sexta-feira, 30 de março de 2007

"Neon Bible" - Arcade Fire - 2007


“Tempos sombrios estão nos esperando pela frente...”, a frase que poderia sair tanto de um filme de Harry Potter (e saiu mais ou menos assim), como do Mestre Yoda em Star Wars ou ainda de algum pastor apocalíptico em uma de suas pregações é o sentimento que resume “Neon Bible”, segundo disco do Arcade Fire, combo canadense encabeçado pelo protótipo de gênio Win Butler que estremece os pilares do pop desde 2004.

Muito se falou sobre esse album antes mesmo de ele sair, uma vez que o primeiro disco da banda “Funeral” foi uma grata, bela e fenomenal surpresa quando do seu lançamento. Saber se o segundo disco seria melhor que o primeiro era a grande questão, ainda mais com promoções bizarras no youtube, gravação dentro de uma igreja, álbum vazado antes, muito antes do tempo e outras coisas mais. Então, eis que aqui cometo a primeira heresia desse texto, “Neon Bible” é superior a “Funeral” por mais impossível que isso possa parecer.

O novo disco além da excelência pop, e aqui falamos de um pop cheio de climas estranhos, ambientes controversos e com um ar pesado mas que nos deixa respirar tranquilamente na medida do possível, enquanto as letras flertam com temas como um quase desespero, crenças mal feitas, desejos sucumbidos, desastres naturais, guerras hediondas e depois de tudo isso uma espécie de apocalipse que vem pela frente.

Aqui cometo a segunda heresia. Daqui há alguns anos olharemos para trás e veremos nesse disco um divisor de águas por ser tão estranho e ao mesmo tempo tão normal retratando tempos de medo, de violência, de tragédias climáticas e de uma imensa falta de fé no ser humano. O combo formado por Win Butler, Régine Chassagne, Richard Reed Parry, William Butler, Tim Kingsbury, Sarah Neufeld e Jeremy Gara (além de muitos, muitos outros), conseguiu fazer um disco sombrio é verdade, mas imensamente belo.

Canções como “Black Mirror” que abre o disco, “Neon Bible” e seu tom cataclísmico e “Ocean Of Noise”, uma espécie de encontro entre o Velvet Underground e Jim Morrison nas suas maiores viagens, representam alguns dos momentos desse disco envolto a mandolins, violas, fagotes, pianos, orgãos de igreja, harpas e evidente a textura rock de guitarra, baixo e bateria. É crer para ver, ouvir para se encantar, pensar para temer, gostar para se admirar.

O que dizer da belíssima entrada de “Intervention” (uma das canções que mais escutei esse ano) ou do rock oitentista e soturno de “The Well And The Lighthouse”?. Será que dá para ficar imune a força da letra de “Windowswill” ou ao semi country embaçado pela voz de Butler em “Antichrist Television Blues”?. E a soberba "No Cars Go"? Se no seu disco anterior o Arcade Fire explorava os dramas familiares e inseria mudanças de ritmos com alguns gritos na sua fórmula, aqui seus olhos se voltam para os piores momentos do mundo atual e uma roupagem sonora mais contida e com melodias mais trabalhadas (se é que isso podia acontecer).

O hype está generalizado em cima desse disco e da banda há tempos, mas não corra dele por causa disso e aqui cometo a terceira heresia: O Hype é plenamente justificável nesse caso. “Neon Bible” é de maneira brilhante o melhor disco de um ano que mal começou e já tem pérolas de Wilco, Son Volt, BRMC, Weeping Willows, Dinossaur Jr., Grant Lee Philips, Apples In Stereo e tantos outros que já chegaram e muitos que ainda virão. Não é nada fácil.

E para terminar esse texto cometo a quarta e última heresia: O Arcade Fire é hoje banda mais relevante do mundo.

E que venha o final do mundo como nós conhecemos, pois a sua trilha sonora já chegou.

Site oficial:
http://www.arcadefire.com .

quarta-feira, 28 de março de 2007

"Strangelet" - Grant Lee Phillips - 2007

A classe devia ser fundamental na vida. Não uma classe esnobe e soberba, mas aquela natural e encantadora. Um disco com classe é um privilegio para poucos, com charme suficiente para ficar no player alguns dias e desacelarar um pouco em nós, essa síndrome de ficar mudando de discos a todo momento para acompanhar o que aparece pelos blogs e comunidades da internet.

O americano Grant Lee Phillips pode ser considerado um desses poucos, pois vez ou outra arremessa sua nobreza em belas canções. Foi assim quando ainda tinha sua banda, o Grant Lee Buffalo que nos brindou com a pequena obra prima “Fuzzy” em 1993, ou quando já em carreira solo lançou “Mobilize” em 2001 ou “Virginia Creeper” (que traz a melhor música do cantor para mim, “Mona Lisa”) em 2004.

Ano passado, foi a vez do cantor brindar suas músicas favoritas em um disco de covers intitulado “Nineteenneighties”, que passou quase que despercebido pelo público. Eis que essa semana entra no mercado americano “Strangelet” o novo trabalho de Grant Lee Phillips, recheado das habituais referências do universo folk rock das décadas de 60 e 70 e com a qualidade que aprendemos a apreciar.

“Runaway” abre tensa e nervosa em meio a violões até ganhar ritmo com a bateria e com o a palavra título sendo repetida com a já falada classe pelo cantor. “Soft Asylum (No Way Out)” chega com uma beleza magistral. “Fountain Of Youth” emula Elvis Costello, enquanto “Hidden Hand” tem toques de Neil Young. “Chain Lightning” se faz apaixonar pelas orquestrações que a conduzem.

“Raise The Spirit” tem aquele clima dos anos 80 que o artista tanto gosta de explorar (e o faz muito bem), “Same Blue Devils” é uma baladona com ecos de Bob Dylan e The Band, “Johnny Guitar” tem os toques mais rock do disco em uma canção deliciosa e semi perfeita, “So Much” fecha o álbum com maestria conduzida pelo estilo tradicional do cantor.

Quando coloquei “Strangelet” para tocar no trabalho ontem pela manhã, fui me tocar de tirar somente perto das 13:00hs, ao me dirigir para almoçar, voltando e apertando o play de novo. Um disco que me merece a alcunha de soberbo sem dúvida, mostrando o artista em ótima forma e que traz para os ouvintes toques de classe, extrema classe.

P.S: E desconsidere essa capa horrível :)

Site oficial:
http://www.grantleephillips.com
My Space:
http://myspace.com/grantleephillips

Veja e escute “Soft Asylum (No Way Out)” logo abaixo.

Grant Lee Phillips

terça-feira, 27 de março de 2007

"Make Another World" - Idlewild - 2007

Sempre que me deparo com um disco que tenha duração em torno de 40 minutos, já escuto este de maneira diferente. Esse negócio de colocar muita música em cd, pelo simples fato de caber nele é responsável por transformar possíveis grandes discos em trabalhos medianos pois acabam gerando canções menos inspiradas que poderiam muito bem ter ficado de fora.

O disco novo do Idlewild lançado este mês tem 34 minutos espalhados em 10 faixas, o que colabora bastante para o ótimo resultado final. A banda escocesa formada em 1995, liderada pelo vocalista Roddy Womble e contando com Rod Jones e Allan Stewart nas guitarras, Gareth Russell no baixo e Colin Newton na bateria traz “Make Another World” para o mercado.

O Idlewild sempre foi uma banda excelente, com grandes influências de R.E.M (principalmente), Husker Du e o pós punk dos anos 80. Seus álbuns apesar de nunca terem recebido um grande reconhecimento do público cativaram fãs ao redor do mundo, discos como “The Remote Part” de 2002 são pequenas obras primas desta década, no entanto a banda vinha de um lançamento um tanto quanto inconsistente em 2005, intitulado “Warning/Promises”.

Neste “Make Another World” a banda abraça novamente as suas influências do R.E.M com uma paixão que não demonstrava já há algum tempo, fazendo um belo disco. As guitarras dão o toque para abrir com “In Competition For The Worst Time” e “Everything (As It Moves)”, a reverência para com a banda de Michael Stipe e Cia. aparece em canções como a faixa titulo, a excelente “If It Takes You Home” e a balada “Once In Your Life”. “Finished It Remains” fecha o disco, trazendo aquele rock básico, sem grandes firulas, mas com um apelo crescente na melodia e no refrão.

Depois que o álbum acaba a certeza que fica é que bandas tão honestas e cientes da sua sonoridade como o Idlewild sempre serão importantes. Roddy Womble depois do belíssimo disco que lançou solo no ano passado, volta com tudo, com a voz sempre acima da média da maioria e trazendo novas canções para tocarem no nosso dia a dia. É bom ter o Idlewild de volta.

Site Oficial da banda: http://www.idlewild.co.uk/ .
My Space: http://www.myspace.com/idlewild .

segunda-feira, 26 de março de 2007

"High Times (Singles 1992 - 2006)" - Jamiroquai - 2006

Dentro das minhas divagações musicais disponho discos dentro de grupos que não guardam identidade sonora entre si. Dentro desses grupos pessoais, tem o “Discos Para Se Ouvir na Segunda Feira”, que podem ser de qualquer estilo desde que sejam leves, pop por natureza e consigam tirar a ressaca estampada na cara, melhorando o humor.

Olhando por esse lado um disco que se enquadra bem nisso é a coletânea “High Times (Singles 1992-2006)” da banda inglesa Jamiroquai lançada no ano passado. O Jamiroquai é o caso de banda que as esquisitices do vocalista são sempre mais comentadas que seu próprio som, deixando este em segundo plano.

Jay Kay, seu vocalista (e hoje com uma fortuna estimada em U$ 60 milhões) realmente é totalmente dados a estrelismos meio extremos, o última deles foi uma recente declaração em que afirma ter “desistido da música”, no entando isso sempre meio que abafou o som de sua banda que apesar dos altos e baixos teve ótimos momentos.

E nada melhor do comemorar somente os altos do que uma coletânea de singles como esta. Sucessos como “When You Gonna Learn”, “Virtual Insanity”, “Cosmic Girl” e “Allright” estão lá ao lado de canções menos conhecidas como “Space Cowboy” e "Radio”, mas não menos interessantes.

A banda que surgiu no movimento Acid Jazz no inicio dos anos 90, sempre bebeu na fonte do jazz, soul e funk, aliando toques de discoteca em alguns casos e em outras algumas modernices mais recentes. Se nunca conseguiu emular seus ídolos, pelo menos Jay Kay fez com sua banda uma declaração de amor musical para com eles.

Essa coletânea pode ser a única coisa que você tenha da banda e já estará valendo a pena pois traz um conjunto de ótimas músicas como descritas acima leves e totalmente pop, prontas para descontrair o ar pesado da segunda feira e colocar um pouco mais de alegria no começo da semana.

Bastante recomendável. Site da banda: http://www.jamiroquaimusic.com/
.

quinta-feira, 22 de março de 2007

"The Weirdness" - The Stooges - 2007

“The Stooges” lançado em 1969 é um dos grandes discos de todos os tempos do rock. Seminal, visceral e repleto de energia influenciou geração após geração e fez de Iggy Pop um mito, uma espécie de anti herói sujo e canalha, peça fundamental na história do rock. Eis que mais de 33 anos depois do último e excelente “Raw Power”(1973) a banda lança um novo disco.

“The Weirdness” traz de volta Iggy Pop ao lado dos irmãos Ron Asheton na guitarra e Scott Asheton na bateria, além do baixista Mike Watt que já está com eles há algum tempo. A produção ficou por conta de Steve Albini, que “limpou” muito o som da banda, sempre caracterizado pela podreira, pelos estilhaços de acordes voando e ensurdecendo.

A grande sacada ao ouvir esse disco é não comparar com aquele Stooges de 30 anos atrás. Não tem como. Os três discos que a banda lançou anteriormente tem um poder especial, daqueles que só são produzidos em conjunto com várias nuances históricas. Seria pedir demais para Iggy e cia reproduzirem o feito. Agora, por causa disso dizer que “The Weirdness” é um disco ruim, cria-se uma imensa distância.

A força da banda está lá ainda, com as guitarras soando, bateria esmurrando, baixo pulsando a mil e a voz de Iggy Pop contando histórias, destoando sarcasmo. Faixas como “Trollin”, “She Took Me Money”, “You Can´t Have Friends”, “ATM” e “I´m Fried” são ótimas podreiras para se escutar bem alto. “Idea Of Fun” o primeiro single dessa nova fase é uma das músicas mais loucas do ano até agora com Iggy afirmando no refrão que sua idéia de diversão é “matar todo mundo”.

“The Weirdness” não é para ser levado tão a sério como muita gente está fazendo. Não é para ser comparado com os antigos discos, pois chega a ser covardia. No entanto, se qualquer banda nova lançasse um disco desses teria seu nome alardeado aos quatro cantos como a nova sensação do rock n´roll, essa pequena grande coisa que o próprio Stooges ajudou e muito a criar.

Relaxe, abra uma cerveja, pegue uma revista do Robert Crumb, coloque o disco e aumente o som, mas aumente mesmo. Não vai mudar em nada a cotação do Dólar, mas com certeza trará 40 minutos de pura diversão, ainda que não seja a mesma de tempos atrás continua valendo a pena. Bem a pena.

Entre no my space e escute “Idea Of Fun”:
http://www.myspace.com/iggyandthestooges .

quarta-feira, 21 de março de 2007

"Hats Off To The Buskers" - The View - 2007

A história meio que se repete regularmente, banda lança alguns EPs bacanas, faz shows interessantes e...logo é a próxima sensação para os críticos ingleses, a próxima salvação do rock. Com a banda escocesa The View que lançou neste ano seu primeiro álbum “Hats Off To The Buskers” não foi diferente.

Some a isso o fato do vocalista da banda Kyle Falconer ser amigo de farra do sempre maluco Pete Doherty (Ex-Libertines) e a imprensa tem um prato cheio nas mãos. A banda também não fez por menos, com envolvimentos com drogas em alguns casos, outras pequenas pirações e o seu disco de estréia entrou muito bem na parada britânica.

Agora, esqueça tudo isso. “Hats Off To The Buskers” é bem agradável de se escutar. A banda não conta nada de novo passando pelo punk inglês dos anos 70/80, pelo Ska em alguns momentos, além de amores mais contemporâneos como o próprio The Libertines criando uma sonoridade descompromissada, leve, sem maiores pretensões e que diverte bem.

“The Don” e “Skag Trendy” podiam muito estar em algum disco de uma banda punk inglesa de 82,83 emulando o The Clash como grande referência. “Face For The Radio” é uma pequena jóia pop escondida no meio das guitarras, com apelo sessentista e aquele backing vocal de resposta que sempre é agradável. “Wasted Little DJ´s” tem força de hit, dançante e cheia de energia puxando um ótimo refrão sendo totalmente indicada para as pistas de dança.

“Same Jeans” é a primeira música de trabalho e poderia muito constar em um dos discos da banda de Pete Doherty. “Superstar Trademan” tem um dedilhado de guitarra que abre espaço para um punk-pop daqueles que instigam o individuo a ficar balançando a cabeça ou fazendo algum tipo de batuque no chão. “Claudia” é uma balada com aqueles efeitos e andamento a lá Kinks, só um pouco mais acelerada.

A boa produção de Owen Morris (Oasis e The Verve) ajuda muito o límpido resultado final e a junção das canções. O The View não vai ser sua banda preferida, você não mandará emails, scraps no orkut ou recomendará na LastFm para os amigos, mas seu disco de estréia é daqueles bem bacanas que podem ser consumidos sem contra indicação, de maneira leve e alegre.

O site oficial da banda é este
http://www.theviewareonfire.com e dá uma passada pelo my space também: http://www.myspace.com/dryburgh .

terça-feira, 20 de março de 2007

"El Desastre de ser Indie" - Ligre - 2006

Um disco com o nome maravilhoso de “El Desastre de Ser Indie” merece ser escutado, dado uma chance. A banda responsável por esse adorável título é a espanhola Ligre, originária de Valência, mas que agora reside em Barcelona e que ano passado lançou seu primeiro disco por uma gravadora.

Antes já haviam produzido dois outros discos independentes “Retorno a Los Bosques” em 2002 e “Tu Voz Cansada” em 2003, participando de diversos concursos e festivais e recebendo em média boas criticas, antes de lançar o álbum em questão no final do ano passado pelo selo Flor Y Nata Records.

Ligre (fui procurar saber) é um animal hibrido do Leão e do Tigre (tá vendo, Coisapop também é cultura!!) e traduzindo isso para o som da banda é uma mistura de Beatles, Kinks e Beach Boys com bandas indies dos anos 90. Sua formação é Javi (vocal e guitarra), Nacho (vocal, guitarra e teclados), Pere (Baixo) e Antonio (Bateria).

O album não tem mais do que meia hora de música espalhada em oito canções, atingindo um resultado bom para o tipo de som a que estão propostos. A faixa de abertura “Tumbados” é uma bonita balada que abre com os versos “Recuérdame lo fácil que es soñar/y disfrutar tumbados junto al mar/Juntos todo es especial”, meio piegas mas bacana.

Na verdade, as canções tem como tema recorrente paixões mal acabadas, amores desejáveis e seu espelho nos relacionamentos. Letras em sua totalidade simples, sem grandes invenções ou malabarismos poéticos. Um dos melhores momentos fica por conta de “Domingo” e seus versos “Amanece ya, y no quiero despertar/Quiero disfrutar del cariño que tú me das”, retrato de uma falsa tristeza no ar, com uma linda melodia.

O grande momento do disco fica por conta da ácida e mordaz “El Desastre de Ser Indie” que abre com os versos impagáveis: “Ya te has hecho mayor/ser indie no te queda muy bien/Dices que escuchas a los Strokes/y en realidad añoras a James” Precisa dizer alguma coisa mais?. “Solo Outra Vez”, fecha a conta em mais uma baladona sentimental que só.

Apesar de uma inconsistência que permeia as canções produzindo bons momentos como os citados e outros menos empolgantes, percebe-se qualidade ainda que esta precisa ser melhor trabalhada e direcionada. No mais, só pelo titulo o disco já se torna quase cool.

Site dos caras:
http://www.ligre.es/ e também o my space: http://www.myspace.com/ligre .

domingo, 18 de março de 2007

"The Search" - Son Volt - 2007

Primeiro um pouco de história. A banda americana Uncle Tupelo teve uma carreira curta, mas brilhante lançando ótimos discos entre 1990 e 1993 como “Still Feel Gone” de 1991. Em meados de 1994 as coisas acabaram e seus dois pilares alçaram outros vôos, Jeff Tweedy montou o excelente Wilco e constituiu uma carreira repleta de acertos com sua nova banda e Jay Farrar seguiu com um novo projeto chamado Son Volt.

Quanto ao Wilco, se tornou uma das bandas mais importantes dos últimos 10 anos. E o Son Volt? Bom, apesar de receber sempre criticas positivas e produzir ótimos discos o reconhecimento dado a Jay Farrar é muito menor do que aquele oferecido (com razão) a Jeff Tweedy. Talvez por ter mudado pouco sua sonoridade no decorrer dos tempos, fincando o pé no folk, no country e no tradicional rock americano sem adicionar novos elementos, isso tenha acontecido.

“The Search” o seu quinto disco, lançado na gringa esse mês talvez venha mudar esse cenário e dar o devido reconhecimento ao músico. Um disco brilhante que provavelmente seja o melhor da carreira da banda que ainda tem os competentes Brad Rice nas guitarras, Derry DeBorja nos telcados, Andreew Duplantis no baixo e Dave Bryson na bateria. Até o momento um dos melhores lançamentos de um ano repleto de boa música e que mal começou.

Momentos inspiradíssimos como “This Picture” que traz os metais a primeira prova criando todo um clima para a canção, “Beacon Soul” um folk pop com a voz de Jay Farrar emulando tempos mais antigos e comovendo o ouvinte ou “Methamphetamine” uma balada folk, com um lindo piano que entra na cabeça, sendo bastante difícil retirar depois enquanto se cantarola a melodia e o refrão pelos cantos.

Outros destaques são o belo dueto com a cantora Shannon McNally em “Highways and Cigarettes”, o rock tradicionalista com ecos de Tom Petty de “Action”, com uma variação vocal bem bacana ou a belíssima “Adrenaline And Heresy” espalhando melancolia de maneira suave enquanto o piano dita o ritmo da canção.

Jay Farrar está cantando de forma impressionante e finca os seus pés de vez na sua idéia de música, um tanto quanto conservadora, mas de uma qualidade que beira o genial. “The Search” pode até não chegar a quantidade de pessoas que o excelente “Sky Blue Sky” do Wilco vai chegar, mas com certeza emocionará tanto quanto este para aqueles que o escutarem.

Site Oficial da banda:
http://www.sonvolt.net .

sexta-feira, 16 de março de 2007

"Carnavas" - Silversun Pickups - 2006


O mundo de hoje nos dá tamanho acesso a informação que acabamos meio que submersos no meio dela, deixando escapar muita coisa não percebida. No meio de tanta banda nova simplesmente não tem como se escutar tudo e às vezes, ótimos discos são descobertos depois um bom tempo. Foi o meu caso com a banda de Los Angeles, Silversun Pickups. 


Quando seu primeiro disco, lançado ano passado intitulado “Carnavas” chegou aos meus ouvidos há mais ou menos uns dois meses foi como paixão à primeira vista. Como me apaixono muito fácil, resolvi não me empolgar tanto e hoje algum tempo depois é que escrevo algo sobre esse maravilhoso álbum que sem dúvida foi um dos melhores de 2006. 

Camadas e mais camadas de guitarras inseridas de distorções e viagens em canções que sempre ultrapassam os quatro minutos, com uma bateria tocada como se fosse a última vez, tudo isso embalado em uma voz peculiar carregando melodias doces e belas. Já tentei definir o som da banda e o mais perto que consigo é como se fosse o Smashing Pumpkis da fase “Gish” e “Siamese Dream” encontrando o Sonic Youth dos discos “Goo” e Dirty” e tomando um drinque com o Dinosaur Jr. via os tempos de “You´re Living All Over Me”. 

A banda já havia lançado um EP em 2005 (“Pikul”) que também é repleto de qualidades, sendo uma variável mais viajante e tranqüila do som elaborado por Brian Aubert (Guitarra), Joe Lester (Teclados, Sintetizadores), Nikki Monninger (Baixo) e Christopher Guanlao (Bateria). “Carnavas” é uma explosão sonora envolvida a texturas de guitarras e sintetizadores se sobrepondo e promovendo uma união forte e singular. 

“Melotonin”, a faixa de abertura consegue condensar tudo que foi dito acima e mostrar ao ouvinte o que esperar pela frente. “Well Thought Out Twinkles” tem um riff poderoso de guitarra que entra com um ímpeto avassalador. “Checkered Floor” usa a voz de Aubert em primeiro plano até que aos poucos a difusão sonora vai criando o clímax ideal. “Little Lover´s So Polite” poderia estar tranquilamente no disco “Siamese Dream” dos Pumpkis, com aquela guitarra cortando a canção e ainda tendo os ótimos vocais da baixista Monninger fazendo esta uma das melhores do disco. 

“Future Foe Scenarios” novamente traz a voz de Aubert em primeiro plano, antes que bateria entre urgente e viciada abrindo para a devida incorporação das texturas sobrepostas e distorcidas das guitarras agora já com os gritos dos vocais. “Waste It On” abre com um fraseado de baixo, esperando a bateria e fazendo um ótimo trabalho da "cozinha”. “Lazy Eye” é poderosa, uma espécie de balada ancorada nos melhores momentos do Sonic Youth e que vai se transformando no decorrer do seu andamento ganhando contornos e retornado ao seu ponto de partida. 

“Rusted Wheel” traz um show à parte do baterista Guanlao, que leva a música a seu bel prazer. “Dream At Tempo 119” depois de uma introdução calma, chega com saborosas guitarras se espalhando em camadas e cortadas por mais um riff matador. “Three Seed” tem guitarras que lembram o rock inglês dos anos 80, com seus dedilhados ancorados no ótimo baixo que permeia e transporta a canção. “Common Reactor” encerra o disco em excelente nível, uma das melhores do disco, com direito a mais um show do baterista, deixando a microfonia se espalhar pelo seu final. 

O Silversun Pickups fez em “Carnavas” um disco daqueles memoráveis, onde não existe uma faixa ruim, o que é tão raro hoje em dia, com uma anti-fórmula pop de rara beleza, não se entregando a modismos sejam eles indies ou mainstream. Discaço para ficar no rol dos inseparáveis, daqueles para você levar no Mp3 player para todo lado e sacar para audição sempre que o mundo estiver chato e insosso. 

Site oficial: http://www.silversunpickups.com 
My Space: http://www.myspace.com/silversunpickups

quinta-feira, 15 de março de 2007

"Ao Vivo" - Graforréia Xilarmônica - 2006

Toda vez que vou falar, escutar ou escrever sobre a Graforréia Xilarmônica sempre tenho um sorriso estampado no rosto. É sério. Essa seminal banda gaúcha que com sua junção de jovem guarda e punk lançou discos excelentes nos anos 90 (e complicados de se achar) tendo a frente o vocalista e baixista Frank Jorge imprimindo sua marca e sendo cultuada ano após ano.

Eis que mais uma vez tenho esse sorriso no rosto, pois falo sobre o quarto álbum da banda (se contarmos “Com Muito Amor e Carinho” que só foi lançado em fita cassete na época), “Ao Vivo”, gravado em um show que a banda fez no Manara Bar em Porto Alegre nos dias 11 e 12 de julho de 2005 contando com a produção de Kassin e Berna Ceppas.

Além do já citado Frank Jorge (voz e baixo), a Graforréia é Carlo Pianta (guitarra e voz) e Alemão Birck (bateria), contando também com a participação do parceiro Marcelo Birck em vários momentos. Falar em deleite seria redundância. O som da banda parece não envelhecer e sua mistura se mostra ainda em alto nível de qualidade.

O show conta com clássicos antigos como “Patê”, “Empregada” e “Bagaceiro Chinelão”, além das duas músicas regravadas pelo Pato Fu, “Nunca Diga” (em “Televisão de Cachorro”) e “Eu” (em “Ruído Rosa”). Lógico que tem o hino “Amigo Punk” que é cantado em uníssono pela platéia presente.

Mostrando que não vive só de passado a banda apresenta quatro novas canções “Sapato Alto”, “Enchente de 41”, “A Técnica do Baixo Elétrico” e “40 anos”, sempre com o mesmo bom humor embalada pelos tons de jovem guarda e anos 60 tão habituais ao grupo.

O que seria do rock gaúcho sem a Graforréia? Bem menos com certeza. Para quem não conhece a banda, esta é uma ótima chance. Aproveitem. Com um sorriso, de preferência.

Site da banda:
http://graforreiaxilarmonica.com.br .

quarta-feira, 14 de março de 2007

"Fear and Love" - Weeping Willows - 2007

A água da Suécia deve ter alguma coisa especial que inspira seus moradores a elaborar canções repletas de beleza, com melodias arrebatadoras e aquele clima de tristeza perambulando pelo ar, mas que na verdade não é uma tristeza propriamente dita e se ancora na melancolia. Dia desses falei do Loney, Dear e agora me deparo com “Fear and Love” da banda Weeping Willows lançado no mês passado.

“Fear and Love” não vai estar na lista dos melhores do ano, tenho quase certeza disso, no entanto proporcionará no seu decorrer instantes maravilhosos. Tipo de disco que quando você menos perceber vai servir de trilha sonora para alguns flashes da tua vida. E não para por aí não, algumas de suas canções passarão a entrar com freqüência nos teus cds e listas.

A banda é formada por Magnus Carlson (Vocais), Ola Nyström (Guitarra), Stefan Axelsen (Bass), Anders Hernestam (Bateria) e Niko Niko Röhlcke (Guitarras e Teclados), tendo já alguns bons anos de estrada e lançado alguns discos, uma vez que o relacionamento musical entre Magnus e Stefan remontam de 1994, quando ainda pensavam em fazer algo próximo do rockabilly.

Nesse seu novo trabalho as concepções abordadas são todas em temas semi acústicos, enaltecendo a bela voz de Magnus Carlson e mostrando uma roupagem mais anos 50 e 60 do que o habitual. Classe pura. Aliás, o vocalista é um caso todo especial no andamento do disco, guiando como uma maestria absoluta todas as faixas, tendo completo controle sobre tudo.

Todas as canções contidas nesse “Fear And Love” (que de antemão tem uma das melhores capas que vi esse ano) tem um brilho intenso, por mais que pareça apenas simples e antiquado. “Grains Of Sand” é uma baladona, com pianos e um andamento sixtie trazendo o vocalista como quase um crooner em frente a uma orquestra, dando até para imaginar um casal todo vestido a rigor na pista de dança, flutuando ao som da música.

“Shiver In The Morning Light”, “The Burden” e “A Man Out Of Me” são outros exemplos de uma semi perfeição que confesso até assusta. “Drifting Away” é de quebrar qualquer coração por mais que este esteja repleto de cimento, concreto e qualquer outra coisa que o tenha soterrado no decorrer dos anos. Docemente arrebatador.

Quando o disco acaba a sensação é de ter ficado perdido em algum lugar no tempo, absorto pelos pianos, violões e orquestrações que acabaram de ficar para trás deixando tua alma revigorada para novas batalhas. Nada de redenção gratuita, melodias complicadas e letras com pretensa poesia. Apenas canções. Suaves, ternas e bonitas canções.

O site da banda é bem bacana:
http://www.weepingwillows.nu e aqui dá para escutar algumas faixas: http://www.myspace.com/weepingwillowsfansite . Confira abaixo uma apresentação ao vivo de "Shiver In The Morning Light".

Weeping Willows - Shiver In The Morning Light

terça-feira, 13 de março de 2007

"Some Loud Thunder" - Clap Your Hands Say Yeah - 2007

Sabe aqueles discos nada fáceis, que a primeira escutada não tem grandes promessas sendo constantemente repassada faixa a faixa, mas os amigos e mais chegados insistem dizendo que é bom e você não consegue achar essa qualidade por mais que se disponha a tentar? “Some Loud Thunder” o novo disco do Clap Your Hands Say Yeah se enquadra nessa descrição.

A banda americana que saltou do universo indie conseguindo até um relativo sucesso, com direito a um hype generalizado por conta de sua estréia em 2005 retorna esse ano com um disco mais cheio de experimentação que o primeiro e bem mais complicado. Alec Ounsworth (vocal), Lee Sargent (teclado), Tyler Sargent (baixo e guitarra), Sean Greenhalgh (bateria) e Robbie Guertin (guitarra e teclado) mergulham de vez no seu próprio universo.

A mistura da banda de som lo-fi, descompromisso, Flaming Lips, barulhos diversos e o pós new wave se faz mais incisiva ainda, tendo agora aliado fortes doses de psicodelia. A primeira faixa que tem o mesmo nome do disco, traz uma voz encoberta por efeitos e violões dando o ritmo da canção. “Emily Jean Stock” que vem depois não facilita nada, mas é uma bela viagem com a voz de Alec Ounsworth que em alguns momentos soa tão chata, dando um charme especial.

A estranheza está por toda a parte como podem atestar as faixas “Love Song No. 7” ou "Satan Said Dance”. E há momentos mais “pop” se é que o CHSY se preocupa com isso como “Yankee Go Home” e “Mama, Won't You Keep Those Castles In The Air & Burning?”. Se o ouvinte gosta de canções com melodias fáceis e refrões para cantar junto, este é o disco menos provável onde se pode achar.

No final das contas até que acaba-se gostando de algumas (poucas) coisas do disco que é bem menos alegre do que o primeiro, mas pelo menos vale pela postura da banda em não assumir formulas fáceis e continuar fazendo a música do jeito em que eles acreditam. O seu grande disco não vai ser esse, mas pelo que mostraram até agora a chance de que isso ocorra mais para frente é bastante boa.

Site oficial:
www.clapyourhandssayyeah.com .

segunda-feira, 12 de março de 2007

"She´s Spanish, I´m American" (EP) - Josh Rouse & Paz Suay - 2007

Desde que lançou seu primeiro disco “Dressed Up Like Nebraska” em 1998, o cantor norte americano Josh Rouse parece ter um toque de midas que transforma tudo que produz em ouro puro. Josh que foi um dos expoentes do alt-country americano e hoje mora na Espanha onde se mostra de bem com a vida depois de anos pessoais complicados.

Depois de nos brindar com um dos melhores álbuns do ano passado, o belo “Subtítulo”, lançou no final de janeiro desse ano o EP “She´s Spanish, I´m American”, projeto com cinco canções em que canta ao lado de sua namorada Paz Suay na parceria já ensaiada em uma faixa do seu último álbum.

As cinco canções contidas neste EP contêm um clima alegre e descontraído, com a velha roupagem folk do cantor mas com alguns outros adicionais que caem como uma luva para começar o dia, uma semana, um mês. Totalmente indicado para as manhãs de domingo.

“Car Crash” vem com um ritmo diferente, com guitarras trazendo efeitos e emulando o pop da segunda metade dos anos 70. “Jon Jon”cantada por Paz Suay tem aquele clima doce e calmo, uma melodia sessentista para sair cantando sem perceber. As outras faixas do EP são igualmente saborosas.

Mais um trabalho de um artista que provavelmente merece a alcunha de pequeno gênio por conceber músicas de uma excelência pop assustadora e ao mesmo tempo com qualidade acima da média. Uma grande maneira para se começar uma segunda feira e revigorar as energias para mais uma semana, admirando a beleza do mundo a sua volta nem que seja por apenas 17 minutos.

My space do projeto aqui:
http://www.myspace.com/shesspanishimamerican .

sexta-feira, 9 de março de 2007

“If The Ocean Gets Rough” - Willy Mason - 2007

A primeira vez que se escuta o americano Willy Mason cantando a idéia que vem na cabeça é de algum senhor, um baluarte do folk rock que de repente foi redescoberto, um daqueles trovadores no melhor estilo Bob Dylan e Johnny Cash, a arremessar suas frases em cima de bases de violão.

Ledo engano. Willy Mason tem apenas 22 anos, mas a sua música parece resistir ao tempo, parece estar em um invólucro que o trancou no tempo e que se abre agora para que o cantor despeje suas canções em cima do nosso ritmo visceral de vida, da nossa loucura diária, até que mesmo que subitamente possamos parar e pensar um pouco.

Willy Mason lançou seu primeiro disco em 2004, intitulado “Where The Humans Heat” com apenas 20 anos e esse mês coloca no mercado o seu segundo disco “If The Ocean Gets Rough” com autoridade de um veterano. As letras mantêm uma boa qualidade (principalmente “Save Myself”) e o instrumental vem clássico e simples produzindo ótimos momentos.

“Gotta Keep Walking” que abre o disco parece ter saído de algum episódio de Anos Incríveis, “We Can Be Strong” é extraordinariamente cativante, duvido muito que algum ser humano consiga ficar impassível a sua beleza. “I Can´t Sleep” é uma balada que podia muito ser encaixada em um filme quando alguém anda numa chuva a esmo pensando em consertar sua vida.

“Riptide” evoca o mestre Johnny Cash como em um mantra sobrenatural, parece até uma canção perdida do seu repertório. “When The River Moves On” é um quase blues que lembra bastante o inicio da carreira de Van Morrison, mas que depois com a entrada dos backing vocals pode ter saído de alguma casa do Mississipi.

A música que dá nome ao disco é a mais pop, uma balada tradicional mas que mesmo assim tem uma quebrada de ritmo com um piano que não a torna tão comum assim. “When The Leaves Have Fallen” encerra o tratado de volta ao passado com o vozeirão de Mason tomando conta da canção e adicionando seu toque todo especial, flertando até um pouco com a psicodelia.

É verdade que nesses últimos dias realmente tenho andado em busca de sonoridades mais calmas, não que tenha abandonado as guitarras, mas a calma faz uma falta de vez em quando e pelo menos com a música podemos alcançar esse status. É o que esse disco oferece. Momentos de calma, simplicidade e beleza inspirados tão somente na boa música dos anos 50 e 60.

Bem recomendável. Mais sobre o cantor em:
http://www.myspace.com/willymason , onde dá para escutar todas as faixas do disco.

quinta-feira, 8 de março de 2007

"Loney, Noir" - Loney, Dear - 2007

Uma das coisas que fazem a música ser parte tão integrante da minha vida é a simplicidade com que ela acontece, apesar de rumarmos a passos largos para um estado tecnológico avançadíssimo no final das contas tudo que existe são as canções, apenas elas. Essa simplicidade de vez em quando aparece do nada e com resultados excelentes.

Vindo da Suécia o compositor, vocalista e multi instrumentista Emil Savanangen se apresenta atrás do nome Loney, Dear para lançar seu quarto disco “Loney, Noir”. Assim como os anteriores o disco foi gravado de maneira caseira e primeiramente repassado em CD-R, até que a Sub Pop resolveu jogar o álbum no mercado americano mês passado.

Em seus 33 minutos e cinqüenta e um segundos, o disco desse sueco ganha o ouvinte pela delicadeza de suas canções. Delicadeza que não soa em nenhum momento açucarada ou enjoativa, aparecendo como um bálsamo para ouvidos um pouco cansados de toda (e boa) barulheira dos nossos tempos, presente tão comumente no cotidiano que está a nossa frente.

Com baterias eletrônicas quase imperceptíveis, violões, poucas guitarras, ótimos backing vocals e alguns teclados e órgãos temos um conjunto de 10 composições singelas e por isso mesmo tão belas. O frio ou a água da Suécia deve ter algo a ver com tanta música boa apresentada nos últimos anos vindo de lá.

Momentos como “I Am John”, “Saturday Waits”, “Hard Days” e “And I Won´t Cause Anything at All” tem um charme especial e me fizeram parar um pouco e lembrar que a simplicidade ás vezes é melhor do que qualquer super produção, sempre respeitando onde o artista quer chegar que no caso de Emil Savanangen e seu Loney, Dear parece ser apenas encantar.

Mais informações sobre o projeto no site:
http://www.loneydear.com , onde está disponível para download diversas músicas ou escute no my space da banda: http://www.myspace.com/loneydear .

Longa vida as canções. Abaixo o clipe de "I Am John".

Loney, Dear - I am John

terça-feira, 6 de março de 2007

"O Clube dos Corações Solitários" - André Takeda

A primeira vez que li “O Clube dos Corações Solitários” do jornalista gaúcho André Takeda foi em 2002, lembro que devorei o livro em uma noite com o céu de Belém a me olhar. E gostei. Não era nada impressionante demais, mais um belo exemplar de literatura pop, 100% nacional e com um ar e olhar juvenil que não tinha como não encantar o universo que o autor ali colocava.

Na época estava com 23 anos e a vida andava meio confusa, tinha em mãos pela primeira vez um relacionamento que há tempos desejara (e então não estava solitário), mas ao mesmo tempo nutria milhares de dúvidas sobre o seu andamento e minhas próprias expectativas e atitudes para com ele, além de estar em momento profissional decisivo de mudança de ares.

Resumindo: O personagem que guia a trama, Spit, não estava lá muito longe do meu universo. Suas paixões avassaladoras, dúvidas e principalmente a música e cultura em geral que o moviam eram em parte uma conexão com a minha vida nesse momento. Dia desses andando pela livraria Visão encontrei um exemplar batido no meio de tantos outros, com a edição da Conrad de 2001 e resolvi comprar já que não sei onde anda meu antigo exemplar.

Reli o livro em uma outra perspectiva quatro anos depois, com uma outra vida na minha frente, um outro horizonte totalmente diferente daquele que se apresentara em 2002, com exceção das referencias pop que ainda permeiam alguma parte do que sou. Dessa vez o livro foi consumido em uma tarde de domingo balançando em uma rede e escutando Elvis Costello.

André Takeda tem nesse seu livro um exemplar bastante fiel da juventude e seus milhares de problemas tão pequenos, mas ao mesmo tempo tão imensos perante essa fase de consolidação. O universo dos jovens de 20 e poucos anos é explorado de maneira bem humorada e embalada com uma trilha sonora imaginária fascinante, distribuída pelo autor como guia no meio do caminho.

Dessa vez guardei “O Clube dos Corações Solitários” em um bom lugar na estante entre Nick Hornby e Carlos Eduardo Lima, perto do Tony Parsons e Bill Moody para quem sabe ler de novo daqui a alguns anos. Um livro totalmente recomendável para quem ainda não leu, principalmente se estiver passando pela fase descrita acima ou não como diria Caetano Veloso.

Confesso que quando acabei o livro novamente fiquei pensando em como a vida pode mudar de forma tão significativa em tão pouco tempo, embora olhando para trás diga com a maior certeza que valeu, sempre valeu.

Mais sobre o autor no seu blog:
http://peixesbanana.blogspot.com

segunda-feira, 5 de março de 2007

"Simancol" - Jorge Quase - 2006

Conheci o quarteto paulistano Jorge Quase devido ao jornalista Arthur Dapieve que colocou a banda entre seus melhores de 2006. Como a opinião de Dapieve é quase sempre relevante resolvi dar uma conferida e gostei do que ouvi. “Simancol” foi lançado ano passado com trabalho gráfico que lembra um remédio e uma bula é bem legal.

Formado por Bruno Balan na bateria, Daniel Santoro na guitarra, Ricardo Ferreira no baixo, além do dito Jorge Quase no vocal, violão e guitarra o som da banda pode ser traduzido por despretensão e ironia. O resultado é tão desencanado que parece que a alma da banda é carioca, lembrando nas suas letras momentos de artistas como Roger Moreira e Léo Jaime.

Um caldeirão de sons é que o podemos ouvir nas dez canções do disco, com ritmos distintos entre si, mas sempre com grande apelo pop seja no punk, rock, funk, ska, brega, samba ou marchinha de carnaval. O que poderia representar uma grande confusão acaba sendo responsável por uma alegria sem maiores explicações.

“A Festa” é um rock bem humorado com letra pra cima e instrumental que remete um pouco aos anos 80. “Mariela” é uma linda canção de amor perdida nos anos 50 e não se espante se você sair cantando pela sala depois os seus versos. Em “Outro Dia”, Jorge canta sem soar piegas e cheio de charlatanice: “Por isso me liga/Me escreve uma carta, um e-mail/Me manda sinais de fumaça/Me envia um postal da Jamaica/Me manda um alô via fax/Ou por telepatia/Vem me visitar nos meus sonhos/Dedica um poema pra mim/Pelo menos me liga.”

A ironia é o grande fio condutor desse álbum e resulta nos melhores momentos como na mais autêntica marchinha de carnaval “Simancol” com os versos: “Se seus amigos têm te evitado/Não respondem seus recados, não ligam pra você/Pode ser que você seja mais um chato/Seja inconveniente e precise se tocar/Talvez você não perceba isso direito/Mas precisa o quanto antes nisso dar um jeito”.

Tem ainda o convite ao samba de “Sambinha”, onde temos: “Já sei, você prefere rock n’ roll/ Curte um reggae, um ska/Mas dá uma chance pro samba, cê vai ver, também é bom”, ou a acústica e totalmente bem sacada “Deprê”, uma balada com a letra dizendo “Vou me entupir de chocolate/Vou me embebedar com leite parmalat/Tomar dois litros de sorvete com caramelo/Pra ver se eu esqueço você/Ficar na frente da tv o dia inteiro/Pra ver se eu esqueço você”.

Outro destaque é a engraçadissima “Gordinho Peludo”, uma brega que bebe descaradamente e de maneira despojada em Odair José, promovendo boas risadas nessa estranha relação. Fechando temos a versão ao vivo para a cotidiana “João Saiu Para Comprar Cigarros e Nunca Mais Voltou”, um pop rock com história que remete a Legião Urbana.

O primeiro disco do Jorge Quase tem mais acertos do que erros, talvez falte explorar mais o lado bem humorado da banda e conseguir mais unidade, mas o resultado desse “Simancol” é bem interessante no final e merece ser escutado. Entre n
o site oficial da banda: http://www.ohabitat.com/jorgequase o álbum está completamente disponível para download. Vai lá.

domingo, 4 de março de 2007

Land Of Plenty (Medo e Obsessão) - 2004

Depois do atentado terrorista em 11 de setembro de 2001 nos EUA o mundo não é mais o mesmo, o medo tomou conta ainda mais das grandes cidades que antes se preocupavam com sua violência interna (o que já não era pouco) e agora passam a incluir nesse rol os possíveis ataques terroristas.

Imagine esse cenário mais especificamente nas principais cidades americanas, onde o governo instituiu diversas medidas pró-medo (algumas justas, outras nem tanto) e a população passou os anos seguintes distribuindo sua paranóia até certo ponto justificável pelos quatro cantos. Todo o processo de incompreensão que já existia foi agravado em grande escala para com os estrangeiros do país, principalmente os árabes.

Cabe lembrar que apesar de muitos críticos que possuem opinião pública generalizada terem tentado achar sentidos e explicações para um possível “castigo” para os EUA e terem mesmo que apenas em suas mentes gostado e admirado os ataques de 11 de setembro, nada, simplesmente nada pode justificar tais atos que levaram a morte os inocentes que nada tinham a ver com as questões políticas e decisões tomadas pela Casa Branca.

Dentro desse cenário o excelente diretor alemão Win Wenders (de “Asas do Desejo” e “Paris, Texas”) coloca seu olhar e sua câmera para contar uma historia simples que pode comumente ser adicionada a uma realidade vigente. “Land Of Plenty” foi lançado em 2004 e teve seu titulo extraído de uma canção de Leonard Cohen e que chegou aqui como “Medo e Obsessão” perdendo o excelente titulo que na tradução seria algo como “Terra da Fartura”.

Wenders tem dois personagens dissonantes entre si mas que são unidos por laços familiares que deixaram alguns resquícios no passado e acabam se unindo em prol da mesma causa, mas com desejos distintos entre si. Paul (John Diehl) é um veterano da guerra do Vietnã que dentro de sua paranóia passa a vigiar as ruas de Los Angeles na procura de possíveis ameaças a sua querida nação. Lana (Michelle Williams) é sua sobrinha que passou a vida andando pelo mundo em missões comunitárias e que regressa ao seu país natal.

Quando acontece a morte de um paquistanês próximo ao abrigo onde Lana presta seus serviços sociais, os dois se unem e passam a descobrir um pouco mais de cada um e por conseqüência um pouco mais do mundo que estão vivendo. Esse antagonismo nas mãos de muitos diretores poderia simplesmente soar banal e cheio de chavões implícitos, mas no olhar de Win Wenders ganha um tom de complacência e reflexão, fantasia e realidade.

“Land Of Plenty” é um grande filme que tem um lugar honroso na carreira do diretor, sendo provavelmente a melhor produção cinematográfica realizada até agora sobre os EUA pós 11 de setembro, nos levando a momentos de meditação perante coisas que por mais que pareçam tão simples acabam por transformar o mundo em um lugar onde diferenças não são respeitadas gerando inúmeras mortes sem qualquer aparente razão.

Com uma ótima trilha sonora (Leonard Cohen, David Bowie e Travis entre outros), merece destaque também para quem conhece o trabalho do diretor uma referência bacana na cena em que Lana e Paul conversam no teto, onde está escrito à distância "The New Million Dollar Hotel", referência ao longa “O Hotel de Um Milhão de Doláres" dirigido por Wenders em 2000.

sexta-feira, 2 de março de 2007

Bloc Party - I Still Remember

"A Weekend In The City" - Bloc Party - 2007

O que passa na cabeça de uma banda que na estréia conquistou fãs ao redor do mundo com um ótimo disco vendendo um milhão de cópias em 2005, algo relevante para os tempos atuais, e que decide ao gravar o segundo disco mudar a música para uma cara diferente?

A banda em questão se chama Bloc Party e o disco de estréia citado o “Silent Alarm”. Eis que Kele Okereke, Russell Lissack, Gordon Moakes e Matt Tong resolveram promover uma alteração nos rumos das novas canções contidas no álbum “A Weekend In The City” lançado mês passado, apesar de já estar rodando na internet desde novembro de 2006.

Para muitas bandas mudar depois de um primeiro álbum é quase um suicídio, ainda mais depois da receptividade que o anterior possa ter tido. Isso se chama coragem, sobrenome personalidade. Nesse ponto então palmas para o Bloc Party, no entanto, o que acaba com parte dessa teoria é que o disco novo é irregular, alterando bons e maus momentos, sendo no final das contas apenas mediano.

No primeiro disco a banda já mostrava que gostava de tratar de assuntos mais sérios, onde temos a comprovação disso no quase conceitual disco novo, onde os temas das letras (em sua maioria muito interessantes) versam sobre o cotidiano de uma grande cidade falando sobre desigualdades sociais, descaso e racismo além de outras questões como sexualidade.

Nesta nova empreitada a mudança gerida pela banda alinha um caminho mais maduro para o futuro, o que não representa certeza de qualidade propriamente dita. A faixa de abertura “Song For Clay (Disappear Here)” já parece anunciar o que vem pela frente, se seguindo de três outras faixas que na verdade não conseguem ter a força necessária.

Só em “Uniform” a quinta faixa é que o disco começa a valer a pena, onde temos a primeira boa canção com o belo trabalho vocal de Okereke, seguida de “On” e “Where In Home” que mantêm o nível de qualidade, agradando sem esforço, apesar de não ter a velocidade de antes. “I Still Remember” é provavelmente a melhor canção do disco (e uma das melhores do ano até agora), com um marcante riff de guitarra em uma espécie de semi balada.

Depois de ouvir “A Weekend In The City” algumas vezes no decorrer dos últimos meses considero como primordial a atitude da banda para o seu caminho, mostrando uma forte identidade sempre em busca de liberdade musical o que é sempre louvável, mas por outro lado e apesar disso o resultado final do disco em si é apenas mais ou menos, onde prefiro acreditar que o futuro reserva melhores trabalhos para o Bloc Party.

Veja o clipe de “I Still Remember” logo abaixo. 


Mais sobre informações sobre a banda em: http://www.blocparty.com .