domingo, 31 de dezembro de 2006

"Mais um ano que se passa..."

“Todo ano passa assim, sem mais nem porquê, sem dizer ao certo o que quer de mim...”. Lembrando essa velha canção, tento começar a fazer uma retrospectiva do que foi esse ano, jogando fatos e descartando atos na minha memória, procuro estabelecer parâmetros e comparações. Esse ano foi um ano de consolidação. Um ano para fincar os pés de vez na responsabilidade, visualizando melhor o meu lugar dentro dessa grande esfera azul. Percebi que na verdade não tinha vivido nada ainda, apesar de achar que tinha vivido bastante. Não sabia nem uma décima parte do que julgava saber. Não aprendemos muita coisa nas vitórias, porque fechamos os olhos e acabamos não ligando muito, é na derrota que percebemos o quanto insignificante somos no meio dessa constante roda que não para de girar. É na derrota que crescemos de verdade, que sentimos que precisamos ser melhores a cada dia que passa. Pessoas melhores. Que 2007 venha primeiro repleto de paz e que possa realizar tudo que ensaiei fazer em 2006, mas acabei não concluindo. Que 2007 seja um ano de uma quase redenção que se faz necessária.
Que 2007 seja o ano para andar tranqüilo, sem grandes complicações e com alguma alegria no caminho.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

"Chegou o natal..."

Natal...época de paz e família, época de se lembrar da fé seja em quem for, época de confraternizar e pensar em tudo que a vida vem trazendo, que a vida vem sendo para cada um de nós.
Paz Sempre!!

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

"Papai Noel Chegou" - Volume 01

O Natal vem chegando, se aproximando, canções natalinas tradicionais espocam em programas de rádio, especiais de TV, shoppings center, sites de venda, elevadores comercias e na casa daquele seu vizinho que todo ano coloca em último volume aquele disco chatíssimo da Simone. Mas nesse natal, o bom velhinho lhe dá a grande chance de dar esse troco e curtir de maneira diferente o clima natalino que está no ar, ou seja, seus problemas acabaram. O Site Urbanaque disponibiliza em seu site uma coletânea virtual, intitulada "Papai Noel Chegou - Volume 01", com 20 minutos e seis músicas para divertir sua alma nesse fim de ano. Disponível para download, com direito a capinha, encarte e release para você presentear quem bem entender. Entre rápido no endereço descrito aqui e baixe o seu: http://www.urbanaque.com.br/conteudo_natal2006.asp . Tem os Los Pirata detonando o clássico “Boas Festas” que virou “Buenas Fiestas”, os Rockassetes mandando ver na cover de “Merry Christmas” do Ramones, Jhonny Suxxx n´The Fucking Boys instigando para aumentar o volume em “Punk Rock Xmas”, os Ecos Falsos gritando e perguntando “Quem Matou o Papai Noel?". O Banzé faz bonito na singela e bela “Tão Bom Que Foi o Natal” e Sebastião Estiva detona com muito nonsense o lado comercial do natal dos nossos dias. Vale muito a pena. Baixa lá. É de grátis!!

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

"Last Splash" - The Breeders - 1993

Em 1993, Kim Deal desembarcava com o segundo disco da sua banda The Breeders (o primeiro “Pod” é de 1990) nas lojas. O Pixies já havia acabado e “Last Splash” expunha grande parte da fórmula que consagrou a banda, devido em grande parte ao talento de Mrs. Deal. Junto com sua irmã Kelley Deal nas guitarras, Josephine Wiggs no baixo e Jim MacPherson na bateria, Kim Deal assumiu as guitarras e os vocais durante as 15 canções do álbum. “Last Splash” é daqueles discos que descem saborosamente, sem pular uma faixa e deixando a tecla do “repeat” ligado. A linha de baixo de “Cannonbal”, até hoje causa arrepios, pelo seu ritmo e precisão. “Cannonbal” por sinal, foi o hit do disco e dentro das minhas listas pessoais, constava em quase todas as minhas seleções dessa época. Ainda tinha “Divine Hammer”, “Saints”, a nonsense “No Aloha”, a bela e cínica “Dou You Love Me Now?”, além da sessentista “Drivin´on 9”. Com o fim do Pixies, Deal mostrava fôlego para seguir em frente, longe da sombra de sua antiga banda. Nessas épocas em que o revival sobre o Pixies (merecido, diga-se de passagem) está por aí e a banda voltou com força total, inclusive planejando álbum novo para o ano que vem, é bem agradável escutar novamente “Last Splash”.

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

DVD Acoustic Live in Newport - Pixies - 2006

Porque comprar um DVD com apresentações de uma banda que voltou a ativa, mas que continua tocando músicas de 20 anos atrás? 

Eis alguns motivos: 
1 - A banda em questão se chama Pixies, 
2 - O DVD conta a história de um show feito no lendário Festival Folk de Newport, de onde Bob Dylan desandou os puritanos com a inserção da guitarra elétrica, 
3 - As músicas estão em formato acústico, 
4 - Frank Black, Kim Deal, Joey Santiago e David Lovering estão de bem com a vida e mais entrosados que nunca, 
5 - A banda em questão se chama Pixies (só isso devia bastar!).  

"Nós somos o Pixies, somos uma banda de rock. Normalmente temos um monte de amplificadores atrás de nós, mas hoje não. Estamos um pouco nervosos", diz a baixista Kim Deal assim que o grupo sobe ao palco, quando o final da tarde se aproxima. 

Desde a abertura com “Bone Machine” até o fechamento magistral com a dobradinha “Where´s Is My Mind” seguida de “Gigantic”, oriundas do álbum Surfer Rosa, o sorriso fica estampado no rosto. Versões para clássicos da banda como “Velouria”, “I Bleed”, “Here Comes Your Man” e “Hey” posam ao lado de canções menos conhecidas como “Cactus” e “Is She Weird”. 

A potência do Pixies mesmo em formato acústico se faz presente, com o vocal meio nervoso, meio melódico e as linhas de baixo de Mrs. Deal ditando o ritmo.

Presentaço de final de ano. Ou de qualquer outra data.

domingo, 10 de dezembro de 2006

"Tudo ao Mesmo Tempo Agora" - Titãs - 1991

“Clitóris, clitóris, ah! Clitóris...” abre o novo disco de uma das grandes referências do rock nacional que alçara vôos rumo ao sucesso. Meio pesado, não? Claro que sim, ainda mais se estivermos em 1991, com uma crise total abatendo o mercado que só tinha ouvidos para a música sertaneja. Os Titãs lançavam há quinze anos atrás, um dos grandes álbuns de sua carreira, entrecortado entre algumas brigas paralelas e desejos individuais. “Tudo ao Mesmo Tempo Agora” à época, soava como sujo, mal vestido e sem ser convidado. Hoje é quase um clássico perdido entre os lugares comuns de sua geração. O disco que contava com um projeto gráfico excelente, entre outras coisas marcou a saída de Arnaldo Antunes. Era como se grande parte da porra louquice da banda estivesse indo embora, mesmo que ainda sobrassem Branco Mello e Paulo Miklos. As faixas aparecem desesperadas, urgentes, sem muita preoucupação com o que viria pela frente e paralelo a isso, tinham uma energia ímpar, permanecendo viscerais até hoje. Da urgência matadora de “Clitóris”, aos devaneios existencialistas de “Cabeça”, ou as cacetadas poéticas (e sonoras) de “Isso Para Mim é Perfume” e “Flat – Cemitério – Apartamento”, os Titãs procriavam guitarras, esporros e palavrões com a naturalidade de que se come um pão no café da manhã. Faixas como “Eu Vezes Eu”, “Saia de Mim”, “Agora” e “Não é Por Não Falar”, estão no rol das melhores de toda a carreira da banda. O minimalismo poético de “Uma Coisa de Cada Vez”, “Obrigado” e “Se Você Está Aqui”, tem seus recôncavos na urgência punk e influências na poesia concreta. “Tudo ao Mesmo Tempo Agora” é um daqueles discos que quanto mais velhos ficam, mais você percebe e admira sua qualidade, mostrando uma banda que começava a se rachar e encontrar diversas dificuldades, mas que diferente dos seus tempos atuais, respondia a tudo isso com música de uma necessidade absurda.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

"O Grande Passeio do Stereoscope" - Stereoscope - 2006

Em 2003 no meio da revigorada do cenário rock que aconteceu em Belém do Pará, uma das bandas que mais chamou a atenção foi o Stereoscope, composta por Jack Nilson (guitarra/voz), Marcelo Nazareth (Guitarra/voz), Ricardo Maradei (Baixo/voz) e Ulysses Moreira (Bateria) que lançava o ótimo “Rádio 2000” A banda começou a despertar amores, como o de Fernando Rosa do selo Senhor F que em entrevista ao Amazônia Hoje, conta: “O primeiro disco da Stereoscope, foi amor à primeira vista. Ouvi por semanas aquelas canções, e guardo o disco como uma espécie de relíquia”. Eis que esse amor resultou no segundo álbum da banda, lançado recentemente e intitulado “O Grande Passeio do Stereoscope”. Nesse novo projeto a banda faz um trabalho bem bonito. Com uma produção bem melhor, que deixou o som mais limpo e organizado, dando preferência aos acordes e passagens vocais, tudo se encaixa perfeitamente. Mais do que nunca a aposta é na sonoridade dos anos 60, privilegiando as melodias. O disco tem excelentes momentos como “A Garota de Ninguém”, “O Pequeno Super Herói”, “Infelizmente” e “Assunto Para um Domingo”. Na deliciosa “O Super Sabor do Chocolate”, Jack Nilson despeja “...quando eu ficar mais velho me aceita/liga a tv e me serve o jantar?/e seu eu chegar em terceiro, me beija?...”, sendo impossível não cantar junto. As letras continuam falando do cotidiano e de amores juvenis, o que no entanto, não se caracteriza como um fato ruim, pois em momento algum soa piegas. Em “Novembro”, chegam as frases: “...penso que quero sumir/no espaço e no tempo/na lente do espelho...”. Outro bom momento é “Figadal II”, com seus versos, “...falta de ácido, falta de hábito...(...)eu vou me perder no carnaval...”, que já nasce com cara de hit. O novo disco do Stereoscope traz todos os elementos para que a banda consiga romper as fronteiras do estado e alçar vôos maiores. É esperar a chuva cair, colocar as canções do disco para rodar e adentrar em um passeio prazeroso que não precisa de segurança nenhuma a não ser a do seu próprio coração.

domingo, 3 de dezembro de 2006

"Civilian" - Boy Kill Boy - 2006

No meio de toda onda retrô que vem se abatendo sobre o rock nos últimos anos, com bandas espocando nos quatro cantos saqueando os anos 80, algumas com mais inteligência e competência do que outras e quase todas divertindo, um quarteto londrino chamado Boy Kill Boy soltou no mercado no meio deste ano, o ótimo “Civilian”. Não espere nada de novo, as bases ritmadas adicionam os refrões ganchudos, guitarras trocadas com teclados e influências que passeiam de The Cure a New Order do ínicio da carreira. Se você não liga para isso e quer só escutar um bom rock tocado em alto volume, não irá se arrepender em nenhum momento. Passando pela música que abre o disco “Back Again’, pelas excelentes “On a On”, “Suzie” “Killer” e “Showdown”, ou pelo simples e puro desejo de dançar imposto por “Six Minutes” e “Civil Sin”, o prazer está garantido faixa a faixa, com Chris nos vocais e guitarras, Shaz na bateria, Pete nos teclados e Kev coordenando seu baixo e auxiliando nos vocais. Esqueça as bandas que vão mudar o mundo e sua vida. O Boy Kill Boy não é uma dessas. Mas se você gosta de rock para tocar alto, cantar junto, dançar e encher a cara com uma boa cerveja, “Civilian” é uma das melhores pedidas do ano. Totalmente indicado contra o mau humor. E se você não gostar da faixa que fecha o álbum, “Shoot Me Down”, é melhor passar a escutar outra coisa.

sábado, 2 de dezembro de 2006

"Outro Futuro" - Leoni - 2006

Leoni é um cara bacana. Essa é a primeira idéia que me vem a cabeça. Um cara que comeu o pão que o diabo amassou e conseguiu graças ao seu talento e um punhado de grandes canções dos anos 80, dar a volta por cima e voltar a fazer parte novamente do cenário pop nacional. Leoni foi o cérebro do Kid Abelha dos primeiros álbuns, grandes álbuns, diga-se de passagem, com letras que versavam sobre relacionamentos e sonoridade pop por excelência, fez a fama da banda. Depois saiu, brigou, montou outros projetos, ficou no ostracismo, mas graças aos seus discos “Áudio Retrato” e “Leoni ao vivo”, basicamente com voz e violão, onde revisitava suas canções, apareceu novamente. Dito isso, “Outro Futuro”, seu mais recente disco, mantém a mesma proposta de voz e violão, trazendo canções suas em parceria com Frejat, Paulinho Moska, Cris Braun, entre outros. “50 Receitas” e “40 dias no espaço” já estavam no seu ao vivo, no mais, as outras músicas estão novinhas em folha na sua voz. “A Chave da Porta da Frente”, ganha uma bela roupagem e ambientação, “Lado Z” é uma grandíssima sacada, “Saudade de Você” chega a emocionar, mas no final fica aquele gosto de “mais do mesmo” e pela extensão do álbum algumas boas músicas como a faixa-titulo acabam não recebendo a devida atenção. Por não apostar em nada novo e seguir o caminho que deu certo recentemente, Leoni fez um disco repleto de canções perfeitas, mas que não chegam a empolgar o ouvinte para uma segunda ouvida geral. Mesmo assim, ainda se faz interessante em algumas faixas e merece ser escutado. Quanto as mesmas apostas que tentam buscar seu outro futuro, depois de tudo que o cara passou e conseguiu voltar, quem pode culpá-lo por isso?

quarta-feira, 29 de novembro de 2006

"Pieces Of The People We Love" - The Rapture (2006)

Em 2003, o Rapture, banda de Nova York, apareceu para o mundo levado junto meio que na esteira do sucesso de outras bandas da cidade (apesar de ser mais velha que elas), e para as pistas de dança com o hit “House Of Jealours Lovers”, inserido no seu álbum “Echoes”, lançado no mesmo ano. O Rapture já desde seu primeiro disco de 1999 imprimia sua música revisitada do pós-punk de bandas como The Cure, P.I.L, Talking Heads e Blondie, fazendo todos dançar e moldando a “quase-cena” que viria anos depois com bandas como Strokes, Radio 4 e Yeah, Yeah, Yeahs. Em 2006, Luke Jenner nos vocais e guitarras, Mattie Safer no baixo, Vito Roccoforte na bateria e Gabriel Andruzzi responsável pelos teclados, saxophone e percussão, colocaram no mercado mais um trabalho da sua banda, intitulado “Pieces Of The People We Love”. O álbum não arrisca muito em outras direções, não divergindo muito de “Echoes”, com o baixo de Mattie Seffer sempre saltando muito e Luke Jenner emulando Robert Smith do The Cure nos vocais. No entanto, o disco está um pouco menos soturno que seu antecessor. Ponto para ele. Canções como a faixa titulo, “Don Gon Do It”, “Get Myself Into It”, “The Devil” e a indecifrável “Whoo! Alright-Yeah...Uh Huh” são de não deixar ninguém parado. Então esqueça as pretensões banais, os discursos politizados e apenas aumente o volume e dance com o rock oitentista do The Rapture. Apenas isso.

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

"Amores, Melodias e Afins" - Grandprix - EP - (2003)

A história basicamente se repete em cada canto do mundo dia após dia. Alguns amigos resolvem começar a tocar músicas de suas bandas preferidas para passar o tempo, nesse caso bandas como Teenage Fanclub, Ride, Placebo, Flaming Lips e Pixies. A cidade era o Rio de Janeiro e os amigos que também eram românticos inveterados, adicionaram a isso mais alguns toques de bossa nova e em 2003, lançaram “Amores, Melodias e Afins”. A banda em questão se chama Grandprix (não por acaso o nome de um disco do Teenage Fanclub) e está em processo de gravação do seu primeiro álbum. No seu EP de estréia, disponível para download na Trama Virtual (clique aqui para baixar), Luiz Alberto (Guitarra e Voz), Filipe Dias (Guitarra e Voz), Rodrigo Belmonte (Baixo), Luiz Paulo (Bateria), Alex Martoni (Guitarra e Teclado) e Ricardo Falco (Teclado), fizeram bem bonito. “(Nem ver) Você voltar”, traz os versos: “Eu só aceito se eu a tiver pra sempre/ quero para mim/ as lágrimas de um rosto que me fez tão feliz...”. Soa meio brega não? Não. Com um instrumental bebendo no power pop das suas influências soa muito bem. Toques bem presentes de bossa nova em “A Menina”, dão uma quebrada gostosa no ritmo enquanto descreve-se que “A minha menina tem olhos negros/ e um sorriso capaz de degelar meu coração...”. Romantismo embalado para viagem ou para ser gravado em um cd acompanhando um buquê de flores em pleno dia dos namorados. O EP ainda tem as faixas “Euforia” (com o lindo verso: “A solidão me cai tão bem...”), “Melhor Assim” e “Anna” (com um backing daqueles que grudam na cabeça), deixando no ar uma grande expectativa em cima do seu primeiro álbum que terá a mixagem e masterização de Gustavo Seabra do Pelv´s. Enquanto o disco não vem, a (boa) saída é sair cantando junto, sem muito compromisso, no ouvido de alguém ou em casa mesmo, as canções do EP da banda.

domingo, 26 de novembro de 2006

" A Catholic Education" - Teenage Fanclub - (1990)

O ano era 1989. A cidade era Glascow na Escócia. Três caras. Norman Blake (vocal e guitarra), Raymond McGinley (vocal e guitarra) e Gerard Love (vocal e baixo). E uma banda. Teenage Fanclub. “A Catholic Education” foi o primeiro disco de uma banda que fundamentou o se chama de Power Pop, com influências de Big Star, Love e Beatles, onde guitarras densas e por vezes distorcidas dão lugar a estruturas melódicas das mais diversas, ambientando em sua grande maioria letras que versam sobre o amor. O Teenage Fanclub contava com três vocalistas que se revezavam e contavam histórias sentimentais, mas nunca piegas. O seu disco de estréia lançado pelo selo Creation na Inglaterra e pela Matador nos USA rendeu boas criticas e mostrou a uma geração de fãs o som da banda, cultivando para essa galeria nomes do porte de Frank Black e Kurt Cobain. Abrindo com as guitarras de “Everything Flows”, seguindo com o vocal de “Everbody´s fool”, passando pela faixa titulo e culminando em grandes canções pop como “Critical Mass”, “Too Involved”, “Eternal Light” e a sarcástica “Don´t Need a Drum”, o Teenage iniciava um caminho que até hoje tem pouquíssimos erros. No seu “debut”, o TF pavimentava o que seria o terreno de seu melhor álbum, o clássico “Bandwagonesque” de 1992, uma das principais gravações da década. A banda continua produzindo grandes discos, provavelmente sem nunca ter lançado um álbum ruim e continuando a empolgar com seu rock melódico. “A Catholic Education” mostra uma banda ainda tentando encontrar seu melhor som, mas em contrapartida fazendo dessa procura um trabalho de imensurável prazer para seus ouvintes. Como costumo dizer, beba Teenage Fanclub sempre que puder. E se embriague.

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

"Modern Times" - Bob Dylan - 2006

Bob Dylan não é um simples mortal. Não mais. Há tempos Bob passou a ocupar um lugar em cima de quase todos os outros quando se trata da música dos últimos 50 anos. Seja pelo lado da música, a qual carregou no colo e criou milhões de súditos e reverências no decorrer dos anos, seja pelo lado da cultura pop, onde se tornou mundialmente conhecido, mesmo quando alguns saibam somente algumas de suas músicas. Não que ele ache isso tudo interessante, em recente entrevista para a Rolling Stone Brasil, Dylan chuta: “Na verdade, não tenho um bando de astrólogos me dizendo o que irá acontecer. Apenas dou um passo após o outro, uma coisa leva à outra”. Despretensão? Sim, mas também muita calma e certeza de que é um dos pilares fundamentais da música e do comportamento que se instalou em boa parte dos seus 65 anos. Desde os idos da postura rebelde com seu folk e critica social, passando pelo efeito sex symbol dos anos 70, pelo certo ostracismo do meio dos 80 e 90 e pelo retorno as boas criticas (como se ele se preocupasse com isso) com os álbuns “Time Out Of Mind” de 1997 e “Love And The Thief” de 2001, Dylan sempre se manteve na frente de boa parte da mídia, certeza que se confere novamente nesse ano. Com o lançamento do seu 31º álbum, intitulado com o instigante título “Modern Times”, Dylan completa sua não pretensa trilogia iniciada com os dois discos citados acima, de um mundo diferente, um mundo que se despedaçou, desvirtuou, mas que apesar de parecer cansado consegue ainda ter amor. Mesmo que escondido no meio de tudo. “Thunder of the Mountain” que abre o disco com seu rock clássico de solos de guitarras e batida boogie-woogie aponta: “...investigue seu coração e você vai entender um pouco...”. O que o músico faz hoje é uma reflexão dos nossos tempos em que apesar de estarmos tão conectados a tudo e a todos, ainda carecemos basicamente de atenção, vivendo em um mundo solitário na maioria das vezes. Não espere rocks engajados ou com ritmo forte, talvez você consiga levemente balançar a cabeça na já citada “Thunder of the Mountain” ou em “Someday Baby” e em “The Levee´s Gonna Break” além do magnífico blues de “Rollin´ And Tumblin´” que traz uma homenagem aos seus heróis blueseiros das décadas de 40 e 50. No mais “Modern Times” traz apenas belas baladas folk, com pitadas de jazz e blues, com Dylan deixando seu sarcasmo espalhado pelo caminho, encoberto com uma certa melancolia. Como em “Spirit on The Water” que os contornos de jazz, abrem caminhos para reflexões obscuras do cantor, trabalhando em cima de pesadelos. “When The Deal Goes Down” evoca a razão de se estar aqui vivendo e “Beyond The Horizon”, chega um pouco mais romântica e habitual. Os grandes destaques do disco ficam com “Working Man´s Blues #2”, continuação da original em que se destaca a corrupção das nossas individualidades e desejos perante toda a rotina dos dias atuais e a sombria “Ain´t Talkin” com versos como “...não há nenhum altar nessa estrada longa e solitária...”. Dylan é eterno. E caso você não acredite nisso, simplesmente não ouça o disco e parta atrás das (boas) novidades como Radio 4, Dirty Pretty Things, Racounters e outras tantas efemeridades quase sempre passageiras (e que divertem nessas passagens). Mas caso você tenha um pouquinho de bom senso nesse seu coração, escute “Modern Times” e se encante com toda a magia de alguém que para a música é como se fosse um Deus e que consegue depois de tantos anos, lançar um disco que faz pensar e emociona, ainda conseguindo soar relevante e atual.

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

"Os Infiltrados" - Martin Scorsese - 2006

Martin Scorsese é um dos poucos gênios da histórias do cinema que ainda estão vivos e produzindo. Desde os idos dos clássicos “Táxi Driver” e “Touro Indomável”, até seu último e injustiçado “O Aviador”, Scorsese é sempre relevante, focando a psique humana na violência e sobrevivência dentro de um mundo adverso ao dos personagens. No seu novo filme “Os Infiltrados (The Departed)”, o diretor volta para o universo que se sente bem, deixando de lado os (bons) épicos do passado recente e mergulhando sua câmera de novo em meio à sordidez, traição e relações supra sociais do universo dos gangstêres que já havia abordado brilhantemente em “Os Bons Companheiros” e “Cassino”. Na sua mais nova parceria com Leonardo DiCaprio, o clima todo leva a crer em uma reabilitação necessária ao seu trabalho apesar das últimas criticas recebidas, algumas até sem grande valia. A cidade deixa de ser Nova York e se transforma em Boston, onde o chefe do crime é um irlandês (interpretado pelo sempre magistral Jack Nicholson) que passeia ilegalmente entre a policia local e o FBI. No seu universo próprio e repleto de idiossincrasias (leia-se drogas, violência e sexo) o chefão infiltra dentro da policia um agente seu (Matt Damon) para servir de suporte as suas transações, mas no entanto também tem dentro da sua “corporação” um agente infiltrado da policia (DiCaprio), que tenta desmascara-lo e prende-lo. Os dois personagens tem nas suas ambivalências, quase a formação de um carater único que se completa no decorrer do longa. Com um elenco de apoio com nomes como Martin Sheen, Alec Baldwin (brilhante como coadjuvante) e Mark Whalberg (que sim, consegue trabalhar bem), o diretor recria a história que já fora filmada em 2002 em Hong Kong pela dupla Andrew Lau e Alan Mak, com uma competência peculiar. Scorsese volta em grande estilo, dirigindo um dos grandes filmes do ano até agora, trabalhando mais uma vez naquilo que faz melhor, retratando toda a solidão que é própria do ser humano e que acaba por ficar na maioria das vezes encoberta no meio de tudo. E convence muito bem. Mais uma vez.

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Eskobar - Eskobar (2006)

Daniel Bellqvist nos vocais, Frederik Zall nas guitarras e Robert Birming na bateria começaram sua história musical por volta de 1996 em Estocolmo na Suécia e já tem quatro álbuns na bagagem, contando o ótimo “There´s Only Now” de 2001, que ganha um adversário de respeito com o belíssimo “Eskobar”, lançado este ano. O Eskobar parte do principio que os sentimentos são parte fundamentais da vida de cada um e destilam entre baladas e folks-rock, letras abduzidas por melodias belíssimas convertendo-se em riquezas pop no sentido mais literal da palavra. Canções como “Persona Gone Missing” e “Whatever This Town” são canções pop de mão cheia, a nostalgia abre o disco com “The Art of Letting Go” e fecha com a singular nobreza de “Champagne”, passando ainda por faixas como “Immortality” e “Be Your Side”. Fugindo do eixo EUA, Canadá e Grã Bretanha, a Suécia nos mostra uma banda no auge do seu poder criativo que converteu todas suas influências anteriores em um trabalho único que não mexerá praticamente em nenhum aspecto da sua vida, mas proporcionará momentos de rara alegria ao seu coração e mente. Site Oficial: http://www.eskobar.com/

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

"The Great Eastern" - James Dean Bradfield - 2006

O Manic Street Preachers sempre convenceu com sua mistura de hard rock, punk e britpop inglês no decorrer dos anos 90, lançando belos discos como “Holy Bible” de 1994 e “This is My Truth Tell me Yours” de 1998. A banda inglesa que já possui alguns bons anos de estrada deu uma parada ano passado e deve voltar ano que vem sem maiores surpresas. Nesse intervalo, seu vocalista James Dean Bradfield, colocou no mercado um grande disco, sem sombra de dúvida um dos melhores do ano, atestando que é possível que um projeto solo tenha qualidade igual ou em alguns casos até maior que a sua própria banda, sem precisar de arremedos sonoros típicos, mesmo que em determinados casos sejam recorrentes. “The Great Eastern” lançado em julho e que há tempos vem habitando meus prediletos sonoros é simplesmente fantástico. Típico disco que te conquista na primeira faixa, faz você retornar e vai se mostrando melhor a cada momento, não tendo nenhuma canção em que você use a função de passar. “The Great Eastern” reúne os bons momentos dos Manics a uma beleza melódica que James Dean passa a usar atraves de seus violões e teclados. Desde a música de abertura “There´s no Way to Tell a Lie”, com suas batidas, palmas e refrão ganchudo até o fechamento com os violões de “Which Way to Kyffin”, tudo convence. O músico tocou todos os instrumentos, com exceção da bateria que ficou a cargo do seu primo Sean Moore (também do Manics) e do Super Furry Animals, Daf Leuan. Se o mundo fosse perfeito, canções como “Emigré”, “Run Romeo Run”, “Bad Boys and Painkillers” ou “Say Hello to The Pope” (a melhor canção do ano para este que escreve) estariam tocando em rádios, mtv e anúncios publicitarios. É rock, abençoado como pop, para ser devorada pelas massas ou dentro de um mp3 player no trânsito da cidade. Tudo fecha. As guitarras bem dosadas, o vocal (sempre considerei o cara um dos melhores dos 90), os backing vocals perfeitos, entrando na hora certa e grudando na memória, as letras ora confessionais, ora sarcásticas. Tudo. Um disco que merece ser apreciado e divulgado entre os amigos como uma das melhores coisas que aconteceram no ano, independente do que estes vão te falar, não dê ouvidos a eles, apenas ouça “The Great Eastern”.

terça-feira, 7 de novembro de 2006

"Ladrão de Sonhos" - Jeunet & Caro - 1995

Existem parcerias que nunca se esgotam e sempre produzem algo de relevância, seja qual for a esfera cultural em que estiver inserida. Dentro do cinema, um desses casos são os diretores franceses Jean Pierre Jeunet e Marc Caro. 

Uma dupla que em 1991 produziu “Delicatessen”, um tiro na goela, esbanjando humor negro, critica social e muita vitalidade. Em 1995, os dois se reuniram novamente para trabalhar em algo um pouco diferente, uma aventura repleta de efeitos especiais e contando uma historinha de ninar, às avessas, remexida ao bel prazer da voracidade das referências arremesadas pela dupla, com um aspecto visual interessantíssimo.Assim nascia “Lá Cite Dus Enfantes Perdus” que aqui acabou como “Ladrão de Sonhos”. 

A anti fábula conta a historia de Krank, que envelhece tristemente em sua torre embrulhada no meio do mar, porque não consegue sonhar, para tanto, desenvolve um plano diabólico de roubar os sonhos de crianças, não obstante precisa bastante delas. Quando sua fantástica corja, composta de clones de um cientista maluco fazem o seqüestro de Denree, seu irmão, One, um antigo caçador de baleias (interpretado por Ron Perlman de “Hellboy”) sai em busca do seu salvamento. 

Meio sem jeito, One se envolve entre crianças que atuam numa gangue de ladrões a comando de uma dupla assustadora, principalmente com a menina Miette, que o ajuda na sua jornada e de onde nasce um mezzo romance de torcer o nariz dos mais conservadores. 

Uma jornada avassaladora com um visual arrebatador, contada por personagens fantásticos, fazem desse conto de fadas travestido um belo entretenimento para quem gosta do gênero fantasia e acrescentou mais pontos positivos na conta da dupla “Jeunet and Caro”. 

Procure na sua locadora e se delicie.

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

"Revelations" - Audioslave (2006)

revelations_500, originally uploaded by Kalnaab.

Quando o Audioslave foi criado em meados de 2001 por Chris Cornell (vocais), ex-Soundgarden e três integrantes do Rage Against The Machine, no caso Tom Morello (guitarras), Tim Commerford (baixo) e Brad Wilk (bateria), muita gente torceu o nariz, afinal de contas, projetos como esse geralmente dão certo. Hoje, cinco anos depois, dois discos lançados (os excelentes “Audioslave” de 2000 e “Out Of Exile” de 2005) e um DVD de um show histórico em Cuba, a descrença faz parte do passado, a banda assume o posto de uma das maiores da atualidade com seu som vigoroso e ao mesmo tempo melódico. “Revelations”, o novo disco do quarteto lançado mês passado está figurando entre os mais vendidos dos USA, galgando mais um degrau e se consolidando em detrimento de tantas modas passageiras que vez ou outra tomam de assalto o mercado. Com o Audioslave o rock definitivamente não morreu. Não só sobrevive nos guetos e na independência como também no mainstream. Esse novo disco talvez seja o que melhor resume a mistura entre as ex bandas dos integrantes, aliando a melodia e o peso do Soundgarden com o ritmo e a energia do RATM. O som dá uma aliviada, ganha em diversidade, amplia mais o horizonte e utiliza o funk como ferramenta musical em faixas como “One and The Same” e “Moth” que fecha o disco. Abrindo com a faixa que dá nome ao disco, a guitarra de Tom Morello se alterna entra o dedilhado e a batida, abrindo espaço para o vocal sempre arrebatador de Chris Cornell, entrando com os versos: “You know what to do/ You know what I did...”. Destaques maiores ainda também para “Original Fire”, que lembra bastante o RATM, “Somedays” e Nothing Left To Say But Goodbye”. Pode-se perceber o Audioslave de sempre em “Sound Of a Gun”, cantar junto com a quase doce “Until We Fall” com seus violões e efeitos e chutar o balde com a letra de “Wide Awake” que tem como pano de fundo o furacão Katrina para falar do governo Bush. Pode ser que esse não seja o melhor dos álbuns da banda (mesmo brigando cabeça a cabeça por isso), mas com certeza é o que melhor define sua fusão de idéias. Rock de qualidade para ser ouvido em alto e bom som, mexendo a cabeça, ditando o ritmo com o pé na bateria imaginária e notar falando sozinho “Que sonzeira boa!!” Afinal quem tem Tom Morello de guitarrista e Crhis Cornell de vocalista já começando ganhando o jogo de pelo menos uns 2 a 0.

terça-feira, 24 de outubro de 2006

"Vizontele" - Yilmaz Erdogan (2006)

O cinema é um caso fascinante, meio que do nada aparece uma produção de um país sem grande tradição e que emociona e diverte ao mesmo tempo, cativando o telespectador longe do esquemão de Hollywood. É o caso de “Vizontele”, filme turco, lançado em 2006 e que chega nas locadoras. “Vizontele” é uma comédia divertidíssima e que foge totalmente do tradicional sem soar banal ou recorrente. O diretor Yilmaz Erdogan narra uma história que é quase uma fábula de outros tempos, rememorando uma fase mais romântica de um mundo que não se conectava tão rapidamente avalizado pelo processo da globalização. Baseado em suas lembranças da época, o filme se passa na cidade de Hakkari na Turquia que em meados dos anos 70 tem seu sossego abalado pela chegada da primeira televisão (a “Vizontele” do título) e todo o escarcéu que a possibilidade de se ter o mundo todo dentro de uma pequena tela provoca em uma pequena e pacata cidade do interior, repleta de suas idiossincrasias e superstições. A cidade recebe do Governo uma televisão para ser instalada, no entanto ninguém sabe como funciona. Para tanto o Prefeito convoca em meio a desconfiança de todos, um morador da cidade que é dito por uns como maluco e por outros como milagreiro (interpretado brilhantemente pelo próprio diretor) para bota-la para funcionar. Uma verdadeira odisséia tem inicio com heróis, vilões, Dom quixotes e principalmente piadas secas com personagens completamente afetados envolvidos no processo. O humor do filme não é gratuito o que já confere grande valia, tendo uma direção simples como a própria trama. “Vizontele” é nostalgia embalada em sorrisos, história com recheio de imbecilidade, melancolia de um tempo que as coisas pareciam ser mais fáceis, principalmente porque as pessoas tinham a grande concepção de vida de não se preocupar com nada muito importante.
“Vizontele” é um retrato de um mundo que ficou para trás, para o bem ou para mal e uma grata surpresa dentro dos filmes que assisti durante esse ano.

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

"Manderlay" - Lars Von Trier (2005)

manderlay, originally uploaded by Kalnaab.

O dinamarquês Lars Von Trier é um grande cineasta, daqueles que qualquer trabalho chama a atenção, levando a discussões (positivas ou negativas, mas sem passar despercebido) desde que apareceu completamente ao mundo com o filme “Dançando no Escuro” de 2000. Um dos fundadores do movimento “Dogma 95”, que insiste em um cinema mais simples e natural, no entanto com muita criatividade. Em 2003, o diretor iniciou sua trilogia denominada “EUA – Terra das Oportunidades” com o filme “Dogville”, que surpreendeu com sua abordagem cética e cínica dos americanos, dentro de uma concepção diretiva quase teatral, passando inclusive pelos cenários, ou a falta deles se preferir. Ano passado, a saga de Grace (agora interpretada por Bryce Dallas Howard de “A Vila” no lugar que era de Nicole Kidman) continua em “Manderlay”, ambientado em uma cidade sulista que recebe a visita desta e de seu pai (Willem Dafoe) com seus gangstêres a procura de novos horizontes. “Manderlay” é uma fazendo que ainda continua mantendo a escravidão dos negros em 1933, mesmo depois da abolição tempos atrás. Mais uma vez Grace ao enxergar que as coisas estão erradas na sua visão, começa a fazer parte dessa intricada relação entre patrões e empregados que parece ser bem mais complicada do que o seu sentido de certo indicava. Von Trier consegue melhorar bastante sua receita cinematográfica, dirigindo seu elenco em atuações soberbas como a de Bryce Dallas Howard e singelamente Danny Glover como Wilhelm, o mais velho dos escravos e que no decorrer do filme demonstra ser uma ótima surpresa. Com um enredo bem arrumado, a receita de crítica social envolta a papéis bonitos e laços de presente, esbanja cinismo e um falso conformismo. Um tema sempre atual como o do racismo que tem raízes tão profundas quanto mal cheirosas nos USA, a terra que abre chance a todos, mas ao mesmo tempo caça aqueles que formam sua nação. Parafraseando um epílogo do clássico “V de Vingança” de Alan Moore, “Manderlay” é para aqueles que não desligam a tv quando o noticiário começa e continua achando que tudo é como acha que devia ser. Agora é esperar o final da trilogia marcada para o ano que vem com “Wasington” e se deliciar com a mais recente obra prima do diretor.

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

"Return to Cookie Mountain" - TV On The Radio (2006)

De vez em quando nos deparamos com um disco difícil, daqueles que não andam muito depressa e que logo vai sendo removido do som. Depois você resolve dar mais uma chance e parece que as coisas vão se acertando, quanto mais o álbum toca mais nuances são descobertas, arranjos encantam e te cativam. Isso aconteceu recentemente com “Return To Cookie Mountain” do TV On The Radio, banda de Nova York, oriunda do Brooklyn que lança seu segundo álbum pela gravadora Interscope. Para esse disco não dei só uma chance, foram diversas tentativas e sempre empacava no comentário “pretensioso e nada demais” basicamente. Até que alguns dias atrás o negócio mudou de figura. Coisas da música.
Formado por Kyp Malone (guitarras e vocais), Tunde Adebimpe (vocais), Jaleel Bunton (bateria e percussão), Gerard Smith (baixo) e David Sitek (guitarras, pianos, programações e produção), esse quinteto que já havia lançado em 2004 o bem comentado, “Desperate Youth, Blood Thirsty Babes”, se supera criando um disco que pode mudar muita coisa daqui pra frente.
O som da banda soa como se David Bowie encontrasse o Radiohead em “Ok Computer”, com a mixagem do Massive Attack e a produção de Brian Eno, com lançamento pela Motown. Difícil de imaginar que isso seria possível caber em um disco. Mas coube. E de maneira quase sobrenatural.
Nesse caldeirão de art-rock, soul e pitadas de blues com vocais ora em falsete ora como se fosse uma grande canção de Marvin Gaye, cortesia de Malone e Adebimpe, é como se diversas camadas sonoras distintas fossem sobrepostas uma a uma com muito zelo gerando o resultado final. Camadas que coexistem quase que sem porquê.
A tríade que abre o disco poderia muito bem resumir a idéia de fazer música do TVOTR, “I Was a Lover”, “Hours”(a grande canção do disco) e “Province”(fascinante, com cortesia dos backing vocals de Bowie), entram num clima de ambientação própria que emerge o ouvinte para um lugar distante daqui, simulando efeitos, produzindo psicodelia em média escala e discordando perigosamente de alguns conceitos.
As letras também merecem destaque, como o conteúdo político social de “A Method” e as divagações de “Wash The Day” além de outros bons destaques do disco como “Wolf Like Me”(o que mais se aproxima de rock) e “Let The Devil In” (pelo seu ritmo induzido), permeando um caminho repleto de experimentações e criatividade.
Assim como “Revolver” dos Beatles, “Pet Sounds” dos Beach Boys, “Ok Computer” do Radiohead, “Blue Lines” do Massive Attack ou “Mellow Gold” do Beck, “Return to Cookie Moutain” entra pelo mesmo anseio de inovar, partindo da idéia de recriar e remexer diversas sonoridades congruindo para um quadro que não fora pintado antes com as cores que se está utilizando e misturando.
Em um ano de tantos discos bons e outros excelentes, o TV On The Radio ganha um lugar de destaque por tudo aquilo que a sua música propõe. Ou não propõe. Depende de você.

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

"Crooked rain, crooked rain" - Pavement - 1994

O ano era 1994. Não existia Rapidshare, Emule, Soulseek e coisas do tipo. Se você quisesse algum disco importado de uma banda que tinha lido pelas entrelinhas da Bizz ou publicações da época, tinha que ir atrás para comprar ou pedir para aquele seu amigo nerd que se achava o tal em música e que antes de te emprestar ia implorar mil vezes para você tomar cuidado, muito cuidado. Sorte que nessa época o dólar estava quase igualado ao emergente Real, do plano de mesmo nome que levantou e reorganizou a nossa economia apesar dos efeitos colaterais que produziu. Dentro desse contexto nacional, uns californianos malucos lançavam lá fora um disco daqueles que o tempo não consegue apagar nem desvalorizar, um disco que ficaria para sempre guardado na memória. Com o nonsense título de “Crooked Rain, Crooked Rain” (algo “chuva perversa, chuva perversa”), o Pavement, banda do talentoso Stephen Malkmus instituía um clássico dos anos 90. A banda já tinha produzido um grande trabalho em seu disco de estréia “Slanted and Enchated” em 1992, mas parecia que as doideras, experimentações e influências precisavam ser lapidadas. Isso veio em 1994. Aliando as influências que passeavam por Lou Reed, Pixies, Sonic Youth, Yo La Tengo, Bob Dylan e até mesmo o progressivo com muita ironia e despretensão, arremessadas e remexidas em uma caixa onde a melodia reinava produzindo efeitos arrebatadores, a banda foi responsável por semi-hinos do underground como “Cut You Hair”, onde destilava sarcasmo nos versos: “...nada de cabelo comprido / músicas siginificam muito / quando músicas são compradas...”. Desde a abertura com a bateria quebrada e o riff meio low-fi de “Silence Kit” até o épico “Filmore Five” que fecha o disco, Malkmus e sua trupe produziam pérolas pop encobertas por extensões, paradas, mudanças de ritmo e doses precisas de microfonia. Apoiado pelos dois bateristas (sim, a banda tinha dois), Steve West e o “mad” Bob Nastanovich, pelo baixo inquieto de Mark Ibold e pela guitarra ao mesmo tempo desconexa e frenética de Spiral Stairs, Malkmus destorcia quase poesias, desalinhava melodias, costurava acordes e construía um universo novo, ainda que respaldado por todas as suas influências. Sendo irônico quando não devia ser (em “Range Life” detona Smashing Pumpkis e Stone Temple Pilots), gritando sem nada pré-determinado (“Unfair”), emocionando ao contar agruras e desagruras de um cotidiano imaginário (“Gold Sound Z”), fazendo jazz torto porque queria fazer (“5-4=Unity”) ou evocando Lou Reed quando menos se esperava (“Heaven´s Truck”), Malkmus era o cara. Depois de “Crooked Rain...”, o Pavement alçou um público maior, tocou em grandes festivais e continuou lançando bons discos, sempre com sua marca registrada meio que adicionando uma contra-fórmula que passou a ser copiado por tantos outros. Depois de umas férias, a banda anunciou sua separação, deixando para trás uma carreira que não teve nenhum disco ruim no seu currículo. Malkmus continua lançado projetos solos ou tocando com os The Jicks, sempre com qualidade, mas sem alcançar o ápice de tempos atrás. O Pavement era como uma espécie de anti-héroi que mesmo sem querer e sem saber ao certo porquê, encantava ouvidos ao redor do mundo com sua música e suas histórias.

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

Putting The Days To Bed - The Long Winters

No meio de tantas e tantas bandas que estão fazendo o ano de 2006 valer a pena olhando pelo lado musical, destaca-se a banda de Seatlle, The Long Winters. Depois do bom “When I Pretend to Fall” de 2003, John Roderick retorna aos nossos ouvidos em 2006 com o excelente “Putting The Days to Bed”. Nesse disco Roderick tira a mão um pouco da cartilha indie e/ou alternativa que dava a atmosfera do trabalho anterior e faz um punhado de canções mais ambientada no rock americano das bandas dos anos 70/80, como Tom Petty e R.E.M, privilegiando guitarras básicas, violões, teclados e a voz conduzindo a melodia. O resultado disso são canções que grudam no ouvido e fazem girar o cd player a todo o momento. Desde “Pushover” que abre brilhantemente o álbum até o fechamento com a quase balada “Seven”, temos um disco coeso onde Roderick e seus comparsas Eric Corson no baixo, Mike Squires na guitarra, Sean Nelson nos teclados e os diversos amigos que tocaram na bateria criam uma atmosfera agradabilíssima. Passando pelas guitarras de “Free Island, Ak” (que lembra até Strokes sem ser patético) e “Rich Wife”, pela belíssima “Sky Is Open”, ou pelo pop perfeito de “Hindsight” e “(It´s a) Departure”, com os backing vocals tendo um papel digno do nerd genial Mike Mills, tudo que sai do Long Winters convence. E muito. Uma banda que corre o sério risco de passar despercebida em todos os melhores discos do ano e nem ser notada, mas que tem potencial de sobra para encher nossos ouvidos com canções pop de primeira linha, saídas da cabeça de um semi nerd americano chamado John Roderick. Entre no site da banda e conheça um pouco mais: http://www.thelongwinters.com/

quinta-feira, 12 de outubro de 2006

O Diabo veste Prada

Quantas vezes no começo da nossa vida profissional não deparamos com um chefe mal humorado, abusado, descontrolado, perguntando se valia a pena estar ali, mas suportando porque era necessário? Ou em alguns casos isso não acontece até hoje? Dentro deste universo é que está inserida Andréa Sachs (muito bem trabalhada pela atriz Anne Hattaway de “O Segredo de Brokeback Mountain”), na melhor comédia do ano até agora. Andréa acaba de se formar e procura emprego em Nova York, conseguindo o mesmo em uma das maiores revistas de moda do mundo, a Runway. Esse emprego onde “um milhão de pessoas queriam estar” que no inicio se mostra espetacular, vai se contorcendo totalmente em desgraça quando Andréa começa a se “relacionar” com Miranda Priestly (a fabulosa Merly Streep, em uma atuação impecável que com certeza resultará em mais uma indicação ao Oscar), a toda poderosa do ramo. Em meio a tantos pedidos de café, de guarda de roupas e de outras inúmeras atividades menores sempre com cobrança imensurável, Andréa vai se transformando em uma outra pessoa para poder vingar em um mundo totalmente fashion em que o glamour além de necessário, encobre toda a ganância, falsidade e traição que se esconde em roupas de grifes famosas. Com um elenco de apoio com boas atuações (a de Adrian Grenier como “Nate” por exemplo) e uma direção sem muitas firulas, mas precisa de David Frankel, o filme diverte com muita acidez, umas doses de humor negro, algumas pitadas de sarcasmo e uma generosa contribuição de situações constrangedoras. A adaptação do livro de Laureen Weisberger, “O Diabo Veste Prada” (que conta com uma pequena ponta da Gisele Bundchen) convence bem e se torna um dos bons filmes do ano. Totalmente indicado para todos aqueles que conhecem o prazer e os efeitos colaterais do primeiro emprego e porque não da própria vida. Boa diversão.

segunda-feira, 9 de outubro de 2006

"Boys and Girls in America" - The Hold Steady

Bares, poesia beatnik, ZZ Top, guitarras, mulheres e muita cerveja. Esse parece ser o mundo do americano Craig Finn, vocalista do The Hold Steady, que lança no mercado “Boys and Girls in America”, recebendo elogios diversos da critica pela visceralidade da sua música calcada no rock n´ roll clássico. Juntamente com os comparsas Bobby Drake na bateria, Galen Polivka no baixo, Franz Nicolay nos teclados e Tad Kubler na guitarra, Craig diverte muito com o seu vocal potente e o seu estilo de cantar, as vezes derramando as letras, contrapondo os backing vocals ou simplesmente explorando o lado garageiro anos 70 de forma sublime. O álbum abre com “Stuck Between Stations” com uma guitarra subindo, aderindo aos teclados e causando boa impressão logo na entrada. A música de trabalho “Chips Ahoy!” que vem depois é para agitar e balançar qualquer ser humano que tenha um pouco de alegria dentro do seu ser. Contagiante. De quebra ainda tem as guitarras de “Hot Soft Light”, a balada “First Night”, a cozinha de bateria e baixo que dá apoio a guitara de Tad e o vocal de Craig em “Massive Night” ou “Party Pit”, em que parece que o mundo não está mais no mesmo lugar, viagem temporal com direito a assento na primeira classe, impossível não embarcar. Nos últimos meses esse “Boys and Girls and América” foi o disco que mais tempo escutei seguidamente. Isso não quer dizer que seja o melhor álbum do ano, só que está perto dos melhores. O disco vicia, deixando aquela vontade de doses diárias e nada homeopáticas. Simples assim. Rock n´roll de garagem, um grande vocalista, riffs de guitarra sabotadores, cozinha de respeito, teclados bem utilizados. Pura diversão. Letras que passeiam entre a poesia e acidez. Apesar de ser um pouco mais lapidado que o anterior “Separation Sunday” de 2005, não deixe passar em branco. Nada de novo, mas o bom e velho rock sendo devidamente agraciado com toda sujeira e energia que merece. Entre no site da banda: http://www.theholdsteady.com ou no do disco: http://www.boysandgirlsinamerica.com . E baixe aqui.

terça-feira, 3 de outubro de 2006

"Skeleton" - The Figurines

Sabe aquela banda que faz um som bem bacana, mas que não está nas suas preferidas? Aquela banda que não desperta maiores sentimentos, mas vez ou outra é escolhida para preencher o cd player? E diverte acima de tudo? Uma dessas bandas é o The Figurines, da Suécia, que tem seu terceiro disco “Skeleton” de 2005, relançado em edição canadense nesse 2006. Formado por Andreas Toft no baixo, Christian Hjelm nos vocais e guitarras, Claus Johansen nas guitarras e backing vocals e Kristian Volden na bateira, o quarteto faz uma mistureba danada de influências prazerosa de ser ouvida. Passeando entre o low-fi americano, britpop, indie e até mesmo o folk e o country, a sensação que se tem é que já ouvimos isso antes diversas vezes, mas se conseguir tirar essa idéia da cabeça a diversão está garantida em bons momentos, apesar de não se ter grande unidade. Músicas como “The Wonder”, “Other Plans” e “All Night” estão prontas para tocar em qualquer festa e fazer dançar, o vocal puxado aliado com um refrão daqueles de cantar junto são convicentes. Se preferir pode ficar com a oitentista “I Remember”, com sua batida e backing vocals, paradinha de guitarra e baixo. Ou ainda o alt country de “Back In The Day”, lembrando Ben Harper na estrutura e pelos violões. Tem ainda o mezzo-country de “Ghost Songs”, mas o grande momento do disco fica por conta de “Release Me On The Floor” que lembra as boas passagens do The Delgados com bastante louvor e envolve o ouvinte em uma atmosfera bela ao mesmo tempo em que deixa o clima tenso. A comparação com diversas bandas é inevitável, mas aqui vai um bom conselho, relaxe, apenas relaxe e deixe o disco tocar, inclua algumas músicas nas suas seleções pessoais, toque algumas para os amigos e deixe o disquinho lá, bem a vista, para que naquele momento em que estiver sem muita pretensão, ele possa tocar. Visite o site: http://www.figurines.dk e baixe o disco em: http://rapidshare.de/files/22183466/the_figurines_-_skeleton__2006_.rar.html , pois o mesmo ainda não tem edição nacional.

segunda-feira, 2 de outubro de 2006

"Sam´s Town" - The Killers

Música é um estado de espírito. Acima de tudo. E para a banda de Las Vegas, The Killers, música é acima de tudo uma bela diversão. Diversão por tocar, de cantar refrões ganchudos, de adicionar teclados e melodias marcantes, com letras que parecem ser de algumas décadas atrás. Música acima de tudo é para ser feliz. A banda de Brandon Flowers (vocais e teclados), David Keuning (Guitarras), Mark Stoemer (Baixo) e Ronnie Vanucci (bateria), jogam seu trabalho para o grande desafio do segundo disco. Se em “Hot Fuss” de 2004, a banda recebeu diversos elogios por sua mistura dos anos 80 com o rock atual, elaborando hits como “Mr. Brightside” e “Somebody Told Me”, a prova de fogo acontecem em 2006 com “Sam´s Town”. O disco que teve lançamento no dia 18 de setembro, tem seu nome extraído de um cassino da cidade natal e vinha sendo aguardado com um pouco de ansiedade por quem gostou do álbum anterior e uma reticência maior quanto à qualidade do trabalho. Durante sua gestação, declarações como a do baixista Mark Stoemer de que o disco: "mostra que crescemos um pouco como músicos, compositores e pessoas", botavam mais pulgas atrás das orelhas. No final das contas a banda manteve a pegada do primeiro disco, incorporou mais algumas idéias, descartaram outras e fez canções para dançar, namorar, deixar no som do carro, cantar alto. A formula meio que se repete, mas funciona melhor do que em “Hot Fuss”, parece mais coeso o seu trabalho nesse “Sam´s Town”. A primeira música de trabalho “When You Were Young”, já denuncia boa parte do que virá pela frente, é pop sim senhor mas tocado como rock, rock básico, com a letra ironicamente jogando no ar: “Ele não parece nem um pouco com Jesus, mas ele fala como um cavaleiro, do jeito que você imaginou quando jovem...”. Perfeito para uma banda que olha o passado, principalmente a década de 80, com admiração de tudo aquilo que um dia já se chamou de ultrapassado. Muitas bandas fazem o mesmo, podemos alegar, mas a força do Killers é usar coisas como refrões cantados juntos, teclados fazendo riffs, vocais cheios de pretensão em primeiro plano, atmosfera do pop romantic 80 em uma roupagem rock n roll que não só agrada, como convence a quem gosta de uma boa diversão. Destaque ainda para “Uncle Johnny” com sua guitarra repetitiva fazendo o clima para os vocais e o refrão, “Bones” com entrada à la Queen, tecladinho e metais, “The River is Mind” pelos backing vocals de entrada e o baixo pulsando em primeiro plano, “Bling” pelos violões e o grande vocal de Brandon Flowers ou simplesmente a força de “For Reasons Unknow”. O Killers não vai mudar o mundo e provavelmente nem a sua vida, mas tem a grande força de emocionar e fazer com que se esqueça um pouco de tudo e somente se divertir, dançar e cantar, como se o tempo tivesse parado. Vale muito se escutar o álbum que de antemão tem uma das melhores capas do ano e um dos melhores vocalistas da sua geração. Quanto ao teste que colocamos acima, a banda passou com mérito.
Baixe o disco
aqui.

quinta-feira, 28 de setembro de 2006

"Carrosel" - Skank

O mundo gira fazendo as coisas mudarem de lugar, o que hoje era certeza amanhã pode não ser mais. Calma. Isso não é um papo de filosofia barata de livros de auto-ajuda. É apenas para começar a entender o conceito do novo disco da banda mineira Skank, intitulado “Carrossel”. Já são quinze anos de estrada desde o primeiro disco independente e a mistura de reggae, ska, pop e dancehall que conquistou o país e fez a banda ser um sucesso estrondoso tendo seu nome gravado nos maiores da nossa música nos últimos anos. E dentro desse carrossel, Samuel Rosa (Guitarra e Voz), Haroldo Ferretti (Bateria), Lelo Zaneti (Baixo) e Henrique Portugal (Teclados) foram mudando e deixando seu som com uma cara inversa aquela dos primeiros anos. O novo disco fecha um ciclo em que a banda transformou o seu som gradativamente, elaborando um pop rock, com fortes influências de Beatles, Clube da Esquina e do Britpop inglês. Esse ciclo que começou com “Maquinarama” em 2000 e continuou com o ótimo “Cosmotron” em 2003, teve diversas provações, críticas e musicalmente grande sucesso, fechando tudo com esse “Carrossel”. No disco, o Skank dá uma guinada outra vez, mais suave é verdade, mas não menos importante. As guitarras do último álbum ficam um pouco para trás, dando lugar a muitos violões, violas e até banjo. Não tem um hit do porte de “Três Lados” ou “Vou Deixar”, a primeira música de trabalho, “Uma Canção é Para Isso” não tem a mesma força que suas antecessoras, mas ainda assim é bem melhor do que muita coisa que toca na MTV hoje em dia. Abrindo o álbum vem uma nova parceria de Samuel Rosa e Nando Reis, “Eu e a Felicidade”, talvez a pior entre os dois dentro de todo esse tempo, a música não convence, deixando a desejar. A partir da segunda música a já citada “Uma Canção é Para Isso” é que o disco embala e ganha corpo, começando a cativar os ouvidos com suas melodias, experimentações e letras. A influência dos Beatles e do Britpop ainda estão lá, mas dão espaço também para o folk entrar como uma nova ferramenta. O Skank está feliz, bastante feliz e isso se reflete na leveza dos arranjos e letras. “Até o Amor Virar Poeira” e “O Som da Sua Voz” dão ritmo a concepção do disco, abrindo para “Cara Nua” a primeira grande canção, feita em parceria com Humberto Effe dos Picassos Falsos. Em meio a ambientações dignas do alt-country americano, Samuel despeja palavras de uma desilusão lúdica: “Quando chega o carnaval/Mais ninguém te encontra/Pra você são só uns dias/Você quer ter a vida inteira/Com a cara toda nua/Brincar com quem quiser” “Mil Acasos” vêm logo depois, feita com o eterno amigo Chico Amaral e mantém o nível bem acima, uma canção romântica sem soar sentimentalmente banal quando entram os versos: “Seus passos queiram se juntar aos meus/Seus braços queiram se juntar aos meus”. “Lugar” é de Samuel e César Mauricio (dos extintos grupos Virna Lisi e Radar Tantã) e apesar de ser uma balada razoável, instiga uma parada na atmosfera do álbum que retorna na bela “Noticia”, outra com Humberto Effe. “Garrafas” do Lelo Zaneti é sem dúvida a mais fraca de todas as músicas e poderia muito bem ter ficado de fora, apesar das experimentações não consegue se sobressair. Depois vem “Panorâmica” e após essa outro grande momento em “Balada para João e Joana” ficando os pés em Minas Gerais com um pouco de Mutantes para engrossar o caldo. “Trancoso” que vem a seguir é a primeira parceria entre Samuel e Arnaldo Antunes e apesar de ser bacana, fica aquele gosto de poderia ter ficado melhor. Em seqüência “Antitelejornal” solta as frases: “Hoje eu vou inventar/O antitelejornal/Pra passar só o que é belo /Pra passar o essencial”, de Samuel e Rodrigo Leão empolga pelo ritmo e também pela concepção. “Seus Passos” e “Um Homem Solitário” desligam o “Carrossel” da energia sem empolgar muito, soando um pouco repetitivo no seu final. Com a produção de Chico Neves e Carlos Eduardo Miranda, o “Carrossel” mineiro é sempre bom de se escutar, apesar da inconstância de alguns momentos e de ter 15 faixas, (quando 12 seria a conta perfeita), ficando um gosto de que a banda poderia ter feito algo melhor, dando a impressão de que driblou todo o time e na hora de concluir chutou para fora. Ainda assim, o Skank mostra toda a sua importância como músicos em um disco que ganha força a medida que vai tocando mais, continuando uma carreira com pouquíssimos erros e sempre calcada na qualidade e na renovação. A música precisa tanto de bandas como o Skank, quanto a banda precisa da música.

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

"Subtítulo" - Josh Rouse - 2006

joshrouse_subtitulo Originally uploaded by Kalnaab.
Conheci Josh Rouse em meados de 2001 quando um amigo emprestou o disco “Home” que o cantor lançara em 2000 e foi editado pela Trama. A sonoridade diretamente vinculada ao movimento alt-country tinha uma melancolia com tons de música pop que conquistava o ouvinte desde o primeiro momento com canções daquilo que o folk tem de melhor.

O tempo passou, nada mais do cantor foi lançado no Brasil, quando no ano passado baixei na internet o excelente Nashville, que trazia um som um pouco diferente do que eu conhecera anos antes, com um pé mais no country, mas sempre aliando o folk e belas melodias. Josh Rouse voltava para a lista de cantores mais escutados no meu cd player onde se mantém até hoje, mesmo que com outro disco, o novo “Subtítulo”.

O cantor passou por alguns problemas pessoais e mudou dos Estados Unidos para a pequena cidade de Altea perto de Valência na Espanha, o que ajudou a superar o que passara e voltar a compor pequenas obras primas, essa sua doce sina. Em “Subtítulo” ele comete um dos grandes álbuns do ano e sem dúvida um dos mais bonitos (na acepção total da palavra) que passaram pelos meus ouvidos ultimamente.

Desde a abertura com a dupla “Quiet Town” e “Summertime” até o fechamento com “El Outro Lado” o disco é um deleite só, que parece se perder no tempo, sem ambientação lógica, mas com uma imensa riqueza de melodias ajudadas pela voz de Rouse que contrapõe baladas de forma bastante interessante. Destaque ainda para as pop's “It Looks Like Love” e “His Majesty Rides”, para a mezzo disco "Givin´ It Up”, além do maravilhoso dueto entre o cantor e sua namorada espanhola Paz Suay em "The Man Who Doesn't Know How To Smile", simplesmente arrebatadora.

Ainda falando de amor na grande maioria das músicas, mas sem soar piegas, Josh Rouse faz em "Subtítulo" uma provável descrição para as palavras lirismo e beleza, sem precisar recorrer a nenhum golpe de marketing planejado e sendo bem mais relevante do que a grande maioria do que vemos hoje na MTV.

“Subtítulo” ainda não tem edição nacional e sejamos honestos, provavelmente nem terá, mas é um disco que precisa ser escutado a qualquer custo por todos os amantes da boa música e principalmente da força que existem nas canções. Apenas e fundamentalmente as canções.

My Space do cantor: http://myspace.com/joshrouse.

sábado, 23 de setembro de 2006

Você pode ir na janela

Gram - Você Pode Ir Na Janela
Comecei a escutar o novo do Gram, "Seu Minuto, Meu Segundo" e já to gostando. Enquanto não comento nada, segue o clip de "Você pode ir na Janela" no momento especial "Mofo" do blog. (Esse clipe dá uma saudade...)

quinta-feira, 21 de setembro de 2006

"We Are The Pipettes" - The Pipettes

Vestidos de bolinhas, coreografias mal feitas, música com letras despretensiosas, cantando em sua maioria o amor ou convidando para dançar em arranjos pop bem resolvidos com backing vocals e refrões grudentos. Não, não estamos falando de nenhuma das Girls Groups dos anos 60 e muito menos das suas hostilizadas e detestáveis analogias dos últimos anos. Estamos falando das The Pipettes, banda que existe há mais de dois anos mais que só agora chega ao seu primeiro disco (que infelizmente ainda não tem edição nacional, mas pode ser baixado em programas de busca), “We Are The Pipettes”, lançado em julho As Pipettes em questão são Becki, Rose e Gweno que com seu visual sessentista começam a agradar pessoas pelo mundo e tocar nas mais diversas pistas de dança. Acompanhada de uma banda muito boa denominada “The Cassetes” que abusam de teclados, guitarras e paradinhas para palmas e afins, o projeto que foi capitaneado pelo músico Monster Bobby, montando a banda, primeiro porque gostava desse tipo de som e segundo, pois era um produto escasso no mercado e plenamente capaz de ser vendido. O álbum abre com a música titulo dizendo: “Se você ainda não percebeu somos as garotas mais bonitas que você já conheceu...”, dando uma grande idéia do que vamos ouvir pela frente. Em seguida vem a melhor música do álbum, “Pull Shapes”, seríssima candidata a um dos hits do ano, com seu ritmo, palmas, música para embalar qualquer festinha que se preze, seja em casa ou em qualquer boa discoteca indie (ou não). As musicas vãs passando macias e suaves carregadas de despretensão, alegria e dando um toque de nostalgia no ar, mas sempre com moldes de modernidade. Tem “Dirty Mind” para dançar, “Judy” para relaxar, “One Night Stand” para visualizar toda a maldade encoberta em um belo rostinho de mulher, “You Kisses Are Wasted on Me” para esboçar algumas coreografias ridículas ou até mesmo a singela “I Love You” que fecha o disco em seus poucos mais de 40 minutos. Existe música para tudo, para criticar, pensar e para dançar e se divertir. As Pipettes se enquadram nesta última descrição com grande louvor. Um dos grandes destaques do ano, que precisa ser saboreado em doses constantes, sem pressa, cantando sem querer com um sorriso nos lábios sem saber porquê. Entre em: http://www.myspace.com/thepipettes e http://www.thepipettes.co.uk/ para ver mais.

domingo, 17 de setembro de 2006

"Querida Wendy"

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“Querida Wendy” filme dinamarquês de 2005, é a primeira colaboração cinematográfica entre os fundadores do movimento “Dogma 95”, Thomas Vinterberg (Festa de Família) e Lars Von Trier (Dogville), sendo que o primeiro ficou com a direção e o segundo com o roteiro. O objetivo do longa é fazer um libelo anti armamentista e colocar a prova o quanto a posse de uma arma pode modificar as pessoas, tendo os USA como pano de fundo. Passado na pequena cidade mineradora de Estherslope, onde os cidadãos persistem naquela típica vida americana, com seu modo de viver e de ver as coisas, regados com extremo moralismo e concepções pouco liberais, o jovem Dick (Jamie Bell), um “loser” na concepção do termo, se vê atraído por uma pequena arma, que gera tamanha devoção que recebe até um nome: Wendy. Aliando outros estranhos e perdedores em uma espécie de clube que extravasa suas angustias e decepções através do relacionamento com armas de fogo, com suas próprias regras e mandamentos, os jovens conhecem o outro lado da história pois ao mesmo tempo em que se sentem mais poderosos, ficam submersos a desvios e mostras de caráter que não estavam acostumados a ter. Que a estética (lembrando muito “Dogville” na estrutura) e a concepção do filme merecem ser louvados, o mesmo não se pode dizer dos meios que a idéia é transformada na película. O argumento às vezes é muito redundante e já foi mais bem explorado por outros diretores. A flechada na maior potência bélica do planeta soa com cara de que já vimos isso antes. Mesmo assim, ainda se vale ver o filme que na concepção geral é bom, tanto pela carga de idéias (que remetem ao universo de “Clube da Luta”) quanto pela atuação dos atores, direção insubordinada e pela excelente trilha sonora sessentista da banda Zombies. Procure na sua locadora.

sexta-feira, 8 de setembro de 2006

"Demolidar Anual - Redenção"

A justiça nem sempre acerta, como tantos já disseram, às vezes ela é cega e em outras vezes é simplesmente envolvida em um mar de lama. Dentro desse contexto é que segue “Demolidor Anual – Redenção”, com lançamento da Panini, tendo roteiro de David Hine (do excelente “Distrito X”) e arte de Michael Gaydos ("Alias"). Na pequena cidade de Redemption Valley o cadáver de um menino é encontrado mutilado. A suspeita do crime cai sobre três jovens, entre eles Joel Flood, que levam a culpa por serem estranhos e gostarem de escutar música heavy metal, entre outras coisas. É quando a mãe do garoto vai atrás de Matt Murdock, que ruma para a cidadezinha junto com o seu Demolidor. Precisando muito mais do seu lado advogado do que justiceiro, Matt Murdock se vê no meio de uma cidade em meio a uma caça às bruxas e descobre todo uma sujeira envolta ao assassinato em questão. Usando e abusando de tons escuros, a arte da história produz grandes efeitos. O roteiro de David Hine é inspirado em fatos reais e mostra toda a hipocrisia de uma sociedade tão afeita a subjetivos valores morais e tão propensos a distorções de fé. Uma das melhores HQs do Homem sem Medo lançada nos últimos tempos. Confira.

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

Nação Zumbi no Jools Holland

..Nação Zumbi - Meu Maracatu Pesa Uma Tonelada
O debate de sexta feira última no IAP sobre música independente que contou com a participação entre outros do Ney Messias (ex e futuro presidente da Funtelpa), Rodrigo Lariú (do selo midsummer madness) e Paulo André (do festival Abril Pro Rock de Recife) além de ter sido bem interessante, ouvimos boas histórias.
Uma delas foi o Paulo André contando da apresentação da Nação Zumbi no programa do Jools Holland. Para quem ficou com agua na boca de ver a apresentação, coloco ela aí. Santo Youtube!

terça-feira, 5 de setembro de 2006

"Cão come Cão" - Edward Bunker

. Edward Bunker talvez seja o escritor em atividade que retrate de forma mais realista o universo do submundo do crime. Grande parte disso deve-se ao fato do autor ter vivido um bom tempo encarcerado em prisões nos USA, o que lhe adiciona um conhecimento de causa e tanto. Em “Cão Come Cão” lançado ano passado pela Editora Barracuda, o autor apresenta uma Califórnia oitentista envolvida na lama e na sordidez dos desajustados da sociedade, abordando a constante briga pelo poder, assim como a corrupção e o envolvimento das prisões na formação de indivíduos. Os personagens da trama são Troy Cameron, Diesel Carson e Mad Dog Mccain que começaram sua vida pelo outro lado da vida desde cedo, conhecendo-se em reformatórios e alongando sua amizade para parcerias futuras. A grande vantagem da literatura de Bunker é que nela não há endeusamentos. Não tem espaço para heróis, nem mocinhos. Não há apologia a nada, apesar de algumas idéias dos personagens serem bastante incisivas, isso é feito para que a história possa se desenvolver. Ao invés de autores que glamorizam o mundo do crime, Edward Bunker apenas relata seus atos. No livro os personagens se envolvem em um mundo de traição, briga por poder, dando literalmente margem para o título. Bunker retrata um mundo de pessoas que não tem visão para nada além de seus desejos, buscando os mesmos com determinação, sendo capazes de tudo para tanto. Bunker, que tem como um dos seus maiores fãs o diretor Quentin Tarantino, no qual trabalhou como ator em seu primeiro filme, “Cães de Aluguel”, fazendo o Mr. Blue, arremessa seu universo na mesma direção que o diretor ambienta seus filmes, corroborando em muito para a criação básica do sistema Tarantino. Dentro do que faz, Bunker ainda é o melhor e sua literatura sempre é bem vinda.

quinta-feira, 31 de agosto de 2006

Se Rasgum no Rock - 01,02 e 03 de Setembro (Tá chegando... se liga!!)

Programação
DIA 1.09 (Sexta) – Açaí Biruta – 22h
01h - Wander Wildner (c/ Johny Rockstar)00h15 - Buscapé Blues23h30 - Nó Cego22h45 - Turbo22h - Aeroplano
Dia 2.09 (sábado) – Parque dos Igarapés
22h - Cachorro Grande (RS)21h30 - The Feitos (RJ)21h - Madame Saatan20h30 - Suzana Flag20h - Los Porongas (AC)19h30 - Cravo Carbono19h - Mezatrio (AM)18h30 - Stereoscope18h - Norman Bates17h30 - Johny Rockstar17h – Álibi de Orfeu16h30 - Telesonic16h - Stigma
Dia 3.09 (domingo) – Parque dos Igarapés
22h - Mundo Livre S/A (PE)21h30 - La Pupuña21h - Coletivo Rádio Cipó20h30 - Sevilha20h - Vanguart (MT)19h30 - Superoutro (PE)19h - A Euterpia18h30 - Bazar Pamplona (SP)18h - Delinquentes17h30 - I.O.N.17h - Jolly Joker16h30 - Babyloyds16h - Retalietory
Passaportes
Os passaportes incluem os três dias + programação noturna: R$ 30,00 (meia-entrada para estudantes e clientes TIM**). Inteira a R$ 60,00. Ingressos:
- Abertura (Açai Biruta): R$ 20,00 / R$10,00 (estudantes e clientes TIM**)- Dia 2 (Parque dos Igarapés): R$ 30,00 / R$15,00 (estudante e cliente TIM**)- Dia 3 (Parque dos Igarapés): R$ 30,00 / R$15,00 (estudante e cliente TIM**)
Pontos de venda:Lojas TIM (Iguatemi, Castanheira e travessa Padre Eutíquio), Big Ben Doca (Big Serviços) e Na Figueredo.
Mais informações no site da Se Rasgum: http://www.serasgum.com
Se liga!!

terça-feira, 29 de agosto de 2006

"Antiquarta" - Antiquarta

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“Eu já sei onde estou, estou voltando para o seu coração, estou chegando...” são os versos do refrão da música “Estou Chegando” da banda recifense Antiquarta que tem seu primeiro EP (com o mesmo nome) lançado pela revista MP3 Magazine. Baixe diretamente do site da revista, clicando aqui. A música que abre o EP é de uma delicadeza pop acima da média, sucesso fácil se não fosse o corporativismo da nossa música. Gravado com muita dificuldade na estúdio caseiro de um amigo, em meio a trabalho de parto da vocalista Lorena Raia no meio do processo, sendo ela a responsável pela maioria das canções. A banda tem também as guitarras de Renxon Lapa e Pedro Guedes, deixando a cozinha por conta de Niko de Oliveira no Baixo e Sóstenes Barros na bateria. Com um pé no powerpop e outro no indie, a banda fez um EP de estréia que merece ser ouvido. Boas músicas, com letras inteligentes, guitarras bem utilizadas e um vocal bem definido fazem do Antiquarta uma boa aposta. Às vezes a banda se perde nas próprias influências, mas isso se arranja com o tempo e a experiência. Precisa acertar melhor principalmente as baladas, casos de “Tudo vai dar Certo” e “Vai Guardar” Nada que vá mudar o mundo, mas uma boa banda que merece ficar ali no seu som para ser sacado de vez em quando, enquanto espera-se algo novo pela frente. Para iniciar vá direto na já citada “Estou Chegando” e em “Vida, Luz e Som”. Vai lá.

domingo, 27 de agosto de 2006

"Complicado" - Astar

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“Complicado” é o nome do primeiro EP da banda Astar de Recife/PE e se encontra disponivel para download no site do Recife Rock e da Trama Virtual. Formada há pouco mais de quatro anos por Ju Orange (Vocais), Eduardo Padrão (Guitarras), Claúdio Magalhães (Baixo), Manuel Cunha (Bateria) e Felipe Chagas (Teclados), a banda alça seu primeiro vôo. O nome saiu de uma conversa de bar sobre UFOs, na qual um amigo contou da existência de uma fita do Led Zeppelin datada de 1989, na qual teriam informações psicografadas inclusive. Sinistro não? Mas o som é bem agradavel, ainda falta uma maior consistência para a banda em termos de produção, mas o primeiro trabalho sugere boa coisa. Ambientado no pop rock, lembrando os bons tempos da Penélope e um pouco o Suzana Flag, pelo estilo e vocal da Ju Orange. O EP conta com quatro músicas, contando casos do cotidiano e amor. Pop de qualidade. “Contagem Regressiva” é a melhor do disco com um punch que remete a “Song 2” do Blur. “Sem Tempo” e “Rotina” tambem tem uma boa pegada, letras juvenis bem legais e mantêm uma certa unidade. “Complicado” não segue a mesma trilha, mas não (desculpem a infãmia) complica. Bom trabalho, de quem dá para esperar coisas bem mais interessantes pela frente. Enquanto isso, coloque o EP no som e deixe rolar bem alto, balançado a cabeça de um lado para o outro, curtindo desprentesiosamente o som. No site da banda http://www.astarmusic.com.br tem outras músicas para download. Vai lá.

sexta-feira, 25 de agosto de 2006

"Rather Ripped" - Sonic Youth

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O tempo é senhor no que tange a mudanças, separações, novos casos, retornos e coisas do tipo. No caso da música não é diferente. Manter-se junto e fazendo um trabalho de qualidade por 20,25 anos não é para qualquer um, sendo que até mesmo essas mudanças raramente não chegam a acontecer drasticamente, como no caso da banda nova iorquina Sonic Youth. A banda que cultivou gerações de fãs influenciou meio mundo das bandas que por aí estão e continua fazendo do seu trabalho algo em que se olhe sempre com admiração, apesar de às vezes não concordar com o resultado final. Passaram-se os tempos da juventude, do experimentalismo sem concepções e das distorções baratas. Tudo passa. Passaram os tempos de “Evol (1986)” e “Sister (1987)”, clássicos dos 80. Passou também “Daydream Nation” de 1988, que ao lado de “Document” do R.E.M e “Warehouse: Songs And Stories” do Husker Du, pavimentou muita coisa do que se convencionou chamar de alternativo, underground, indie. Passou o tempo da dobradinha “Goo (1990)” e “Dirty (1992)”, dois discaços que mostraram o som da banda a uma geração que ainda não os conhecia, ensinando despretensiosamente como aliar melodia e barulho no mesmo lugar, como deixar os dois caminharem lado a lado de forma tão espetacular. Passou o tempo de provavelmente seu único hit, a canção “100%”. Nesse tempo todo, no entanto, o Sonic Youth não passou e continuou fazendo da sua música, objeto de honestidade e criatividade dentro da música pop. Depois de “Dirty” o Sonic Youth lançou apenas álbuns medianos como “Sonic Nurse (2004)”, ou totalmente difíceis como “Experimental, Jet Set, Trash And No Star (1994). A banda que nunca apostou no mainstrem, continuou fazendo seus discos, sem se vender a ninguém e mantendo a lealdade dos fãs com boas canções, mesmo que mais ou menos sempre tudo meio parecido e igual, mas não menos sincero (alguém pensou nos Ramones?). “Rather Ripped” (algo como “preferencialmente bêbado”) o novo disco da banda lançado há dois meses atrás vem para dar chacoalhada nesse cenário, sacudir a poeira e colocar na praça novamente um grande álbum. Se não tem o peso e influência de obras anteriores “Rather Ripped” figura tranqüilo num Top 5, o que no caso do Sonic Youth é muita coisa. Já de entrada temos a mezzo pop “Reena” e “Incinerate”, com um riff de guitarra lembrando os tempos de “Daydream Nation”, tendo o característico vocal de Thurston Moore. Em seguida vem “Do You Believe in Rapture”, uma quase balada, com o cinismo que sempre foi peculiar às letras da banda, falando em segunda chance. O ataque retorna com ecos dos primeiros tempos em “Sleepin Around”, chegando mais rápida, com uma bateria rosnando ao fundo, mostrando que a cozinha de Kim Gordon (que retoma o baixo, dando aquele toque especial) e Steve Shelley continua precisa como sempre. Em “What a Waste”, Kim Gordon canta calcada em Velvet Undergroun em uma das melhores faixas do disco. “Jams Run Free” vem soturna, com vocal falado, meio sussurrado, cortesia da cozinha característica da banda. “Rats”, é única cantada pelo guitarrista Lee Ranaldo, mais oitentista impossível, mostrando uma linha de melodia até meio estranha para o Sonic Youth, incluindo inclusive violões, sempre com aquela microfonia de fundo. “Turquoise Boy” é outra boa canção, em quase sete minutos, temos uma narrativa meio quebrada, ambientada na literatura beat, com muitas viradas. Arrasadora. “Lights Out” chega seguindo o ritmo desacelerado, lenta, com uma guitarra solando e ditando o ritmo. Em “The Neutral” Kim volta ao cenário, dando pique novamente, com a bateria de Steve Shelley conjugando todo o sentimento vocal no seu compasso. “Pink Steam” e “Or” fecham o disco que ainda tem o bônus track de “Helen Lundenberg” como prêmio. Depois de tanto tempo sem lançar algo realmente fundamental, “Rather Ripped” vem cobrir essa lacuna e mostrar a uma nova geração de ouvintes toda a pegada pop, aliadas a distorções, microfonias e experimentalismo de uma das bandas mais importantes dos 80 ainda em ativa. Unindo recortes de várias fases da banda, o álbum soa como o “New Adventures in Hi-Fi” foi para o R.E.M, sem grandes pretensões, mas um grande disco de rock n´roll.

domingo, 20 de agosto de 2006

Conspiração do Silêncio

O governo brasileiro sempre escondeu (e ainda esconde) muita coisa dos tempos do regime militar. Tempos de uma ditadura que dizimou liberdades individuais, censurou nossa cultura e matou milhares de cidadãos contrários as suas idéias, deixando seus corpos apodrecerem embaixo de um chão qualquer sem explicações nem para a família. “Araguaya - Conspiração do Silêncio” filme rodado em 2004, com alguns prêmios no currículo, mas que só agora chega ao circuito comercial, conta uma dessas “coisas”. O primeiro filme do diretor Ronaldo Duque conta a história da Guerrilha do Araguaia que aconteceu no final dos anos 60 e inicio dos 70 no sul do Pará e permanece sem maiores informações até hoje. O diretor fez uma extensa pesquisa sobre o tema, tentando contar da forma mais honesta possível essa guerrilha no meio da mata, feita por jovens estudantes que efetivamente demorou três anos e levou mais de 10.000 soldados no seu encalço pelas matas da Amazônia. O filme mostra o movimento através de personagens fictícios, mas baseados em fatos reais, incluindo no decorrer do longa os envolvidos na época como o ex-presidente do PT José Genoino, que colabora com seu depoimento. Narrado pelo personagem Padre Chico (Stephane Brodt), um missionário francês que desde a década de 60 se encontrava na reunião, o filme mostra todo o envolvimento de jovens inexperientes, mas dispostos a irem longe para ter um país livre com uma população que vive de forma simples e dentro de um limite de miséria bem expressivo. Com nomes fortes no elenco como Northon Nascimento (Osvaldão), Françoise Forton (Dora), Danton Mello (Carlos), Fernanda Maiorano (e sua excelente Tininha), Cacá Amaral (Carlos), entre atores locais, o diretor consegue extrair um ótimo resultado. As locações foram realizadas na cidade de Marituba, que fica a alguns poucos quilômetros da capital do Pará, a cidade de Belém, o que ajudou bastante na boa fotografia do filme. O que mais impressiona é saber que tão pouca coisa mudou na área, na época a briga por terra se intensificava com a abertura da Transamazônica, grileiros, mateiros e posseiros tomavam terras dos ribeirinhos (moradores da região) na força, para seu usufruto ou de fazendeiros, políticos e militares. Mais de 30 anos depois isso continua acontecendo, os conflitos por terra produzem mortes a cada ano no estado e o prometido desenvolvimento da região não aconteceu, grande parte da Rodovia Transamazônica ainda é um imenso caos. Outro bom lado do filme é perceber que toda a briga contra um regime autoritário ter sido tão intensa e parte das pessoas envolvidas nessa luta, depois de terem chegado ao poder, se envolveram com tanta lama, sujeita e corrupção, como é o caso de José Genoino, por exemplo, tendo em vista todos os escândalos do Governo Lula. O poder realmente corrompe. A ditadura brasileira usou e abusou do país e até hoje esconde seus mortos sem que a imprensa faça muito alarde para a busca de culpados e punições para os envolvidos, preferindo dar mais atenção as ditaduras vizinhas do que voltar os olhos para o próprio umbigo, retrato de um país onde o “coronelismo” ainda não foi extinto e se encontra disfarçado entre políticos, empresários e militares do país. Ronaldo Duque além de dirigir um bom filme, com uma direção precisa, ótimas atuações e uma parte técnica bem resolvida, coloca os cinco dedos em uma ferida que queremos tirar da nossa memória, elaborando assim um retrato de valor histórico primordial e uma pequena homenagem a todos aqueles que até hoje ainda estão desaparecidos, só por acreditarem que podiam viver de forma mais digna.