sábado, 9 de junho de 2007

"A Sombra do Vento" - Carlos Ruiz Záfon

Os livros têm um poder mágico. Sempre acreditei nisso desde minha infância ainda debutando sobre pequenas obras até a adolescência que me aparecia já com alguns títulos que mudaram senão a minha vida, o meu modo de enxergar como essa vida poderia funcionar, alargando meu leque de visão e contraindo em mim o fascínio pela literatura.

Mesmo em tempos de consumação rápida em que as palavras são sendo substituídas por outras formas de cultura, continuo pregando a literatura como um universo místico, um universo que depois de adentrado fica complicado voltar. Este poder oriundo desses encadernados recebe uma grande e emocionante homenagem no romance “A Sombra do Vento”, do espanhol Carlos Ruiz Zafón lançado originalmente em 2001 e que chega ao país esse ano pela Editora Objetiva com tradução de Márcia Ribas.

“A Sombra do Vento” é acima de tudo um tratado sobre a arte escrita, sobre o fascínio que um livro pode exercer na vida de uma pessoa. Embaixo disso, exalta uma simplicidade cativante, mas ao mesmo tempo revestida com contornos de luxo. Passado na Barcelona da primeira metade do século XX, sobre os escombros da guerra civil que levou o ditador Francisco Franco ao poder e os reflexos da Segunda Guerra Mundial, mostra-se uma cidade cinza, perdida em meio às nevoas e a perca de sua antiga majestade.

Não há personagens com variações de personalidade no romance, logo de entrada sabemos quem são os “bons” e quem são os “maus”, mas a montanha russa de eventos em que o autor despeja os fatos, nos coloca naquela situação em que abandonar o livro para fazer qualquer outra atividade é tarefa das mais difíceis. A narrativa não apresenta nada de novo e em alguns momentos até chega-se a anteceder algumas revelações, no entanto em outros o belo e envolvente texto de Záfon consegue erguer uma bela parede de surpresas.

O personagem principal é Daniel Sempere que na madrugada de 1945 é levado pelo seu pai, dono de uma livraria local, a um misterioso lugar no centro da cidade chamado Cemitério dos Livros Esquecidos. Nesse ambiente sombrio, Daniel encontra o livro que mudará sua vida para sempre, “A Sombra do Vento”, de um escritor que poucos conhecem chamado Julián Carax. O menino encantado pelas palavras, segue rumo a uma cidade que esconde segredos, tramas, desgraças e ruínas no seu alicerce, enquanto busca saber mais sobre o autor que quanto mais difícil lhe parece, mais o encanta.

O autor desenvolve um romance repleto de suspense, com grandes tons de fantasia e toques das histórias policiais e misteriosas com tintas dantescas envoltas a cores escuras em um clima gótico pairando no ar. Essa mistura de estilos não se perde em nenhum momento, se mostrando coesa e combinando Miguel de Cervantes com Edgar Allan Poe, Alexandre Dumas com Stephen King, não diminuindo em momento algum a narrativa que nos conduz a um mundo quase sem permissão de saída.

Com mais de 6 milhões de cópias vendidas na Espanha e na Europa, “A Sombra do Vento” encanta e coloca o seu leitor em uma viagem ao mesmo tempo cruel e fantasiosa embalada pelo que há de mais antigo no mundo, o amor. O amor é a mão que conduz toda a trama e se subdivide em tantas outras sempre congruindo para uma visão geral da necessidade, do desejo e da paixão que nutre em cada ser humano desde o inicio dos tempos.

Um comentário:

Sic disse...

Devidamente anotado, eu também acho livro uma coisa fundamental e apesar da correria do dia-a-dia dou meu jeito, estou lendo agora razão e sensibilidade e com o Intermitências da morter na fila, só me esperando.

Beijos