cada Amor Tu Herdarás Só o Cinismo”. Em seu novo livro, o escritor carioca aborda a violência sem se preocupar com questões sócio econômicas ou políticas (apesar de elas estarem presentes) e tenta passar uma história que infelizmente é cotidiana, de maneira casual, usando e abusando do humor negro em vários momentos. Na trama, somos apresentados a Michael Philips, um adolescente norte americano de 13 anos, que mora no Rio, pois seu pai trabalha na cidade. O garoto é apaixonado por jazz e basquete. Quando está saindo da aula em um dia como qualquer outro, é abordado por três pessoas com máscaras de Osama Bin Laden, que o seqüestram e levam para um morro qualquer, com o intuito de conseguir o resgate para comprar mais armas da polícia por causa da guerra com outro morro. Ao chegar no barraco e ser devidamente “instalado”, Michael é apresentado para o “dono” do morro e responsável por ele estar ali. O ‘dono” é um garoto magro, com espinhas, meio louro, de 17 anos que é conhecido por “He-Man”. Para cuidar do seqüestrado, He-Man destaca uma de suas namoradas, a gostosona Jô que passa a alimentar e cuidar do garoto. Logo um triângulo se estabelece e abre precedentes para um monte de coisa acontecer. Após um pequeno prólogo, Dapieve conta sua história do ponto de vista dos três envolvidos, exemplificando bem a diferença entre eles tanto na maneira de se expressar quanto na maneira de enxergar a sua vida e o mundo que os cerca. “Black Music” com sua narrativa ágil, entrecortando mundos, culturas e referências, diverte ao mesmo tempo em que cutuca uma ferida que já se encontra aberta, expondo ela de um ângulo relativamente “novo”. “Black Music” convence bem e vale a leitura. Para saber mais sobre o livro anterior do autor, passe aqui.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

R.E.M - Via Funchal (SP) - 10.11.2008

Existem certas coisas na vida que carecem de explicação. Procuramos e procuramos palavras para definir e acaba-se por não se contentar com nenhuma. O show do R.E.M ontem no Via Funchal em São Paulo é uma dessas situações. Por mais que venha a mente, palavras como sublime, perfeito, mágico, encantador ou maravilhoso, ainda assim estas parecem ser pequenas para mensurar a apresentação. Talvez se juntássemos todas e a partir delas viesse algo novo, isto poderia servir. Talvez.
A banda que passa pela segunda vez no país (primeira em São Paulo), deixou os fãs com momentos para sonhar por um bom período de anos. O show traz na bagagem o mais recente trabalho do grupo, o excelente “Accelerate”, além de hits e mais hits de quase trinta anos de carreira. A banda abriu com “Living Well Is The Best Revenge” e “I Took Your Name” para depois entrar com a setentista “What´s The Frequency, Kennety?” e levar todos ao delírio pela primeira de muitas vezes.
Em seguida Michael Stipe cantaria “Fall On Me”, em que os backing vocals de Mike Mills emocionaram muito mais que o habitual. “Drive” que veio a seguir já encontrou uma platéia totalmente entregue, que cantava junto e aderia ao transe da canção. Em seguida uma música do novo disco, “Man-Sized Wreath”, “Ignoreland” do Automatic For The People em versão poderosíssima e mais uma do último trabalh,o “Hollow Man” que foi devidamente inserida por Stipe, com um discurso de crença nos USA e em seu novo presidente Barack Obama que aparecia nos telões.
“Electrolite” chegaria para causar um dos pontos altos da apresentação. Um dos momentos mais mágicos que já passei na frente de um palco. “The Great Beyond” veio antes de mais alguns minutos que beiraram o transcendental, “Everbody Hurts” fez chorar, sonhar, lembrar. Díficil esquecer. Depois mais um grande hit, “Imitation Of Life”, levantou de novo a apresentação. Em “She Just Wants To Be”, Michael deu um show a parte. Dançou, rebolou, entrou em estado hipnótico. “The One I Love”, outro mega hit, levou novamente todos ao delírio enquanto gritavam o refrão a pedido do vocalista.
O show poderia ter parado ali que já teria valido a pena. Mas teve mais, muito mais. Em um momento ímpar, a banda tirou da cartola a bela “Swetness Follows” para surpresa de muitos e fez um set acústico com todos juntos, que contou também com “Let Me In”. Assombroso. Depois novamente as guitarras falaram mais alto e veio as rápidas e potentes “Bad Day”, “Horse To Water” e “Orange Crush”(esta para delírio geral). Para encerrar, o clássico “It´s The End Of The World As We Know It (And I Feel Fine)” jogava fogo na platéia que ensadencia enquanto gritava a todo vapor o refrão.
Quando a banda encerrou essa primeira parte, no palco vinha a frase “Quer mais R.E.M?”. Quase o Via Funchal veio a baixo. A banda volta com Mike Mills de camisa 7 do Brasil e a banda engata o mais novo hit “Supernatural Superserious”, que funciona perfeitamente. Depois o público e a banda parecem um só, “Losing My Religion” envolve todos de maneira única. “Animal” vem em seguida, abrindo caminho para Mike Mills encantar cantando uma antiga canção, o country rock “(Don´t Go Back To) Rockville” que também emocionou muito, principalmente os mais velhos.
Para fechar as duas horas de apresentação, a banda tocou “Man On The Moon” e o público retirou suas últimas forças para pular e cantar mais um dos clássicos de Stipe, Mills e Buck. Fim de show e o público presente contemplava grato e esperançoso de mais um retorno. As feições esbanjavam satisfação. Ao vivo, o R.E.M provou porque é uma das maiores bandas da história. Stipe é genuíno. Sorri, canta, dança e provoca porque quer, porque se sente bem. Mills é genial. Buck, o anti guitar hero fantástico. A banda já deixa saudades e momentos que serão lembrados por muitos e muitos anos.

domingo, 9 de novembro de 2008

Festival Planeta Terra - Vila dos Galpões (SP) - 08.11.2008

Prólogo: 08 de novembro de 2008. Vila dos Galpões, São Paulo. Dia marcado para a segunda edição do Festival Planeta Terra. Um dia que ficará para sempre marcado na memória de grande parte dos 15 mil presentes.
Quando cheguei no complexo que abrigaria o festival, já tinha rolado coisas legais como Vanguart (que queria muito ver) e Curumin. Cheguei no final da apresentação da Mallu Magalhães, mas nem dei muita atenção e saí direto para o palco indie, onde começaria um dos show mais esperados da noite, o Animal Collective. Infelizmente, a banda teve vários problemas técnicos de som e o seu experimentalismo ficou confuso e não conseguiu funcionar. Decepcionante.
Saí bem antes de terminar e me preparei para a maior expectativa da noite, os irmãos Reid e o seu Jesus And Mary Chain, banda seminal que marcou época com suas canções. Como a banda nunca primou por grandes shows, tudo estava meio incerto quanto a sua apresentação. Incerteza que foi jogada fora quando a banda destilou quinze músicas em mais ou menos uma hora de show. O repertório escolhido privelegiou clássicos e canções um pouco mais agitadas.
Começou com “Snakedriver”, “Head On” e “Far Gone And Out” e passou por “Happy When It Rains”, “Some Candy Talking”, “Blues From a Gun”, “Just Like Honey” e “Teenage Lust”, entre outras. Jim Reid cantava de maneira próxima ao sublime, enquanto baixo e bateria comandavam o transe hipnótico que abria caminho para as guitarras sujas de William Reid, com seus riffs minimalistas e certeiros. “Reverence” encerrou uma apresentação em que era comum ver as pessoas lagrimando e chorando. Muito, mas muito emocionante.
Depois do Jesus, tudo que viesse era lucro. O Offspring empolgou no palco principal, enquanto o Foals e o Spoon fizeram shows basntante comentados no palco indie (que não vi). Ainda teve o Bloc Party, que apesar de não ter visto, parece também não ter empolgado. O outro grande show da noite estava por vir. No palco indie, Kim Deal (Pixies) começou botando tudo para cima com seu Breeders. Apresentação quase impecável.
Calcando o repertório nos dois primeiros discos “Pod” e a pequena obra prima “Last Splash”, Kim Deal se divertiu, brincou, zoou e se emocionou com o público que cantou junto músicas como “No Aloha”, “Cannonbal”, “Saints”, Drivin´ On 9” e principalmente “Divine Hammer”. Ainda teve músicas dos Beatles (“Hapiness Is A Warm Gun) e The Amps no meio da história. Show para ficar na memória e ser lembrado por muitos e muitos anos.
Logo depois coube ao Kaiser Chiefs encerrar a noite. Muitos consideraram o melhor show da noite. Eu sinceramente não achei isso tudo. Apesar da banda ter um bom par de hits, ainda precisa evoluir muito no palco. Falta sal. Talvez funcionasse melhor no palco indie. Sai antes do meio da apresentação, pois minha missão já estava devidamente finalizada com os shows do Jesus e Breeders, em um festival muito profissional e organizado. Que venha 2009!!

sábado, 8 de novembro de 2008

Mombojó - Stúdio Sp (SP) - 07.11.2008

Já fazia um bom tempo que eu não assistia a um show do Mombojó. A banda, uma das prediletas aqui da casa, demonstrou toda a força e balanço das suas canções na última sexta feira, dia 07 no Stúdio Sp, na Rua Augusta. Felipe S. e seus comparsas comandaram um show bastante agradável, repleto de momentos ótimos e fazendo a maioria dos presentes cantar junto com ele.
O repertório do show transita entre os dois discos da banda, “Nadadenovo” e “Homem-Espuma”, além de incluir algumas canções que estarão presentes no próximo álbum que deverá ser lançado no primeiro semestre do ano que vem. O show começou com “A Missa” e depois passeou pelos hits internos “Adelaide”, “Merda” (um dos momentos altos), “Novo Prazer”, “O Mais Vendido” e “Realismo Convicente”.
A banda apresentou algumas canções novas, em que percebe-se uma pequena influência do projeto Del Rey, que os caras tocam com o China, com destaque maior para “Casa Caiada” que botou todo mundo para cima. Os momentos mais altos ficaram com “O Céu, O Sol e O Mar”, com participação do China em dueto e o final apoteótico e poderoso com “Deixe-se Acreditar”.
Depois do show, a sensação de satisfação era totalmente presente. Fica dificil de entender porque uma banda como o Mombojó não consegue estourar. As músicas tem apelo pop, são dançantes, bem tocadas e sempre bem apresentadas ao vivo. Coisas do Brasil. Agora é esperar o que eles irão aprontar no terceiro disco que nascerá no ano que vem. Com certeza virá coisa boa.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

"Acima da Chuva" - Volver - 2008

Era Abril de 2005 e eu estava em Recife para o Abril Pro Rock. Um dos shows que mais me chamaram atenção foi o dos recifenses do Volver. Energia, melodia, guitarras bem dosadas, letras com histórias criativas. Comprei o primeiro disco dos caras, “Canções Perdidas Num Canto Qualquer”, escutei um bocado, repassei para os amigos que não conheciam e a banda se tornou bem quista na casa.
Depois de um hiato de três anos, finalmente a banda chega ao seu segundo disco, mais uma vez com a marca da Senhor F Discos. “Acima da Chuva” foi produzido conjuntamente com Léo D. (que toca piano e teclado em várias faixas) e William D. No seu segundo trabalho, a bando composta por Bruno Souto (vocal e guitarra), Fernando Barreto (baixo) e Zeca Viana (bateria) não tem mais canções perdidas, elas estão devidamente encontradas e bem tocadas.
A banda perdeu um pouquinho de energia, mas ganhou muito em termos de produção e composição. As influências continuam abraçando Jovem Guarda, anos 60, Strokes, o atual indie rock e algumas pinceladas de Los Hermanos. “Pra Deus Implorar”, a responsável por abrir o trabalho, traz guitarras em primeiro plano e um ótimo trabalho vocal de Bruno. “Dispenso” foge um pouco a regra do disco, com violões e efeitos, esbanjando psicodelia, enquanto a “A Sorte” remete totalmente ao primeiro álbum.
Depois chega uma das melhores canções de 2008, a strokeana “Não Sei Dançar”, com sua mudança de andamento e paradinhas. Para tocar em qualquer boa festinha que se preze. “Natural”, já lembra um pouco Los Hermanos, mas tem um toque diferente, um algo mais na forma que a melodia diminui e retorna. “Tão Perto, Tão Certo” é outro hit em potencial, liberada desde o ano passado, já é conhecida por bastante gente. Para escutar bem alto.
A canção que dá nome ao disco é aquilo que costumo definir como quase-balada. Chega com a assinatura da banda. “Dia Azul”, remete a várias bandas novas no seu andamento. “Coração Atonal” é um caso a parte, amor a primeira ouvida. Começa com os versos: “Hey, girl/usei Elton John pra dizer que te amo/mas errei da sétima vez/na sétima nota do meu piano/industrialmente feito pra dizer/que eu desafino com você/nesse meu coração atonal”. Uma baladaça que flerta com os Beatles da fase Sgt. Peppers.
Para encerrar temos “Clarice”, mais uma com a marca registrada da banda e “Despedida Em Seis Por Oito”, repleta de efeitos nos vocais, sendo talvez o único momento mais baixo. Usando um clichê mais do que usual e comum, em seu segundo trabalho, os recifenses do Volver amadureceram bastante. “Acima da Chuva” é um ótimo disco, um dos melhores de um ano que já trouxe muita coisa boa.
My Space: http://www.myspace.com/volverbrasil

domingo, 2 de novembro de 2008

"Dear Science," - Tv On The Radio - 2008

Era outubro de 2006 e eu escrevia aqui no Coisapop sobre o disco “Return To Cookie Mountain” do Tv On The Radio: “o som da banda soa como se David Bowie encontrasse o Radiohead em “Ok Computer”, com a mixagem do Massive Attack e a produção de Brian Eno, com lançamento pela Motown”. Era isso. E era muita coisa mais. O quinteto do Brooklyn lançava uma obra-prima que soprava novidades para todos os lados.
Dois anos se passaram e chega a vez de Tunde Adebimpe (vocais), Kyp Malone (guitarras e vocais), Gerard Smith (baixo), Jaleel Bunton (bateria e percussão) e David Sitek (guitarras, pianos, programações e produção), lançarem o sucessor do aclamado disco de 2006. “Dear Science,” chega para mostrar a evolução da banda e ratificar todo o seu talento em mais um grande trabalho.
O Tv On The Radio de 2008 soa um pouco mais pop, o que no seu caso não significa nada gratuito ou ligeiro. Todas as texturas, junções e montagens ainda estão presentes. A mistura de funk, jazz, soul, rock, pop, blues e o que mais tiver pela frente, continua fortemente presente, ainda sendo uma tarefa bastante árdua definir a banda ou enquadrá-la em algum rótulo específico.
“Dear Science,” já começa em ritmo de avalanche com a batida frenética e o climão que depois toma conta de “Halway Home”. “Crying” chega mais lenta um pouco, quase um soul, antes de começar a embaralhar um riffzinho meio funk no meio. “Dancing Chosse”, a mais curta do disco, convida para dançar e detona um hip hop cheio de vanguarda, que depois recebe uma bela melodia sessentista.
“Stork And Owl” chega com pequenos efeitos no ínicio, criando uma cama toda especial para o vocal que lembra desde Bono, até Bowie e Lou Reed, enquanto os climinhas vão se dissipando no ar. “Golden Age” é quase uma disco-music, com vocal em falsete, chegando em uma pequena apoteose no refrão. “Family Tree” de letra bastante intensa e com um piano tomando a frente é uma das mais fortes canções do trabalho. Muito bonita.
“Red Dress” mistura funk, com o rap dos anos 80 e 90, para explodir mais na frente, enquanto os metais coordenados pelo saxofonista Martin Perna tomam a canção. “Love Dog” carrega um bonito arranjo vocal, enquanto as bases são quebradas constantemente. “Shout Me Out” vem charmosa, bem pop, apesar dos efeitos que a circundam. “DLZ” começa meio R&B e vai ganhando em peso mais pro final. “Lover´s Day” encerra a conta, mantendo o alto nível.
Com “Dear Science,”, O Tv On The Radio se consolida de vez no cenário mundial e crava mais um excelente disco na sua curta carreira, que ainda promete muito, mas muito mais pela frente. Pare, sente, escute, aprecie e depois escute novamente e novamente um dos melhores trabalhos de 2008.
Site Oficial:
http://www.tvontheradio.com
My Space:
http://www.myspace.com/tvotr
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