domingo, 29 de abril de 2007

"O Amor Acabou!" - Astronautas - 2007

“Há muito tempo o amor é vendido em estabelecimentos comerciais (...) As pessoas se distanciaram, congelaram, secaram por dentro, construíram grandes muros em tornos de si mesmos (...) É amigos, os tempos românticos se foram, o amor acabou!” É dessa forma mordaz e com doses cavalares de realidade que André Frank abre o terceiro disco da sua banda Astronautas, intitulado “O Amor Acabou!”.

Lançado no comecinho desse ano e encartado na revista Outracoisa o novo disco dos recifenses merece palmas. Um disco que alarga um pouco as expectativas trazidas no excelente “Eletro-Cidade” de 2004 e cabe perfeitamente nos nossos dias em que ao mesmo tempo que estamos mais pertos uns dos outros, via a quantidade enorme de comunicação disponível, paradoxalmente ficamos cada vez mais distantes e dispersos.

André Frank, que na frente da sua banda viu passar e seguir em frente mais ou menos uns 20 músicos, tocou todos os instrumentos desse disco e fez dele uma cara das suas concepções. “O Amor Acabou!” trata da perda da fé, da descrença nas instituições, da superficialidade das relações atuais, da ausência de amor em meio a tantas vidas eletrônicas e solitárias. Um passo a frente, quando Renato Russo dizia anos atrás que o mal do século era a solidão.

Musicalmente a fórmula astronautas de fazer música está lá, mantida e aperfeiçoada no decorrer do tempo, o seu som não muda simplesmente porque não precisa mudar e isso basta (ou deveria). Letras inteligentes, riffs poderosos de guitarras, refrões fortes embalados com vários blips e blops eletrônicos arremessados no chão e envolvidos na construção das faixas.

O poder da banda permeia quase todo esse novo trabalho espalhado por canções como “O Conto” (tente tirar o refrão da cabeça), “Brazilia”, “...De Zero a 100”, “Mundo Cão” ou “Do Útero ao Fim”. Rock para se escutar no talo, com o volume beijando o seu final enquanto as guitarras e idéias ecoam e socam teu cérebro seguidamente.

Um disco que reflete alguns arremedos do tempo em que vivemos, indicando totalmente sem querer o caminho para onde estamos nos dirigindo. Rock da melhor qualidade para dias menos nobres.

Site oficial da banda, onde pode-se baixar os dois primeiros discos:
http://www.astronautas.org/ .

sexta-feira, 27 de abril de 2007

"Because Of The Times" - Kings Of Leon - 2007

Ainda bem que existem discos que nos fazem continuar acreditando na essência da musica, e olhando principalmente para um lado específico, a essência do rock n´ roll. Aquele tipo de música que parece ser feita com devoção, com fé, com uma puta honestidade naquilo que se está produzindo, com formulas básicas, sem grandes invenções, mas com um coração enorme.

Foi isso que me veio na cabeça quando escutei pela primeira vez o novo disco da banda americana Kings Of Leon. Os irmãos caipiras (olha os rótulos...) Caleb Followill (guitarra e baixo), Jared Followill (baixo) e Nathan Followill (bateria), além do primo Matthew Followill (guitarra) conseguiram no seu terceiro álbum “Because Of The Times” o seu melhor trabalho.

A tríade matadora que abre o disco é uma das melhores do ano, a saber “Knocked Up”, “Charmer” e “On Call”. Dá para ficar só nessas três um bom tempo. Enquanto a primeira é uma viagem de sete minutos, a segunda vem para destroçar tudo com os habituais e desafinados gritos de Caleb, deixando com a terceira a missão de conquistar de vez o ouvinte.

Mas não tem só isso meus caros. Tem balada com “The Runner”, o típico som setentista que os caras tanto gostam em “Black Thumbnail”, as semi fodaças “Fans” e “My party”, além da belíssima natureza pop de “True Love Away”, com um vocal daqueles para bater palmas. “Arizona” fecha o disco com louvor, mostrando que o Kings Of Leon continua a mesma banda de anos atrás e não se preocupa muito em mudar isso.

“Because Of The Times” é um dos melhores discos que escutei esse ano e apesar de não ter nada de novo me conquistou pelo coração com que é tocado, os Followill acreditam no que estão fazendo e isto para um antigo Dom Quixote e um romântico incurável das causas perdidas representa muita coisa.

A banda melhora nesse terceiro disco, se mostra mais confiante no que pode fazer, investe em arranjos mais elaborados ao mesmo tempo em que aceita de vez sua tradição setentista e abraça o som de garagem. Totalmente indicado para andar no som do carro ou deixar tocando bem alto no final de semana enquanto saboreia-se uma cerveja bem gelada.

Site Oficial:
http://www.kingsofleon.com/ .

Abaixo, fique com “On Call”.

Kings of Leon - On Call

terça-feira, 24 de abril de 2007

"Painted From Memory" - Elvis Costello & Burt Bacharach - 1998

Tem discos pelo qual tenho um imenso carinho, um ciúme enorme, não empresto e não repasso nem sobre tortura. Um destes discos é “Painted From Memory”, lançado em 1998 por simplesmente Elvis Costello e Burt Bacharach. Um disco fantástico, sublime, um dos melhores de sua década sem dúvida, um disco que faz você acreditar na palavra beleza sem pestanejar.

Elvis Costello é o tipo de artista que desde sua estréia em 1977, com o clássico “My Aim Is True”, provavelmente nunca lançou um disco ruim em 30 anos de carreira, passeando entre o rock clássico, jazz, soul, blues, folk e pop com maestria cativando sempre baseado na sua voz rouca.

O maestro Burt Bacharach é um dos maiores nomes do pop de todos os tempos, seus trabalhos estão entre os melhores produzidos na seara do pop (pop mesmo), suas músicas foram cantados por ídolos das ultimas décadas, fazendo suas orquestrações famosas ao redor do mundo.

Os dois se conheceram quando Elvis Costello foi convidado para compor a música tema de “A Voz de Meu Coração” (biografia mais ou menos travestida da cantora Carole King). Desse ponto, nasceu “Painted From Memory”, onde o talento de Bacharach parece ter sido feito para dar corpo a voz de Costello. Impressionante e arrebatador.

Tente ficar imune ao poder de canções como “In The Darkest Place”, “Tears At The Birthday Party” ou “What´s Her Name Today?”. Se conseguir passe por “God Give Me Strenght” ou “The Long Division”. Se ainda persistir imune, procure um médico urgente, pois seu coração está com problema, tente pela última vez com a belíssima “Toledo” e caso nada aconteça, sinto lhe informar que levaram seu coração embora e você não notou ainda.

Para escutar de manhã antes de ir para o trabalho, no ônibus a caminho de casa, de noite tomando um bom vinho, do lado da pessoa amada ou na janela olhando para o mundo. Ou seja, para escutar sempre.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

"Nineteenneighties" - Grant Lee Phillips - 2006


Um disco com 11 músicas coverizadas dos anos 80, como “Wave Of Mutilation” do Pixies, “Boys Don´t Cry” do The Cure ou “So. Central Rain” do R.E.M, com certeza não representa novidade alguma, ainda mais agora que discos como esses são lançados como a grande novidade a fim de tampar a falta de criatividade ou a simples busca pelo sucesso fácil, provavelmente não merecendo serem ouvidos.

Ledo engano nesse caso. Como (quase) toda regra tem sua exceção, esse “Nineteenneighties” lançado ano passado pelo cantor norte americano Grant Lee Phillips é essa exceção. Uma ótima exceção.

Primeiro, porque o cara com certeza não precisa se ater a esses artifícios, visto que sua obra tanto na frente de sua ex-banda o Grant Lee Buffalo quanto em carreira solo, esbanja criatividade. Segundo, porque Grant Lee é o que podemos definir como um cara bacana, desses que ainda acreditam em palavras como sinceridade e honestidade.

Partindo desse pressuposto esse disco é uma pedra preciosa encrustada em algum lugar do passado. Todas as versões são competentes, ao lado do tradicional folk que o cantor tanto gosta de usar em meio a violões e pianos.

Desde as já citadas acima, até outras como a belíssima versão de “The Killing Moon” do Echo And The Bunnymen (provavelmente uma das 10 músicas que mais escutei nessa minha parca vida) ou a soberba “Age Of Consent” do New Order, fechando com um Morrisey mordaz das épocas de The Smiths em “Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me”.

Pode ir sem medo ao encontro dessas ótimas versões, para tocar num domingo a noite enquanto lê um livro (como foi meu caso ontem), ou para começar uma semana, ou ainda guardar dentro do mp3 player para sacar em momentos carentes de beleza. Grant Lee Phillips não é o cara, mas provavelmente faz parte da família.

quarta-feira, 18 de abril de 2007

"Brett Anderson" - Brett Anderson - 2007


Nos anos 90, imersos dentro da cena britpop mesmo tendo os dois pés enfiados na androginia e no glam rock, a banda inglesa Suede lançou discos excelentes como “Suede” de 1993 e “Coming Up” de 1997, produzindo hits do porte de “Beatiful Ones”. O grupo na verdade era a encarnação da energia e criatividade do vocalista Brett Anderson e do guitarrista Bernard Butler.

Em 2002 após o apenas razoável “A New Morning”, a banda deu o tempo e os dois saíram depois com um outro projeto chamado Tears que era bem mais ou menos na verdade. Brett Anderson provocava furor na mídia inglesa com suas letras sempre com margem para diversas interpretações além de claro suas opções sexuais, sendo que isso sempre meio que deixava de lado uma questão crucial, o fato de ele ser bastante talentoso.

“Brett Anderson”, primeiro trabalho solo do vocalista foi lançado em março lá fora e vem corroborar a tese de que ele era realmente o mentor principal por trás do Suede. O compositor assumiu guitarras e pianos, cantou sem tanto estrelismo como em outrora, chamou um quarteto de cordas que passeia brilhantemente sobre as canções e fez um dos melhores discos do ano até agora, sem exagero nenhum.

“Love Is Dead” abre o disco trazendo os versos: “Nothing ever goes right/ Nothing really flows in my life/ No one really cares if no one ever shares my care/ People push by with fear in their eyes in my life”. Desde já uma das grandes canções de 2007 e merecedora de constar ao lado dos grandes clássicos sobre o amor, mesmo que aqui ele seja chutado, o que cabe muito bem em nossos dias onde tudo é tão efêmero e passageiro.

Quem procura algo da ex-banda do vocalista pode ir direto nas ótimas “Dust And Rain” e “Intimacy”, no entanto são as baladas que tomam o corpo desse disco como “One Lazy Morning”, “Scorpio Rising” (com ecos de The Cure) e a quase valsa de “More We Possess the Less We Own of Ourselves”. Destaque também para “The Infinite Kiss” que quebra qualquer coração endurecido ou a bela “Ebony”.

Um belo disco para ser ouvido sem grande pressa, deliciando as melodias, o vocal e as cordas pouco a pouco, gradativamente até que ele te cative totalmente. Apesar de gostar do Suede, se Brett Anderson continuar lançando discos como essa sua estréia é meio complicado querer que haja um retorno de sua banda. Por enquanto tudo está muito bem.

Site oficial:
http://www.brettanderson.co.uk/
E veja o clipe de "Love Is Dead", uma das melhores músicas de 2007, logo abaixo.

Brett Anderson - Love Is Dead (Full Video)

segunda-feira, 16 de abril de 2007

"Turn The Lights Out" - The Ponys - 2007

Dentro de todo esse revival dos anos 80 que vem acontecendo nos últimos anos, há muita coisa boa, mas também uma enorme quantidade de coisas ruins. No meio campo dessa situação se situam algumas bandas que se não chegam a empolgar tanto, ainda conseguem fazer algo competente. Nesse meio campo é que podemos situar a banda americana de Chicago, The Ponys.

A fonte em que a banda bebe vem de The Cure, Echo And The Bunnymen e My Blood Valentine, passando também por bandas dos 90 como The Sea And Cake e Tortoise. “Turn The Lights On” que saiu na gringa mês passado é o terceiro disco do quarteto formado por Jerde Gummere (guitarrista e vocalista), Ian Adams (guitarrista e tecladista), Melissa Elias (baixista) e Nathan Jerde (bateria).

O interessante do The Ponys é que há um acento de melhora desde seu inicio, apesar da mesma ser meio lenta, quase como os ritmos explorados na sua sonoridade que flertam diretamente com o chamado noise-pop (rótulos, ah..rótulos). Depois do apenas mediano “Laced With Romance” de 2004, veio “Celebration Castle” em 2005 que mostrava um pouco mais de identidade, identidade essa que recebe outros contornos nesse novo álbum.

O disco passeia por faixas excelentes como “Double Vision”, “1209 Seminary” (a preferida da casa) ou “Maybe I´ll Try”, faixas médias como a que dá nome ao disco ou “Small Talk” e um verdadeiro tratado de psicodelia aliado a melodia na música que encerra a conta, “Pickpocket Song”. O vocal de de Gummere ora falado, ora leve e sussurado e em outras como um quase grito funcionam bem entre os riffs mínimos de guitarra, a boa bateria de Nathan Jerde e o ótimo baixo de Melissa Elias, um dos pontos fortes do disco.

A receita sonora desse “Turn The Lights Out” pode não ter nada de novo e até cheirar um pouco ao passado, mas mesmo assim merece ser saboreada. Totalmente indicado para dias nublados e noites mal dormidas. É bom ficar de olho no The Ponys para o futuro.

Site da banda:
http://www.theponys.com/

My Space:
http://profile.myspace.com/theponys

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Letra e Música - 2007

Primeiro algumas constatações: 1)Não sou muito fã de comédias românticas, não que eu seja uma pessoa insensível, pelo contrário, mas é que a proporção que me assola é de cada dez filmes apenas um valer a pena. 2)Contra muita gente eu acho a Drew Barrymore uma atriz interessante quando acerta no papel. 3)Sou fã do Hugh Grant. Sério. Por mais constrangedor que isso possa parecer. 4) “Letra e Música” ainda em cartaz no cinema e que só agora escrevo sobre, é uma daquelas comédias românticas que vale a pena e traz no elenco os dois atores citados acima, que na verdade representam o filme em si.

Não pode-se analisar esse filme pelo prisma da qualidade total. Seria injusto. Existem falhas de roteiro, a direção de Marc Lawrence é bastante irregular, os clichês estão dispostos a todo momento, mas no entanto é um filminho prazeroso de se ver tanto pela atuação do par romanceado, quanto pelo universo musical que se faz presente como personagem coadjuvante da trama, enxergando com olhos bem humorados os anos 80 e o seu atual (nem tão assim) revival.

Hugh Grant mais uma vez toma conta da cena, parece que esses papéis caem perfeitamente pra ele, com toques de desespero e muita acidez (principalmente contra si mesmo) em seus comentários. Vivendo Alex Fletcher um decadente músico dos anos 80, que fez bastante sucesso com a banda Pop! antes do outro compositor optar em seguir carreira solo que se provou bem sucedida (ao contrário da sua). Nesse momento qualquer semelhança com o Wham! de George Michael talvez não seja mera coincidência.

Acostumado a rodar feiras de diversões e apresentações para quarentonas a beira da menopausa, surge a possibilidade de ele compor uma música para a estrela do momento Cora Corman (algo como Jeniffer Lopez, ou Mariah Carey, ou, ou...). Eis a chance de ganhar uma boa grana e reaparecer no showbiz, só tem um pequeno problema ele não sabe escrever letras. Nisso entra em cena Sophie Fisher, a responsável por cuidar de suas plantas que se revela com ótimas frases, o que acaba levando ao convite para realizar o trabalho juntos. Detalhe, Drew Barrymore está linda nesse papel, não essa beleza de ensaios de moda, mas uma beleza bem peculiar.

Daí em diante tudo se confunde, dentro desse cenário musical e o relacionamento entre o casal. Pense em alguns clichês, eles estão lá com toda força, só que ao invés de chatear servem como ótima diversão. “Letra e Música” não foi feito para mudar nada e nem para figurar entre clássicos. É apenas um filme sincero, com bons atores, um recheio bacana e que passa rapidinho na sala de cinema, sem causar maiores transtornos. Típico filme nota 7.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

300 - 2007

Frank Miller é o tipo de cara que pode receber a alcunha de gênio, ainda mais para aqueles que gostam de quadrinhos e viram ele desenvolver trabalhos sublimes com personagens como Batman e Demolidor, além de criar uma das séries mais marcantes de todos os tempos, chamada Sin City. Depois da belíssima e perfeita adaptação desta última para o cinema, eis que partiu para outro projeto seu, a graphic novel “300 de Esparta”.

Para nós brasileiros um dos grandes atrativos para se dirigir a sala mais próxima seria a participação do Rodrigo Santoro, nessa sua subida de carreira é primeira vez que assume um papel importante, fazendo o Rei Persa Xerxes e convencendo bem. Mas além disso temos uma adaptação fiel, trilha sonora competente, uma grande atuação individual (Gerald Butler como o rei espartano Leônidas), produção técnica respeitável e uma possível revigorada nos chamados épicos.

Em “300” conta-se a batalha de Termópilas (que você provavelmente já ouviu falar nas suas aulas de história), onde trezentos espartanos comandados pelo rei Leônidas sobreviveram durante três dias a força bruta do exército persa que dominava o mundo por volta de 480 a.c. Essa batalha e as grandes baixas que esses guerreiros promoveram ao adversário antes de sucumbirem a morte, foi um combustível para que algum tempo depois a própria Grécia se unisse e derrotasse o exército persa.

Muito tem se falado do filme como uma ode a violência, uma glorificação a guerra, o que sinceramente não se trata. Primeiro, é cinema, é entretenimento. Segundo, trata-se de um fato passado há muito tempo atrás de uma nação essencialmente guerreira como era Esparta e que vivia nestes tempos para realmente glorificar a guerra, ou seja, outros tempos. Terceiro, não há como se falar em ode a violência enquanto vemos tudo ao vivo e a cores no nosso dia a dia.

O diretor Zack Snyder fez do seu “300” um filme um pouco menor do que ele poderia ter sido, mas imensamente maior do que muitos estão falando, principalmente melhor do que épicos recentes como “Alexandre” ou Tróia”. “300” é um filme que abusa das cores e das texturas e representa uma diversão gratificante para quem se dirigir a assisti-lo. Frank Miller deve ter ficado contente, bem contente.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

"Beyond" - Dinosaur Jr. - 2007

A história poderia ser a seguinte: Você tem um grande amigo, que está contigo percorrendo os árduos caminhos da adolescência e te ajudando a moldar seus gostos e também crescer. Depois de um tempo esse amigo vai embora e muitos anos depois volta, sendo que para sua surpresa permanece tão boa gente como era antes. Isso serviria para descrever mais ou menos para mim, “Beyond” o novo disco do Dinosaur Jr lançado neste ano. O Dinosaur Jr. foi formado em 1983 e lançou três álbuns fantásticos em seguida, a estréia “Dinosaur” de 1985, o clássico “You´re Living All Over Me” de 1987 e o não menos excelente “Bug” de 1988, formando ao lado de bandas como Husker Du, Sonic Yoth e Pixies bases fundamentais para a consolidação do chamado rock alternativo e para muita coisa do que viria depois como o movimento grunge. Formado por J. Mascis, um gênio da guitarra e dono de uma voz anasalada cativante, Lou Barlow, o nerd que tocava baixo como poucos e produzia melodias arrebatadoras e o não menos competente Murphy na bateria, a quem cabia a difícil missão de dar ritmo a enxurrada de guitarras e efeitos que a banda produzia. Em 1989, Mascis brigou com Barlow que saiu e montou o Sebadoh, banda que foi um dos pilares iniciais do alt country e lançou discos maravilhosos que infelizmente foram pouco apreciados enquanto Mascis seguia com o Dinosaur Jr. produzindo discos sempre competentes, mas sem o antigo brilho. Para “Beyond”, as pazes foram devidamente feitas e para minha grata surpresa o resultado do disco chega bem perto da maestria despretensiosa dos primeiros discos. J. Mascis continua tocando guitarra como poucos enquanto Barlow continua tendo no seu baixo toda a pegada que fundamentou bandas e mais bandas nos anos 90. É emocionante escutar faixas como “Almost Ready”, “Crumble”, “This Is All I Came To Do” e “Been There All The Time” e se perder em alguma época atrás onde a cultura do hype não existia, bandas sem tanta qualidade não eram alçadas como salvação do mundo e guitarras distorcidas com melodias suaves eram feitas com extremo amor e carinho. “Beyond” é um dos melhores discos do ano até agora e um dos mais prazerosos de se ouvir. O velho amigo a casa retorna com novas histórias, outras aventuras, mas com o mesmo papo bacana que conheceste anos atrás. Tomara que fique um bom tempo.

terça-feira, 3 de abril de 2007

"Ballad Of The Broken Seas" - Isobel Campbell & Mark Lanegan - 2006

“Os opostos se atraem”. “As diferenças se completam”. Frases como essas são batidas, mas podem começar a descrever o álbum “Ballad Of Broken Seas” lançado ano passado por Isobel Campbell e Mark Lanegan. A primeira tem uma voz doce e suave, ambientando seu som no indie pop, o segundo é chegado num rock mais básico além de um bom blues como se cantado na mesa de um bar. Características completamente distintas, mas por mais absurdo que pareça, funcionais.

De um lado temos Mark Lanegan, um dos maiores vocalistas desse negócio chamado rock nos últimos 15 anos pelo menos, que lançou verdadeiras obras primas ao lado do Screaming Tress nos anos 90, emprestou sua voz ao Queens Of The Stone Age em três dos quatros álbuns da banda e fez ótimos discos solos. Do outro a princesinha Isobel Campbell da banda Gentle Waves e de tantos vocais pelo Belle And Sebastian.

“Deus Ibi Est” que abre o disco tem Lanegan declamando falas ao leú em volta a canção como um Lou Reed mais sombrio e deposto, abrindo para que Isobel Campbell entre angelical provocando quase um embate do bem contra o mal. “The False Husband” é a vez dele cantar em tom bem mais baixo que de costume, antes que ela invada de novo se contrapondo e em determinado momento se sobrepondo em meio a efeitos que tratam a música de maneira quase sacra.

A música titulo é quase um tributo a Tom Waits com um piano ordinário e fascinante dando os toques a canção que Lanegan puxa com destreza digna de um bardo inglês, enquanto as orquestrações permeiam o espaço. “Revolver” aparece com Isobel sussurando, como uma daquelas canções francesas antigas, para que depois os dois artistas cantem juntos pela primeira vez no disco, nessa canção quase medieval.

“Ramblin´n Man” novamente evoca os momentos mais sujos de Tom Waits, com toques de musica de cabaré e aquele clima teatral das décadas de 20 e 30, em um country disfarçado com direitos a assovios que poderiam muito bem estar em uma produção de faroeste spaggethi italiano chinfrim. “Come Walk With Me (Do You Wanna)” é uma balada mais tradicional, com ecos da sonoridade hippie dos anos 60, com violão dedilhado enquanto Isobel e Lanegan promovem um belo encontro de vozes e um refrão cativante.

“It´s Hard To Kill a Bad Thing” é uma baladona com violões, aquele baixo aparecendo de vez em quando e uma percussão imprimindo o ritmo, sendo um imenso pecado ser apenas um tema instrumental e não conter letra e voz. “Honey Child What I Can Do” vem depois para compensar esse erro naquela que é a canção mais pop do álbum e talvez a que exale maior beleza também.

Em meio a voz rouca e repleta de bebida e cigarros de Lanegan e a doçura suave de Isobel temos um tratado de boa música espalhada em doze faixas que poderiam muito bem ser tocadas ao vivo num bar qualquer do Texas, enquanto os marmanjos acabam cervejas e admiram a bela mulher que lhes canta, não percebendo as garçonetes que viajam e se encantam com as melodias sonhando com dias melhores ou apenas uma noite com o cantor.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

"Stop All The World Now" - Howie Day - 2003

Em meados do ano passado um grande amigo meu me presenteou com um disco contendo Mp3 que tinha dois discos de um cantor americano chamado Howie Day. Lembro bem que demorei um pouco a escutar, pois havia muitas coisas na “fila” esperando para entrarem no player. Quando “Brace Yourself” começou a tocar tudo que pensei era agradecer a esse amigo (coisa que evidentemente fiz).

Nascido em 1981 no Maine, esse jovem cantor e compositor sempre foi precoce tocando piano e guitarra desde muito cedo. Em 2000 com apenas 19 anos, lançou de maneira independente “Australia” seu primeiro disco embalado com pianos e violões, que acabou por receber boas críticas, ainda que isoladas.

Em 2003 se mandou para Inglaterra a fim de gravar o seu segundo disco “Stop All The World Now” que ficou sobe a batuta do estimado Youth responsável pela produção de um dos álbuns preferidos do cantor, “Urban Hymms” da banda inglesa The Verve. Tal decisão trouxe uma produção impecável que cuidou de exaltar a voz de Howie Day e privilegiar de maneira límpida os violões, enquanto são despejadas historias de amor e relacionamentos que não soam piegas em nenhum momento.

Mas vamos ao disco. “Brace Yourself” que abre o disco é poderosa e pede logo para ser repetida algumas vezes. “Perfect Time Of Day” com seus violões que lembram James e o vocal forte e encorpado, é canção para animar um dia bom andando pelo mundo. “Collide” que fez parte do seriado “Scrubs” e levantou a bola do cantor é uma linda, linda canção que traz os seguintes versos no refrão: “Até mesmo o melhor cai algum dia/ Até mesmo as palavras erradas parecem rimar/ Fora da dúvida que enche sua mente/ Eu acho de alguma maneira/ Você e eu colidimos”. Arrebatador!

“Sunday Mornig Sunday” tem um embalo calmo e tranqüilo, quase como uma canção dos anos 60, mas ao mesmo tempo flerta com toques de R & B. “She Says” traz um amor destituído do seu cargo a espera de outro alguém enquanto a recuperação não chega, mostrando ecos do rock inglês, safra anos 90, assim como “You & A Promise”. “End Of Your Days” trazida pelo piano, lembra mais o primeiro disco do cantor, onde a letra busca uma redenção após uma passagem de vida não muito boa.

Depois do lançamento de “Stop All The World Now” em 2003 o cantor se envolveu em confusões com assédio sexual, álcool e brigas em aviões que lhe renderam um inferno astral nos últimos dois anos, mas que parece estar suplantado. No site oficial temos a informação que um novo disco está sendo trabalhado para 2007.

Só resta esperar para que a qualidade se mantenha enquanto colocamos o seu trabalho ali na companhia e bem no meio de Ryan Adams e Josh Rouse com bastante mérito. Escute e tente ficar imune. Eu duvido!

Site oficial: http://www.howieday.com .

Abaixo fique com "Collide". Como não achei o clipe, vai esse montagem em cima do filme "O Senhor Dos Ladrões", de qual a música fazia parte da trilha sonora.

"Collide" - Howie Day