quarta-feira, 18 de outubro de 2006

"Crooked rain, crooked rain" - Pavement - 1994

O ano era 1994. Não existia Rapidshare, Emule, Soulseek e coisas do tipo. Se você quisesse algum disco importado de uma banda que tinha lido pelas entrelinhas da Bizz ou publicações da época, tinha que ir atrás para comprar ou pedir para aquele seu amigo nerd que se achava o tal em música e que antes de te emprestar ia implorar mil vezes para você tomar cuidado, muito cuidado. Sorte que nessa época o dólar estava quase igualado ao emergente Real, do plano de mesmo nome que levantou e reorganizou a nossa economia apesar dos efeitos colaterais que produziu. Dentro desse contexto nacional, uns californianos malucos lançavam lá fora um disco daqueles que o tempo não consegue apagar nem desvalorizar, um disco que ficaria para sempre guardado na memória. Com o nonsense título de “Crooked Rain, Crooked Rain” (algo “chuva perversa, chuva perversa”), o Pavement, banda do talentoso Stephen Malkmus instituía um clássico dos anos 90. A banda já tinha produzido um grande trabalho em seu disco de estréia “Slanted and Enchated” em 1992, mas parecia que as doideras, experimentações e influências precisavam ser lapidadas. Isso veio em 1994. Aliando as influências que passeavam por Lou Reed, Pixies, Sonic Youth, Yo La Tengo, Bob Dylan e até mesmo o progressivo com muita ironia e despretensão, arremessadas e remexidas em uma caixa onde a melodia reinava produzindo efeitos arrebatadores, a banda foi responsável por semi-hinos do underground como “Cut You Hair”, onde destilava sarcasmo nos versos: “...nada de cabelo comprido / músicas siginificam muito / quando músicas são compradas...”. Desde a abertura com a bateria quebrada e o riff meio low-fi de “Silence Kit” até o épico “Filmore Five” que fecha o disco, Malkmus e sua trupe produziam pérolas pop encobertas por extensões, paradas, mudanças de ritmo e doses precisas de microfonia. Apoiado pelos dois bateristas (sim, a banda tinha dois), Steve West e o “mad” Bob Nastanovich, pelo baixo inquieto de Mark Ibold e pela guitarra ao mesmo tempo desconexa e frenética de Spiral Stairs, Malkmus destorcia quase poesias, desalinhava melodias, costurava acordes e construía um universo novo, ainda que respaldado por todas as suas influências. Sendo irônico quando não devia ser (em “Range Life” detona Smashing Pumpkis e Stone Temple Pilots), gritando sem nada pré-determinado (“Unfair”), emocionando ao contar agruras e desagruras de um cotidiano imaginário (“Gold Sound Z”), fazendo jazz torto porque queria fazer (“5-4=Unity”) ou evocando Lou Reed quando menos se esperava (“Heaven´s Truck”), Malkmus era o cara. Depois de “Crooked Rain...”, o Pavement alçou um público maior, tocou em grandes festivais e continuou lançando bons discos, sempre com sua marca registrada meio que adicionando uma contra-fórmula que passou a ser copiado por tantos outros. Depois de umas férias, a banda anunciou sua separação, deixando para trás uma carreira que não teve nenhum disco ruim no seu currículo. Malkmus continua lançado projetos solos ou tocando com os The Jicks, sempre com qualidade, mas sem alcançar o ápice de tempos atrás. O Pavement era como uma espécie de anti-héroi que mesmo sem querer e sem saber ao certo porquê, encantava ouvidos ao redor do mundo com sua música e suas histórias.

Um comentário:

Sic disse...

Sou traumatizada com Pavement não escuto nem pelo... pode ficar tranquilo sou só recalcada mas ainda não sou mal educada e não vou por palavrão nenhum aqui kkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Não precisa ficar com medo, eu não mordo juro!